"Numa futura justiça de transição, Bolsonaro estará no banco dos réus acompanhado dos seus criadores, que fizeram de tudo para 'alijar o PT' e jogaram o Brasil no precipício fascista", escreve o colunista Jeferson Miola
Por Jeferson Miola*
Merval Pereira, o porta-voz da Globo, se enquadra na categoria de figuras públicas que [i] manipulam a realidade e os fatos e que [ii] jamais assumem responsabilidade pelas suas escolhas equivocadas. Principalmente quando tais escolhas podem ocasionar, como consequência, catástrofes humanitárias – como é a realidade brasileira atual.
Em artigo no jornal O Globo [11/4] Merval se faz de sonso, como se ele próprio e a Rede Globo não tivessem nenhuma responsabilidade pela eleição do Bolsonaro e pela espiral de barbárie vivida no Brasil.
Merval chama Bolsonaro de “nosso Jim Jones tupiniquim”.
Apesar do pronome possessivo “nosso”, Merval escreve como se o Jim Jones criado por eles tivesse surgido de geração espontânea; como se a aberração monstruosa viabilizada pela oligarquia e seus meios de comunicação tivesse irrompido das profundezas do esgoto espontaneamente.
Merval agora simula surpresa que “As demonstrações diárias de irresponsabilidade acintosa vão ganhando perigosos ares de desequilíbrio comportamental”, como se ele e a Globo não conhecessem desde décadas o perfil sociopata e cruel do Bolsonaro.
Só agora, porém, Bolsonaro passou a ser intolerável para a Globo. Embora tenha a “virtude” de ser antipetista [sic], como escreve Merval, Bolsonaro deixou provado que é “um desequilibrado, técnica e emocionalmente incapaz […], e moralmente corrupto”.
Merval reconhece que Bolsonaro “é incapaz de ser outra pessoa. Já era assim antes da campanha”; e arremata com a confissão: “mas era o que tinham os que queriam alijar o PT”.
Para impedir a qualquer preço um novo governo do PT, a elite não tinha nenhum plano, nenhuma proposta a favor do país e do povo brasileiro, apenas um plano contra o PT!
Como Merval deixa claro, Bolsonaro era a opção que a Globo, a burguesia, os EUA, os militares e as finanças tinham para “alijar o PT”.
Na eleição de 2018, com a “boca-de-urna” do então juiz Sérgio Moro e o ativismo dos lavajatistas de Curitiba, do STJ, do TSE e do STF, a Globo e a elite atuaram para impedir a qualquer preço a candidatura do Lula e a vitória do Haddad.
Eles queriam eleger o sociopata genocida para garantir a continuidade das políticas anti-nação e anti-povo aplicadas continuadamente desde o impeachment fraudulento da presidente Dilma.
A oligarquia não tinha dúvidas e, tampouco, constrangimento ético ou moral acerca desta escolha, porque a demonização do PT passou a ser a ideologia racista dominante.
Eles tinham plena consciência que instalariam no poder um “sociopata sabidamente fascista e corrupto que nunca escondeu sua idolatria por torturadores, o apreço sádico pela tortura e pelo estupro, e seu vínculo com milícias, com paramilitares e com o submundo do crime” [Oligarquia prometeu um presidente mas entregou um Jim Jones].
Merval conclui o artigo dizendo que “Bolsonaro será responsabilizado pessoalmente pelo aumento das mortes. Não é possível ter um presidente que estimula a população a se arriscar numa pandemia, como um líder místico levando seus seguidores para o suicídio coletivo”.
O mesmo critério de responsabilização vale também para quem criou a criatura. Numa futura justiça de transição, Bolsonaro estará no banco dos réus acompanhado dos seus criadores, que fizeram de tudo para “alijar o PT” e jogaram o Brasil no precipício fascista.
*Integrante do Instituto de Debates, Estudos e Alternativas de Porto Alegre (Idea), foi coordenador-executivo do 5º Fórum Social Mundial. -Via Brasil247
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