18 novembro 2024
16 novembro 2024
CUT-RS e sindicatos cutistas reforçam ato em Porto Alegre pelo fim da escala 6x1
Protestos em Porto Alegre e Pelotas reuniram trabalhadores, sindicatos e juventude em defesa da qualidade de vida e pela redução da jornada de trabalho sem redução salarial
Por Matheus Piccini* - Milhares de pessoas tomaram a Orla do Guaíba, em Porto Alegre, nesta sexta-feira (15), em um grande ato contra a escala de trabalho 6x1 e em defesa da redução da jornada semanal para 36 horas, sem redução salarial. Com faixas, cartazes e bandeiras de sindicatos e partidos de esquerda, o protesto integrou uma série de manifestações nacionais convocadas pelo Movimento Vida Além do Trabalho (VAT).
A concentração começou na Praça Júlio Mesquita, em frente à Usina do Gasômetro, e, por volta das 15h, os manifestantes marcharam pela Orla do Guaíba. O ato contou com a presença de importantes entidades filiadas à CUT-RS, como o Sintrajufe/RS, o Sindiserf/RS e o Sindicato dos Metalúrgicos de Porto Alegre.
Para Marcelo Carlini, dirigente da CUT-RS, o momento é crucial: "Se não for no governo Lula, será quando? A energia da juventude nas ruas, junto com sindicalistas e militantes, desmente a propaganda de que 'a CLT passou' ou que 'os jovens não querem carteira assinada'. Esses atos contra o 6x1 devem impulsionar também a luta pela revogação da reforma trabalhista. Estar nesse combate é o nosso papel."
Diminuição da jornada é bandeira histórica da CUT
A CUT tem uma longa trajetória de luta pela redução da jornada de trabalho sem redução salarial, uma bandeira histórica do movimento sindical no Brasil. Desde sua fundação, em 1983, a Central tem defendido que a diminuição das horas trabalhadas é fundamental para melhorar a qualidade de vida dos trabalhadores, aumentar a geração de empregos e distribuir renda. Em 1988, foi protagonista na conquista da redução da jornada de 48 para 44 horas semanais, garantida pela Constituição Federal.
As manifestações acontecem em meio a uma mobilização nacional por mudanças na legislação trabalhista. Durante a semana, a deputada federal Erika Hilton (PSOL-SP) protocolou uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que propõe o fim da jornada de 44 horas semanais, vigente desde 1943, e sua substituição por um limite de 36 horas. A proposta reforça a pauta do movimento, que defende a valorização da qualidade de vida dos trabalhadores.
Os dirigentes cutistas presentes na manifestação, destacaram a relevância de unir forças entre juventude, sindicatos e movimentos sociais para pressionar por avanços concretos. Além disso, os sindicatos reforçam que a luta pela revogação da reforma trabalhista deve caminhar lado a lado com o fim do 6x1, em busca de condições dignas de trabalho e vida para a classe trabalhadora.
Em Pelotas, o ato contra a escala 6x1, que teve apoio do Sindicato da Alimentação, reuniu cerca de 200 pessoas na tarde de sexta-feira (15), a manifestação teve início no chafariz do Calçadão, seguido de uma caminhada até o Mercado Público, onde ocorreu o encerramento. Segundo Lair de Mattos, presidente do sindicato, o protagonismo da juventude na mobilização foi destaque. “Tivemos uma boa participação, considerando que o ato foi convocado de última hora e em um feriado. A juventude, que tomou a iniciativa de organizar e conduzir o evento, está de parabéns” afirmou Lair.
Os atos no RS refletem a força de uma mobilização nacional, com protestos simultâneos em diversas capitais, como São Paulo, Brasília, Recife, Curitiba e Manaus, demonstrando a urgência de mudanças estruturais no modelo de trabalho no Brasil.
‘Seria uma tragédia o PT abandonar os seus compromissos programáticos de origem’
Com alta aprovação, petista Margarida Salomão foi reeleita ainda no primeiro turno na cidade mineira com mais de 53% dos votos
Por Lucas Weber, no Brasil de Fato*
Reeleita no primeiro turno, a prefeita de Juiz de Fora (MG) Margarida Salomão (PT) critica a ala do partido que defende um caminho ao centro para a legenda voltar a ter maior peso político no país.
Segundo a ex-deputada federal [foto acima], “seria uma tragédia o PT abandonar compromissos programáticos de origem”, disse em entrevista ao programa Bem Viver desta quarta-feira (13).
Após o resultado das eleições municipais, o partido viu uma divergência de análise por parte de lideranças históricas da legenda.
Dentro do próprio estado mineiro, na capital, houve uma disputa iniciada ainda no período de campanha entre aqueles que defendiam uma candidatura própria, que foi o caso com Rogério Correia (PT-MG), e os que apoiavam uma conciliação com o atual prefeito, que saiu reeleito, Fuad Noman (PSD).
O deputado federal ficou em sexto lugar nas eleições de Belo Horizonte, com 4,37% dos votos.
Em Juiz de Fora, cidade na Zona da Mata mineira, a quarta mais populosa do estado, Salomão venceu as eleições ainda no primeiro turno, com 53,96% dos votos, derrotando quatro candidatos de direita, alguns fidelizados ao bolsonarismo.
“O que eu acho que nós precisamos fazer é, em fidelidade a esses compromissos, começarmos a desenvolver dinâmicas políticas mais ambiciosas de diálogo com a sociedade, não apenas a sociedade organizada, porque aí a gente acaba ficando refém de uma idealização das décadas de 1980, de 1990”, explica a prefeita sobre o período que o PT ganhou expressão nacional no início da redemocratização do país, junto a ascensão dos sindicatos.
“Você tem que conversar com os desorganizados, está posto aí a necessidade de conversar com os motoboys, com as pessoas que são, na verdade, trabalhadores de aplicativos. Se eles se reconhecem como trabalhadores, é outro problema”.
Salomão atuou como deputada federal pelo PT entre 2013 e 2020, abrindo mão do cargo para assumir a prefeitura de Juiz de Fora, quando foi eleita pela primeira vez.
Antes de entrar na política institucional, Salomão esteve envolvida no ambiente acadêmico, tendo quase 40 anos de vínculo com a Universidade Federal de Juiz de Fora. Ela foi reitora da instituição por dois mandatos consecutivos.
Na entrevista, a prefeita disse que não considera deixar o cargo para disputar o governo do estado em 2026.
Confira a entrevista na íntegra
Como foi disputar a eleição cercada de candidaturas de direita?
Na realidade, não foi uma disputa com um candidato bolsonarista. Enfrentei quatro candidatos muito conservadores, uma das quais era uma deputada federal, na vigência do seu mandato.
E eles fizeram um fogo de barragem em cima de nós, porque eu era a prefeita incumbente, em processo de continuação.
Então, nós fizemos um enfrentamento grande, mas eu tive, a nosso favor, um argumento que é um argumento democrático de grande relevância: a altíssima aprovação do nosso governo pela cidade.
Nós tivemos essa espécie de blindagem por parte do eleitorado, mesmo com essa tentativa de desconstrução do nosso governo
A senhora cogita se lançar ao governo do estado?
Não, absolutamente. Inclusive, isso é um compromisso que eu assumi com a cidade de exercer o meu mandato na sua integridade, ou seja, até o dia 31 de dezembro de 2028.
A cidade tem uma espécie de uma frustração com mandatários que buscaram saídas eleitorais no meio do mandato, no meio de um segundo mandato. Então, eu assumi o compromisso de levar até o fim o mandato.
Como tem sido a relação com o governador, Romeu Zema (Novo)?
Olha, se eu dependesse do governo do estado, com seus recursos, para garantir o êxito das nossas políticas públicas, eu estaria na rua da amargura. Porque efetivamente o governo do estado nos ignora, ignora a Zona da Mata, e aqui não tem investimento nenhum do estado.
Eles fazem arroz com feijão e assim mesmo de uma forma muito precária. Então o que nós efetivamente obtivemos em primeiro lugar foi a legitimação pelo trabalho e pela nossa agenda democrática.
Como a senhora se posiciona nesse debate interno do PT sobre os rumos do partido?
O PT tem um imenso desafio pela frente, que é um desafio que só será enfrentado como um trabalho.
A democracia, já foi dito por muitos antes de mim, é de todos os regimes o mais trabalhoso, aquele que mais requer de você paciência, humildade e disposição de construção de soluções com base social.
Eu acho que seria uma tragédia o PT abandonar os seus compromissos programáticos de origem, isso pra mim é indisputável. Eu não quero nem colocar isso em discussão.
O que eu acho que nós precisamos fazer é, em fidelidade a esses compromissos, começarmos a desenvolver dinâmicas políticas mais ambiciosas de diálogo com a sociedade, não apenas a sociedade organizada, porque aí a gente acaba ficando refém de uma idealização das décadas de 1980, de 1990, que são períodos de forte ascenso da luta democrática, em que você tinha sujeitos muito bem definidos: a Igreja da Teologia da Libertação, as pastorais, os sindicatos que estavam naquele momento também, no período de afirmação das suas lutas.
Hoje eu acho que nós temos que dialogar com a sociedade organizada, sem sobra de dúvida, mas também é voz comum que você tem um esvaziamento muito grande dessas formas mais convencionais de organização da luta social.
Eu acho que você tem que conversar com os desorganizados, está posta aí a necessidade de conversar com os motoboys, com as pessoas que são, na verdade, trabalhadores de aplicativos. Se eles se reconhecem como trabalhadores, é outro problema.
Hoje as pequenas igrejas evangélicas são uma rede social de grande relevância. Eu estou me referindo à população negra, eu estou me referindo aos pobres, eu estou me referindo às pessoas que nós, inclusive, ambicionamos representar.
Então não posso ignorar por algum tipo de preconceito esse diálogo, esse diálogo é fundamental.
Nós devemos lembrar o ideal que levou a origem do PT, ao seu triunfante desenvolvimento histórico, que fez, de fato, sermos hoje o único partido de massas que há no Brasil. Os outros, inclusive esses que se dão como vencedores nessa eleição, são sopa de letrinhas.
Ao invés de nos curvarmos sobre o revés, nós [precisamos ver que] tivemos nessa eleição um dado muito impressionante, que era 81% de êxito dos candidatos que se dispuseram à reeleição.
E grande parte desses candidatos já eram os candidatos dos partidos identificados como centrão. Então, na verdade, eu acho que o PT foi menos mal do que alguns críticos avaliam.
Claro que nós queremos muito mais, e agora o que eu acho que nós temos diante de nós, como desafio, é nós nos reorganizarmos para fazer essa luta e consolidar a nossa aliança com os setores populares.
*Via: Viomundo
14 novembro 2024
Terrorismo em Brasília: 'Ele falava que ia matar o Alexandre de Moraes e quem estivesse com ele', diz ex-esposa do terrorista bolsonarista
Daiane, ex-esposa de Francisco Wanderley Luiz, diz que ele "morreu porque foi descoberto" antes de - provavelmente - executar "uma coisa maior"
247* - Em depoimento à Polícia Federal de Santa Catarina, Daiane, ex-esposa de Francisco Wanderley Luiz, conhecido nas redes como “Tiu França”, revelou que o terrorista bolsonarista, morto após atentados com explosivos em Brasília na noite de quarta-feira (13), tinha planos de assassinar o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes. As declarações foram divulgadas pela jornalista Daniela Lima, da GloboNews. Segundo Daiane, o ex-marido havia mencionado, em várias ocasiões, sua intenção de "matar Alexandre de Moraes e quem mais estivesse perto na hora do atentado".
O ataque resultou na morte do próprio Wanderley Luiz após a explosão de dois artefatos próximos ao Anexo IV da Câmara dos Deputados e na Praça dos Três Poderes, no Distrito Federal. O incidente, amplamente registrado em boletim policial, trouxe à tona o extremismo de simpatizantes de Jair Bolsonaro (PL), especialmente após sua derrota para o presidente Lula (PT) nas eleições de 2022.
Planejamento de um “ataque maior” - Daiane relatou que o ex-marido frequentou acampamentos golpistas logo após o resultado eleitoral de 2022 e que, recentemente, compartilhava com ela e outras pessoas uma série de pesquisas sobre como atacar o STF e a Câmara dos Deputados. As investigações da Polícia Federal indicam que Wanderley utilizava plataformas digitais para pesquisar sobre o ataque e estudar a logística. Questionada pelos agentes sobre as intenções dele, Daiane respondeu que Wanderley Luiz "morreu porque foi descoberto" antes de - provavelmente - executar "uma coisa maior".
A ex-esposa contou ainda que, apesar de não ter frequentado o acampamento golpista em Brasília no dia 8 de janeiro, ela e o ex-marido participaram de manifestações em outros locais. Daiane revelou que ele compartilhava seus planos em um grupo de mensagens, o qual será analisado pela PF, que investiga possíveis coautores e apoiadores envolvidos no atentado.
A noite das explosões - Segundo informações do boletim de ocorrência da Polícia Civil do Distrito Federal, Wanderley Luiz era o proprietário do veículo que explodiu próximo à Câmara dos Deputados, e ele mesmo provocou a explosão de um segundo artefato na Praça dos Três Poderes. Testemunhas relataram terem ouvido as explosões, enquanto seguranças do STF descrevem que Luiz, com uma mochila nas costas, posicionou-se em frente ao edifício do tribunal e retirou diversos objetos suspeitos, incluindo um extintor de incêndio.
Em um momento de alta tensão, Luiz teria ordenado aos seguranças que não se aproximassem e exibido um dispositivo com relógio digital, o que foi interpretado como uma bomba. Pouco depois, ele se deitou no chão com a bomba sob a cabeça e esperou pela explosão fatal. -*Via Brasil247
13 novembro 2024
ELEIÇÕES OAB/RS: 'MUDA OAB/RS - POR QUE MUDAR?'
No próximo dia 22 de novembro ocorrerão as eleições para a nova direção da OAB/RS.
Estamos - com muita honra! - integrando a nominata da Chapa 2, Muda OAB/RS (foto), de oposição à atual direção, que tem como candidato a Presidente o colega e companheiro Dr. Paulo Torelly e, como vice, a colega Dra. Lúcia Koppitke. Veja a seguir:
"Essa é a chapa 2: MUDA OAB RS – SOMOS TOD@S OAB! Estamos aqui para transformar a Ordem dos Advogados do Brasil no Rio Grande do Sul em uma entidade que representa, defende e valoriza cada advogada e advogado. Nosso compromisso é lutar por uma OAB que realmente atenda às necessidades da advocacia e da sociedade gaúcha, promovendo a transparência, a justiça e a participação efetiva de todos.
Por que mudar?
Nossa advocacia enfrenta desafios urgentes: prerrogativas violadas, precarização do trabalho, e falta de representatividade . A OAB precisa ser mais inclusiva, acessível e comprometida com as demandas reais da advocacia. Acreditamos que uma mudança verdadeira é possível com uma gestão que priorize a participação democrática, a valorização dos profissionais e a defesa intransigente dos direitos de cada advogado e advogado." (...)
*CLIQUE AQUI para ver - e ler - na íntegra, a relação dos integrantes, bem como as propostas e compromissos da Chapa 2 - Muda OAB/RS.
12 novembro 2024
A perversidade da escala 6x1
Nada justifica que um trabalhador tenha apenas um dia para descansar e ficar com a família
Por Igor Felippe Santos*
A campanha contra a escala 6x1, que impõe seis dias de trabalho para um dia de descanso, tem ganhado força na sociedade e impulsionado uma agenda universal da classe trabalhadora, abrindo uma janela para a retomada do debate sobre relações trabalhistas e diminuição da jornada.
A petição pública online, lançada pelo movimento Vida Além do Trabalho (VAT), ultrapassou 2 milhões de assinaturas. Depois da aprovação da lei da política de valorização permanente do salário mínimo, sancionada pela presidenta Dilma Rousseff em 2012, é a primeira vez que uma pauta com o caráter de conquista de direitos trabalhistas demonstra apelo popular e força na cena política.
Nesse período, o Brasil passou por uma ofensiva da burguesia, que levou ao impeachment de Dilma Rousseff em 2016. Um dos principais objetivos foi diminuir o custo da força de trabalho. A reforma trabalhista em 2017, bastante desfavorável para os trabalhadores, foi uma reação à queda do desemprego e ao aumento da participação dos salários no PIB, que teve um crescimento de 4% entre 2004 e 2013, retomando o patamar de 1995.
Desde então, a agenda dos direitos trabalhistas ficou obstruída, inclusive no debate com a sociedade. A ofensiva ideológica para impor o desmonte da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) prometia "modernizar" a legislação, diminuir a burocracia e aumentar a oferta de vagas de emprego. Não foi o que aconteceu.
Estudo de pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP), publicado em 2022 com base na simulação de cenários comparativos do Brasil com países da América Latina e do Caribe, apontou que a reforma não apresentou efeito estatisticamente significativo sobre a taxa de desemprego. Caiu mais uma mistificação neoliberal.
Agora, a adesão à campanha pelo fim da escala 6x1 e a diminuição da jornada de trabalho é um fato novo que coloca em movimento a luta em defesa dos direitos da classe trabalhadora. O primeiro sinal da força dessa bandeira foi a eleição de Rick Azevedo (Psol-RJ), líder do movimento VAT, com uma votação expressiva de 29 mil votos para vereador na cidade do Rio de Janeiro.
O jovem de 30 anos ganhou notoriedade nas redes sociais com denúncias da exploração que sofreu quando trabalhava no comércio na escala 6x1. A partir disso, assumiu a luta com centralidade, criou o movimento VAT e passou a fazer uma ação permanente nas redes sociais e em regiões do comércio no Rio para conversar com os trabalhadores. É o famigerado trabalho de base.
Agora, ganha um novo impulso com a repercussão da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da deputada federal Erika Hilton (Psol-SP), que propõe acabar com a escala de trabalho 6x1 com a redução da jornada de trabalho para 36 horas semanais, sem alteração na carga máxima diária de oito horas e com a manutenção dos salários.
Uma ação nas redes sociais pressiona parlamentares a assinar o texto para que a PEC possa ser protocolada. São necessárias 171 assinaturas para o projeto ser apresentado à Mesa Diretora da Câmara dos Deputados. Depois de hibernar por meses, obteve nos últimos dias mais de 130 assinaturas e deve alcançar o número mínimo até o final desta semana.
Até mesmo parlamentares de extrema direita, como Eduardo Bolsonaro (PL-SP), Nikolas Ferreiras (PL-MG) e André Fernandes (PL-CE), sofreram constrangimentos e receberam críticas por não assinarem o texto da PEC. Como justificar que um trabalhador tenha apenas um dia por semana para descansar?
A jornada de oito horas de trabalho por seis dias na semana simboliza a perversidade da exploração da classe trabalhadora em pleno século 21. Nada justifica que um trabalhador tenha apenas um dia para descansar e ficar com a família. É o elo fraco da classe dominante no debate sobre as relações trabalhistas.
Esse regime de trabalho é comum, sobretudo, no comércio e no varejo. Somente nesse segmento são mais de 19 milhões de trabalhadores, que estão empregados em lojas, supermercados e shoppings que permanecem abertos praticamente todos os dias
No entanto, não é uma exclusividade do comércio. Indústrias que atuam com produção contínua (petroquímica, alimentícia, farmacêutica etc), serviços de saúde como hospitais e clínicas, setor de transporte e logística, setor de hotelaria e turismo, serviços de segurança e vigilância e até mesmo na construção civil exigem essa escala.
A tramitação da PEC tem vários passos e a aprovação depende do apoio de pelo menos 3/5 dos deputados federais (308) e senadores (49). Por isso, requer uma intensa mobilização da sociedade brasileira, com protagonismo do movimento sindical e uma forte adesão da classe trabalhadora.
É uma oportunidade, inclusive, para o governo Lula sair das cordas e mudar a agenda nacional, diante da pressão do capital financeiro e dos meios de comunicação empresariais para fazer um ajuste fiscal com o corte de benefícios sociais. Por que não abraçar e estimular uma luta pela diminuição da jornada de trabalho que pode colocar seus inimigos na defensiva?
A luta pelo fim da escala 6x1 tem potencial de reconectar as organizações do campo democrático-popular com segmentos expressivos da classe trabalhadora. É uma bandeira simples, justa e direta, que incide sobre uma prática desumana que expõe a exploração do mercado de trabalho na atualidade.
Um movimento nacional para acabar com a exploração da escala 6x1 pode colocar a classe trabalhadora em movimento e mudar a correlação de forças. Marchar para obter uma vitória pode resgatar a auto-estima dos trabalhadores e a esperança na organização e na luta.
*Igor Felippe Santos é jornalista e analista político com atuação nos movimentos populares.
-Via Brasil de Fato
11 novembro 2024
DAP: Comunicado aos militantes e simpatizantes e direção do PT
O agrupamento Diálogo e Ação Petista [DAP] realizou uma Plenária Nacional nesta tarde de sábado, online. A atividade contou com a presença de mais de 450 petistas de diferentes regiões previamente cadastrados, e adotou uma Declaração Política.
A Plenária decidiu constituir-se em DAP Associação. A decisão visa reforçar o caráter independente financeira e politicamente do agrupamento para o qual se associaram nas últimas semanas, voluntariamente, 748 petistas de 23 Estados.
A Plenária avaliou o resultado das Eleições Municipais 2024 e a situação nacional e internacional posterior. Diz a Declaração Política adotada:
“A maior derrotada em 2024 foi a ‘política nacional de alianças’ da cúpula do PT, visando a reeleição de Lula em 2026. O tiro saiu pela culatra. Em um vale tudo, ela não deteve a extrema-direita como pretendia, ao contrário, o PL foi o partido mais votado.”
E concluiu sobre o caminho a seguir:
“Com esse Congresso não dá, vamos reagir e não nos adaptar! É necessário uma Reforma Política que termine com a apropriação do orçamento pelas emendas parlamentares; que estabeleça ‘uma pessoa, um voto’, que este voto seja em lista, e com um financiamento público exclusivo. É o caminho de um movimento por uma Constituinte Soberana onde a palavra seja dada ao povo, para refundar as instituições e fazer as reformas que não foram feitas.”
Esse é o debate que o Diálogo e Ação Petista se propõe a abrir no Partido dos Trabalhadores. O processo de discussão e organização do DAP Associação prossegue. O cadastro associativo reabre na segunda-feira (11/11).
O DAP Associação convocou um ciclo de reuniões dos Grupos de Base até o fim do verão e um Encontro Nacional presencial para março.
*CLIQUE AQUI par ler a íntegra da Declaração.
-Via https://militante.petista.org.br/eia a íntegra da Declaração
07 novembro 2024
A Venezuela realmente existente
Falar das mentiras repetidas que viram verdade não adianta, pois a simples menção da “Venezuela” bloqueia o valor dessa velha lição sobre a manipulação
Por Anisio Pires (*)
A quantidade e a “qualidade” das coisas ditas sobre a Venezuela sempre surpreendem. Sem saber muitas vezes o que responder, nos indignamos ou damos gargalhadas pelas estapafúrdias histórias nas quais se acredita. No entanto, o assunto é sério e perigoso. Nos dias 29 e 30 de julho passado, assassinaram 27 pessoas em protestos “pacíficos” que “reclamavam” pelo resultado eleitoral. Todos os que morreram apoiavam o governo, ninguém era da “oposição pacífica”. Tendo o governo bolivariano, como todos no mundo, o mando das forças militares e policiais, como explicar que a “ditadura” não reagiu para vingar essas mortes?
Falar das mentiras repetidas que viram verdade (Goebbels) não adianta, pois a simples menção da “Venezuela” bloqueia o valor dessa velha lição sobre a manipulação. Parece o fumante e o cigarro. A pessoa sabe que faz mal, mas pelo vício, continua. O “vício” de atacar a Venezuela pode mais que a verdade e na era das redes e dos algoritmos, ideias para prevenir enganos dificilmente atravessam os muros psicológicos.
Repetir que a Venezuela “tem problemas como qualquer país” tampouco explica nada. Moro na Ilha de Margarita (estado Nueva Esparta) que possui algumas vantagens, mas também desvantagens em relação ao resto do país. Fora isso, tudo normal. Deixo o convite-desafio. Venham e confiram pessoalmente, em qualquer horário e cidade que escolherem, se a mídia interessada mente ou não.
O país está em paz. É falso que exista violência tipo guerra civil. No passado tivemos muita violência criminosa. Agora, graças aos programas de segurança, é coisa do passado. Paraiso? Não, mas bem longe do inferno. Prevalece o policiamento preventivo o que não elimina confrontos com o crime organizado. As cidades se dividem em “quadrantes de paz” por áreas geográficas. A população recebe o telefone de contato de seu quadrante e, quando alguma coisa real ou suspeita acontece, o chama. Já utilizei esse serviço em duas ocasiões e a resposta foi rápida. Detalhe importante. Blitz indiscriminadas contra inocentes como no Brasil, aqui não ocorrem. Em 25 anos de revolução jamais houve uma tragédia como a do músico Evaldo dos Santos Rosa, sua esposa e filho de 7 anos. Em 2019, no Rio, levaram mais de 80 tiros. Militares os “confundiram” com um bandido.
O triste fenômeno brasileiro de milhares de pessoas dormindo nas ruas, aqui não existe. Uma pessoa ou outra em territórios específicos, mas são poucas. É verdade que o bloqueio dos EUA fez retroceder muitos dos serviços públicos, mas o caso da moradia virou questão de honra para o governo. O programa de moradias gratuitas (Gran Misión Vivienda Venezuela) iniciado em 2011 com Chávez nunca parou. Com uma população de quase 30 milhões, já foram entregues mais de 5 milhões de moradias gratuitas e de qualidade.
A situação desumana de pessoas catando “comida” no lixo é uma raridade e o fenômeno de perseguir caminhão de ossos, na Venezuela, nunca existiu! A fake news absurda de “pessoas comendo gatos e cachorros” é pura maldade. Enquanto isso, quando se trata da Coreia do Sul, a “Coreia capitalista”, onde comer cachorro é um antigo costume, nada se fala. Apenas em 2027 este costume será tornado ilegal por uma lei recém aprovada. Por pressões internacionais, o Ministério de Agricultura coreano propôs pagar “compensações” aos fazendeiros (de 170 a 450 dólares) para cada cão não abatido. No entanto, os fazendeiros consideram um valor muito baixo. Exigem 1.500 dólares para manter os bichinhos vivos. (https://rtbrasil.com/noticias/5938-coreia-sul-pagara-cada-cao/). Ninguém sabe que na Venezuela, apesar de tudo, tem um programa criado em 2014 para proteger os animais, a “Misión Nevado” (https://misionnevado.gob.ve/). E para mostrar o quanto é estúpida essa fake news, é importante informar que muitas pessoas já foram presas por maltrato animal. (https://www.globovision.com/nacional/9221/cerca-de-150-detenidos-por-maltrato-animal-el-primer-semestre-de-2023). Na “humanista” Coreia, matar cachorros dá lucro, na “sanguinária” Venezuela, dá cadeia.
O povo venezuelano tem passado muitas dificuldades, evidentemente desiguais (nem todos tem sofrido) porque desigual é sua sociedade ainda capitalista que quer transitar com muitas contradições ao socialismo.
O fenômeno da migração de venezuelanos como “prova de tirania” é parte do perverso bloqueio ao pais. Veio acompanhada de campanhas psicológicas para que as pessoas vissem as coisas ainda piores. Manipulando as dificuldades reais com mensagens neurotizantes (“este país não tem saída”, “este país é um horror”, etc.), a direita vem promovendo a migração, dizendo que o país “já não presta” porque os “chavistas” tomaram conta.
É passível de crítica que o governo nem sempre divulgue os dados sobre a realidade do país, embora pareça razoável que nenhum país, grupo humano ou individuo revele suas fraquezas frente a um inimigo, menos ainda se este quer te destruir. Apesar disso, surgem informações que permitem conhecer as “feridas de guerra” como diz o governo. Em 2019, o Informe dos economistas Mark Weisbrot e Jeffrey Sachs do Centro de Investigação em Economia e Política (CEPR-Washington) teve um título sugestivo: “Sanções econômicas como castigo coletivo: o caso da Venezuela”. Com dados de instituições não vinculadas ao Estado, o informe revelou que só entre 2017 e 2018 a cifra estimada de mortes em consequência do bloqueio estadunidense foi de mais de 40 mil pessoas (https://cepr.net/images/stories/reports/venezuela-sanctions-2019-05-spn.pdf).
Apesar dessas feridas dolorosas, o governo foi capaz de reagir, sendo a melhor prova disso a sua resposta durante a pandemia da Covid-19. As medidas prontamente adotadas pela Venezuela resultaram nas menores taxas de mortalidade da América Latina. Lembremos do gesto solidário do Presidente Maduro enviando oxigênio para salvar vidas em Manaus enquanto o genocida falava em “gripezinha”.
Na mensagem anual ao país (janeiro de 2024) o Presidente revelou ao mundo parte do sofrimento por trás da migração: “o déficit nutricional da família venezuelana chegou em 35% no ano 2017”. Para 2024, graças as iniciativas alimentares do governo, o déficit se reduziu a 6,5%. Contribuiu para isso a política de produção alimentar implementada. De uma Venezuela que importava perto de 80% dos alimentos que consumia, passamos em 2024, apesar do bloqueio dos EUA, a 100 % de abastecimento com produção nacional.
Mas se as coisas não estão assim tão ruins, cabe a pergunta: por que nas eleições de julho passado (que a direita diz que foram fraudadas), os opositores extremistas obtiveram 43% dos votos? Há vários aspectos.
Por um lado, está a questão salarial. Pesquisas revelam que a população espera que o Presidente resolva a questão. Do salário mínimo mais elevado do continente na era Chávez, hoje se tem um dos mais baixos. O governo até agora não conseguiu dar os aumentos que a população anseia ao mesmo tempo que reivindica o bom desempenho da economia (treze trimestres de crescimento continuo), o que retroalimenta em parte a insatisfação. No entanto, os baixos salários por si só não explicam como um candidato desconhecido, sem carisma, de saúde abalada, que quase não fez campanha, tenha conseguido dar à extrema-direita essa votação.
Oscar Shémel, diretor do instituto de pesquisa Hinterlaces fala do “voto neurótico”. Segundo ele, a guerra contra a Venezuela não é somente política, econômica e militar, mas multidimensional, onde o fator comunicativo, a “guerra cognitiva”, ocupa um papel fundamental. O ataque incessante via redes sociais impede as pessoas de pensarem, confunde-as, desconectando-as da realidade. O resultado é ansiedade, raiva, frustração e ódio, sentimentos que a mídia conseguiu dirigir contra aquele que foi transformado no objeto da neurose das pessoas, o Presidente Maduro. Num fenômeno irracional parecido ao da Argentina que elegeu Milei, uma porção da população foi votar para tirar Maduro de uma vez e do jeito que fosse. “Vamos acabar com isto de uma vez”. O que faltou a Schémel nessa análise foi incluir as falhas (burocracia, corrupção e deficiência nos serviços públicos) como elementos que também contribuíram para alimentar a neurose. Entenda-se que várias dessas falhas que geram mal-estar na população vêm de longa data numa confusa mistura de falta de sensibilidade política de certos dirigentes e funcionários, antivalores e ações contrarrevolucionárias de pessoas que propositalmente agem contra o governo, afetando a imagem da revolução. O governo sabe desses problemas, mas não fica claro se tem dificuldades para encontrar soluções ou se subestima seu impacto negativo na população. É como se a confiança nas indiscutíveis virtudes e fortalezas da revolução gerassem uma espécie de “conformismo revolucionário”.
Reafirmando a soberania e a independência da Venezuela, a Revolução Bolivariana vem fazendo um esforço para revalorizar “O afirmativo venezuelano” (Augusto Mijares). A questão é que não se percebe ou não se dá a devida importância à necessidade de reafirmar o sentimento nacional patriótico e o amor pela Pátria, na excelência e bom funcionamento de tudo o que se faça, sobretudo nos serviços públicos e na infraestrutura do país. Poder fazer o exame, o raio X ou ter o medicamento hoje e não na semana ou no mês que vem, faz a diferença entre o humanismo revolucionário e o burocratismo. Por que o povo necessitado que todos reivindicam como a “prioridade” deve ter paciência e esperar? Para que se entenda. Imaginem um cidadão chinês saindo de uma das espetaculares estações de trem de alta velocidade e que seja abordado por um agitador político de direita para falar mal da “ditadura” do país. Esse cidadão que acaba de viver uma experiência futurística gratificante olhará na cara desse agitador e o ignorará. Meus compatriotas chavistas, por razões várias, parecem subestimar a importância dessas vivencias concretas para as pessoas, esperando as vezes um apoio quase religioso para a causa revolucionária. Uma e outra vez esquecem que foi o próprio Chávez quem afirmou: “O socialismo deve ser humanamente gratificante”. Nós que tanto nos orgulhamos da resistência do povo venezuelano, devemos pensar em termos de “amor estratégico” e nos convencer que quanto mais gratificante seja a vida do povo, mais força terá o exemplo da Venezuela no mundo como Pátria rebelde, livre, soberana e independente.
A genialidade humana do Comandante Chávez estava nesse dom especial de ver ao mesmo tempo além (a geopolítica mundial) e aquém (os dramas cotidianos do povo). Tentemos ser como Chávez.
Os problemas existentes estão na preocupação de dirigentes históricos como Elías Jaua que foi vice de Chávez. Numa entrevista recente falou sobre “as retificações necessárias” para atender melhor o povo. O assunto foi inclusive tema de debate na última campanha eleitoral por parte de uma nova corrente dentro do chavismo, o “Movimento Futuro”. Integrado por vários ministros e dirigentes da revolução, seu principal porta-voz o atual Ministro de Educação, Hector Rodriguez, foi bem explícito: “Não pensamos pedir licença nem perdão por criticar o que tenha que se criticar”. Até o próprio Presidente Maduro tem reclamado de problemas locais de fácil solução que depois de muito tempo ele teve que resolver porque as instâncias e equipes intermediárias não o fizeram. O Presidente vem criticando o que ele chama de “minimalismo”. Trata-se dessa atitude de certos dirigentes e funcionários de fazerem o mínimo, apenas para cumprirem, com suas tarefas.
Neste momento estão acontecendo assembleias por todo o país reunindo as cinco gerações envolvidas na revolução (desde os guerrilheiros dos anos 60 até a gurizada mais nova), visando uma série transformações a curto, médio e longo prazo, onde se destaca a necessidade de construir um Novo Estado mais eficiente e dinâmico. Em termos gramscianos, o Presidente refletiu que, após 25 anos de revolução, o velho Estado não terminava de morrer e que o novo parecia não querer nascer, pois até agora apenas tinham aparecido alguns germes. Maduro propõe dar um novo impulso nos próximos 6 anos a esse Novo Estado de caráter Social e Popular rumo ao “Estado Comunal”. Mais democracia direta, alicerçada em tomadas de decisão no espírito do Orçamento Participativo (Programa Maduro + Nº 61). O Presidente quer que mais de 70% do orçamento público seja entregue diretamente ao Poder Popular. Isso faz lembrar “O Estado e a Revolução” de Lenin e o projeto de devolver à sociedade o poder original que foi apropriado pelo Estado ao longo da história. Apesar de interessante, vemos essa proposta com “o otimismo da vontade e o pessimismo da razão” (Gramsci). 12 anos atrás o próprio Chávez impulsionou uma sacudida na revolução, o “Golpe de Timão”, que tinha na “Comuna ou nada” sua ideia mais importante. 12 anos depois, embora se fale do aumento numérico das comunas, não se percebe seu impacto na solução, estável no tempo, dos problemas cotidianos das pessoas. A transferência de recursos trará novas contradições e disputas egoístas porque segue muito embrionário “o espirito da comuna” que segundo o próprio Chávez “é muito mais importante, neste momento, que a Comuna mesma”. Sem a “cultura comunal” dificilmente o poder popular poderá tornar-se dono coletivo do Estado. Essa pedagogia política e cultural tem sido descuidada como o revelam os conjuntos habitacionais entregues por todo o país. Na maioria deles os antivalores capitalistas seguem muito presentes, ao ponto de que nas eleições passadas, pessoas dissociadas e desagradecidas se manifestaram contra o governo apesar de terem recebido casas confortáveis de forma gratuita. A síndrome dos “pobres de direita”.
Estas reflexões sobre a humanista Venezuela Bolivariana que defendemos, são heréticas. Apesar da alta votação recebida pela extrema-direita, poucas pessoas da vanguarda bolivariana falam no assunto. Um dos intelectuais mais importantes do país, Luis Britto Garcia, fez breves comentários. Apontou que o nível de abstenção foi mais elevado e o qualificou como “um voto negativo cujo sentido devemos interpretar”. Contrastando os resultados em suas fortalezas e debilidades, Luis Britto afirmou: “nosso sistema político socialista tem produzido resultados esplêndidos que temos comentado e comemorado. Ao mesmo tempo, tem mostrado vulnerabilidades internas inaceitáveis”. (http://luisbrittogarcia.blogspot.com/2024/08/mas-verdades-electorales.html).
Em 2004, numa eleição que Chávez ganhou por mais de 5 milhões (a direita obteve mais de 4), Fidel Castro comentou a seu amigo: “Chávez, na Venezuela não pode haver quatro milhões de oligarcas”. Cinco anos depois (2009) em outra eleição que Chávez também venceu por mais de 6 milhões (a direita mais de 5), o falecido jornalista José Vicente Rangel que foi vice de Chávez, parafraseou Fidel num artigo: “Cinco milhões de oligarcas? ”. Rangel alertava naquela ocasião: “algo não está marchando bem”.
Nas recentes eleições três coisas ficaram muito evidentes: 1). O apoio popular de 52% à Revolução Bolivariana é indiscutível; 2). Não há 43% de oligarcas; 3). Tem coisas que seguem sem marchar bem.
Para uma revolução no poder, assediada por fora e por dentro, o perigo dessas vulnerabilidades chama-se fascismo. Dada a proliferação de movimentos fascistas pelo mundo, muitos companheiros de luta vêm repetindo, como sinal de firmeza e radicalidade, uma frase que se tornou popular: “fascismo não se discute. Fascismo se combate”. A pergunta é, Como?
No plano militar, a Rússia na Ucrânia está dando um bom exemplo. No plano político, a Venezuela e outros países vêm implementando um conjunto de medidas legais para impedir que os fascistas se aproveitem do Estado de Direito para promover o ódio e a violência, incluída a utilização das redes sociais. Como já disse o influencer brasileiro Felipe Netto, o lucro que alimenta os algoritmos que promovem o ódio só se pode enfrentar com leis firmes que regulamentem seu funcionamento.
No plano social a coisa é mais complexa. As necessidades materiais e espirituais que o capitalismo não satisfaz e são por ele promovidas via propaganda de consumo, geram insatisfações e frustrações permanentes que parecem ser subestimadas pela vanguarda. Nos anos 30 quando Trotski tentou alertar sobre o perigo fascista na Alemanha, afirmou: “Se o partido Comunista é um partido de «esperança revolucionária», o fascismo, como movimento de massas, é então um partido de «desespero contrarrevolucionário»”. A vanguarda bolivariana parece não estar valorando o peso desse desespero neurotizante na população, descuidando a qualidade e efetividade das respostas, achando que com denunciar o discurso falso e hipócrita da extrema direita será suficiente para conquistar o apoio da população. No Podcast do Presidente Maduro com Diego Ruzzarin e Juan Carlos Monedero, este último mencionou duas lições: 1. O fascismo vence quando a esquerda se divide; 2. “No auge do fascismo sempre há um erro das esquerdas que não fizemos bem nossas tarefas”.
O chavismo estará fazendo as tarefas? Respondamos com outra pergunta: Descartada a minoria oligárquica e outros setores ricos e médios com muito dinheiro e interesses obscenos, por que mais de 30% dos eleitores (somados os que se abstiveram), não se identificam com a generosa ideia de Bolívar de construir uma sociedade que ofereça às pessoas “a maior soma de felicidade possível”? Seguimos sob ameaça. Na resposta a essa pergunta poderemos encontrar juntos, povo e vanguarda, a chave para que a Revolução Bolivariana se torne “irreversível” como defendia o jovem deputado Robert Serra, assassinado covardemente pela direita.
Estas são as nossas verdades sobre a Venezuela realmente existente. Olhares, vivencias e críticas construtivas na defesa de sua revolução que acima de tudo luta pela vida.
(*) Anisio Pires, sociólogo venezuelano (UFRGS/Brasil), professor da Universidade Bolivariana da Venezuela (UBV)
-Fonte: Sul21