02 julho 2025

Ode ao Dous de Julho

 



Castro Alves*

Era no dous de julho. A pugna imensa
Travara-se nos cerros da Bahia…
O anjo da morte pálido cosia
Uma vasta mortalha em Pirajá.
“Neste lençol tão largo, tão extenso,
“Como um pedaço roto do infinito…
O mundo perguntava erguendo um grito:

“Qual dos gigantes morto rolará?!…”
Debruçados do céu… a noite e os astros
Seguiam da peleja o incerto fado…
Era a tocha — o fuzil avermelhado!
Era o Circo de Roma-o vasto chão!
Por palmas-o troar da artilharia!

Por feras-os canhões negros rugiam!
Por atletas-dous povos se batiam!
Enorme anfiteatro — era a amplidão!
Não! Não eram dous povos, que abalavam
Naquele instante o solo ensangüentado…
Era o porvir-em frente do passado,

A Liberdade-em frente à Escravidão,
Era a luta das águias — e do abutre,
A revolta do pulso-contra os ferros,
O pugilato da razão — com os erros,
O duelo da treva-e do clarão!…
No entanto a luta recrescia indômita…

As bandeiras — como águias eriçadas —
Se abismavam com as asas desdobradas
Na selva escura da fumaça atroz…
Tonto de espanto, cego de metralha,
O arcanjo do triunfo vacilava…
E a glória desgrenhada acalentava

O cadáver sangrento dos heróis!…
Mas quando a branca estrela matutina
Surgiu do espaço… e as brisas forasteiras
No verde leque das gentis palmeiras

Foram cantar os hinos do arrebol,
Lá do campo deserto da batalha
Uma voz se elevou clara e divina:
Eras tu— Liberdade peregrina!
Esposa do porvir-noiva do sol!…
Eras tu que, com os dedos ensopados
No sangue dos avós mortos na guerra,
Livre sagravas a Colúmbia terra,

Sagravas livre a nova geração!
Tu que erguias, subida na pirâmide,
Formada pelos mortos de Cabrito,
Um pedaço de gládio — no infinito…
Um trapo de bandeira — n’amplidão!…
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**Nota: Em “Ode ao Dois de Julho” (ou “Dous” de Julho, como grafado na versão original), Castro Alves faz uma espécie de poema épica em homenagem à Independência da Bahia, ocorrida em 2 de julho de 1823. Nessa data em questão, houve um conflito intenso entre as forças de Portugal e as do Brasil, resultando na expulsão dos europeus e na consolidação da Independência do Brasil.

Na primeira estrofe vemos uma descrição do campo de batalha, nos cerros da Bahia, com um anjo da morte costurando uma mortalha (um pano funerário) em Pirajá, onde aconteceu um dos conflitos decisivos. Nesse primeiro momento ainda resta a dúvida: qual dos dois gigantes vencerá, Brasil ou Portugal?

27 junho 2025

"Lula deveria desmontar todo o ministério desta coesão inexistente"


247* - A colunista Hildegard Angel, do Brasil 247, foi às redes sociais nesta quinta-feira (26) e defendeu que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) “desmonte” ministérios cedidos ao centrão em nome de uma coesão que, hoje, se revela "inexistente”. A reação ocorre poucas horas depois de o Congresso derrubar o decreto que aumentava o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), impondo a Lula uma grande derrota fiscal.

“Lula deveria desmontar esse ministério de uma coesão inexistente, enviar para o Congresso todas as reformas necessárias, sem suavizar nada, sem contemporizar, e o Congresso que faça o habitual serviço sujo e fique ainda mais desmoralizado. O que estão fazendo com Lula chama-se ‘fritura’ no jargão político. Quando o óleo estiver a 180°, eles aprontam um impeachment cabuloso”, escreveu Hildegard.

Hildegard defende que Lula encaminhe um pacote de reformas estruturais – política, tributária e administrativa, por exemplo – e deixe que deputados e senadores arquem com o desgaste de possíveis cortes ou ajustes. 

O revés no IOF foi retumbante: a Câmara aprovou o Projeto de Decreto Legislativo por 383 votos a 98, e o Senado confirmou a anulação em votação simbólica. Segundo levantamento da CNN Brasil, 63% dos votos pela derrubada vieram de partidos que ocupam ministérios, como MDB, PSD, União Brasil, PP e Republicanos, sinalizando o esfacelamento da base aliada. Apenas Psol, PCdoB e Rede votaram integralmente com o governo.

O detalhamento do painel eletrônico expôs a dimensão da debandada. No MDB, 41 deputados votaram contra o Palácio do Planalto, enquanto no PP todos os 49 presentes apoiaram a derrubada. Até no PT houve um voto favorável – depois atribuído a erro técnico pelo deputado Rui Falcão. 

A derrota compromete o plano do Ministério da Fazenda de reforçar a arrecadação em 2025 – a equipe econômica calculava levantar até R$ 10 bilhões com a alta do IOF. Agora, o governo estuda alternativas para tapar o rombo sem prejudicar a meta fiscal. 

Nos bastidores, líderes governistas reconhecem que a estratégia de distribuir ministérios em troca de votos não garantiu fidelidade. A avaliação é que o governo terá de reorganizar o núcleo político, estabelecendo prioridades claras e mobilizando militância e opinião pública para pressionar o Parlamento – exatamente o que Hildegard sugere ao defender “desmontar” a atual configuração de poder.

*Fonte: Brasil247

Sabotagem do Congresso implode frenteamplismo e exige de Lula mobilizar o povo

É hora de envolver o povo, radicalizar a pauta em defesa do trabalhador e entender a dinâmica de percepção comunicativa das redes - pautar, dominar e convencer

Luiz Inácio Lula da Silva (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)

Por Tiago Barbosa*

A sabotagem parlamentar hedionda contra o povo implode o frenteamplismo e exige a adoção de novas forças de pressão social.

A governança sobre uma base movediça, instável e oportunista fracassou na geleia ideológica de um congresso inescrupuloso.

Deputados e senadores se locupletam na ganância pra sugar o orçamento enquanto minguam recursos - e o futuro - do país.

Representam um mercado sem limites ou freios na sanha insaciável por dividendos transbordados da desigualdade incurável.

Agem sob endosso de uma mídia amoral, acrítica e servil ao eterno projeto falido de vencer Lula e enterrar a pauta popular.

Sob um sistema de desinformação eficaz em gerar falsas leituras da realidade para induzir desalento e ódio - a matéria-prima do recrutamento alienado do extremismo.

Esse cenário emoldurado por agentes do atraso - âncoras de um Brasil assediado por grilhões da escravidão - entrava toda forma habitual de composição política.

O noticiário distorcido e as redes invadidas por mentiras e violência ilustram o cárcere coletivo na irracionalidade - o país vaga preso, cego e mudo de consciência.

Incapaz de enxergar injustiça e opressões de classe para se mobilizar por reações de equiparação de direitos e privilégios.

A governança ruiu - e só a entrada de novos atores no tabuleiro político reequilibra minimamente a disputa pelo Brasil.

É hora de envolver o povo, radicalizar a pauta em defesa do trabalhador e entender a dinâmica de percepção comunicativa das redes - pautar, dominar e convencer.

Não faltam canais e recursos - o primeiro passo é coragem.

*Tiago Barbosa é Jornalista, pós-graduado em História e Jornalismo, com passagem por jornais de Pernambuco

Fonte: Brasil247

"MERCADO" (Charge)

 


13 junho 2025

Fim do genocídio em Gaza demanda que países rompam relações com Israel, diz Fepal; ato em SP cobra medida do Brasil neste domingo (15)*

Mais de 30 movimentos populares se reúnem às 11h, na Praça Roosevelt, em ato pela unificado pela Palestina

Mulheres palestinas aguardam a distribuição de refeições quentes em Nuseirat, região central da Faixa de Gaza, em 4 de junho de 2025 - Eyad BABA / AFP

Mais de 30 movimentos populares, organizações e coletivos devem se reunir neste domingo (15), em São Paulo, em um grande ato unificado pela Palestina. A mobilização ocorre na Praça Roosevelt, a partir das 11h, e tem como objetivo pressionar o governo brasileiro a adotar medidas práticas diante do massacre promovido por Israel contra o povo palestino, especialmente na Faixa de Gaza.

Em entrevista ao programa Conexão BdF, da Rádio Brasil de Fato, o presidente da Federação Árabe Palestina do Brasil (Fepal), Ualid Rabah, argumenta que a forma mais eficaz de pressionar o regime israelense é seguir os mesmos caminhos usados historicamente contra outros regimes de apartheid e genocídio, como o da África do Sul. “Parar o genocídio acontece quando o governo brasileiro rompe relações com Israel. E essa é a pretensão desse grande movimento global”, declara.

Os meios, segundo Rabah, referem-se àqueles “em que a cidadania global se insurgiu em todo o mundo, tomou as ruas, pressionou os seus governos, os seus estados, os seus regimes, as suas figuras públicas”. “O mesmo foi feito contra a Alemanha, de 1933 a 1939, antes da Segunda Guerra Mundial“, acrescenta.

O dirigente destaca que o protesto busca dar visibilidade internacional ao que classifica como o “maior genocídio de todos os tempos”. “O mundo enxerga o genocídio que acontece na Palestina, notadamente na sua parcela territorial chamada Faixa de Gaza”, afirma Rabah. Segundo ele, o impedimento da ajuda humanitária e os ataques ilegais em águas internacionais, como o caso do barco Madleen, da Flotilha da Liberdade, também serão denunciados.

Rabah relaciona a violência atual em Gaza ao genocídio da Segunda Guerra Mundial. “Na Palestina, em Gaza, Israel mata 3,55 vezes mais que todo o período hitleriano da Segunda Guerra Mundial”, compara.

Brasil já adotou medidas concretas contra Israel

Questionado sobre a postura do governo federal, Rabah reconhece a firmeza dos posicionamentos públicos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), e avalia que medidas concretas também vêm sendo tomadas, ainda que pouco divulgadas. Entre os exemplos, ele cita o cancelamento de uma licitação de R$ 1 bilhão com a empresa bélica israelense Elbit Systems, o congelamento de acordos de cooperação na área militar e tecnológica com Israel, e a ratificação de acordos com a Palestina, incluindo um de livre comércio no âmbito do Mercosul.

“Estamos sem embaixador em Tel Aviv há um ano. As credenciais para o embaixador israelense no Brasil não foram entregues. E o Brasil apoiou a petição da África do Sul contra o genocídio na Corte Internacional de Justiça”, lembra o presidente da Fepal. Ele destaca ainda que o assessor especial da Presidência, Celso Amorim, afirmou em reunião com parlamentares e representantes de movimentos sociais que o governo estuda novas medidas em resposta aos ataques de Israel.

Para ouvir e assistir

O jornal Conexão BdF vai ao ar em duas edições, de segunda a sexta-feira, uma às 9h e outra às 17h, na Rádio Brasil de Fato98.9 FM na Grande São Paulo, com transmissão simultânea também pelo YouTube do Brasil de Fato.

11 junho 2025

Bolsonaro, o imbecil

E imaginar que esse minúsculo já ocupou a cadeira mais importante da República. Uma lástima! Que venha logo a cadeia!

Jair Bolsonaro é interrogado pelo ministro do STF Alexandre de Moraes durante oitiva sobre trama golpista (Foto: Fellipe Sampaio/STF)

Por Marcelo Uchoa*

Ainda no início da gestão Bolsonaro, quando ele já não escondia seu franco desequilíbrio para presidir o país, pelas bobagens que dizia internamente e pelos conflitos desnecessários que criava unilateralmente no cenário internacional, escrevi um texto de muita circulação no país intitulado “Interdição, já!”

Estava na cara que o Brasil era um navio à deriva, a ponto de afundar. Depois do texto vieram um sujeito fantasiado de Bolsonaro jogando bananas para os jornalistas no cercadinho do Palácio da Alvorada, a desastrosa reunião ministerial onde cada subordinado dizia os impropérios que queria dizer, a crise política aberta com a debandada do Moro e as fortes denúncias de tentativa de aparelhamento da Polícia Federal, a pandemia e suas centenas de milhares de mortes. Por fim, as ameaças golpistas, as tumultuadas eleições de 2022 e a tentativa frustrada de se manter no poder à força.

Alguém que não é da área jurídica e que assistiu a oitiva do ex-presidente ontem, no Supremo Tribunal Federal, deve ter se impressionado com a covardia, a voz trêmula, o gaguejar. Sem dúvida alguma, espantou-se com a inexistência do outrora super-herói, autovangloriado “imorrível, imbroxável e incomível”.

Eu, que sou do meio jurídico, vi um pouco mais. Vi um imbecil. Um sujeito a tal ponto desqualificado, que foi incapaz de entender que ali estava havendo um dos mais solenes e importantes atos processuais de sua própria ação. Um desconhecedor inequívoco da liturgia judiciária.

Imaginando ser muito engraçado (e desconsiderando a inelegibilidade já consumada) realizou a proeza de convidar o juiz relator para ser seu vice em 2026. O soco veio seco: - declino. Com um cérebro não maior do que um caroço de azeitona, disse, com a audácia de achar que alguém se sensibilizaria, que aos 70 anos já estava, segundo alertado pelo médico, no “bico do urubu”. Justificou que falava palavrões, porque era típico de seu linguajar, mas que vinha tentando melhorar, tarefa complicada, posto que, com 70 anos (novamente a desculpa da idade), era “difícil mudar tanta coisa”.

Para completar o show de horrores, chamou seu público presente no quebra-quebra do 8 de janeiro, em Brasília, de malucos e ainda fez piadinha sem graça com os recursos de 17 milhões de reais que lhes foram doados via Pix, acrescidos de um “pingado” de 1 milhão, que ele, novamente às gargalhadas, comentou que gastava e ainda ajudava a manter a vida do filhote mimado nos Estados Unidos. Pasmem, não é mentira. Soltou a pérola: “nem eu esperava que ia me eleger presidente, tendo em vista quem eu era”.

Pois bem. Minha análise é de que ontem vimos não apenas um covarde mentindo descaradamente, jogando para os outros a responsabilidade de sua própria culpa, mas um elemento imaturo, de cognição limitada, infantilizada, emocionalmente instável, sem qualquer compostura para sentar sequer num banco de réu... E imaginar que esse minúsculo já ocupou a cadeira mais importante da República. Uma lástima! Que venha logo a cadeia para aliviar um pouco a consciência coletiva.

*Advogado, membro da Associação Brasileira de Juristas pela Democracia (ABJD) e do Grupo Prerrogativas. Doutor em Direito Constitucional com estudos de Pós-Doutorado em Direitos Humanos. - Fonte: Brasil247

10 junho 2025

Minimizou tentativa - Bolsonaro trata plano golpista como ‘crítica’ estudada dentro das ‘quatro linhas’ em depoimento ao STF

'A dúvida e a crítica fazem parte da democracia, mas sem nenhuma intenção de afrontar o Poder Judiciário', afirmou

Bolsonaro é o quarto réu na ação penal sobre tentativa de golpe a prestar depoimento ao STF nesta terça (10) - Fellipe Sampaio/STF


Por Caroline Oliveira*

Em depoimento à Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF), Jair Bolsonaro (PL) afirmou, nesta terça-feira (10) que uma intervenção no processo eleitoral de 2022 foi estudada “dentro das quatro linhas” da Constituição e após a multa imposta pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) ao Partido Liberal

Em dezembro daquele ano, a sigla foi multada em R$ 22,9 milhões por litigância de má-fé ao acionar a Justiça “de maneira irresponsável”. Na ocasião, o PL indicou possível fraude das urnas eletrônicas e pediu a auditoria do resultado. “Um dos grandes desafios da democracia é combater teorias conspiratórias e qualquer outro tipo de conteúdo manipulado ou falso que tem como objetivo influenciar o resultado de votações, criando um cenário desastroso de ruptura social”, disse o então presidente do TSE, Alexandre de Moraes, na época. 

No depoimento, Bolsonaro afirmou que, diante de um recurso, a multa poderia aumentar, o que desencorajou o partido a continuar com a tese no tribunal. Como alternativa, o ex-presidente e seus aliados passaram a estudar outra forma de questionar o resultado. O assunto foi tratado em duas reuniões, em 7 e 14 de dezembro. 

“Essas reuniões que ocorreram foram em grande parte em função da decisão do TSE. Quando peticionamos o TSE sobre possíveis vulnerabilidades, fomos surpreendidos com uma multa de R$ 22 milhões”, disse. “Tratamos, por exemplo, da GLO [Garantia da Lei e da Ordem]. Estudamos possibilidades outras dentro da Constituição. Ou seja, jamais saindo das quatro linhas. Em poucas reuniões, abandonamos qualquer possibilidade de intervenção constitucional.”

“O que existiu na prática era que, como fomos impedidos de recorrer ao TSE, devido à possibilidade de aumentar a multa, nós buscamos alguma alternativa na Constituição. Achamos que não procedia e encerramos a discussão. Em nenhum momento, nós pensamos em fazer algo ao arrepio da nossa Constituição”, disse o ex-presidente. 

Crítica

O ex-presidente também tratou o plano de golpe como uma “crítica”. “Vou buscando colaborar com o TSE para que não haja dúvida. Mas acho que a dúvida e a crítica fazem parte da democracia, mas sem nenhuma intenção de afrontar o Poder Judiciário.”

Na primeira reunião, com o ex-ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira, o ex-comandante do Exército Marco Antônio Freire Gomes e Jair Bolsonaro, o então comandante da Marinha, Almir Garnier, teria dito que colocaria a sua tropa à disposição do ex-presidente.

Na ocasião, de acordo com as investigações, foi apresentada a chamada “minuta do golpe”, que seria utilizada para instalar um estado de sítio no país. Antes, no entanto, a minuta teria sido “enxugada” por Bolsonaro, mantendo a prisão de Alexandre de Moraes e preservando outras autoridades. 

Sobre isso, Bolsonaro afirmou que a minuta, na verdade, seria composta apenas de alguns “considerandos” que foram exibidos na televisão durante a reunião. “Deve ter considerandos apenas. Isso deve ter sido mostrado numa tela de televisão rapidamente. Alguns levantaram a ideia de estado de sítio. Estado de sítio, como reza a nossa constituição, começa com a convocação dos conselhos, o que não foi feito. Ninguém foi convocado para uma proposta de estado de sítio”, afirmou em depoimento.

“Foi passado na tela os considerandos de forma bastante rápida. Não havia da nossa parte uma gana. O sentimento de todo mundo era que não tinha mais nada o que fazer. Então tínhamos que entubar o resultado das eleições”, concluiu.

A respeito de a reunião envolver militares, Bolsonaro disse que foram chamados por fazerem parte da mesma academia que ele, militar reformado. “Sabíamos que nao podia dar em nada. Conversamos a título de desabafo”, respondeu.

8 de janeiro

O presidente também voltou a defender os bolsonaristas que invadiram e depredaram os prédios dos Três Poderes, em 8 de janeiro, em Brasília (DF), em nome de uma “intervenção” para manter Bolsonaro no poder.

“Eu não consigo entender certas penas para pessoas que mal sabiam o que estavam fazendo naquele momento”, disse o ex-presidente. “Eu fico até arrepiado quando falam que 8 de janeiro foi tentativa de golpe. Aquilo não é golpe. Não foi encontrada uma arma. Da minha parte nunca se falou em golpe. O golpe até seria fácil de começar, o after day [dia seguinte, em inglês] que seria difícil de cogitar.”

Ainda tratando o plano golpista como uma “crítica”, Bolsonaro também citou um suposto documento da Associação Nacional dos Peritos Criminais, que falaria em “fraude sistêmica facilitada” e que “todo sistema eletrônico e computacional possui vulnerabilidades”.

Atualmente inelegível, Bolsonaro afirmou que as suas declarações ao longo de 2022 foram dadas no sentido de “aperfeiçoar” o sistema eleitoral para que “não houvesse dúvidas” sobre as urnas eletrônicas. “Se não houvesse dúvida, não estaríamos aqui hoje”, disse Bolsonaro. Em resposta, Moraes afirmou que “não há dúvidas” e que o inquérito “não tem nada a ver com urnas eletrônicas”.

“Vossa Excelência não me viu desrespeitar nenhuma ordem do senhor. Eu joguei dentro das quatro linhas da Constituição o tempo todo. No meu entender, fiz aquilo que tinha que ser feito”, disse Bolsonaro em outro momento.

Entenda

O ex-presidente é réu na ação penal sobre a tentativa de golpe de Estado no país. Em março deste ano, a Primeira Turma do STF decidiu pelo acolhimento da denúncia oferecida pela Procuradoria-Geral da República (PGR) contra Bolsonaro e outras sete pessoas, que integram o primeiro núcleo de acusados da tentativa de golpe abolição do Estado Democrático de Direito.

No total, os crimes dos quais Bolsonaro é acusado podem somar até 43 anos de prisão: dano qualificado com uso de violência e grave ameaça (6 meses a 3 anos), deterioração de patrimônio tombado (1 a 3 anos), tentativa de abolir o Estado Democrático de Direito (4 a 8 anos), tentativa de golpe de Estado (4 a 12 anos) e organização criminosa (3 a 8 anos, que pode chegar a 17 anos a depender dos agravantes).

Antes de Jair Bolsonaro, Almir Garnier, ex-comandante da Marinha, Anderson Torres, ex-ministro da Justiça, e Augusto Heleno, ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), prestaram depoimento ao STF. Na sequência, devem ser ouvidos Paulo Sérgio Nogueira, ex-ministro da Defesa; e Walter Braga Netto, ex-ministro e candidato a vice na chapa para a reeleição do ex-presidente.

Concluída a fase dos interrogatórios, a defesa e a acusação poderão pedir diligências complementares. Depois será aberto um prazo de 15 dias para que as partes apresentem um resumo com as alegações finais favoráveis ou contrárias aos réus. Por fim, os ministros votarão pela condenação, com a fixação de penas, ou pelo arquivamento do caso. Diante das duas decisões, será possível apresentar recursos dentro do próprio STF.