11 setembro 2025

11 DE SETEMBRO - No Chile de Allende descobri o que era democracia, diz ex-guerrilheiro perseguido pela ditadura no Brasil

Raul Ellwanger explica como foi viver no primeiro governo socialista eleito na América Latina

Salvador Allende foi eleito presidente em 1970 com um projeto de refundação do Estado chileno baseado numa constituinte - Arquivo / Vice-presidência Venezuela

Por Rodrigo Durão Coelho*

Em setembro de 1970,  Raul Ellwanger tinha quase 23 anos e chegou ao Chile para escapar da ditadura brasileira, país onde ficou até a brutal deposição do governo de Salvador Allende em 11 de setembro de 1973. Estudante de direito e militante do grupo guerrilheiro Vanguarda Armada Revolucionária (VAR-Palmares) ele começou a construir no país andino uma bem sucedida carreira de músico, tendo composições suas gravadas por nomes como Elis Regina, Beth Carvalho e Mercedes Sosa.

“Tenho uma gratidão imensa aos chilenos e orgulho de ter participado daquele processo, ter corrido riscos, como muitos brasileiros e ter entregue uma parte nossa àquele país em retribuição ao carinho e proteção que nos deram”, disse ele ao Brasil de Fato. Ellwanger é um dos líderes do grupo de ex-exilados brasileiros que mantém uma forte ligação com o Chile, incluindo viagens e participações em eventos de memória.

À reportagem, ele contou como foi sua experiência, os antecedentes, o governo do primeiro socialista democraticamente eleito na América Latina, Salvador Allende, que define como “um projeto lindo e um tanto quanto ingênuo” e a brutal repressão que derrubou seu governo e esmagou os direitos humanos no país até 1989. Leia abaixo:

Brasil de Fato: Como foi sua decisão de ir para o Chile? Quais as circunstâncias?

Raul Ellwanger: A minha saída para o Chile foi motivada porque, depois de pouco mais de um ano e meio de clandestinidade bastante severa, passando por algumas situações de gravíssimo risco, e estando o meu grupo político muito debilitado, sem estrutura, o que me levava, inclusive, a passar mais riscos ainda, necessidades de manutenção, eu pedi autorização e fui para o Chile. Então, é uma mistura de abandono pessoal com a sua circunstância genérica de grande debilidade do meu grupo que não tinha condições de me manter mais.

Havia rede de apoio?

Não havia rede de apoio. Eu saí praticamente com a roupa do corpo, com uma pequena muda, um pouco de dinheiro e documentação falsa. E fui por terra, pipocando de cidade em cidade, trocando de ônibus, até chegar em Santiago. No Chile não conhecia ninguém, inclusive em Santiago, na própria rodoviária, já tomei mais um ônibus e rumei 500 quilômetros ao sul para chegar em Concepción, porque lá eu tinha o nome do professor Ruy Mauro Marini, que um companheiro da clandestinidade tinha me passado. Ele era apoio, ajudava aos brasileiros e assim ocorreu realmente, eu fui muito bem recebido pelo Ruy e pude então ficar por lá em Concepción alguns meses.

Como era seu cotidiano?

A principal sensação que eu tive naquele momento no Chile foi descobrir o que era a democracia. Principalmente, acho que foi no dia 4 de novembro de 1970, onde eu assisti a uma manifestação de mais de um milhão de pessoas na famosa Alameda de Santiago, quando foi a posse do presidente, o doutor Salvador Allende. Essa foi a principal descoberta.

Parece que a gente queria aproveitar ao máximo aquela democracia, aquela liberdade, aquela possibilidade de estudar também. Pude finalmente estudar um pouco daquelas teorias que eu só conhecia de ouvir dizer. Então, foi muito lindo no sentido também da recepção amorosa que tivemos do povo chileno, ou da maioria do povo chileno. Era um cotidiano de muita agitação, intensidade, “vamos ter manifestação, vamos estudar”. Eu tocava um pouco já, então foi muito agitado, rico, muito intenso, até o dia do Golpe de Estado, que mudou tudo, e aí seria o caso de outra resposta.

Na época, como vocês enxergavam o governo de Salvador Allende?

Nós brasileiros, que já vínhamos de uma experiência muito dura aqui com o regime, não tínhamos o mesmo otimismo que tinham quase todos os chilenos em relação ao distanciamento político dos seus militares. Ao olhar para o governo Salvador Allende, que era um projeto lindo, bonito, humanitário, enfim, era um democrático, respeitoso das pessoas e das leis, das constituições, a gente olhava com esse olhar também generoso e participávamos generosamente disso, algumas vezes até arriscadamente.

Mas a gente tinha essa percepção de que não dava para confiar completamente no caráter democrático das Forças Armadas. Infelizmente, isso se confirmou. Então se fosse para usar dois adjetivos para o governo seriam otimista, por um lado, mas ingênuo por outro.

Mais de 50 anos depois, algo mudou no seu julgamento desse governo?

A minha avaliação do governo do presidente Allende é aproximadamente a mesma. Olhando assim a distância, eu avaliaria algumas modificações no sentido de ter mais boa apreciação pelo que eles conseguiram fazer. E aí eu falo conseguir fazer os pescadores, os mineiros, os camponeses, gente analfabeta, os trabalhadores, os estudantes, os políticos, os partidos, que conseguiram conquistar um país politicamente, democraticamente, e isso é uma coisa que na época a gente não percebia.

A gente estava muito focado na história da ditadura. então era tudo preto no branco. Hoje eu avalio com muito mais benevolência, com muito mais carinho esse esforço que, na verdade, dramaticamente, eu e a maioria dos brasileiros, a gente suspeitava que aquilo um dia seria interrompido.

Como foram os antecedentes do Golpe de 11 de Setembro?

Eu pessoalmente não tinha experiência de golpes de Estado, dada a minha idade. Então, no Chile, as coisas iam se sucedendo vertiginosamente e talvez hoje eu não saiba responder como é que foi minha visão daquele momento, porque sou influenciado pela visão que tenho hoje. Aliás, todas essas respostas minhas estão influídas pela visão que eu tenho hoje.

Era uma espécie de torvelinho. As ofensivas contra o governo começaram antes de seu início, com o assassinato do general Schneider, outra tentativa de assassinato, não me lembro de quem, e com a exigência da democracia cristã, antes da posse de Allende, de que a unidade popular assinasse uma carta, compromisso de defesa da democracia, o que era quase uma bobagem, era quase uma humilhação, mas que foi aceito isso justamente porque não mudava nada. Mas já estava lá a própria democracia cristã, naquele momento, fazendo já as suas primeiras pressões.

Os setores industriais, a parte da agricultura, a parte financeira, a grande mídia que teve o seu senhor Edwards como um dos maiores organizadores do golpe, dado que ele, inclusive, se mudou para os Estados Unidos antes da posse do Allende e só voltou depois da sua derrubada. Eram ofensivas judiciais e atos terroristas, como sabotagem de torres elétricas, exigências de todo tipo. Não parava, não parava, até que foi muito dramática a greve dos caminhoneiros.

Aquilo realmente foi paralisando o país e nos deixando, inclusive, na penúria alimentar, enquanto a gente via as imagens daqueles acampamentos, centenas e centenas de caminhões fazendo churrasco, tocando violão, muito alegres e supimpas lá, evidentemente, com o abastecimento trazido de outros lados. Os caminhoneiros, que inclusive não eram grandes indústrias de caminhões, eram muito caminhões individuais, pequenos proprietários, pequenos empresários.

Ali a situação se agravou muito, a tensão foi crescendo até que culminou no golpe. A gente não tinha uma visão de que estava tudo arquitetado, combinado> A força naval norte-americana estava ao largo de Valparaíso e os caminhoneiros no interior fazendo churrasco e não entregando a mercadoria. A gente não tinha uma visão muito clara, mas a gente sentiu que aquilo ia vindo.

Como foi o dia do Golpe? O que te marcou mais?

O dia do golpe foi um dia aparentemente normal. Eu saí de manhã, peguei a micro, como é que chama? A micro-lotação, fui à faculdade para integrar a resistência que iria haver, combinada, mas não havia nada lá organizado assim. E eu voltei para a minha casa e tratei de salvar algumas pessoas que moravam comigo, coisa que eu efetivamente consegui, inclusive crianças.

Um companheiro meu, o Bob, ele, entretanto, não quis sair, ficou na casa, e nessa mesma noite, essa nossa casa foi invadida por um, sei lá, um pelotão do exército chileno, quebraram tudo, entraram, prenderam o meu amigo, e já tinham levado o caminhão de mudança, fizeram a limpa na casa, deixaram a casa peladinha, com todas as nossas coisas, nossas roupas, instrumento musical, eletrodomésticos, uma coisa até bem prosaica e bem grotesca de fazerem na noite do dia 11 já.

O que me marcou na noite de 11 de setembro foi que da janela da cozinha que dava para o centro da cidade a gente via passarem os aviões e escutava o seu ronco baixo por cima da nossa janela. A gente via os aviões roncarem em direção ao centro, lá eles dobravam à esquerda e picavam. E o som deles desaparecia e a gente não ouvia nada de bombardeio. Então eles faziam a volta, voltavam pela nossa esquerda, vinham por trás novamente e bicavam pela frente da nossa janela, nos deixando às costas, em direção ao centro da cidade. Isso é uma coisa que me marcou. Eu até hoje tenho síndrome de barulho forte de aviões.

Quando tem manobras aqui de aviões a jato, em Canoas, que fazem muito barulho aqui. eu tomo sustos que me espantam, que não são da minha natureza. Isso foi o que me marcou mais. Aquela força bruta, aquela capacidade fria de atirar não só contra as pessoas, contra um governo do país e também contra os símbolos do próprio país, como o Palácio de La Moneda.

O governo Pinochet declarou brasileiros como inimigos. Como foi isso?

No segundo ou terceiro comunicado da junta militar, eles já começaram a falar dos estrangeiros, que era apenas, na verdade, uma coisa absolutamente sem importância, mas isso era um fator de xenofobia, para unificar o povo chileno em torno, presuntamente, supostamente, daquele grupo golpista.

Eles começaram a falar, inclusive, já não sei se nesse terceiro ou quarto, começaram a dar uma lista de brasileiros, começaram a falar de Teotônio dos Santos, José Maria Rabelo, que evidentemente eram pessoas públicas, eram pessoas que ocupavam cargos, que estavam muito exilados lá, muito antes do tempo do Allende, denotavam que eles não sabiam nada, era mais uma manobra de propaganda. mas foi ruim e a nossa casa justamente foi apontada por um vizinho que já estava nos espiando, fazendo inteligência contra nós, como uma casa de estrangeiros que estavam armados, que não sei o que, não sei o que. Então isso também funcionou, infelizmente.

Você saiu do Chile quando e sob quais condições?

Eu fiquei clandestino no Chile aproximadamente uns 40 dias cuidando dessas pessoas, que gradualmente eu, com a ajuda da família que tinha escondido a mim e a essas pessoas, conseguiram ir sendo acolhidas nos refúgios do Comitê de Imigrações Europeias, o CIMI, e também da Igreja Católica, o Padre Hurtado, o Padre Errassuris, enfim, alojamentos que gozavam de imunidade, em acordo com o regime novo, recém-instalado, que justamente protegia crianças, mulheres, famílias, idosos, além das embaixadas que também refugiaram muita gente. Eu lembro e elogio muito a da Argentina, que chegou a ter 700 pessoas lá, entre os quais aproximadamente uns 120 brasileiros.

Depois, com as negociações, esses estrangeiros iam sendo mandados já para o aeroporto em voos que esperavam, prontos, ou passavam a esses territórios com imunidade da Igreja Católica, da Acnur e do CIMI.

Eu já estava em situação legal no Chile, documentos que eu tenho até hoje aqui, eu era um cidadão legalizado no Chile, não era exilado, era um cidadão que chegou lá e pediu para morar lá e foi aceito. Depois desse mês, também fiquei escondido porque eu não tinha casa para morar não tinha nada, eu estava com a roupa do corpo de novo mas nesse caso eu tinha meu documento então essa família conseguiu através dos seus contatos no centro da cidade naqueles escritórios de advogados pititi e patatá conseguiu um passe de 24 horas.

As pessoas outras da casa já tinham entrado nos refúgios, só sobrava eu, era muito ruim a situação, muito difícil, estava colocando aquela família em muito risco, e finalmente eles conseguiram esse passe, aí eu entrei de novo num ônibus pequeno e fui cruzando a cordilheira até a Argentina, onde finalmente cheguei em Mendoza, por terra.

Como você avalia a forma com que o Chile lidou com seu passado ditatorial?

Eu penso que o Chile lidou de forma contraditória com esse seu passado. Por um lado, a justiça chilena normal, que julga um ladrão de laranjas, essa justiça também julgou muitos hierarcas, muitos quadros médios, muitos quadros pequenos, enfim, houve muita condenação, também houve absolvições, e esse processo, inclusive, continua.

Então, o Chile tem uma marca de fazer, ajustar as contas com aqueles criminosos de lesa humanidade a partir de 1973. Entretanto, pela permanência do regime de Pinochet, pela permanência da ditadura, pelos sucessivos vai e vem nas reformas constitucionais, o Chile ficou numa esp de paradoxo, um meio termo entre a justiça e a impunidade Isso tanto na vida real como na vida judicial, na vida legal, na legislação.

A legislação continua contraditória e a situação social continua contraditória. É um passo muito positivo se comparado com o Brasil, onde não aconteceu nenhuma coisa nem outra. E, então, o Chile lidou, digamos, de uma maneira razoável com o seu passado ditatorial e vem se mantendo, elegendo quadros que tiveram comprometimentos com o regime da ditadura, outros que não, socialistas, agora novas candidaturas de comunistas, enfim, é um pouco o retrato dessa América Latina que vai zigzagueando, né, entre a liberdade e o autoritarismo, entre a verdade e a mentira, entre a impunidade e a justiça.

O que fica da experiencia de ter vivido naquele país?

Eu posso dizer que sou duas pessoas. A pessoa que era antes de ter morado no Chile e que me tornei depois. E também após ter morado na Argentina. Então, primeiro descobri a América Latina, essa maravilha, esse universo de belezas naturais, de cultura, de música, de culinária, de gentes, de mulheres bonitas, de histórias heroicas de negros, de indígenas, dos brancos, dos mamelucos, dos colonos.

Uma terra generosa, riquíssima e com um passado glorioso, especialmente o lado da colonização ibérica nas suas lutas pela independência, com San Martín, Higgins, Bolívar, mas também o nosso país aqui, no caso do Rio Grande do Sul.

Aprendi o idioma, uma cultura, descobri os alimentos, os perfumes, os amores, a música aprendi, chacareira, milonga, chamamê, compus canções, toquei, conheci músicos. Noivei, separei, noivei de novo. Tenho uma gratidão imensa ao Chile e Argentina ou a partes principais dos seus povos os amigos conhecidos, profissionais, os professores. Estudei Sociologia em Concepción, Sociologia em Santiago, Sociologia em Buenos Aires e Composição e Regência em Buenos Aires.

Eu tenho 11 anos de estudos universitários, somando o direito em Porto Alegre, e não tenho nenhum canudo. Eu sou quase várias coisas. Então, tá, eu sou quase, é isso que eu estou. A experiência foi essa e tenho uma gratidão imensa e também orgulho. Orgulho, especialmente no caso chileno, de ter participado daquele processo, ter colaborado, ter também corrido os meus riscos, como muitos outros brasileiros, têm entregue uma parte nossa para aquele país em retribuição ao carinho, à proteção que nos deram.

Nós temos eventos cada dois anos: Brasil Agradece ao Chile é um, Viva a Chile é outro, temos mantido desde 2011 essa periodicidade, com visitas aos centros de memória, os lugares onde os brasileiros estiveram sequestrados, em Concepción, em Osorno, em Valparaíso, Santiago, promovendo a fixação de placas, declarações de cidadania. Enfim, há uma imensa dívida de carinho e um imenso orgulho também por ter estado junto dos chilenos, tanto nos maus como nos bons momentos.

STF forma maioria para condenar Bolsonaro e aliados por todos os crimes

 


*CLIQUE AQUI para ler, na íntegra (via DCM)

01 setembro 2025

LEGADO - Quatro obras de Luis Fernando Verissimo que enfrentaram a ditadura civil-militar*

Obras de Veríssimo driblaram a censura durante regime autoritário no Brasil

Cena do documentário Verissimo - Foto: Divulgação


Durante toda sua trajetória, o escritor Luis Fernando Verissimo eternizou em crônicas, contos, tiras, quadrinhos e romances sua crítica ao autoritarismo e à ditadura civil-militar. 

Essa posição foi lembrada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ao prestar homenagem ao célebre escritor, que morreu hoje (30), em Porto Alegre, aos 88 anos.

Ao citar a criação de “personagens inesquecíveis”, como o Analista de Bagé, As Cobras e Ed Mort, Lula destacou que Verissimo “como poucos, soube usar a ironia para denunciar a ditadura e o autoritarismo; e defender a democracia”.

Brasil de Fato reuniu quatro obras icônicas de Verissimo que enfrentaram o regime civil-militar e seu legado.

Confira:

  1. A Velhinha de Tabauté

A Velhinha de Taubaté se tornou ícone nacional e foi criada em uma crônica em 1983, no período final da ditadura no país, durante a gestão de João Batista Figueiredo, o último presidente do regime.  A personagem era apresentada como “a última pessoa no Brasil que ainda acreditava no governo”.

A obra também era vista como uma homenagem divertida a Taubaté (SP), berço de nomes como Monteiro Lobato, Mazzaropi e Hebe. 

A Velhinha de Tabauté Crédito/Arquivo
  1. As Cobras 

Luis Fernando Verissimo publicou entre 1975 e 1999 a tira As Cobras em jornais do país, principalmente em Zero Hora. As personagens principais são duas serpentes que discutem temas que vão desde política e futebol até a imensidão do universo.

Segundo o escritor, elas tinham nascido para traduzir através do desenho o que suas palavras estavam impedidas de dizer durante a censura da ditadura.

As Cobras, de Luis Fernando Verissimo. Crédito/Arquivo
  1. O condomínio

Publicado em 1982, o conto “O condomínio”, de Luis Fernando Verissimo, conta a história de João, um ex-militante de esquerda que se muda para um luxuoso e recém-construído condomínio fechado e se depara com o homem que o torturou no elevador.

“O condomínio” ecoa os princípios de reconciliação nacional expressos na Lei da Anistia de 1979 em um momento em que o Brasil vivia a transição democrática. 

  1. A mancha

Lançado em 2004, o conto “A mancha” integra a coleção “Vozes do golpe”, publicada pela Companhia das Letras. O conjunto de textos narra os últimos momentos do governo de João Goulart no Brasil e como foi ver surgir e viver a ditadura.

Na obra de Luis Fernando Verissimo, o protagonista Rogério, que foi torturado pelo regime de 64, volta do exílio após o fim da ditatura, e ao passar a trabalhar no ramo imobiliário, acaba visitando o prédo em que foi submetido a tortura.

“O conto é sobre a derrota de uma geração que apostou em mudanças, mas que foi engolida pelas forças conservadoras, pelos valores do capital. E por essa via a narrativa faz uma leitura primorosa da elite brasileira, inclusive, ou sobretudo, da que dá suporte ao bolsonarismo”, escreveu sobre “A mancha” o escritor e professor de literatura da Universidade Federal da Paraíba Rinaldo de Fernandes.

27 agosto 2025

NESTE PRÓXIMO SÁBADO, 30/08, ESTAREI AUTOGRAFANDO NA 52ª FEIRA DO LIVRO DE SANTA MARIA/RS*

 


*Todos/as estão convidados/as!

Ofensas de carniceiro israelense são condecoração para Lula

 

Chanceler israelense, Israel Katz (Foto: REUTERS/Eduardo Munoz)

Por Bepe Damasceno*

O modus operandi da extrema direita segue o mesmo padrão, independentemente de país. O nível é o mais rasteiro possível, sempre com base na mentira, nos ataques sujos a quem pensa diferente, na criminalização dos adversários, na delinquência em estado bruto. 

Nesse contexto, as ofensas do ministro da Defesa de Israel, um facínora que defende e pratica o extermínio do povo palestino, é mais uma medalha no peito de Luiz Inácio Lula da Silva.

O genocida Israel Katz disse que Lula "é antissemita e apoiador do Hamas." Ele foi além e associou, de forma fraudulenta, Lula ao líder supremo do Irã, Ali Khamenei, através de uma montagem feita por inteligência artificial

Aliás, esse é o mantra usado à larga pelos sionistas: todas as pessoas ao redor do planeta que criticam e se indignam com a limpeza étnica, os crimes contra a humanidade, a destruição física de Gaza e a fome imposta aos palestinos pelo governo liderado pelo criminoso de guerra Benjamin Netanyahu são tachadas de "antissemitas".

Nessa toada, o presidente da França, Emmanuel Macron, é acusado de antissemitismo ao declarar que reconhecerá, em breve, o estado palestino. Mesmo carimbo recebido pelo primeiro-ministro do Reino Unido, Keir Stamer, e lideranças de outros países. 

O Itamaraty respondeu dentro dos limites da linguagem diplomática, mas com energia: "O ministro da Defesa e ex-chanceler israelense voltou a proferir ofensas, inverdades e grosseiras inaceitáveis contra o Brasil e o presidente Lula."

Mas o cerro se fecha contra Israel. Ontem, grande parte do mundo civilizado condenou nos mais duros termos o bombardeio do Hospital Nasser por parte das forças de segurança israelenses que resultou em 20 mortos, incluindo jornalistas das agências de notícias ocidentais Reuters e Associated Press e da emissora árabe Al Jazeera.

Em menos de dois anos, 189 profissionais de imprensa foram mortos em Gaza. Esse número é maior do que o registrado nas duas Guerras Mundiais. Por mais chocante que seja, os veículos da mídia comercial brasileira foram incapazes de produzir até agora uma simples nota oficial em solidariedade aos colegas assassinados. 

Em protesto contra mais essa ação terrorista de Israel, uma multidão tomou as ruas de Tel Aviv para exigir o fim da guerra e a imediata solução para o caso dos reféns.

E Lula não recuou um milímetro. Na abertura da reunião ministerial desta terça (23), o presidente voltou a denunciar o genocídio em Gaza.

O acerto de contas da história há de ser implacável. De um lado, um estadista mundial, que não mede esforços na luta pela paz  e pela erradicação da fome. De outro, assassinos em série de crianças, mulheres e idosos.  

*Jornalista e blogueiro - Via Brasil247

15 agosto 2025

Homenagem ao escritor Érico Veríssimo será realizada neste sábado, 16/08, em Santiago/RS

 


Efeito Lula: Desemprego atinge menor nível desde 2012 e cai em 18 estados no 2º trimestre de 2025

Pesquisa do IBGE aponta taxa de 5,8%, queda generalizada e aumento do rendimento, com desigualdades regionais e de gênero

Luiz Inácio Lula da Silva (Foto: Ricardo Stuckert/PR)

247* - A taxa de desocupação no Brasil recuou para 5,8% no segundo trimestre de 2025, o menor índice da série histórica iniciada em 2012. Segundo dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta sexta-feira (15), a queda foi registrada em 18 das 27 unidades da federação, permanecendo estável nas demais. Pernambuco (10,4%), Bahia (9,1%) e Distrito Federal (8,7%) apresentaram os maiores índices de desemprego, enquanto Santa Catarina (2,2%), Rondônia (2,3%) e Mato Grosso (2,8%) registraram os menores.

O levantamento, parte da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua) Trimestral, também mostra que todas as faixas de tempo de procura por trabalho tiveram redução no número de desocupados em comparação ao mesmo período de 2024. O contingente de pessoas que buscavam emprego há dois anos ou mais caiu 23,6%, atingindo 1,3 milhão de indivíduos. Para o analista do IBGE William Kratochwill, os dados revelam um cenário positivo: “O reflexo desse desempenho é a redução dos contingentes em busca de uma ocupação, ou seja, há mais oportunidades que estão absorvendo os trabalhadores, mesmo aqueles que apresentavam mais dificuldade em conseguir um trabalho”.

Desigualdade de gênero e raça persiste

Apesar da queda geral, a taxa de desocupação das mulheres (6,9%) continua acima da dos homens (4,8%). Na análise por cor ou raça, o desemprego foi menor entre brancos (4,8%) e maior entre pretos (7,0%) e pardos (6,4%). O nível de instrução também influenciou os resultados: pessoas com ensino médio incompleto tiveram taxa de 9,4%, enquanto entre os que possuíam ensino superior completo o índice foi de apenas 3,2%.

Informalidade e carteira assinada

A taxa de informalidade no país ficou em 37,8%, com destaque para Maranhão (56,2%), Pará (55,9%) e Bahia (52,3%) nas primeiras posições. Santa Catarina (24,7%), Distrito Federal (28,4%) e São Paulo (29,2%) registraram os menores índices. Entre os empregados do setor privado, 74,2% possuíam carteira assinada, chegando a 87,4% em Santa Catarina, enquanto no Maranhão apenas 53,1% tinham o documento.

Rendimento e massa salarial

O rendimento médio real subiu para R$ 3.477, com alta no Sudeste (R$ 3.914) e estabilidade nas demais regiões. Em comparação ao mesmo trimestre de 2024, houve aumento no Sudeste (2,8%) e no Sul (5,4%). A massa de rendimento real habitual alcançou R$ 351,2 bilhões, o maior valor da série no Sudeste (R$ 177,8 bilhões).

A PNAD Contínua, principal pesquisa sobre a força de trabalho do Brasil, entrevistou cerca de 211 mil domicílios em todo o país. O próximo levantamento, referente ao terceiro trimestre de 2025, será divulgado em 14 de novembro.

*Fonte: Brasil247