09 fevereiro 2020

“Sonhos recomeçam neste instante em que os julgamos mais ausentes” (por Flavio Koutzii)


Por Flavio Koutzii (*)
Há um certo tempo setores progressistas tem lutado para constituir uma frente unificada da esquerda e disputar as eleições de Porto Alegre. Felizmente já tínhamos uma grande unidade em torno ao nome da Manuela. Com ela, já temos, hoje, uma extraordinária figura política. Não só coração valente, como mãe coragem. Também audácia permanente. E mais, energia inesgotável, pois vem de uma epopéia junto com Fernando Haddad, que foi a campanha tão recente para presidência do Brasil.
Sendo assim, a busca de uma frente unida se deslocou para a escolha de um candidato(a) para vice. As reflexões de certos setores levou-os à ideia de que seria melhor que o PT não ocupasse a candidatura à vice.
É sobre este debate que quero opinar. Penso que é uma hipótese inaceitável por várias razões:
1) O centro estratégico da direita foi e é aniquilar o PT e destruir Lula (independente do balanço de nossas próprias responsabilidades – falo como petista – este é o fato indiscutível). Portanto, “sumir” do embate por Porto Alegre acaba sendo, involuntariamente, um complemento à obra estratégica e sem princípios da direita.
2) Renunciarmos nós, logo aqui, com a singularidade indiscutível que tivemos em Porto Alegre e no Rio Grande do Sul é mais inaceitável, porque é somar a proscrição política que nos infringiram, ao exílio voluntário. Logo aqui, na capital do Orçamento Participativo, na terra do Fórum Social Mundial, onde governamos duas vezes o Estado, quatro vezes a capital. O lugar principal das histórias políticas de Olívio Dutra, Tarso Genro, Raul Pont, Miguel Rossetto e tantos outros e outras e uma lista grande de experiências de administração em todas as grandes cidades gaúchas onde não sumiu um clips mas onde apareceram novas experiências e democracia de gestão. É essa tremenda história e uma de suas grandes expressões, Miguel Rossetto, que se oferece para pelear junto com Manuela, depois de uma campanha ao Governo do Estado recente com bravura e tenacidade no auge da ascensão bolsonarista.
3) Este entendimento, espero, seja compartilhado – mesmo que em um contexto polêmico – com todos companheiros, e que seja compreendido o que para mim é uma questão crucial e fundante do contexto estratégico que vivemos, a história do campo progressista das últimas décadas é com o PT incluído (independente da visão crítica de cada um). Se me faço entender, se falamos pra valer em união e frente do campo popular democrático e de esquerda, o PT é um pedaço decisivo e no RS dos mais decisivos, não como proclamamos, mas como o materializamos. O PT fora da chapa é uma desistência e uma resignação. Não topamos. Principalmente, não em Porto Alegre, onde o melhor do PT surgiu e se manteve até hoje.
Por isto, é urgente e imprescindível ir com o melhor que temos, Manuela e Rossetto. E venceremos.
Nestes momentos políticos me lembro uma vez mais aquela canção de João Bosco e Aldir Blanc:
Sonhos sempre incandescentes
recomeçam neste instante
em que os julgamos mais ausentes
a recomeçar como
canções e epidemias
a recomeçar como
as colheitas, como a lua e a covardia
a recomeçar como
a paixão e o fogo.
Com carinho e esperança.

(*) Flavio Koutzii - Sociólogo, escritor e articulista, foi combatente contra as ditaduras militar brasileira e argentina, onde foi exilado e preso político. Após uma forte campanha internacional, foi libertado e expulso para a França, onde residiu alguns anos e concluiu o curso de Sociologia. Retornando ao Brasil, contribuiu na organização do Partido dos Trabalhadores;  foi dirigente nacional do partido e deputado estadual do PT por várias legislaturas; foi também chefe da Casa Civil do governo Olívio Dutra, tendo ainda integrado a primeira metade do governo Tarso Genro.
*Via Sul21 - Edição final deste Blog.

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