10 março 2020

Bolsonaro estimula protestos golpistas. Maia, Alcolumbre, Toffoli: mexam-se!

"Ao convocar protestos golpistas do dia 15, Jair Bolsonaro revela sua disposição de enfrentar o Congresso e o STF pela via do emparedamento", avalia o jornalista Aquiles Lins, editor do 247. "A defesa da agenda ultraliberal encampada por Rodrigo Maia, Davi Alcolumbre e Dias Toffoli não pode ser maior do que a permissividade com estas agressões de Jair Bolsonaro. A história não perdoa omissos. Nem o presente"

(Foto: Marcos Corrêa/PR)


Por Aquiles Lins, para o Jornalistas pela Democracia*
Jair Bolsonaro convocou nesse sábado, 7, em pronunciamento, sua horda neofascista a ir às ruas na manifestação do próximo dia 15, que pede o fechamento do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal. 
Durante escala em Boa Vista (RR), de onde seguiu para os EUA pedir a benção do seu chefe Donald Trump, Bolsonaro mentiu ao afirmar que o ato será um movimento de rua espontâneo. "Se um político tem medo de movimento de rua, não serve para ser político. Então participem. Não é um movimento contra o Congresso, contra o legislador, contra o Judiciário. É um movimento pró-Brasil”, declarou Bolsonaro.
Apesar do capitão tentar escamotear o cerne golpista das manifestações, qualquer pessoa em sã consciência no Brasil sabe que Bolsonaro tem um projeto de ditadura para o País. E também sabe que esta manifestação não foi espontânea, mas concebida e estimulada pelo general Augusto Heleno, chefe do Gabinete de Segurança Institucional.
Sem saber que estava sendo gravado, Heleno expôs o que realmente pensa do Congresso e tratou com "chantagem" a disputa de força política no Legislativo sobre o controle do orçamento da União. “Não podemos aceitar esses caras chantageando a gente o tempo todo. Foda-se”, disse Heleno na presença do ministro da Economia, Paulo Guedes, e Luiz Eduardo Ramos, da Secretaria de Governo. 
A declaração de Jair Bolsonaro revela também sua disposição de enfrentar o Congresso e o STF pela via do emparedamento, da pressão golpista. 
Depois de ter dado uma desculpa esfarrapada e mentirosa para o vídeo da manifestação que ele compartilhou pelo WhatsApp, dizendo que se tratava de um protesto  de 2015, mas que, curiosamente o vídeo trazia imagens da suposta facada que ele recebeu em 2018, Jair Bolsonaro parece observar determinada condescendência das instituições aos seus arroubos autoritários e não se sente mais constrangido em agredir a democracia. 
Aqui um parêntese. É claro que é permitido a todo cidadão brasileiro, a toda cidadã brasileira, se manifestar livremente, de maneira pacífica, sobre suas convicções políticas, como mostra o artigo 5 da Constituição Federal. A Carta Magna, entretanto, não autoriza ninguém a ir às ruas pedir o fim da democracia, pedir o fechamento do Congresso Nacional e do STF. 
Quando Bolsonaro divulgou o vídeo golpista pelo WhatsApp, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, divulgou em seu Twitter uma nota branda, que dizia que "criar tensão institucional não ajuda o país a evoluir" e que "acima de tudo e de todos está o respeito às instituições democráticas". Ontem ele viu a milícia digital bolsonarista pedir a sua prisão. A hashtag #EuQueroMaiaNaCadeia foi ao topo dos trending topics do Twitter. Na cadeia não adianta para  Maia  soltar nota brandas, elas não resolverão, como não resolvem agora. 
O presidente do Senado, Davi Alcolumbre, nem isso fez, se calou sobre o episódio e se manifestou dias depois, em tom "cantando de galo" após se reunir com Bolsonaro, afirmando que o episódio estava superado e que esperava não ser surpreendido com nenhum novo ataque ao Congresso. Já o presidente do STF, Dias Toffoli,  reagiu ao vídeo dizendo que o 'Brasil não pode conviver com clima de disputa permanente'. Só. O procurador-geral da República, Augusto Aras, fingiu que não era com ele a agressão de Bolsonaro à democracia. 
A situação agora é outra, mais grave. Jair Bolsonaro não compartilhou um vídeo golpista para algumas pessoas, ele pessoalmente convocou a manifestação, que provavelmente terá centenas de cartazes e declarações pela inabilitação do Congresso. 
Os presidentes da Câmara e do Senado, o presidente do STF, o PGR, estes sujeitos têm a obrigação de mostrar compromisso com o que resta da democracia neste País. A defesa da agenda ultraliberal encampada por todos não pode ser maior do que a permissividade com estas agressões de Jair Bolsonaro. 
A história não perdoa omissos. Mas o presente também não. Não faltam crimes de responsabilidade com a digital de Bolsonaro, que justificam o seu imediato afastamento. Mas parece faltar colhão aos líderes das instituições para fazer o que precisa ser feito. 
Ironicamente, há quatro anos, estas mesmas instituições não tiveram pudor em instaurar um impeachment sem crime de responsabilidade contra uma mulher, a presidente Dilma Rousseff.
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*Aquiles Lins é editor do 247. Jornalista, mestre e doutorando em Ciência Política pela UFSCar. Via 247

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