25 maio 2020

Ofensiva de Bolsonaro coloca Jornal Nacional e Celso de Mello, do STF, como alvos principais


Estratégia de Bolsonaro é tirar Celso de Mello da relatoria de investigação sobre interferência na Polícia Federal, enquanto fomenta ódio contra a Globo entre seus seguidores nas redes sociais

Bolsonaro no Jornal Nacional, da Globo, e Celso de Mello (Montagem)

Acuado com o cerco se fechando em torno do Palácio do Planalto após a divulgação do fatídico vídeo da reunião ministerial de 22 de abril, Jair Bolsonaro elegeu dois alvos principais em sua ofensiva: o Jornal Nacional, da Globo, e o ministro Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF).
Neste domingo (24), Bolsonaro revelou a linha que deve seguir na ofensiva contra o decano, relator da investigação sobre a denúncia de interferência do presidente na Polícia Federal, feita pelo ex-ministro Sérgio Moro. Em publicação nas redes, Bolsonaro publicou reprodução de um artigo da lei 13.869, de 2019.
“Art. 28. Divulgar gravação ou trecho de gravação sem relação com a prova que se pretenda produzir, expondo a intimidade ou a vida privada ou ferindo a honra ou a imagem do investiga ou acusado: pena – detenção de 1 (um) a 4 (quatro) anos”, diz o texto.
O foco de Bolsonaro é tirar Celso de Mello da relatoria do caso alegando “parcialidade” nas decisões do ministro, que estariam sendo consideradas exageradas no núcleo duro do governo.
Além da divulgação do vídeo, com falas que permitem a abertura de novos inquéritos contra ele próprio e seus ministos, o pedido de parecer de Celso de Mello à Procuradoria-Geral da República para apreensão do aparelho celular de Bolsonaro causou irritação entre os palacianos, em especial à ala militar capitaneada pelo ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, General Augusto Heleno, que já vê a possibilidade de uma guerra civil no país.
“Erros” do Jornal Nacional

Na outra frente, para mobilizar a milícia virtual nas redes sociais, Bolsonaro mira o Jornal Nacional, especialmente após o erro de William Bonner que na edição de sexta-feira (22) do telejornal se retratou após dizer que Bolsonaro teria afirmado ao então ministro da Justiça, Sérgio Moro, que queria ser blindado.

“E uma correção: há pouco nós dissemos erroneamente que o presidente Bolsonaro tinha pedido ao ministro Moro para ser blindado. Mas, como nós mostramos na voz do próprio presidente, foi o contrário: ele disse a Moro que não queria ser blindado, mas que o ministro tinha a missão de não deixar que ele fosse chantageado”, diz Bonner, complementando que “está feita a correção”.
O erro foi intensamente explorado pelo presidente nas redes sociais durante o fim de semana. Na noite deste domingo (24), Bolsonaro voltou ao Twitter para divulgar nova edição, em que um repórter teria cometido o mesmo erro de Bonner 4 horas após a edição do JN: “Qual o limite da Globo?”, indaga Bolsonaro.
A emissora atuou como uma das principais fontes de vazamento da Lava Jato e é próxima a Moro, que na noite deste domingo (24) deu entrevista exclusivo ao Fantástico dizendo que Bolsonaro não deu espaço para a agenda do combate à corrupção, que seria o seu objetivo ao entrar no governo.
*Por Plinio Teodoro, na Revista Fórum

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