Com as dificuldades do enfrentamento às elites e à extrema-direita, é preciso perceber que mantivemos e avançamos em terreno e imaginário.
Por Rodrigo Oliveira (*)
Pro balanço ser correto, é preciso honestidade intelectual na análise. Nas eleições 2024, o que aconteceu foi recuperação de terreno e imaginário político para a esquerda face a desconstrução originada pelo Golpe de 2016.
Ora, o Golpe de 1964 levou mais de duas décadas para ser derrotado. Veio o Golpe de 2016 e com ele a profecia das elites: o PT morreu, a esquerda acabou. Não se passou uma década e voltamos à presidência da República, além de crescer na eleição de 2024.
Sim, pra ter honestidade de análise, é preciso ir além das manchetes dos “jornalões” da grande mídia, que, como sempre, tentam enterrar qualquer imaginário que desagrade seus interesses econômicos. Na manhã do domingo do 2° turno, O Globo não teve constrangimento em manchetear que o “PT tenta sobrevida”, como se estivéssemos a caminho do fim. Ademais, é preciso dar um “chega pra lá” na simplificação derrotista de alguns dos nossos, pois existem valorosos militantes e analistas de esquerda que partem de um pressuposto profundamente arrogante: tudo o que acontece dependeria exclusivamente dos nossos erros ou acertos, como se não houvesse contexto, adversário, luta de classes… isso não existe.
Vamos aos fatos? Existem 4 forças políticas poderosas no país: a Esquerda, a Direita, o Centrão e a Máquina. Com raríssimas exceções, esta eleição foi a Esquerda concorrendo sozinha contra as outras três forças. Resultado? Além de algumas vitórias importantes, a Esquerda fazendo em torno de 40%, 45%, 49%. O que isso indica? Nítida recuperação de terreno e imaginário político apenas 8 anos depois de um processo de golpe que pretendeu nos varrer do mapa, apagar a Esquerda dos corações e mentes das pessoas.
É importante registrar estes fatos para que não se caia num derrotismo que é falso. Evidentemente a correlação de forças no país mostra desafios, assim como sabemos da nossa missão internacional de enfrentamento à Extrema-Direita e ao Fascismo. Mas, como em qualquer luta, é preciso musculatura, acúmulo de forças e moral elevada. Neste sentido, se não temos uma vitória retumbante, são inegáveis os avanços.
O PT cresceu mais de 30% no número de prefeituras, volta a governar capital, após duas eleições em branco, e contou com vitórias importantes em cidades com mais de 200 mil eleitores, como Fortaleza, Pelotas, Camaçari, Mauá, Contagem e Juiz de Fora. Tudo num cenário de maior nível de reeleições da história. Além disso, uma nova geração quadros está vindo, especialmente com mandatos vibrantes em capitais e grandes cidades, vereadores jovens e conectados com novas e antigas pautas, além da manutenção de quadros já tradicionais.
Em Porto Alegre o PT voltou a ser o mais votado da cidade e a ter a maior bancada na Câmara de Vereadores. Junto, PSol e PCdoB elegeram bancadas representativas e a Esquerda cresceu em seu conjunto.
Já Maria do Rosário, acompanhada de Tamyres, defendeu uma linha que era exatamente o que a militância e as direções dos partidos desejavam, representou nosso programa e deixou um legado de temas e pautas para que a oposição a Melo esteja estruturada em sua luta. Não teve denúncia que não foi feita, proposta que não foi publicizada, pauta que não foi apresentada. Em todos os debates Maria se apresentou com uma postura firme, impecável.
Com as dificuldades mil do enfrentamento às elites e à Extrema-Direita deste país, é preciso perceber que mantivemos e avançamos em terreno e imaginário. Zero a lamentar e pouco a descansar. Todos nossos esforços a não só preparar o enfrentamento de 2026, mas também em fazer a disputa de classe, especialmente no campo econômico e social, com um PT e demais partidos de esquerda fortalecidos, nítidos em suas causas. Seguimos!
(*) Cientista Político e Ex-presidente do PT de Porto Alegre
**Via Sul21 - Edição final deste Blog
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