30 abril 2025

Feminicídios no RS: ‘Governo estadual não está dando prioridade à vida das mulheres'

Após 10 feminicídios em um feriadão, representantes de entidades de defesa dos direitos das mulheres alertam sobre falhas na proteção

Foto: Isabelle Rieger/Sul21

Por Marihá Maria*

O feriadão de Páscoa no Rio Grande do Sul foi marcado por uma onda de feminicídios, foram dez assassinatos de mulheres em apenas cinco dias. A sexta-feira (18) já havia registrado seis casos em um único dia, e a violência se prolongou ao longo do final de semana, com mais quatro feminicídios até a segunda-feira (21). Para representantes de entidades de defesa dos direitos das mulheres, a escalada de casos evidencia a gravidade da violência contra a mulher e alerta para uma insuficiência do Estado em garantir políticas efetivas de proteção.

“Uma tragédia anunciada”, é como descreve Fabiane Dutra, presidente do Conselho Estadual dos Direitos da Mulher (CEDM), a série de feminicídios registrados no estado. Segundo ela, o feriado seria um momento de descanso ao lado dos filhos, mas acabou sendo dedicado ao atendimento dos casos, junto a outras voluntárias do conselho. Para Fabiane, a situação reflete o avanço do ódio contra as mulheres e a negligência do Estado em implementar políticas eficazes de prevenção à violência de gênero.

Como ela explica, os dez casos chamam a atenção, mas retratam situações que ocorrem diariamente. Para a presidente do Conselho, a sequência de medidas adotadas pelo Estado para limitar ou encerrar serviços de apoio no enfrentamento à violência contra a mulher ajuda a entender a escalada no registro desses crimes.

Entre os principais marcos desse desmonte, Fabiane destaca a extinção da Secretaria Estadual de Políticas para as Mulheres, em 2015, que foi transformada em um departamento, agora vinculado à Secretaria de Justiça, Cidadania e Direitos Humanos. Ela relata que, desde então, diversos serviços foram encerrados ou esvaziados. O próprio CEDM chegou a ser desarticulado em 2019 e só retomou as atividades em 2023, após mobilização junto ao Ministério Público.

“Por isso que a gente tem a campanha pela volta da Secretaria de Política para as Mulheres. Porque uma secretaria consegue trabalhar nessa transversalidade, dialogando com outros secretários. Uma secretaria tem recursos humanos e financeiros que geralmente são suficientes ou pelo menos bem maiores do que de um departamento”, explica.

Fabiane também relembra o caso da Rede Lilás, encerrada em 2019 e reativada apenas em novembro de 2024. O espaço é voltado à articulação entre instituições e serviços públicos, com foco na organização do fluxo de atendimento às vítimas de violência e no desenvolvimento de ações e políticas de prevenção à violência doméstica.

A atuação da Polícia Civil também é apontada por Fabiane como ineficiente. Segundo ela, delegacias especializadas no atendimento à mulher vêm sendo fechadas em diversos municípios, e muitas das Salas Margaridas, espaços dedicados ao acolhimento de vítimas dentro das delegacias comuns, estão fechadas ou sem funcionamento profissional adequado.

Para Fabiane, o problema se manifesta em todas as esferas do poder público, municipal, estadual e federal. “Porque quem deveria nos garantir condições, recursos humanos e financeiros para enfrentar, que é a União, Estado, Município, por vezes vira as costas para a gente”, diz.

Márcia Soares, diretora executiva da Themis – Gênero, Justiça e Direitos Humanos, também denuncia o desmantelamento da rede de atenção às mulheres em situação de violência no Rio Grande do Sul. “A rede foi praticamente destruída nos últimos anos, pelo governo federal que passou e por este governo estadual que infelizmente não está dando prioridade à vida das mulheres”, pontua.

Diante da repercussão da sequência de feminicídios, a Secretaria de Segurança Pública do Estado e a Polícia Civil anunciaram, em 24 de abril, novas medidas para proteção das vítimas. Entre as ações anunciadas está a solicitação de medida protetiva de urgência online, a realização de visitas domiciliares a agressores de mulheres, desenvolvimento de grupos de reflexão com os agressores e operações permanentes de capturas a partir de denúncias.

Na coletiva realizada para o anúncio das ações, o Chefe da Polícia Civil do RS, Delegado Fernando Sodré, classificou a situação dos casos de feminicídio no feriado como “um dia fora da curva” e afirmou que o estado apresenta queda nos registros desse tipo de crime.

No entanto, para Márcia, a declaração do delegado não retrata a veracidade da situação enfrentada no estado. “Não é ‘fora da curva’, esta é a curva e ela é ascendente. A gente percebe isso no país inteiro e inclusive no Rio Grande do Sul”, diz.

Na avaliação de Márcia, a perspectiva adotada pela Polícia Civil e pelo Estado se reflete nas medidas anunciadas, que são restritas e tratam o feminicídio apenas como um problema de segurança pública, desconsiderando as dimensões estruturais que envolvem a violência contra a mulher. “As medidas protetivas de urgência on-line é uma ação bastante importante, que a gente espera que atinja as mulheres, mas lembrando que isso depende de uma senha no Gov.br. Para algumas mulheres de classe média isso é possível, mas se a gente trata com mulheres de periferia, nós sabemos que esse acesso é muito restrito”, avalia.

Sobre a proposta de grupos de reflexão com os agressores, Márcia afirma ser uma estratégia interessante, mas que não é novidade. “Esses grupos, eles dizem que isso vai depender de ter disponibilidade de recursos humanos e materiais, não se pode anunciar uma questão como essa e dizer: ‘olha, ok, mas só vai acontecer se tiver disponibilidade’. A disponibilidade depende da priorização da questão para o governo”, pontua.

“Outra proposta interessante é a visita à casa dos agressores, acho que é uma estratégia bastante interessante. Mas a outra estratégia, de cumprir os mandados de busca e captura, os mandados em aberto, isso é obrigação da polícia para todos, isso não é uma questão só dos feminicídios, não é uma inovação, isso é obrigação da polícia”, complementa Márcia sobre as medidas anunciadas.

A deputada estadual Stela Farias (PT), coordenadora da Força-Tarefa de Combate aos Feminicídios no RS, também avalia que as medidas anunciadas são importantes, mas insuficientes diante da gravidade da situação. Ela afirma que, ao percorrer o estado, constatou o desmonte da rede de proteção às mulheres e a inércia do governo estadual frente à necessidade de ações urgentes de prevenção e enfrentamento aos feminicídios.

A deputada também aponta negligência do governo estadual em não adotar medidas urgentes de proteção às mulheres. Segundo ela, apesar de ter a responsabilidade de estruturar os órgãos de segurança e proteção, o governo Leite não realiza investimentos reais em políticas públicas voltadas à proteção da vida das mulheres.

Na última semana, as deputadas federais gaúchas Maria do Rosário (PT), Denise Pessoa (PT), Fernanda Melchionna (PSOL) e Daiana Santos (PCdoB) se reuniram com o ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, para discutir propostas de enfrentamento ao feminicídio no Rio Grande do Sul. De acordo com Lewandowski, o Ministério da Justiça destinou R$ 4 milhões ao estado em 2024, por meio do Fundo Nacional de Segurança Pública, para o combate à violência contra as mulheres, mas os recursos ainda não foram utilizados.

No dia 24 de abril, em resposta a questionamento da reportagem do Sul21, a Secretaria de Segurança Pública (SSP) negou que os recursos não foram utilizados, mas, sim, que 73% dos recursos foram empenhados.

Após a divulgação da informação do ministro Lewandowski, a deputada estadual Luciana Genro (PSOL) oficiou o governador Eduardo Leite, questionando os motivos que impediram a aplicação integral e imediata dos recursos federais. Ela também pediu esclarecimentos sobre como o montante será utilizado e se há um plano de ação específico para o enfrentamento da violência de gênero.

*Fonte: Sul21

25 abril 2025

Entenda o processo no STF que levou à prisão de Fernando Collor

O ex-presidente foi condenado pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro

O STF condenou Fernando Collor a oito anos e 10 meses de prisão em regime fechado - Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil


O ex-presidente Fernando Collor foi preso na madrugada desta sexta-feira (25) em Maceió, capital de Alagoas, após determinação do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). O político deve ser transferido para Brasília para cumprir pena em regime fechado pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro.

O STF entendeu que Collor utilizou a sua influência enquanto senador, entre 2010 e 2014, para ajudar ilegalmente o fechamento de quatro contratos de construção de bases de distribuição de combustíveis entre a empreiteira UTC Engenharia e a BR Distribuidora, então subsidiária da Petrobras. “A vantagem foi dada em troca de apoio político para indicação e manutenção de diretores da estatal”, informou o STF sobre a decisão.

De acordo com a denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR), apresentada ainda em 2015 a partir de um desdobramento da Operação Lava Jato, o ex-presidente recebeu R$ 20 milhões em propina para ajudar na celebração dos contratos. 

“A denúncia retrata a influência do parlamentar perante a Petrobras, exercida mediante a indicação dos ocupantes de cargos de comando da empresa, os quais, em contrapartida, comprometiam-se a angariar recursos espúrios destinados ao senador da República, recolhidos de empresas previamente selecionadas, contempladas, por seu turno, com a celebração de rentáveis contratos, muitas vezes, em prejuízo à BR Distribuidora. Em apertada síntese, assim ocorria o aludido e sofisticado ciclo criminoso”, diz um trecho da denúncia da PGR.

condenação de Collor no STF ocorreu em 31 de maio de 2023. Por oito votos a dois, o STF condenou o ex-presidente a oito anos e 10 meses de prisão em regime fechado, além de uma multa pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro.

No ano seguinte, o STF rejeitou um recurso apresentado pela defesa do ex-senador, que argumentava que a condenação teria sido baseada exclusivamente em delações premiadas, como a de Ricardo Pessoa, ex-presidente da UTC. Na ocasião, Moraes afirmou que “todas as questões trazidas pelos embargantes foram devidamente contempladas pelo acórdão impugnado”.

Em outro embargo de declaração, julgado em novembro de 2024, a defesa argumentou que a pena aplicada a Collor referente ao crime de corrupção passiva deveria ser menor. O argumento tem como base uma divergência aberta entre os ministros durante a definição da dosimetria, ou seja, o tamanho da pena. 

No fim, houve o chamado “voto médio”, quando os ministros entram em acordo em relação a um tema mesmo quando não há um consenso inteiramente definido. Nesse caso, venceu a proposta de Alexandre de Moraes de quatro anos e quatro meses de reclusão. 

Agora, Moraes rejeitou outro recurso e determinou a prisão imediata ao entender que embargos apresentados pela defesa têm apenas a função de protelar a prisão. Nesse último embargo, a defesa argumentou que deveriam valer os votos vencidos dos ministros Gilmar Mendes, Dias Toffoli, André Mendonça e Kassio Nunes Marques quanto à dosimetria da pena.

“A manifesta inadmissibilidade dos embargos, conforme a jurisprudência da Corte, revela o caráter meramente protelatório dos infringentes, autorizando a certificação do trânsito em julgado e o imediato cumprimento da decisão condenatória”, escreveu o ministro em sua decisão.

Nesta sexta-feira (25), os ministros se reunirão em sessão no plenário virtual para decidir se referendam ou revogam a determinação de Moraes para prender Collor. O julgamento começa às 11h e vai até às 23h59, e todos os 11 ministros participam.

Em nota, a defesa da ex-presidente afirmou que recebeu a notícia com “surpresa e preocupação” e que Collor se apresentaria para o cumprimento da decisão.

*Por Caroline Oliveira - Editado por: Nathallia Fonseca

Fonte: https://www.brasildefato.com.br/

22 abril 2025

Lula e Janja viajarão a Roma para funeral do Papa Francisco

 

  Papa Francisco com o Presidente Lula - Foto: Ricardo Stuckert


BdF* - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e a primeira-dama, Rosângela da Silva, a Janja, irão nos próximos dias a Roma, na Itália, para participar do velório e do enterro do papa Francisco, que morreu nesta segunda-feira (21), aos 88 anos.

A Secretaria de Comunicação Social (Secom) confirmou ao Brasil de Fato que a viagem está definida e que a comitiva do presidente deve ser definida na próxima terça-feira (22). A data da ida, no entanto, dependerá do cerimonial do Vaticano.

Ainda não há definição oficial, por parte do Vaticano, sobre o dia e o local do funeral. A previsão é que a cerimônia ocorra entre sexta-feira (25) e domingo (27), com ritos que seguirão o Ordo Exsequiarum Romani Pontificis — manual litúrgico cujas diretrizes foram simplificadas pelo próprio Francisco em novembro de 2024. O protocolo prevê até nove dias de cerimônias.

Amizade

Lula e Francisco mantinham uma relação de proximidade e afinidade política, marcada por encontros e gestos simbólicos desde que o petista deixou a prisão. O primeiro encontro ocorreu em fevereiro de 2020, três meses após a libertação do ex-presidente.

Em junho de 2018, quando Lula ainda cumpria pena na sede da Polícia Federal em Curitiba, um enviado do papa tentou entregar ao petista um terço abençoado por Francisco. A entrada foi barrada pelos agentes federais, mas o presente foi entregue posteriormente, acompanhado de uma mensagem. A Santa Sé esclareceu que o gesto era de natureza pessoal e não institucional.

Desde que voltou à Presidência, Lula voltou a se encontrar com o papa duas vezes. Em junho de 2023, esteve com Francisco no Vaticano ao lado da primeira-dama, Janja. No ano seguinte, os dois se reuniram durante a cúpula do G7, em Puglia, no sul da Itália. Os encontros foram marcados por alinhamento em temas como o combate à fome, justiça social e defesa da paz em conflitos como a guerra na Ucrânia e os bombardeios na Faixa de Gaza.

O diálogo entre ambos sempre esteve atravessado por críticas à judicialização da política. Em entrevista ao jornal espanhol ABC, publicada em 2022, Francisco afirmou que a Operação Lava Jato foi impulsionada por “notícias falsas na mídia que criaram um clima favorável ao julgamento”. Segundo o pontífice, o caso de Lula foi marcado por irregularidades processuais e manipulação midiática. “Eles armam o cenário através da mídia de tal forma que têm um efeito sobre aqueles que devem julgar e decidir”, declarou.

*Editado por: Rodrigo Chagas - Via Brasil de Fato

18 abril 2025

Glauber Braga encerra greve de fome após acordo com Hugo Motta

Processo de cassação do mandato do deputado do PSOL não será analisado neste primeiro semestre

   Foto: Assessoria Glauber Braga/Divulgação

Da Agência Brasil*

O deputado federal Glauber Braga (PSOL-RJ) encerrou nesta quinta-feira (17) a greve de fome iniciada há oito dias, após acordo firmado com o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos- PB), que prevê que o processo de cassação de seu mandato não será analisado neste primeiro semestre

Glauber Braga iniciou a greve de fome no dia 9 de abril, após aprovação do processo de cassação de seu mandato pelo Conselho de Ética da Câmara.

“Estou suspendendo a greve de fome, mas nós não estamos suspendendo a luta contra o orçamento secreto, contra o poder oligárquico. Não estamos suspendendo a luta pela responsabilização dos assassinos de Marielle e pela responsabilização dos golpistas de plantão”, disse Glauber.

Segundo a assessoria do parlamentar, durante os oito dias em que ele ficou acampado na Câmara dos Deputados sem se alimentar, ele perdeu mais de 5 quilos, ingeriu apenas água, soro e isotônico.

O deputado disse que passará por um momento de recuperação e está recebendo orientação médica sobre o que pode ingerir.

Em publicação nas redes sociais, Hugo Motta garantiu que, após a deliberação na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), o processo só será submetido ao plenário após 60 dias.

“Garanto que, após a deliberação da CCJ, qualquer que seja ela, não submeteremos o caso do deputado ao Plenário da Câmara antes de 60 dias para que ele possa exercer a defesa do seu mandato parlamentar. Após este período, as deputadas e os deputados poderão soberanamente decidir sobre o processo”, disse Motta.

O acordo com Motta foi intermediado pelos deputados Sâmia Bomfim (PSOL-SP) e Lindbergh Farias (PT-RJ). Para Glauber Braga, a mensagem de Hugo Motta demonstrou um recuo e uma sinalização importante contra a perseguição que ele estava sofrendo.

*Via Sul21

16 abril 2025

"Senti o abalo emocional": Glauber Braga completa 177 horas de greve de fome

Conversei com o deputado: ele já perdeu quase cinco quilos e sua voz está fraca, mas garante: "Não vou desistir”

Glauber Braga com a esposa, a também deputada Sâmia Bonfim (Foto: Ascom Glauber Braga)

Já era noite quando Glauber Braga surge no final do corredor, caminhando em direção ao Plenário 5 da Câmara dos Deputados, onde, na quarta-feira da semana passada, ocorreu a infame sessão em que, por 13 votos a cinco, os deputados da Comissão de Ética aprovaram o relatório que recomenda a cassação do parlamentar.

“É uma honra conhecer você pessoalmente", disse-me, generosamente, o deputado ao chegar à porta do Plenário, onde eu estava. Vestindo calça e moletom brancos, de máscara também branca, Glauber disse que assistiu aos documentários que realizei para a TV 247.

“Gosto muito dos seus documentários", afirmou. Perguntei se poderia gravar imagens dele no plenário, onde permanece em greve de fome desde aquela sessão. “Claro", disse, com uma voz enfraquecida, fruto de, naquele horário, 19 horas de terça-feira, 160 horas de greve de fome.

– Como você está? – perguntei.

– Estou bem - respondeu, e se encaminhou para a sala, que estava fechada com uma faixa de isolamento e com três policiais legislativos fazendo a segurança. Acompanhei o parlamentar, ele se dirigiu a um colchão com roupa de cama e se deitou, com olhar dirigido ao teto. Pouco depois, a luz se apaga, ele já estava de olhos fechados.

Na sala, permanecem alguns assessores, a maioria de máscara. Glauber iniciou a greve de fome com 91 quilos e setecentos gramas, um pouco acima do peso para quem tem estatura mediana, como ele. Na noite de terça-feira, seu peso era de 87 quilos e cem gramas. (...)

*CLIQUE AQUI para continuar lendo a postagem de Joaquim de Carvalho no site Brasil247

14 abril 2025

DISPUTAR O LEGADO DE PAULO FREIRE*

 


No dia 13 de abril de 2012, foi promulgada a Lei que tornou Paulo Freire Patrono da Educação Brasileira. A lei foi o reconhecimento a um intelectual militante que fez da educação uma ferramenta de libertação de várias amarras da opressão a que, historicamente, foi submetida a população brasileira. Agora, há nova investida contra ele, patrocinada pelo pelotão bolsonarista no Congresso Nacional. Sim, esse mesmo grupo que reivindica anistia para os/as golpistas, de 8 de janeiro de 2023, é o que quer retirar da legislação a homenagem ao educador.

Por isso, foi muito simbólico que as Secretarias Nacional e Estadual de Formação tivessem realizado, neste mesmo dia 13, a Jornada de Formação de Formadores e Formadoras na sequência do Encontro Estadual de Vereadores e Vereadoras.

A formação permanente atualiza os saberes construídos ao longo do tempo e mantém o Partido fiel aos seus princípios, reposicionados na conjuntura e no contexto. Paulo Freire saberia interpretar a realidade que tenta sabotar sua imagem e seu legado. Ele, porém, que chegou na primavera, como as esperanças, partiu no outono, como os grãos generosos e as frutas maduras. Nosso compromisso é o de continuar a plantar suas sementes, mesmo no árido solo destes insensatos tempos.

Juçara Dutra Vieira
Presidenta do PT RS

*Com o site do PT/RS https://ptrs.org.br/ 

11 abril 2025

Candidatura de Rui Presidente do PT ganha força*

 


No 10º Encontro Nacional do DAP [Diálogo e Ação Petista - Associação], o deputado federal, Rui Falcão apresentou a sua candidatura a presidente nacional do PT. O encontro contou com a participação de 72 delegados de 49 grupos de base do DAP de 12 Estados, que aprovaram por unanimidade a candidatura de Rui.

A candidatura vem ganhando corpo, abaixo apresentamos o manifesto conjunto e listamos seus primeiros apoiadores. Entre eles, 19 deputados(as) federais, 14 membros do Diretório Nacional (alguns também parlamentares), 12 deputados(as) estaduais, 2 ex-presidentes, José Genoíno e Olívio Dutra, além de várias lideranças sociais nacionais.

O lançamento oficial de Rui à Presidente do PT será no dia 14 de abril, segunda-feira, às 19h, no auditório do Sindicato dos Engenheiros do Estado de SP (SEESP), R. Genebra, 25 – Bela Vista, São Paulo – SP. (...)

*CLIQUE AQUI para continuar lendo - na íntegra - a postagem (via site do DAP)

07 abril 2025

Ataques a Motta no ato bolsonarista “enterraram” a anistia, avaliam governistas*

Lindbergh diz que "intimidação grosseira" ao presidente da Câmara isola ainda mais os aliados do inelegível

O presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB). Foto: Marina Ramos/Agência Câmara


Adversários do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) avaliaram neste domingo (6) que os ataques direcionados ao presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), durante a manifestação na avenida Paulista, “enterraram” o chamado PL da Anistia e contribuíram para o isolamento de seus apoiadores no Congresso.

Para o líder do PT na Câmara, deputado Lindbergh Farias (RJ), as críticas feitas por aliados de Bolsonaro a Motta representaram “um tiro no pé” e podem acabar tendo o efeito contrário ao desejado, aumentando a relutância do presidente da Câmara em levar o tema à votação. “Eles vão se isolar completamente no Parlamento. Ou alguém acha que Hugo Motta, depois desses ataques, quase uma política de intimidação grosseira, vai pautar esse projeto? Claro que não”.

Nos bastidores do governo, a avaliação é de que Motta sairia desmoralizado caso, após ser confrontado com provocações, adotasse uma postura favorável à tramitação da proposta. Parlamentares acreditam que dificilmente o presidente da Câmara irá, neste momento, assumir um conflito com o Supremo Tribunal Federal, que poderia se prolongar por tempo indefinido.

Pastor Silas Malafaia durante manifestação pró-anistia na Av. Paulista. Imagem: reprodução

“Envergonhando povo da Paraíba”

O pastor Silas Malafaia, um dos organizadores da manifestação deste domingo, declarou no carro de som que Motta “está envergonhando o povo da Paraíba” ao não se posicionar claramente sobre o projeto. Políticos aliados também reforçaram o apoio de seus partidos à proposta, atendendo ao chamado de Malafaia para mostrar à Câmara que “o povo” deseja a aprovação do texto, alegando que ele corrige injustiças e promove a pacificação nacional. Ministros do STF como Alexandre de Moraes e Luís Roberto Barroso também foram alvo de críticas.

Lindbergh ainda comentou que “o ato não foi o que [eles] esperavam”, já que o público presente ficou abaixo do que os líderes bolsonaristas projetavam nos últimos dias — chegaram a mencionar a expectativa de reunir 1 milhão de pessoas. Segundo o “Monitor do Debate Político” da USP, estiveram no evento 44,9 mil pessoas, número semelhante ao estimado pelo Datafolha, que apontou 55 mil presentes.

Uma pesquisa da Quaest divulgada no domingo também mostrou que 56% dos brasileiros são contrários à anistia dos envolvidos nos atos de 8 de janeiro de 2023. O líder petista também citou um levantamento do Datafolha, que revelou que 67% dos entrevistados acreditam que Bolsonaro deveria desistir de disputar as eleições de 2026 e apoiar outro candidato.

*Por Fernando Miller, no DCM

06 abril 2025

“Não existe pesquisa idônea nem imprensa neutra", diz José Genoino

Ex-presidente do PT afirma que mídia atua como partido do neoliberalismo e cobra protagonismo popular nas ruas e comunicação pública do governo

    (Foto: ABR)

247* - Em entrevista ao Bom Dia 247, o ex-presidente nacional do PT José Genoino criticou com veemência o papel da imprensa e dos institutos de pesquisa na atual conjuntura política. Para ele, ambos atuam de forma articulada para enfraquecer o governo Lula e frear avanços progressistas. “Para mim, não existe imprensa neutra nem pesquisa idônea. Esse é o ponto de partida para a gente analisar a conjuntura política”, afirmou.

Segundo Genoino, a grande imprensa brasileira, concentrada nas mãos de poucos grupos empresariais, atua com objetivos políticos claros: “A grande imprensa hoje, principalmente a imprensa monopolista, corporativa e familiar, está trabalhando com a ideia de que tem que haver uma alternativa da direita disputando franjas da extrema direita. É uma espécie de Bolsonaro sem a imagem desgastada do Bolsonaro”. Na visão do ex-deputado, essa articulação tem um objetivo comum: “Eles têm um ponto de unidade — combater a esquerda, encurralar o governo Lula e impedir inclusive certas reformas que o governo está lutando para executar”.

Genoino classificou a grande mídia como um verdadeiro ator político no cenário nacional. “Ela funciona como um partido do modelo neoliberal”, disse. Para ele, a forma como notícias são construídas, editadas e difundidas pelos principais veículos de comunicação revela um alinhamento com os interesses de mercado. Essa atuação, segundo ele, cria um ciclo perverso: “A imprensa alimenta a pesquisa e a pesquisa alimenta a imprensa para fazer a editorialização da avaliação do governo”.

O ex-presidente do PT também alertou para o erro de setores do próprio governo ao se deixarem pautar por esse sistema. “O governo errou ao ficar muito dependente, muito prisioneiro dessas pesquisas e dessa cobertura da grande mídia”, afirmou. Para enfrentar esse cenário, Genoino defende uma guinada na estratégia de comunicação: “O presidente da República pauta o país. A imprensa quer pautar o que é prioritário e, às vezes, o governo fica prisioneiro dessa pauta”.

Como alternativa, ele propõe que o governo concentre sua comunicação na esfera pública, a partir de canais como a EBC. “A informação é um direito público individual, é um direito fundamental para o exercício da cidadania. Não é propriedade do mercado, de banco, de interesse nem do Estado. É uma questão pública”, ressaltou. Genoino defende que a comunicação do governo seja orientada por esse princípio, com pautas claras, definidas pelo próprio Executivo, e acesso amplo e igualitário para veículos diversos.

Além das críticas à imprensa, Genoino destacou a necessidade de mobilização popular e criticou a ausência de protagonismo da esquerda nas ruas. Ele afirmou que há ambiente favorável à articulação de movimentos e que o PT deveria ter tido papel mais ativo em manifestações recentes. “A esquerda tem que sair dos palácios e começar a ir para as ruas. Nós temos que criar um caminho, dizer: a esquerda está aqui, a esquerda é importante, tem significado”, concluiu. Assista:

 *Via https://www.brasil247.com/

03 abril 2025

As estranhas pesquisas da Quaest

As coisas não se encaixam. A Quaest deve explicações  

     O CEO da Quaest, Felipe Nunes (Foto: Reprodução/ CNN Brasil)


Por Bepe Damasco*

Em um dia, o diretor do instituto de pesquisas Quaest, Felipe Nunes, sintetiza da seguinte maneira a descida ladeira abaixo do governo Lula captada por seu levantamento: "Houve uma quebra de confiança entre o eleitorado e Lula." No dia seguinte, com a divulgação de nova sondagem da mesma Quaest, desta vez sobre as eleições presidenciais de 2026., mostrando Lula à frente de todos os concorrentes nos oito cenários pesquisados, a conversa do executivo já é outra: para ele, a polarização política escalou para a "calcificação" do voto na sociedade brasileira. Por isso, reprovação do governo não quer dizer mudança de voto, pois o eleitor compara os dois lados. 

Será?

Há muito abandonei aquela postura comum no universo da política, que é festejar pesquisas favoráveis e rejeitar as que não trazem boas notícias. Isso não quer dizer, no entanto, que as sondagens não devam ser vistas com senso crítico, especialmente sua exploração midiática.

Por exemplo: embora eu não assista mais a GloboNews, via redes sociais fiquei sabendo que o CEO da Quaest esteve presente ontem em praticamente toda a programação da emissora, para comentar o "pior momento de Lula" junto com repórteres e apresentadores.

Abre parênteses: é importante registrar que muitos problemas apontados pela pesquisa Quaest vividos pelo governo Lula são reais. O que eu debato aqui é a extensão e a profundidade deles, bem como o clima artificial de fim de mundo, de game over para o governo. Fecha parênteses. 

Perguntas:

1) Se foram feitas nas mesmas datas, entre 27 e 31 de março passados, por que apenas a pesquisa sobre a popularidade em queda do governo foi divulgada nesta quarta (2 de abril), enquanto a pesquisa presidencial ficou para o dia seguinte, com muito menos destaque na Globo e em toda a imprensa comercial? Penso que a decisão está ligada à estratégia de concentrar o noticiário de um dia inteiro na baixa popularidade do governo.

2) Será que o diretor da Quaest será outra vez chamado aos estúdios da Globo para explicar como o chefe de um governo tão "mal avaliado" pode liderar as pesquisas para a próxima eleição? E, caso seja convidado, o que duvido muito, terá o mesmo tempo oferecido quando a pauta era traçar um quadro de fundo de poço para o governo?

Outro ponto que merece atenção é que Lula desponta como favorito não só contra candidatos da extrema-direita, incluindo Bolsonaro, mas também diante de hipotéticos candidatos de centro e de direita. Então, apenas a tese da polarização intensa, a tal da "calcificação", não explica a boa performance de Lula nas pesquisas.

E mais: quando Felipe Nunes detecta uma quebra de confiança popular em Lula, ele está querendo dizer, na verdade, que o encanto de Lula se partiu entre os brasileiros, o que sugere uma sentença definitiva.

Difícil acreditar que esse mesmo eleitor cético e desiludido seja o mesmo que pretende dar a Lula um quarto mandato presidencial. 

As coisas não se encaixam. 

A Quaest deve explicações.

...

*Jornalista, editor do Blogue do Bepe

-Fonte: Brasil247