08 dezembro 2019

Cercado de fascistas, fiquei com saudade de um pequeno rei sábio



Por Sebastião Nunes*

Ah, que saudades que tenho de quando o presidente da Funarte entendia de arte, o ministro da educação sabia escrever e havia, na área da cultura, pessoas cultas ligadas à música e à literatura. Em suma, quando havia vida inteligente no governo, no lugar dessa quantidade espantosa de débeis mentais.
Como foi que isso aconteceu? Quando foi que os corações e mentes deste país, distraídos por suas ainda pequenas conquistas, permitiram essa avalanche inacreditável de estupidez, intolerância, burrice e ignorância?
De que esgoto, de que cloaca, de que subterrâneo imundo saíram eles?
Quase um ano depois, ainda é difícil acreditar que estejamos mergulhados numa inacreditável Idade Média mental, com uma multidão asquerosa de criaturas patéticas ocupando os postos mais importantes do país.
Resolvi, então, reproduzir, pela segunda vez, um texto escrito para crianças.
Trata-se do capítulo X do livro infantil “O pequeno príncipe”, do escritor francês Antoine de Saint-Exupéry, publicado em 1943, um ano antes de sua morte.
À medida que o copio, imagino como o aviador-humanista Saint-Exupéry ficaria horrorizado se aterrizasse em Brasília, nossa infeliz e absurda capital federal.
“Ele se achava na região dos asteroides 325, 326, 327, 328, 329, 330. Começou, pois, a visitá-los, para procurar uma ocupação e se instruir.
O primeiro era habitado por um rei. O rei sentava-se, vestido de púrpura e arminho, num trono muito simples, posto que majestoso.
– Ah! Eis um súdito, exclamou o rei ao dar com o principezinho.
E o principezinho perguntou a si mesmo:
– Como pode ele reconhecer-me, se jamais me viu?
Ele não sabia que, para os reis, o mundo é muito simplificado. Todos os homens são súditos.
– Aproxima-te, para que eu te veja melhor, disse o rei, todo orgulhoso de poder ser rei para alguém.
O principezinho procurou com os olhos onde sentar-se, mas o planeta estava todo atravancado pelo magnífico manto de arminho. Ficou, então, de pé. Mas, como estava cansado, bocejou.
– É contra a etiqueta bocejar na frente do rei, disse o monarca. Eu o proíbo.
– Não posso evitá-lo, disse o principezinho confuso. Fiz uma longa viagem e não dormi ainda…
– Então, disse o rei, eu te ordeno que bocejes. Há anos que não vejo ninguém bocejar! Os bocejos são uma raridade para mim. Vamos, boceja! É uma ordem!
– Isso me intimida… eu não posso mais… disse o principezinho todo vermelho.
– Hum! Hum! respondeu o rei. Então… então eu te ordeno ora bocejares e ora…
Ele gaguejava um pouco e parecia vexado.
Porque o rei fazia questão fechada de que sua autoridade fosse respeitada. Não tolerava desobediência. Era um monarca absoluto. Mas, como era muito bom, dava ordens razoáveis.
“Se eu ordenasse, costumava dizer, que um general se transformasse em gaivota, e o general não me obedecesse, a culpa não seria do general, seria minha.”
– Posso sentar-me? interrogou timidamente o principezinho.
– Eu te ordeno que te sentes, respondeu-lhe o rei, que puxou majestosamente um pedaço do manto de arminho.
Mas o principezinho se espantava. O planeta era minúsculo. Sobre quem reinaria o rei?
– Majestade… eu vos peço perdão de ousar interrogar-vos…
– Eu te ordeno que me interrogues, apressou-se o rei a declarar.
– Majestade… sobre quem é que reinais?
– Sobre tudo, respondeu o rei, com uma grande simplicidade.
 Sobre tudo?
O rei, com um gesto discreto, designou seu planeta, os outros, e também as estrelas.
– Sobre tudo isso?
– Sobre tudo isso… respondeu o rei.
Pois ele não era apenas um monarca absoluto, era também um monarca universal.
– E as estrelas vos obedecem?
– Sem dúvida, disse o rei. Obedecem prontamente. Eu não tolero indisciplina.
Um tal poder maravilhou o principezinho.
– Eu desejava ver um pôr de sol… ordenai ao sol que se ponha…
– Se eu ordenasse a meu general voar de uma flor a outra como borboleta, ou escrever uma tragédia, ou transformar-se em gaivota, e o general não executasse a ordem recebida, quem – ele ou eu – estaria errado?
Vós, respondeu com firmeza o principezinho.
– Exato. É preciso exigir de cada um o que cada um pode dar, replicou o rei. A autoridade repousa sobre a razão. Se ordenares a teu povo que ele se lance ao mar, farão todos uma revolução. Eu tenho o direito de exigir obediência porque minhas ordens são razoáveis.
– E meu pôr de sol? lembrou o principezinho, que nunca esquecia a pergunta que houvesse formulado.
– Teu pôr de sol, tu o terás. Eu o exigirei. Mas eu esperarei, na minha ciência de governo, que as condições sejam favoráveis.
– Quando serão? indagou o principezinho.
– Hein? respondeu o rei, que consultou inicialmente um grosso calendário. Será lá por volta de… por volta de sete horas e quarenta, esta noite. E tu verás como sou bem obedecido.
O principezinho bocejou. Lamentava o pôr de sol que perdera. E depois, já estava se aborrecendo um pouco!
– Não tenho mais nada que fazer aqui, disse ao rei. Vou prosseguir minha viagem.
– Não partas, respondeu o rei, que estava orgulhoso de ter um súdito. Não partas: eu te faço ministro!
– Ministro de quê?
– Da… da justiça!
– Mas não há ninguém a julgar!
– Quem sabe? disse o rei. Ainda não dei a volta no meu reino. Estou muito velho, não tenho lugar para carruagem, e andar cansa-me muito.
– Oh! Mas eu já vi, disse o príncipe que se inclinou para dar ainda uma olhadela do outro lado do planeta. Não consigo ver ninguém…
– Tu julgarás a ti mesmo, respondeu-lhe o rei. É o mais difícil. É bem mais difícil julgar a si mesmo que julgar os outros. Se consegues julgar-te bem, eis um verdadeiro sábio.
– Mas eu posso julgar-me a mim próprio em qualquer lugar, replicou o principezinho. Não preciso, para isso, ficar morando aqui.
– Ah! disse o rei, eu tenho quase certeza de que há um velho rato no meu planeta. Eu o escuto de noite. Tu poderás julgar esse rato. Tu o condenarás à morte de vez em quando: assim a sua vida dependerá da tua justiça. Mas tu o perdoarás cada vez, para economizá-lo. Pois só temos um.
– Eu, respondeu o principezinho, eu não gosto de condenar à morte, e acho que vou mesmo embora.
– Não, disse o rei.
Mas o principezinho, tendo acabado os preparativos, não quis afligir o velho monarca:
– Se Vossa Majestade deseja ser prontamente obedecido, poderá dar-me uma ordem razoável. Poderia ordenar-me, por exemplo, que partisse em menos de um minuto. Parece-me que as condições são favoráveis…
Como o rei não dissesse nada, o principezinho hesitou um pouco; depois suspirou e partiu.
– Eu te faço meu embaixador, apressou-se o rei em gritar.
Tinha um ar de grande autoridade.
As pessoas grandes são muito esquisitas, pensava, durante a viagem, o principezinho.”
Ah, seria tão bom se, neste país tornado impossível, houvesse a possibilidade de ter um presidente sábio como esse rei e um ministro da justiça humano assim.
*Via GGN

06 dezembro 2019

Terraplenagem

Tal governo, tal Congresso: eles só governam para eles




Por Ricardo Kotscho, no Balaio do Kotscho e para o Jornalistas pela Democracia*  
Nunca antes um governo brasileiro esteve tão à altura, ou melhor, à baixeza de um Congresso e vice-versa como agora.
Nasceram um para o outro, eleitos na mesma “onda conservadora” que levou o capitão ao poder e o país para o buraco.
“Conservadora” é modo de dizer, porque não se trata de opção política ou ideológica, mas de um assalto orquestrado aos cofres públicos na divisão do butim.
Eles se entendem: só governam para eles, os amigos deles, e o país que se dane.
No mesmo dia, quarta-feira, deram mais dois golpes de mestre no Tesouro Nacional.
Para o Executivo, aprovaram a toque de caixa a reforma previdenciária mamão com açúcar dos militares, que vão ter aumento de salários e poderão se aposentar com salário integral, sem idade mínima. Em vez de cortar gastos, vão aumentar.
As guildas das grandes corporações do serviço público se protegem mutuamente, pois o Judiciário também já tinha garantido seus privilégios.
Ao mesmo tempo em que o Senado entregava todas as demandas dos militares, a Comissão do Congresso responsável pelo orçamento aprovava o relatório preliminar que aumenta para R$ 3,8 bilhões o fundo eleitoral para 2020.
Dinheiro para eles não é problema. Para garantir a mamata nas campanhas, o Congresso vai cortar do Orçamento recursos da educação, saúde e infraestrutura, que vão perder R$ 1,7 bilhão.
Chega a ser falta de humanidade. Vão cortar, por exemplo, R$ 70 milhões do programa Farmácia Popular, que oferece remédios gratuitos para a população de baixa renda, como informa a Folha.
Ao apresentar o relatório, o deputado Domingos Neto (PSD-CE) mentiu:
“Fizemos isso sem cortar de canto nenhum”.
A cara de pau dessa gente só se compara aos que prometeram uma “Previdência igual para todos”, que, ao final, vai tirar de quem ganha menos para garantir as mordomias do andar de cima.
Assinaram essa barbaridade representantes de 13 partidos, da esquerda à direita, que contam com 430 deputados e 62 senadores, garantindo a aprovação do bilionário Fundo Eleitoral.
Claro que o governo Bolsonaro não vai vetar esse assalto aos já minguados recursos da área social.
O capitão já lavou as mãos: “Geralmente, essas questões políticas é o Parlamento que decide”.
Não se trata de uma questão política, mas de escolha de prioridades.
É uma questão social, como mostram as revoltas populares nos países vizinhos, que tanto assustam os militares do governo.
Mas, para essa gente, em caso de alguma manifestação de protesto por aqui, a resposta nós já sabemos como será: tiro, porrada e bomba.
Enquanto eles se protegem nos palácios, a população sem emprego formal, sem assistência médica, com a educação e as estradas em frangalhos sobrevive como a dos países em guerra.
No Brasil, os vândalos estão no governo e no Congresso, não nas ruas.
Isso não tem como acabar bem.
Vida que segue.
*Via Brasil247

Juiz absolve Lula e Dilma de “organização criminosa”. E como ficam as condenações por isso?


Por Fernando Brito*
O juiz Marcus Vinicius Reis Bastos, da 12ª Vara Federal Criminal do Distrito Federal, absolveu os ex-presidentes Lula e Dilma Rousseff, assim como os os ex-ministros Guido Mantega e Antônio Palocci e ainda o tesoureiro do PT, João Vacari Neto da acusação de terem formado uma organização criminosa para obterem vantagens pecuniárias para o Partido dos Trabalhadores.
Na parte essencial da sentença diz que:
A inicial acusatória alonga-se na descrição de inúmeros ilícitos penais autônomos sem que revele a existência de estrutura ordenada estável e atuação coordenada dos Denunciados, traços característicos de uma organização criminosa. Numa só palavra, não evidencia a subsistência do vínculo associativo imprescindível à constituição do crime. A imputação atinente ao delito de organização criminosa, frise-se, há de conter elementos que “… demonstrem a formação deliberada de entidade autônoma e estável, dotada de desígnios próprios e destinada à prática de crimes indeterminados”

(…) não há comprovação da presença dos elementos subjetivos do tipo (dolo genérico e específico) consistentes na vontade livre e conscientemente dirigida à constituição de organização criminosa com vistas à obtenção de vantagens mediante o cometimento de crimes.

A denúncia apresentada, em verdade, traduz tentativa de criminalizar a atividade política. Adota determinada suposição – a da instalação de “organização criminosa” que perdurou até o final do mandato da Ex-Presidente Dilma Vana Roussef – apresentando-a como sendo a “verdade dos fatos”, sequer se dando ao trabalho de apontar os elementos essenciais à caracterização do crime de organização criminosa (tipos objetivo e subjetivo), em aberta infringência ao art. 41, da Lei Processual Penal.

A inocência foi reconhecida até mesmo pelo Ministério Público, quando reconheceu que “a utilização distorcida da responsabilização penal, como no caso dos autos de imputação de organização criminosa sem os elementos do tipo objetivo e subjetivo, provoca efeitos nocivos à democracia, dentre elas a grave crise de credibilidade e de legitimação do poder político como um todo.”

A denúncia, feita na época de Rodrigo Janot, em 2017, tinha sido feita ao STF, mas baixou à 1a. instância por Dilma e Lula não terem mais foro especial e se referiam de acontecimentos desde o primeiro governo Lula até o fim do período Dilma.

Recorde-se que, na falta de ações específicas, interferência em contatos determinados e atos determinados, era essa ideia da “organização criminosa” que sustentava as duas sentenças condenatórias de Lula na 13a. Vara Criminal de Curitiba.

A sentença, portanto, passa a ser um elemento da própria defesa contra os julgados de Curitiba e sua confirmação pelo TRF-4.

Vai servir também para pesar como argumento no julgamento de Gleisi Hoffmann e Paulo Bernardo por Edson Fachin sobre a mesma causa, no STF.

*Jornalista, Editor do Blog Tijolaço

05 dezembro 2019

PT/SANTIAGO-RS

Partido dos Trabalhadores (PT) de Santiago realizará Reunião/Jantar do novo DM nesta sexta-feira, 06/12



Os petistas santiaguenses também confraternizarão e celebrarão a liberdade do ex-Presidente Lula

Partido dos Trabalhadores – PT de Santiago/RS, estará realizando Reunião/Jantar com os integrantes de seu novo Diretório Municipal (recentemente empossado, foto acima), militantes e filiados no próximo dia 06/12, sexta-feira, 20h, tendo por local a Associação dos Inativos da Brigada Militar de Santiago (Greminho), localizada no Bairro Maria Alice Gomes.

Após o Ato Político que analisará a conjuntura, celebrará a liberdade do ex-Presidente Lula (e discutirá os próximos passos na luta pela anulação da condenação injusta, sem provas, oriunda do processo fraudulento comandado pelo ex-juiz Moro)  e a posse da nova Direção Municipal do partido (agora presidido por Rômulo Vargas, tendo como vice Iara Castiel; Secretário de Comunicação: Júlio Garcia; Tesoureira: Liamara Finamor; Secretário de Formação Política: Antônio Bueno; Secretária de Organização: Adriana Castiel; Secretário de Movimentos Populares: Luis Rodrigues), haverá Jantar de confraternização.

Os Convites (R$ 10,00 por pessoa) estão à disposição dos interessados com os membros da Comissão Executiva Municipal do PT.

04 dezembro 2019

A sentença recorta e cola e a morte da justiça




Por Lenio Streck, Marco Aurélio de Carvalho e  Fabiano Silva dos Santos*
Há vários modos de falar de um fenômeno. Por vezes, só a literatura pode dar a dimensão da tragédia. As vezes dizemos: não temos palavras. De fato, às vezes faltam palavras, porque podem ser pequenas para abarcar a dimensão do drama.
O Prêmio Nobel José Saramago conta uma história ocorrida há 400 anos. Os moradores de um lugar estavam entregues aos seus afazeres e, súbito, ouviram o sino da igreja tocar. Naqueles piedosos tempos, os sinos tocavam várias vezes ao longo do dia, e por esse lado não deveria haver motivo de estranheza, porém aquele sino dobrava melancolicamente a finados, e isso, sim, era surpreendente, uma vez que não constava que alguém da aldeia se encontrasse em vias de passamento.
Foram todos à igreja e perguntaram a quem deveriam prantear. “O sineiro não está aqui, eu é que toquei o sino”, foi a resposta do camponês. “Mas então não morreu ninguém?”, tornaram os vizinhos, e o camponês respondeu: “Ninguém que tivesse nome e figura de gente, toquei a finados pela Justiça porque a Justiça está morta.” E contou sua triste história. Perdera tudo. Fora injustiçado pela justiça.
Pois no dia 27.11.2019 ouviu-se o sino tocando no TRF4. Sim, ninguém que tenha nome morreu de morte morrida. Quem morreu foi a justiça. Na busca de condenar o ex-presidente Lula a qualquer custo, negou-se até mesmo a jurisprudência do Supremo Tribunal. Com um drible da vaca no precedente do STF, o TRF4 marcou seu tento. Só que foi um gol de mão.
A decisão chegou ao ponto de ignorar fatos, como se só as narrativas importassem. Sacramentaram o uso de plágio em sentença judicial. Elogiaram. Um pouco de mais de 10% da sentença não seria plágio, disse o relator. Quantos parágrafos devem ser copiados para caracterizar plágio, que, por sinal, é crime previsto no Código Penal? A sentença inaugurou um novo paradigma: a técnica do recorta e cola, em que até mesmo a troca do objeto do crime foi “colado”.
Mais ainda, em nome de um punitivismo sem precedentes, o Tribunal deixou de lado o mais importante valor que o judiciário deve preservar em uma democracia: o dever de imparcialidade.
Passou por cima de fatos notórios, que indicam a parcialidade explícita do MPF e dos juízes que atuaram no primeiro grau. Veja-se que o procurador da lava jato, Carlos Lima, chegou a dizer na TV que a força tarefa “escolheu entre o diabo e o coisa ruim”. Ela tinha lado. Isto não é um fato?
Por isso, o que está em jogo não é um réu. É a credibilidade da própria justiça. Até mesmo na fixação da pena – desproporcional – apareceu a parcialidade, com a fixação de um mítico número 17. O Brasil poderia dormir sem essa, pois não?
Denunciar o modus operandi do TRF4, nesse caso, é obrigação da comunidade jurídica. Por isso, chamamos a atenção para a estranha forma como o direito vem sendo utilizado, desrespeitando as garantias processuais-constitucionais e negando décadas de trabalho da doutrina jurídica.
O que dirão as instâncias superiores? Já não é o réu quem deve confiar na presunção da inocência no seu mais estrito sentido. Na verdade, o que está em jogo é o direito, a vida do direito que não deve morrer. Os juristas devem confiar em uma presunção de imparcialidade que deverá brilhar em grau de recurso.
Tamanha perplexidade com o julgamento do TRF4, só resta aos juristas garantistas a invocação do conto medieval: o sino tocou em uma quarta-feira. No Rio Grande do Sul. Quem morreu? A justiça brasileira. Isso tem de ser dito.
*Advogados - Postado originalmente no Prerrô (Grupo Prerrogativas). -Edição final deste Blog.

Massacre em Paraisópolis escancara horror que é a ausência de punição defendida por Bolsonaro e Moro

03 dezembro 2019

O Rei Roberto Carlos e suas relações com inimigos da democracia; vídeo



Um grande amigo, médico e professor de uma das mais conceituadas faculdades de medicina do País, diz: Pau que nasce torto, morre torto.

Nesse sábado (30/11), durante um show realizado na Ópera de Arame, em Curitiba, para a gravação do especial “Roberto Carlos – Além do Horizonte”, o cantor e compositor destacou a presença na plateia de Sérgio Moro:
“Tenho o privilégio de receber aqui nessa plateia um cara que realmente admiro e respeito por tudo o que ele feito por nosso país. Estou falando de Sergio Moro…”
Enquanto batia palmas e reverenciava o homenageado, reforçou:
“Sem dúvida, um privilégio”.
Após o show, Roberto Carlos recebeu no camarim o atual ministro da Justiça e ex-juiz da Lava Jato e a sua “conja” Rosângela Moro.
Tiraram fotos.
Os três postaram em suas redes sociais, inclusive Moro, que escreveu no twitter:
“Dia de levar a esposa em show romântico e de reverenciar o Rei”.
Para quem viveu o período da ditadura militar nenhuma surpresa.
Em artigo publicado em Carta Maior em 5 de maio de 2005 — O Rei Roberto Carlos e a ditadura militar no Brasil –, o jornalista e escritor Urariano Mota lembra a passagem do cantor da juventude, da jovem guarda, para o cantor “romântico”, na medida mesma em que as botas militares pisavam com mais força a vida brasileira.



Urariano observa:
(…) a passagem do Roberto Carlos Jovem Guarda para o senhor “romântico” não se dá pelo envelhecimento do seu público.
Ora, de 1965 a 1970 correm apenas 5 anos. O envelhecimento é outro. Nesses 5, correm sangue e enfurecimento da ditadura militar, no Brasil, e crescimento da revolta do público “jovem”, no mundo.
Enquanto explodem conflitos, a canção de Roberto Carlos que toca nos rádios de todo o Brasil é Vista a roupa, meu bem (e vamos nos casar). (…)
Para Urariano, que foi preso político na ditadura militar, o namoro do Rei Roberto Carlos com o regime não foi um breve piscar de olhos, um flerte, um aceno à distância:
O Rei Roberto não compôs só a música permitida naqueles anos de proibição.
O Rei não foi só o “jovem” bem-comportado, que não pisava na grama, porque assim lhe ordenavam.
Ele não foi apenas o homem livre que somente fazia o que o regime mandava. Não.
Roberto Carlos foi capaz de compor pérolas, diamantes, que levantavam o mundo ordenado pelo regime.
Ora, enquanto jovens estudantes eram fuzilados e caçados, enquanto na televisão, nas telas dos cinemas, exibe-se a brilhante propaganda “Brasil, ame-o ou deixe-o”, o que faz o nosso Rei? O Rei irrompe com uma canção que é um hino, um gospel de corações ocos, um som sem fúria de negros norte-americanos. Ora, ora, o Rei ora:
“Jesus Cristo, Jesus Cristo, eu estou aqui
olho pro céu e vejo uma nuvem branca que vai passando
olho pra terra e vejo uma multidão que vai caminhando
como essa nuvem branca, essa gente não sabe aonde vai
quem poderá dizer o caminho certo é Você, meu Pai.
AS BOAS RELAÇÕES COM A DITADURA MILITAR NOS ANOS DE CHUMBO
Em reportagem bem apurada de Marcelo Bortolotti – Roberto Carlos , em ritmo de ditadura, Época faz um retrato minucioso das relações do cantor com o regime militar. (...)
CLIQUE AQUI para ler, na íntegra, mais esta [reveladora] postagem de Conceição Lemes no Viomundo.

02 dezembro 2019

(Des)governo Bozo - Da série LOUCURA POUCA... É BOBAGEM: "Rock leva a aborto, sexo, drogas e satanismo, diz maestro novo presidente da Funarte"

Dante Mantovani é seguidor de Olavo de Carvalho e mantém canal sobre música erudita e teorias da conspiração / Reprodução

"O próprio John Lennon disse que fez um pacto com o diabo", disse em seu canal no YouTube o músico nomeado para o cargo

Nomeado nesta segunda-feira (2) para ocupar o cargo de presidente da Fundação Nacional de Artes (Funarte), além de maestro, Dante Mantovani também é youtuber.
Em seu canal com mais de 6 mil inscritos, Mantovani faz comentários sobre música erudita e teorias da conspiração. Uma delas, por exemplo, diz que o rock leva às drogas e, como última consequência, ao satanismo.
“O rock ativa a droga que ativa o sexo que ativa a indústria do aborto. A indústria do aborto por sua vez alimenta uma coisa muito mais pesada que é o satanismo. O próprio John Lennon disse que fez um pacto com o diabo”, diz o novo presidente da Funarte, que é doutor em música pela Universidade de Londrina.
Em outro vídeo, o seguidor de Olavo de Carvalho compartilha teorias de que os Beatles “colocaram em prática as ideias da Escola de Frankfurt”, que segundo ele, queriam destruir a cultura ocidental. “Eles precisavam destruir as famílias americanas porque elas eram a sustentação do capitalismo”, diz.
Outra vítima de suas análises é o cantor Elvis Presley, que, segundo ele, também faz parte de um experimento soviético para “destruir a juventude”.
“Nos anos 50, apareceu um tal de Elvis Presley, que fazia todo mundo cantar, sacolejar, balançar o quadril, né. Todo mundo ama esses caras. Começam a ser introduzidos certos comportamentos… o Elvis Presley morreu de overdose, né”, fala.
Assim como Katiane de Fátima Gouvêa, nomeada na quarta-feira (27) secretária do Audiovisual, Mantovani também faz parte da organização da Cúpula Conservadora das Américas.
*Edição: Fórum - via https://www.brasildefato.com.br/

01 dezembro 2019

Apoiadora da ditabranda, Folha faz edição discreta para bater em “falas autoritárias” de Bolsonaro





























Após se pintar para a guerra com o histórico editorial, jornal da família Frias fraqueja na edição deste domingo e convoca guru de Luciano Huck para dizer que ascensão da extrema-direita é culpa de Lula e "das medidas equivocadas dos governos do PT"
















Após se pintar para a guerra, no histórico editorial “Fantasia de imperador” contra Jair Bolsonaro na última sexta-feira (29), para rebater ao boicote conclamado pelo capitão contra os patrocinadores do jornal, a Folha de S.Paulo fraquejou e fez uma edição discreta para criticar as “falas autoritárias do governo Bolsonaro” neste domingo (1º).
Falando “grosso” e em letras garrafais durante todo o processo que culminou no golpe parlamentar que derrubou Dilma Rousseff da Presidência e levou o ex-presidente Lula à prisão – abrindo, assim, caminho para a eleição de Bolsonaro -, a Folha lembra agora o editorial de 17 de fevereiro de 2012, quando criou o neologismo “ditabranda” para se referir aos anos de ditadura militar no Brasil.
Além da reportagem da manchete – “Defesa de autoritarismo pelo governo Bolsonaro preocupa demais Poderes” -, que faz um apanhado da repercussão da declaração do ministro da Economia, Paulo Guedes, sobre um novo AI-5, citando na última linha que “Bolsonaro tem intensificado a escalada contra veículos da imprensa, entre os quais a Folha”, a família Frias escalou um time de colunistas para escrever artigos sobre o “abuso de poder” de Bolsonaro.
A Folha ainda convocou o guru político de Luciano Huck, o ex-governador do Espírito Santo, Paulo Hartung, para culpar Lula e “as políticas equivocadas de governos petistas” por “produzirem crise e alimentarem a ascensão da extrema direita” em longo artigo intitulado “Brasil vive entre riscos de extrema direita e recaída lulista”, escrito em parceria com Marcos Lisboa (Insper) e Samuel Pessôa (FGV).
Articulistas
Coube a Jânio de Freitas, uma das vozes mais sensatas do jornal, a defesa da liberdade de imprensa. Em artigo, o jornalista veterano diz que os ataques de Jair Bolsonaro à Folha mais servem aos outros jornais, revistas e tevês para pensarem sobre atos, e sobre si mesmos, do que para atingir a própria Folha em qualquer sentido.
“Afastado do convívio com a cúpula do jornal e da empresa, não ouso falar por um ou por outra. Mas a experiência é um prenúncio, e a memória da Folha guarda farta experiência de trato com pressões. Desde as pouco sutis queixas de Fernando Henrique e José Serra por determinadas demissões — do que há alvos e testemunhas em bom número — à invasão da empresa por Polícia Federal e Receita Federal a mando de Collor”, diz Jânio.
Já Bruno Boghossian diz que “Bolsonaro escancara abuso de poder para fins particulares”. “As críticas à imprensa sempre foram armas retóricas de Jair Bolsonaro. A medida tomada na última semana, no entanto, não representa apenas uma escalada nessa área. O governo já explora abertamente sua autoridade e o orçamento público como ferramentas para tentar intimidar e estrangular quem não estiver alinhado a suas vontades”, diz o colunista.
O jornal ainda destaca na capa uma entrevista com a presidenta da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado, Simone Tebet (MDB-MS), que ressalta que “se a economia não reagir até o ano que vem, […] esse governo não consegue se sustentar”. A semiótica se completa com uma foto de Gaby Amarantos saindo de um “xerecão” para divulgar a reportagem com a cantora paraense, em que diz que “falar da vagina é tratar sexualidade feminina de forma mais livre”, dando uma alfinetada no discurso conservador de “bons costumes” do governo.
A Folha ainda fez uma reportagem sobre os atos e falas que seriam “pontes entre governo de Bolsonaro e a ditadura”. Desta vez, chamando o período repressivo comandado pelos militares no Brasil pelo verdadeiro nome.
(Por Plinio Teodoro, na Revista Fórum)