05 janeiro 2009

O Brasil e a crise mundial: debate







Medidas adotadas pelo governo enfrentam impasses

*Por José Dirceu

No Brasil, 2009 começa sob a égide da crise internacional e chama a atenção os impasses das medidas adotadas pelo governo.

Para ficar em alguns poucos exemplos, o Banco Central (BC) continua na contramão e recusa-se a reduzir os juros, apesar dos sinais claros de desaceleração econômica; e o sistema bancário não responde as demandas de crédito da economia à altura do desafio.

Pior, ainda, a oposição não parece convencida dos riscos de um agravamento da crise internacional e de seus reflexos no Brasil. Demonstração disso é sua recusa em aprovar o Fundo Soberano, obrigando o Governo a buscar uma alternativa legal para dotá-lo de recursos orçamentários.

A indústria de liminares opera mais do que nunca

Apesar da rapidez das respostas do governo - no geral, acertadas - e de sua decisão de manter os investimentos em 2009 nas obras de infraestrutura e nos programas sociais (inclusive ampliando-os), a falta de crédito e os problemas legais e administrativos ameaçam o ritmo do Programa de Aceleração do Crescimento, o PAC (leia, também, a nota abaixo).

Uma verdadeira indústria de liminares e a já consolidada tendência a judicializacao dos litígios administrativos e ambientais vão aos poucos paralisando muitas das obras do PAC - dentre estas, algumas das principais - como aeroportos, hidrelétricas, rodovias, ferrovias (como a Trans-Nordestina) ou as obras de transposição das águas do Rio São Francisco.

Lamentavelmente há que se somar a isso, ainda, a pesada e lenta burocracia de muitos ministérios e agencias federais, particularmente na área de saneamento e habitação, onde convênios e obras ficam paradas a mercê de decisões e ações que levam meses para serem concluídas, quando deveriam ser realizadas em semanas.

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Novos prefeitos assumem com um discurso errado

Além dos riscos de uma queda da arrecadação e da falta de recursos orçamentários - que podem ser resolvidos com o uso do FSB, ou com a diminuição dos juros e do superávit - e da falta de créditos interno e externo para muitas obras e concessões, (como do trem de alta velocidade, ou das concessões de rodovias e aeroportos), precisamos enfrentar com medidas de emergência a burocracia e a judicialização das decisões legais e administrativas.

O governo precisa identificar os pontos de estrangulamento e os canais entupidos do sistema de decisões e de ações administrativas e mudar rapidamente os processos. Se for o caso, (mudar) até os responsáveis pelas áreas.

Também não pode vacilar em enviar para o Congresso Nacional uma medida legal para viabilizar os investimentos e as obras do PAC. Há que suspender, se for o caso extremo, exigências e prazos que podem levar o país a pagar muito mais caro em termos de desemprego e atraso no crescimento, e até mesmo em termos ambientais.

Emperramento de obras pode obrigar país a recorrer a energia poluente

Não exagero, já que o emperramento de determinadas obras poderá obrigar o governo a recorrer a fontes de energia poluentes para evitar apagões e agravar ainda mais a desaceleração econômica que virá.

Na crise não se pode tomar só medidas corretamente benéficas à produção e ao crédito, geralmente abrindo mão de receitas orçamentárias via redução dos impostos. Como tem acertadamente alertado o presidente Lula - e adotado medidas correspondentes - é preciso apoiar diretamente o cidadão, sua família e os empreendedores autônomos, micro e pequenos empresários, evitando a quebra de cadeias produtivas e do consumo familiar.

Mas, para isso, é preciso transformar o discurso em prática, em ações, como o financiamento direto do mutuário subsidiando os juros, a concessão de crédito seguro e barato ao micro e pequeno empresário, e investir em transportes de massa e público, em saneamento e habitação.

É atuar exatamente na contramão dos discursos de posse dos prefeitos que, ao contrário do governo federal, só falam em cortar gastos e reduzir investimentos, sem apresentar medidas para sustentar o emprego e o crescimento.

*Do sítio www.zedirceu.com.br

04 janeiro 2009

Repúdio






PT condena ataques criminosos

Os ataques do exército de Israel contra o território palestino, que já causaram milhares de vítimas e centenas de mortes, além de danos materiais, só podem ser caracterizados como terrorismo de Estado.
Não aceitamos a "justificativa" apresentada pelo governo israelense, de que estaria agindo em defesa própria e reagindo a ataques.
Atentados não podem ser respondidos através de ações contra civis. A retaliação contra civis é uma prática típica do exército nazista: Lídice e Guernica são dois exemplos disso.
O governo de Israel ocupa territórios palestinos, ao arrepio de seguidas resoluções da ONU. Até agora, conta com apoio do governo dos Estados Unidos, que se realmente quiser tem os meios para deter os ataques.
Feitos sob pretexto de "combater o terrorismo", os ataques de Israel terão como resultado alimentar o ódio popular e as fileiras de todas as organizações que lutam contra os EUA e seus aliados no Oriente Médio, aumentando a tensão mundial.
O Partido dos Trabalhadores soma sua voz à condenação dos ataques que estão sendo perpetrados pelas forças armadas de Israel contra o território palestino e convoca seus militantes a engrossarem as manifestações contra a guerra e pela paz que estão sendo organizadas em todo o Brasil e no mundo.
O PT reafirma, finalmente, seu integral apoio à causa palestina.

Ricardo Berzoini
Presidente nacional do PT
Valter Pomar
Secretário de Relações Internacionais do Partido dos Trabalhadores

*Fonte: http://www.pt.org.br/portalpt/index.php

03 janeiro 2009

Massacre II





Intensificado o massacre em Gaza

O massacre do povo palestino em Gaza continua. Depois de 8 dias de ataques aéreos, nas últimas horas o exército israelense iniciou a 'ofensiva terrestre', apoiada por forte fogo de artilharia e por grandes colunas de tanques. O volume de força empregada por Israel é absurdamente desproporcional ante a resistência oferecida pelos milicianos do Hamas. As mortes do lado palestino já passam de 450 pessoas, muitos civis, velhos, mulheres e crianças. Há mais de dois mil feridos. A população de Gaza está no escuro, sitiada, a maioria já sem água potável, sem alimentação, sem remédios.

Protestos

A criminosa investida de Israel contra Gaza tem o apoio explícito ou a clara conivência das principais potências do mundo, a começar pelos EUA e Inglaterra. A ONU, mais uma vez, mostra sua subserviência total frente ao império. No entanto, os povos do mundo começam a mostrar sua indignação frente ao genocídio em andamento na Palestina.

Informa a BBC que "dezenas de milhares de pessoas participaram de protestos no mundo todo contra a ação militar israelense na Faixa de Gaza, pedindo um imediato cessar-fogo. A maior manifestação ocorreu em Paris, onde mais de 20 mil pessoas se reuniram. Em Londres (foto) cerca de 10 mil pessoas participaram do protesto e centenas de sapatos foram arremessados na entrada da residência do primeiro-ministro Gordon Brown, Downing Street. Também ocorreram protestos em Bruxelas, Haia, Amsterdã e Chipre. Em Israel dezenas de milhares de árabes israelenses fizeram um protesto contra a ofensiva israelense na cidade de Sakhnin."

No Brasil, segundo a Agência Informes, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pediu ao ministro de Relações Exteriores, Celso Amorim, que solicite ao primeiro-ministro da França, François Fillon, uma reunião de emergência para discutir os ataques na Faixa de Gaza. Lula fez duras críticas a atuação da Organização das Nações Unidas (ONU) no conflito e também ao presidente dos Estados Unidos, George Bush.

02 janeiro 2009

Novos rumos para Canoas






Canoas já tem novo prefeito

* Durante a tarde e início da noite de ontem (sem dúvida, um dia que ficará registrado de forma indelével na história do município de Canoas) estive prestigiando a posse dos novos vereadores e assistindo a eleição da nova Mesa da Câmara, para cuja presidência foi eleito o companheiro vereador Nelsinho Metalúrgico (PT). Tive também o prazer de assistir a posse do novo prefeito, companheiro Jairo Jorge (PT) e de sua vice, Beth Colombo (PP). Nas palavras do novo prefeito, são estas as prioridades e os compromissos do governo que ora inicia: “Honestidade, o compromisso contra corrupção; competência, organização dos serviços públicos; Humildade, ampliar o diálogo social e participação da comunidade; limpeza, de ruas e praças; progresso, incentivo especial para atrair novos investimentos".
Segundo Jairo Jorge (foto acima), começa agora uma nova etapa na história de Canoas: “É hora de transformar idéias em ações. A missão do novo governo é o desenvolvimento político e resgatar a identidade e auto-estima dos canoenses. Nossa administração será embasada em honestidade, competência e humildade”. "Construiremos o futuro da cidade e a cidade do futuro".

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* Através das novas lideranças que assumiram ontem os destinos do nosso município, cujos eleitores, por maioria, apostaram nas mudanças tão necessárias e almejadas, a começar pelo fim do longo processo de corrupção que infelicitou e envergonhou a cidade nos últimos anos, não temos dúvida de que Canoas começa realmente a perseguir 'outros rumos', onde deve imperar, de forma plena, a democracia, a ética, o pluralismo, a inversão de prioridades, a transparência e a efetiva participação popular.

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* A seguir, a correta cobertura produzida pelo jornal 'O Timoneiro', que o blog reproduz para o conhecimento dos seus prezados leitores.
(Júlio Garcia)

"Com lotação máxima do plenário da Câmara de Vereadores, o prefeito Jairo Jorge (PT), a vice Beth Colombo (PP), e mais os 15 vereadores tomaram posse de seus mandatos. A sessão que iniciou com mais de uma hora de atraso, teve a eleição do novo presidente da Casa, o vereador Nelsinho Metalúrgico (PT) e dos integrantes da Mesa Diretora, composta por César Mossini (PMDB), vice-presidente; Dário Oliveira (PDT), 2º vice-presidente; Ivo Fiorotti (PT), 1º secretário e; Pateta (PMDB), 2º secretário.
Às 18h30min Jairo Jorge fez o juramento de posse como novo prefeito de Canoas. Em seu discurso, na Câmara, o petista recordou o passado de militância e o sonho de comandar a cidade. “Há 20 anos, em 1º de janeiro de 1989, como vereador eleito, abri a sessão de posse com desafio de escrever a nova constituição da nossa cidade. Hoje, 1º de janeiro de 2009, assumo aqui o compromisso de defender e cumprir a Lei Orgânica do Município. Serei o prefeito de todos os canoenses”, disse. Estiveram presentes os deputados federais petistas Marco Maia, Adão Preto e Maria do Rosário, o secretário estadual de Obras, Coffy Rodrigues, além de diversos líderes e representantes políticos.
Em seus agradecimentos, o prefeito fez uma deferência especial ao ex-deputado federal Jorge Uequed, que segundo ele, “é um Dom Quixote e paladino da ética na política. Há oito anos ele luta por essa mudança”, afirmou.

Primeiros atos

Jairo falou sobre seu primeiro Projeto de Lei (PL ) que enviará à Câmara, o PL 001/09, tratará do redesenho administrativo e organizacional da prefeitura. Serão criadas duas secretarias e haverá redução dos Cargos em Confiança e Funções Gratificadas. Além disso, o prazo para pagamento do IPTU com desconto de 26% será prorrogado até 30 de janeiro. Ainda dentro deste PL, será proposta a extinção da Fundação Cultural de Canoas (FCC) e a criação do Instituto Canoas XXI. A assessoria do prefeito informou que a FCC deverá será absorvida pela Secretaria da Cultura".

*Com o sítio de 'O Timoneiro' http://www.otimoneiro.com.br/

01 janeiro 2009

50 ANOS DEPOIS...







O mesmo desafio de fazer a Revolução

*Por Lázaro Barredo Medina

"A tirania foi derrubada. A alegria era imensa. Contudo, ainda faltava muita coisa a fazer. Não nos enganemos pensando que agora tudo será mais fácil; talvez, a partir de agora, tudo seja mais difícil".

Essas foram as palavras ditas por Fidel Castro ao povo no dia em que entrou em Havana, em 8 de janeiro de 1959. Muitos não imaginaram o imenso desafio que teriam perante si.

Poucos dias depois, Fidel proclamou o direito à autodeterminação nas relações com os Estados Unidos e isso foi suficiente para iniciarem imediatamente as agressões, os planos de atentados contra ele e para a irritação dos políticos norte-americanos, sendo prova disso os discursos e artigos da época, como por exemplo, o editorial da revista Time, porta-voz dos setores mais conservadores, intitulado "O neutralismo de Fidel Castro é um desafio para os EUA". Nem neutros podiam ser os cubanos diante dos Estados Unidos.

O triunfo da Revolução, em janeiro de 1959, significou para Cuba a possibilidade real, pela primeira vez na sua história, de exercer o direito à livre determinação. Desde esse momento, nem o presidente, nem o Congresso, nem os embaixadores dos EUA puderam decidir o que se podia ou não fazer em Cuba. Acabou a amarga dependência, pela qual, os governantes norte-americanos e seus embaixadores dispunham de um poder muitas vezes maior para decidir em Cuba, que o poder real que tinham para tomar decisões dentro do governo federal dos EUA, em relação a quaisquer dos 50 estados que formam a União.

Foi precisamente em exercício deste direito que, depois de conquistada a independência nacional, começou logo a aplicação do programa anunciado por Fidel no julgamento do Moncada, em 1953, e inserido na sua histórica alegação A História me Absolverá.

Cuba estabeleceu o sistema econômico e social que considerou mais justo e a um Estado socialista com democracia participativa, igualdade e justiça social.

Nessa época, a economia do país caracterizava-se por um escasso desenvolvimento industrial, dependendo fundamentalmente da produção açucareira e de uma economia agrícola concentrada nos latifúndios, onde os latifundiários controlavam 75% do total das áreas agrícolas.

A maior parte da atividade econômica do país e seus recursos minerais eram controlados por capitais norte-americanos, que dispunham de 1,2 milhão de hectares de terra (uma quarta parte do território produtivo), além de controlar a parte fundamental da indústria açucareira, a produção de níquel, as refinarias de petróleo, os serviços de eletricidade e de telefone, a maior parte do crédito bancário, e outros.

O mercado estadunidense abrangia, aproximadamente, 70% das exportações e importações cubanas, sendo os volumes do intercâmbio comercial muito dependentes: Em 1958, Cuba exportava produtos avaliados em 733 milhões de pesos e importava a 777 milhões.

A situação social existente caracterizava-se pelo elevado desemprego e analfabetismo, o sistema de saúde, a assistência social e o estado das moradias da maior parte da população eram precários, e existiam abismais diferenças nas condições de vida entre a cidade e o campo. Existia uma elevada polarização e distribuição desigual das receitas: em 1958, 50% da população dispunha apenas de 11% das receitas e 5% concentrava 26% das rendas. Além disso, a discriminação racial e da mulher, a mendicidade, a prostituição e a corrupção social e administrativa se tinham propalado.

A inadiável solução dos problemas sociais e econômicos mais urgentes da sociedade cubana apenas podiam encarar-se com a livre disposição das riquezas e recursos naturais, e assim, sob o amparo da Constituição, aprovada em 1940 e conforme as normas do Direito Internacional, Cuba exerceu o direito de dispor desses recursos e assumiu as obrigações derivadas disso, indenizando todos os recursos nacionais de terceiros países (Canadá, Espanha, Inglaterra, etc) exctuando os nacionais dos Estados Unidos, cujo governo rejeitou as disposições cubanas e converteu esta decisão do Estado cubano num pretexto para desencadear uma guerra sem precedentes na história das relações bilaterais entre duas nações.os recursos nacionais de terceiros pas recursos e assumiu as obrigada Constituiamental, daproducipativa, igualdade e justiir o

A Revolução não só entregou a propriedade da terra aos camponeses, que até esse momento eram submetidos a condições semi-feudais de produção e obrigados a viverem na extrema pobreza, mas também, os recursos que o país tinha, foram destinados ao desenvolvimento econômico da nação e à melhora das condições materiais e de vida da população. Para termos uma idéia, na década de 80, foram destinados aproximadamente 60 bilhões de pesos à construção de unidades produtivas e de obras sociais.

O processo de industrialização implementado permitiu o início da diversificação econômica e produtiva. Até o início da crise econômica, resultante do colapso da União Soviética e do bloco socialista europeu, entre 1989 e 1991, chamada de período especial em Cuba, aumentou em 14 vezes a capacidade de produção de aços; em seis vezes, a produção de cimento; em quatro vezes, a produção de níquel; em dez vezes, a de fertilizantes; em quatro vezes, a de refinação de petróleo (sem contar a nova refinaria de Cienfuegos); em sete vezes, a produção de têxteis; em três vezes, o turismo, para apenas mencionar alguns setores. Também foram criados novos setores e novas indústrias, como a indústria da construção de maquinarias, a mecânica, a eletrônica, a produção de equipamentos médicos, a indústria farmacêutica, a indústria de materiais da construção, a indústria do vidro, da cerâmica, e outras. A isso se somam os investimentos com que aumentaram e modernizaram as indústrias açucareira, alimentícia e dos têxteis. A esse esforço une-se o desenvolvimento da biotecnologia e da engenharia genética, e outros ramos científicos.

O país também melhorou a infra-estrutura. A geração de eletricidade aumentou em mais de oito vezes, a capacidade de água armazenada aumentou em 310 vezes, de 19 milhões de metros cúbicos em 1958, atualmente é de acima dos 9 bilhões. Também houve diversificação de estradas e rodovias, modernização dos portos e outros. As necessidades sociais foram satisfazendo-se, exceto a habitação, que é o grande problema cubano.

O progressivo crescimento e diversificação do potencial produtivo e a aplicação de um programa social permitiram enfrentar o desemprego. Em 1958, de 6 milhões de habitantes, por volta de um terço da população economicamente ativa estava desempregada, dela, 45% nas zonas rurais, enquanto de 200 mil mulheres empregadas, 70% trabalhava de doméstica. Atualmente, com 11 milhões de habitantes, o número de pessoas empregadas é de mais de 4,5 milhões. Mais de 40% dos trabalhadores são mulheres, representando mais de 60% da força técnica e profissional do país.

Em 1958, a cifra de analfabetos e semi-analfabetos atingia 2 milhões. A média de escolaridade entre as pessoas maiores de 15 anos não ultrapassava a terceira série, mais de 600 mil crianças não freqüentavam a escola e 58% dos professores não tinham emprego. Apenas 45,9% das crianças em idade escolar tinha matriculado e metade delas não freqüentava a escola, conseguindo terminar o ensino primário 6% das crianças matriculadas. As universidades mal tinham capacidade para 20 mil estudantes.

O setor da educação recebeu imediatamente a atenção do Estado revolucionário. O primeiro programa foi a campanha de alfabetização com a participação da população. Construiu-se uma ampla rede de escolas em todo o país e mais de 300 mil professores trabalham no setor. A média de nível escolar entre os maiores de 15 anos é de nona série. Os 100% das crianças em idade escolar matriculam nas escolas e os 98% terminam o ensino primário e 91%, o secundário. Um em cada 11 habitantes é universitário e um em cada oito têm algum nível de preparação técnico-profissional. Há 650 mil estudantes nas universidades e o ensino é gratuito. Além disso, 100% das crianças com deficiências físicas e mentais têm a possibilidade de se prepararem para a vida em escolas especiais.

Em 1958, a precária situação da saúde pública se caracterizava por uma mortalidade infantil que ultrapassava 60 em cada mil nascidos vivos e a mortalidade materna, 118 mil em cada 10 mil. A taxa de mortalidade por gastrenterite era de 41,2 em cada cem mil e a de tuberculose, 15,9 em cada cem mil. Nas zonas rurais, 36% da população padecia parasitas intestinais, 31% malária, 14% tuberculose e 13% febre tifóide. A esperança de vida ao nascer era de 58,8 anos.

A capital do país tinha 61% dos leitos dos hospitais e 65% dos 6.500 médicos. No resto das províncias existia um médico em cada 2.378 habitantes e em todas as zonas rurais da nação existia apenas um hospital.

Atualmente, o atendimento médico é gratuito e Cuba dispõe de mais de 70 mil médicos, havendo um médico em cada 194 habitantes e quase 30 mil deles prestam serviços em mais de 60 países. Foi criada uma rede nacional de mais de 700 hospitais e policlínicas.

Em face da massificação da vacinação (neste momento, são aplicadas 13 vacinas em cada criança), foram virtualmente eliminadas doenças como a poliomielite, a difteria, o sarampo, a coqueluche, o tétano, a rubéola, a parotidite e a hepatite B. A mortalidade infantil é de 5,3 em cada mil nascidos vivos e a esperança de vida é de mais de 77 anos.

Também se prestam gratuitamente serviços médicos de alta tecnologia, que no âmbito internacional não são usualmente considerados básicos, como é o atendimento nas salas de cuidados intensivos nos hospitais pediátricos e de adultos, serviços de cirurgia cardiovascular, serviços de transplante, cuidados especiais de perinatologia, tratamento da insuficiência renal crônica, serviços especiais para a reabilitação física e médica, e outros.

Não só as medidas econômicas e sociais foram a prioridade do Estado revolucionário, mas também os esforços encaminhados a estabelecer a base jurídica interna que possibilitaria o exercício do direito à livre determinação, mediante uma participação direta da população na discussão, análise e aprovação das principais leis do país, entre as quais, a Constituição de 1976, aprovada por 97% dos cubanos maiores de 16 anos, mediante referendo ou outras leis importantes, como o Código Penal, o Código Civil, o Código da Família, o Código da Infância e da Juventude, o Código do Trabalho e da Previdência Social, etc.

Da mesma maneira, a livre determinação do povo cubano também se expressa no direito de defender a nação face à agressão exterior.

Atualmente, mais de quatro milhões de cubanos — trabalhadores, camponeses e estudantes universitários — estão organizados nas milícias em suas áreas de residência ou em suas fábricas e zonas rurais.

Desde 1959, Cuba teve que enfrentar a hostilidade de dez administrações norte-americanas, que pretenderam limitar o direito de livre determinação, mediante agressões e a imposição unilateral de um criminoso bloqueio econômico, comercial e financeiro.

É um princípio universalmente aceito da lei internacional, a proibição da coerção de um Estado contra outro, com o propósito de lhe negar o exercício de seus direitos soberanos. No artigo 24 da Carta das Nações Unidas, assinala-se que as nações deveriam se abster em suas relações internacionais da ameaça ou do uso da força contra a integridade territorial ou a independência política de qualquer Estado.

Durante os últimos 45 anos, os Estados Unidos proibiram o comércio com Cuba, inclusive, alimentos e medicamentos; cancelaram a cota cubana de exportação açucareira; seus cidadãos são proibidos, com fortes sanções, de viajarem à Ilha; proíbem a reexportação de produtos de origem estadunidense que tenham componentes ou tecnologia norte-americana de terceiros países a Cuba; proíbem os bancos em terceiros países de terem contas em dólares com Cuba ou de utilizarem essa divisa em suas transações com a nação cubana; intervêm sistematicamente para impedir ou obstaculizar o comércio e a outorga de financiamento ou ajuda a Cuba por governos, instituições e cidadãos de outros países e organismos internacionais.

Essas medidas obrigaram o nosso país, na década de 1960, a reorganizar suas relações econômicas de uma maneira estrutural, pois se viu obrigado a isso, diante das circunstâncias e por ter criado todos seus mercados fundamentais nos países da antiga Europa oriental, designadamente na ex-União Soviética, impelindo-o a uma reconversão quase total de toda a tecnologia industrial, meios de transporte e outros.

Depois que Cuba perdeu seus mercados naturais no Leste europeu, o governo norte-americano acirrou o bloqueio mediante a Lei Torricelli, em 1992, sob o pretexto da "democracia e dos direitos humanos" para proibir as subsidiárias estadunidenses, estabelecidas em terceiros países e sujeitas a leis dessas nações, de realizarem operações comerciais ou financeiras com Cuba (sobretudo em alimentos e medicamentos), punir com a proibição da entrada nos portos norte-americanos, por 180 dias, de todos os navios que transportem mercadorias para ou de Cuba, medidas que, por serem extraterritoriais, não só prejudicam Cuba, mas também a soberania de outras nações, bem como a liberdade internacional de transporte.

Em 12 de março de 1996, o governo dos Estados Unidos pôs em vigor a Lei Helms-Burton, que agravou as relações entre os dois países e pretendeu atribuir-se o direito de sancionar os cidadãos de terceiros países em cortes norte-americanas, ao passo que determinou sua expulsão ou a negação do visto de entrada nos Estados Unidos, com o objetivo de obstaculizar o esforço que realiza a nação cubana para recuperar sua economia e para conseguir uma maior inserção na economia internacional. O governo dos EUA pretendeu pressionar a população cubana para fazê-la abrir mão de seu empenho de conseguir a livre determinação.

Mais recentemente, os EUA adotaram o Plano Bush, que pretende tornar Cuba uma colônia, mediante um programa anexionista de intervenção, sob o pretexto de uma "transição", onde o Departamento de Estado responsabilizou um de seus dirigentes pela "direção" da nação, quando o Estado revolucionário desaparecer. Este Plano, pelo qual George W. Bush decidiu "precipitar o dia em que Cuba seja livre", acirra o bloqueio e a pressão sobre os cubanos, inclusive, reprime as relações familiares dos cubanos residentes nos Estados Unidos, entrega recursos milionários aos grupos terroristas de Miami, bem como a seus mercenários subordinados à Repartição dos Estados Unidos em Havana e promove fórmulas para desestabilizar o país e incrementar a pressão internacional sobre a Ilha.

Esta hostilidade norte-americana teve outras manifestações de agressão que inclui desde a agressão militar pela Baía dos Porcos, em 1961, a guerra suja dos bandos contra-revolucionários, apoiados e munidos militarmente pela Agência Central de Inteligência dos Estados Unidos, a guerra bacteriológica contra as plantações (cana-de-açúcar, fumo e cítricos), animais (febre suína) e pessoas (dengue hemorrágica) , até os planos de sabotagem, bombardeios, mediante o uso de aviões espias e atentados contra os principais dirigentes da Revolução.

É bem conhecido o trabalho que as organizações terroristas realizam na execução de ações militares contra Cuba, a partir do território norte-americano, promovidas e financiadas pelos meios de comunicação em Miami, que recrutam constantemente aventureiros dispostos a virem a Cuba como espiões para perpetrarem ações de sabotagem, que declaram abertamente que não têm receio de serem processados nem condenados pelas autoridades estadunidenses.

Essa é a causa pela qual jovens patriotas colocam os interesses da nação sobre os pessoais, sacrificando, inclusive, seus parentes, e se infiltram nos grupelhos terroristas. Dessa maneira, conseguem saber de suas atividades, evitando o derramamento de sangue do povo cubano e norte-americano. Eles estão dispostos a pagarem o preço da irracionalidade política do governo dos Estados Unidos, como acontece hoje com os Cinco heróis presos injustamente nos cárceres norte-americanos por lutarem contra o terrorismo.

A isso soma-se o aparelho militar criado pelos Estados Unidos contra Cuba e as constantes atividades contra nosso país, bem como a ocupação ilegal da base naval de Guantánamo em território cubano (que hoje é uma prisão terrorífica), pedaço de território oocupado a Cuba pelos Estados Unidos no início do século passado e que o governo norte-americano se nega a devolver ao povo cubano.

No início de 1990, depois do colapso da União Soviética, isolada e vilipendiada pela reação internacional, Cuba suportou o golpe da perda de seus mercados e demonstrou que podia brilhar com luz própria, porque pôde suportar essa conjuntura pela extraordinária prova de resistência da maioria da população cubana.

A população cubana decidiu apoiar consciente e conseqüentemente a direção política do país, não só porque identifica o sistema com seu próprio interesse, mas também pela maneira responsável com que o Estado assume a crise, reorganizando as forças e projetando estratégias para buscar soluções, apesar do bloqueio norte-americano e dos condicionamentos de seus aliados europeus.

Os sacrifícios provocados por essa situação são duros, mas são suportados não só pelos avanços sociais conseguidos, mas também pela confiança nos dirigentes do país e pela apreciação das pessoas de que seu governo não é um governo decadente nem com crise em sua gestão ou carente de estratégias, mas sim um governo que demonstrou que, ainda nas mais difíceis circunstâncias, jamais deixou de atender a população.

Decorreram 50 anos e o processo libertador chegou até aqui na mesma direção daquela noite, quando Fidel, diante do povo que o aclamava, no quartel-general da tirania naquele momento, disse que talvez, a partir de agora, tudo fosse mais difícil, porque teríamos que lutar para fazer a Revolução.

Com certeza, é o desafio dessa luta a que está vigente nas atuais circunstâncias para eliminar os vícios e enaltecer as virtudes, com Fidel como soldado das idéias, como guia na luta pela liberdade e pela independência.

Os inimigos de Cuba apostam no contrário. Neste mundo, onde a política é uma charge, não podem entender que esta Revolução é um processo de continuidade no seu pensamento e na sua ação e que Fidel continuará sendo o líder da Revolução de hoje e de amanhã, que além de cargos e de títulos, continuará sendo o conselheiro de idéias, ao qual sempre deveremos acudir, porque Fidel conseguiu ultrapassar a vida política para se inserir como algo íntimo na vida familiar da imensa maioria dos cubanos.

*Do Digital Granma Internacional
http://www.granma.cu/portugues/index.html

31 dezembro 2008

Solidariedade







Crítica & Autocrítica - nº 48

"Não creio que sejamos parentes, mas se tremes de indignação frente a uma injustiça, contra qualquer pessoa, em qualquer parte do mundo, então somos companheiros, o que é muito mais importante!" (Ernesto 'Che' Guevara)

* O titular da 'coluna', ao apagar das luzes deste complicado ano de 2008, dedica o Poema abaixo, do poeta palestino Mahmud Darwish, a todos aqueles que, neste tão lindo e tão maltratado planeta azul, não vivem numa 'ilha da fantasia ', mas sim no 'Mundo Real' - e se preocupam e se indignam de verdade com as mazelas, com os sofrimentos, com as violências e convardias praticadas contra seres humanos (seja em Santiago, em Porto Alegre, em São Paulo; seja no Rio de Janeiro, em Nova York, nas cidades do Congo, da Libéria; seja no Afeganistão, em Bagdad ou na Palestina - esta última que sofre, principalmente nestes últimos dias, mais um massacre impiedoso desferido por Israel, escudado pelo permanente apoio dos EUA ... e pelo silêncio cúmplice dos dirigentes da maioria dos países). Mas os palestinos não estão sozinhos: com eles, neste momento, o pensamento, a indignação e a solidariedade da maioria dos povos do mundo!

* Deseja, por fim, que 2009 seja bem melhor (para todos), mais justo e menos excludente (para as amplas maiorias) do que foi o ano que hoje finda.

São os nossos votos!

***

Carteira de identidade

Escreve
que sou árabe,
e o número de minha carteira é cinqüenta mil;
que já tenho oito filhos,
e o nono chegará no final do verão
Isso te enoja?

Escreve
que sou árabe,
e que com meus companheiros de infortúnio
trabalho na pedreira.
Para meus oito filhos
arranco, das rochas,
o duro pedaço de pão,
as roupas e os livros.
Não mendigo esmolas à tua porta,
nem me rebaixo
diante de tuas escadas de cristal.
Isso te enoja?

Escreve
que sou árabe.
Sou nome sem apelido.
Espero, paciente, em um país
no qual tudo que há
existe pela raiva.
Minhas raízes,
destruíram-se antes do nascimento
dos tempos,
antes do começo das eras,
do cipreste e da oliveira,
antes da primeira das ervas.
Meu pai...
da família do arado,
não de nobres senhores.
Meu avô era um lavrador,
sem títulos nem nomes.
Minha casa é uma choça campesina
de canas e tábuas,
Isso te agrada?...
Sou nome sem apelido.

Escreve
que sou árabe,
que tenho o cabelo preto
e os olhos castanhos;
que, para maiores detalhes,
cubro minha cabeça com um véu;
que as palmas das minhas mãos, duras como rocha,
picam quando as tocam.
E eu gosto do azeite e do tomilho.

Que vivo
em uma aldeia perdida, abandonada,
com ruas sem nome.
E cujos homens todos
estão nas pedreiras ou no campo...
Isso te enoja?

Escreve
que sou árabe;
que roubaste as vinhas de meu avô
e a terra que eu arava.
Eu, com todos os meus filhos.
Que só nos deixaste
estas rochas...
Teu governo não vai também - como se diz -
confiscá-las?

Então, escreve...
Escreve
no começo da primeira página
que não odeio ninguém,
nem roubo nada de ninguém.
Mas, que se tenho fome,
devorarei a carne de quem me rouba.
Então, cuidado!...
Cuidado com minha fome,
e com minha ira!

Mahmud Darwish

*(Por Júlio Garcia, especial para 'O Boqueirão')

**Crítica & Autocrítica: coluna que mantenho
(i)regularmente no Blog 'O Boqueirão' http://oboqueirao.zip.net

Holocausto






Para não sermos cúmplices do novo holocausto

*Por Emir Sader

Nada mais parecido com a tentativa de extermínio pelo nazismo de judeus, comunistas, esquerdistas em geral, ciganos, do que o que Israel tenta fazer com os palestinos; um holocausto que reproduz, da forma mais parecida possível o produzido pelos nazistas na Alemanha. Tornado Estado racista, de apartheid, odioso e odiado por todos os outros povos do mundo (entre as centenas manifestações de protestos pelos massacres contra Gaza, nenhuma de apoio a Israel), que sobrevive somente graças ao maior apoio militar dos EUA no mundo, como seu braço imperial no Oriente Médio, e ao silêncio cúmplice de europeus, Israel tem que ser repudiado em todas as instâncias possíveis.

O Parlamento brasileiro tem que rejeitar imediatamente a proposta de um inconcebível Tratado de Livre Comércio do Mercosul com Israel. Para que se assinaria um Tratado desse tipo? Para que sigam angariando recursos, que vão fomentar a militarização permanente de um Estado que pratica o holocausto contra os palestinos? Não fazê-lo de imediato é ser cúmplice dos massacres israelenses contra o direito, reconhecido pelas Nações Unidas, de que a Palestina tenha um Estado soberano, da mesma forma que Israel o tem.

O governo brasileiro deve chamar imediatamente seu embaixador em Israel, para demonstrar que esse expediente é parte da política externa brasileira não apenas quando se acredita que os interesses econômicos do país podem estar em jogo, mas também na denúncia dos crimes contra a humanidade, como os praticados por Israel. O embaixador não deve retornar antes que Israel cesse completamente as agressões e os assassinatos em massa contra Gaza e qualquer outro território palestino.

Lula deve confirmar sua viagem ao Oriente Médio, mas deve suspender sua visita a Israel, como protesto pelo genocídio que Israel faz contra os palestinos, não ouvindo os apelos da comunidade internacional para que cessem os bombardeios, sentindo-se imune de qualquer justiça internacional, pelo apoio que tem de seu estreito aliado – os EUA. Lula deve viajar à Palestina, a todas as regiões dos territórios ocupados pelas forças coloniais israelenses, incluída Gaza, conversar com todas as forças que representam os palestinos, incluídos os representantes eleitos democraticamente pelo voto popular para dirigir a Palestina, ainda que não reconhecidos pelas potências ocidentais.

Todas as instituições brasileiras – universidades entre elas, ministérios, governos – que tenham algum tipo de acordo ou convênio com Israel, devem denunciá-los imediatamente. Israel e seus representantes tem que ser repudiados em todos os lugares – embaixadas, consulados, recepções, etc.

Para não sermos cúmplices do novo holocausto, da tentativa de extermínio do povo palestino, da ofensiva nazista de Israel contra Gaza.

*Emir Sader é sociólogo, professor universitário e militante de esquerda

**Fonte: Blog do Emir (Carta Maior)

***Foto acima: Gaza: resultados do bombardeio israelense

30 dezembro 2008

GAZA II














*Charge do Latuff

PAZ NA PALESTINA. JÁ


Carta aberta de Uri Avnery a Barack Obama

As humildes sugestões que se seguem são baseadas nos meus 70 anos de experiência como combatente de trincheiras, soldado das forças especiais na guerra de 1948, editor-em-chefe de uma revista de notícias, membro do parlamento israelense e um dos fundadores do movimento pela paz:

1) No que se refere à paz israelense-árabe, o Sr. deve agir a partir do primeiro dia.

2) As eleições em Israel acontecerão em fevereiro de 2009. O Sr. pode ter um impacto indireto, mas importante e construtivo já no começo, anunciando sua determinação inequívoca de conseguir paz israelo-palestina, israelo-síria e israelo-pan-árabe em 2009.

3) Infelizmente, todos os seus predecessores desde 1967 jogaram duplamente. Apesar de que falaram sobre paz da boca para fora, e às vezes realizaram gestos de algum esforço pela paz, na prática eles apoiavam nosso governo em seu movimento contrário a esse esforço.

Particularmente, deram aprovação tácita à construção e ao crescimento dos assentamentos colonizadores de Israel nos territórios ocupados da Palestina e da Síria, cada um dos quais é uma mina subterrânea na estrada da paz.

4) Todos os assentamentos colonizadores são ilegais segundo a lei internacional. A distinção, às vezes feita, entre postos "ilegais" e os outros assentamentos colonizadores é pura propaganda feita para mascarar essa simples verdade.

5) Todos os assentamentos colonizadores desde 1967 foram construídos com o objetivo expresso de tornar um estado palestino – e portanto a paz – impossível, ao picotar em faixas o possível projetado Estado Palestino. Praticamente todos os departamentos de governo e o exército têm ajudado, aberta ou secretamente, a construir, consolidar e aumentar os assentamentos, como confirma o relatório preparado para o governo pela advogada Talia Sasson.

6) A estas alturas, o número de colonos na Cisjordânia já chegou a uns 250.000 (além dos 200.000 colonos da Grande Jerusalém, cujo estatuto é um pouco diferente). Eles estão politicamente isolados e são às vezes detestados pela maioria do público israelense, mas desfrutam de apoio significativo nos ministérios de governo e no exército.

7) Nenhum governo israelense ousaria confrontar a força material e política concentrada dos colonos. Esse confronto exigiria uma liderança muito forte e o apoio generoso do Presidente dos Estados Unidos para que tivesse qualquer chance de sucesso.

8) Na ausência de tudo isso, todas as "negociações de paz" são uma farsa. O governo israelense e seus apoiadores nos Estados Unidos já fizeram tudo o que é possível para impedir que as negociações com os palestinos ou com os sírios cheguem a qualquer conclusão, por causa do medo de enfrentar os colonos e seus apoiadores. As atuais negociações de "Annapolis" são tão vazias como as precedentes, com cada lado mantendo o fingimento por interesses politicos próprios.

9) A administração Clinton, e ainda mais a administração Bush, permitiram que o governo israelense mantivesse o fingimento. É, portanto, imperativo que se impeça que os membros dessas administrações desviem a política que terá o Sr. para o Oriente Médio na direção dos velhos canais.

10) É importante que o Sr. comece de novo e diga-o publicamente. Idéias desacreditadas e iniciativas falidas – como a "visão" de Bush, o "mapa do caminho", Anápolis e coisas do tipo – devem ser lançadas à lata de lixo da história.

11) Para começar de novo, o alvo da política americana deve ser dito clara e sucintamente: atingir uma paz baseada numa solução biestatal dentro de um prazo de tempo (digamos, o fim de 2009).

12) Deve-se assinalar que este objetivo se baseia numa reavaliação do interesse nacional americano, de remover o veneno das relações muçulmano-americanas e árabe-americanas, fortalecer os regimes dedicados à paz, derrotar o terrorismo da Al-Qaeda, terminar as guerras do Iraque e do Afeganistão e atingir uma acomodação viável com o Irã.

13) Os termos da paz israelo-palestina são claros. Já foram cristalizados em milhares de horas de negociações, colóquios, encontros e conversas.

São eles:

a) estabelecer-se-á um Estado da Palestina soberano e viável lado a lado com o Estado de Israel.

b) A fronteira entre os dois estados se baseará na linha de armistício de 1967 (a "Linha verde"). Alterações não substanciais poderão ser feitas por concordância mútua numa troca de territórios em base 1: 1.

c) Jerusalém Oriental, incluindo-se o Haram-al-Sharif (o "Monte do Templo") e todos os bairros árabes servirão como Capital da Palestina. Jerusalém Ocidental, incluindo-se o Muro Ocidental e todos os bairros judeus, servirão como Capital de Israel. Uma autoridade municipal conjunta, baseada na igualdade, poderia se estabelecer por aceitação mútua, para administrar a cidade como uma unidade territorial.

d) Todos os assentamentos colonizadores de Israel – exceto aqueles que possam ser anexados no marco de uma troca consensual – serão esvaziados (veja-se o 15 abaixo)

e) Israel reconhecerá o princípio do direito de retorno dos refugiados. Uma Comissão Conjunta de Verdade e Reconciliação, composta por palestinos, israelesnses e historiadores internacionais estudará os fatos de 1948 e 1967 e determinará quem foi responsável por cada coisa. O refugiado, individualmente, terá a escolha de 1) repatriação para o Estado da Palestina; 2) permanência onde estiver agora, com compensação generosa; 3) retorno e reassentamento em Israel; 4) migração a outro país, com compensação generosa. O número de refugiados que retornarão ao território de Israel será fixado por acordo mútuo, entendendo-se que não se fará nada para materialmente alterar a composição demográfica da população de Israel. As polpuldas verbas necessárias para a implementação desta solução devem ser fornecidas pela comunidade internacional, no interesse da paz planetária. Isto economizaria muito do dinheiro gasto hoje militarmente e a partir de presentes dos EUA.

f) A Cisjordânia, Jerusalém Oriental e a Faixa de Gaza constituirão uma unidade nacional. Um vínculo extra-territorial (estrada, trilho, túnel ou ponte) ligará a Cisjordânia e a Faixa de Gaza.

g) Israel e Síria assinarão um acordo de paz. Israel recuará até a linha de 1967 e todos os assentamentos colonizadores das Colinas de Golã serão desmantelados. A Síria interromperá todas as atividades anti-Israel, conduzidas direta ou vicariamente. Os dois lados estabelecerão relações normais.

h) De acordo com a Iniciativa Saudita de Paz, todos os membros da Liga Árabe reconhecerão Israel, e terão com Israel relações normais. Poder-se-á considerar conversações sobre uma futura União do Oriente Médio, no modelo da União Européia, possivelmente incluindo a Turquia e o Irã.

14) A unidade palestina é essencial. A paz feita só com um naco da população de nada vale. Os Estados Unidos facilitarão a reconciliação palestina e a unificação das estruturas palestinas. Para isso, os EUA terminarão com o seu boicote ao Hamas (que ganhou as últimas eleições), começarão um diálogo político com o movimento e sugerirão que Israel faça o mesmo. Os EUA respeitarão quaisquer resultados de eleições palestinas.

15) O governo dos EUA ajudará o governo de Israel a enfrentar-se com o problema dos assentamentos colonizadores. A partir de agora, os colonos terão um ano para deixar os territórios ocupados e voluntariamente voltar em troca de compensação que lhes permitirá construir seus lares dentro de Israel. Depois disso, todos os assentamentos serão esvaziados, exceto aqueles em quaisquer áreas anexadas a Israel sob o acordo de paz.

16) Eu sugiro ao Sr., como Presidente dos Estados Unidos, que venha a Israel e se dirija ao povo israelense pessoalmente, não só no pódio do parlamento, mas também num comício de massas na Praça Rabin em Tel-Aviv. O Presidente Anwar Sadat, do Egito, veio a Israel em 1977 e, ao se dirigir ao povo de Israel diretamente, mudou em tudo a atitude deles em relação à paz com o Egito. No momento, a maioria dos israelenses se sente insegura, incerta e temerosa de qualquer iniciativa ousada de paz, em parte graças a uma desconfiança de qualquer coisa que venha do lado árabe. A intervenção do Sr., neste momento crítico, poderia, literalmente, fazer milagres, ao criar a base psicológica para a paz.
.....

Esta é uma carta aberta escrita por Uri Avnery, 85 anos, ex-deputado do Knesset, soldado que ajudou a fundar Israel em 1948 e que há décadas milita pela paz. A tradução ao português é de Idelber Avelar. O obrigado pelo envio do link vai ao Daniel do Amálgama. O pedido de divulgação vai a todos os que desejam uma paz duradoura, nos termos já reconhecidos pela comunidade internacional.


*Do sítio Vi o Mundo, do jornalista Luis Carlos Azenha http://www.viomundo.com.br/

GAZA










'Situação em Gaza é de caos e pânico' relata correspondente
da Folha Online: Israel vive o quarto dia consecutivo de uma grande ofensiva militar à faixa de Gaza contra o Hamas, com bombardeios que atingiram diversos pontos da região habitada por palestinos e que matou ao menos 340 e feriu cerca de 1.400 desde sábado (27).

Marcelo Ninio, correspondente da Folha, está na cidade de Sderot, que fica a pouco mais de 1km do local onde acontecem as operações. Ele relata que hoje foi mais um dia de sirenes e corridas para o abrigo devido a alguns foguetes que caíram na região.

"Pelo que tenho conversado com palestinos e ativistas humanitários, na faixa de Gaza a situação é de caos e de pânico. As pessoas, além de sofrerem com a violência, estão com uma carência total de medicamentos. Os hospitais não dão conta do número de feridos", declara o correspondente.

Israel sinaliza que não tem prazo para terminar a ofensiva, segundo o jornalista. Ele conversou com alguns ministros, que negam que exista alguma negociação em curso com o Hamas, como tem sido noticiado por alguns órgãos da imprensa israelense.

Jornais publicaram que há divisões no governo e que já estaria sendo preparada uma trégua de 48 horas para ser avaliada a situação e rever o plano de uma ação terrestre.

"As próximas horas vão ser dessa continua expectativa, se Israel declara uma nova trégua ou executa essa invasão terrestre", diz Ninio.
(http://www.folha.uol.com.br/)

29 dezembro 2008

Gaza: o massacre continua...



Israel bombardeia Ministério do Interior na Faixa de Gaza

(Da BBCBrasil)- Caças israelenses bombardearam alvos na Faixa de Gaza nesta segunda-feira, pelo terceiro dia consecutivo, atingindo locais-chave ligados ao grupo militante Hamas. Os mais recentes foram o prédio do Ministério do Interior e a Universidade Islâmica, um símbolo do Hamas.

Segundo o correspondente da BBC em Gaza Rushdi Abualouf, as chances de o ataque ter feito alguma vítima fatal são pequenas, já que Universidade foi evacuada desde o início dos ataques pois o Hamas já esperava uma possível ofensiva contra o local.

Outros locais atingidos nos ataques iniciados sábado incluem outras repartições públicas e túneis que ligam o território palestino ao Egito. Os palestinos usam essas rotas para trazer comida e outros surpimentos do Egito - e inclusive armas, segundo Israel. Médicos palestinos dizem que cerca de 300 pessoas morreram nos ataques.

A ministra do Exterior de Israel, Tzipi Livni, disse que Israel está determinado a "mudar a realidade" em Gaza, em meio a expectativas de que pode lançar uma grande invasão.

Israel diz ter lançado a ofensiva em resposta a ataques com foguetes lançados por palestinos a partir da Faixa de Gaza.

Nesta segunda-feira, dois israleneses morreram na explosão de foguetes lançados por militantes palestinos na cidade de Ashkelon, no sul de Israel.

Conselho de Segurança

O Conselho de Segurança das Nações Unidas seguiu o exemplo da comunidade internacional pedindo um fim da violência entre Israel e a Faixa de Gaza. (...)

A operação israelense começou no sábado menos de uma semana depois de expirado um acordo de cessar-fogo de seis meses com o Hamas.

Israel bombardeou todas as principais cidades da Faixa de Gaza, inclusive Gaza City no norte do território e Khan Younis e Rafah, no sul.

Mais de 210 alvos foram atingidos nas primeiras 24 horas do que Israel diz que pode ser uma longa operação militar. (...)

Segundo analistas, sábado foi o dia em que foram registradas mais mortes na Faixa de Gaza desde a ocupação israelense do território em 1967, embora não haja confirmação independente do número de mortos.

A maioria, contudo, seriam policiais a serviço do movimento militante Hamas, inclusive o chefe de polícia. Mas autoridades afirmam que mulheres e crianças também morreram.

O líder exilado do Hamas, Khaled Meshaal, pediu uma nova intifada (ou levante) contra Israel.

Desde 1967, os militares israelenses ocuparam a Faixa de Gaza e colonos judeus construiram comunidades dentro do território. Israel se retirou da área em 2005, mas manteve o controle das fronteiras da Faixa de Gaza. (http://www.bbc.co.uk/portuguese/)

28 dezembro 2008

Massacre




Israel lança novos ataques aéreos contra Faixa de Gaza

(BBCBrasil) - Aviões israelenses realizaram novos bombardeios na Faixa de Gaza, um dia após uma série de ataques contra alvos no território palestino que deixaram, segundo autoridades palestinas, pelo menos 280 mortos.
Os novos ataques, neste domingo, alvejaram o principal centro de segurança do Hamas, a sede de um canal de TV de propriedade do grupo islâmico e uma mesquita.

O governo israelense alertou que poderá iniciar operações militares por terra na Faixa de Gaza, se os disparos com foguetes por militantes palestinos contra alvos no sul de Israel não cessarem.

O governo também mobilizou reservistas para reforçar o Exército.

Em entrevista à BBC, o ministro da defesa de Israel, Ehud Barak, disse que uma invasão do Exército no território palestino poderia ser iniciada "se o (grupo militante palestino) Hamas não mudar seu comportamento".

Se o número de mortos for confirmado, o dia de sábado terá sido o mais sangrento na história do território palestino.

Um greve geral foi convocada nos territórios palestinos enquanto moradores da cidade de Gaza se preparam para realizar funerais.

O líder do Hamas em Gaza, Ismail Haniyeh, acusou Israel de ter promovido "um massacre" e convocou uma nova intifada, ou levante, contra Israel.

Em resposta imediata aos ataques de sábado, militantes palestinos dispararam foguetes do tipo Qassam contra Israel, matando um israelense na cidade de Netivot, 20 km ao leste da Faixa de Gaza.

Reações

O Conselho de Segurança da ONU fez um apelo pelo fim imediato da violência na Faixa de Gaza.

Em uma sessão de emergência, o Conselho pediu que os dois lados envolvidos no conflito se empenhem para resolver a crise no território palestino, onde vivem um milhão e meio de pessoas, a grande maioria delas em situação precária, com escassez de alimentos, remédios e combustível. (...)

Caos nas ruas

Os bombardeios atingiram várias áreas na Faixa de Gaza, visando os locais mais povoados: a Cidade de Gaza, Khan Younis e Rafah. (...)

Os ataques com caças F-16, que também teriam deixado centenas de feridos, são os mais intensos realizados por Israel em meses e se seguem ao fim, neste mês, do acordo de cessar-fogo entre o governo israelense e o Hamas.

Imagens exibidas pela TV mostraram cenas de caos nas ruas da Faixa de Gaza e pessoas ensangüentadas sendo levadas para hospitais.

Funcionários do principal hospital de Gaza disseram que as salas de cirurgia estão superlotadas, que os remédios estão acabando e que não há cirurgiões suficientes.

Fontes médicas em Gaza disseram ainda que a maioria das vítimas dos ataques são policiais ligados ao Hamas, mas haveria também mulheres e crianças.


Reações


Na Cisjordânia, o presidente da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud Abbas – cuja facção política, o Fatah, foi afastada do governo da Faixa de Gaza pelo Hamas em 2007 – condenou os ataques e pediu calma.

O presidente da Liga Árabe, Amr Moussa, disse que os ataques israelenses foram assustadores e convocou uma reunião de emergência da organização para discutir a escalada da violência. A reunião deve ser realizada neste domingo, no Cairo.

“Agora estamos lidando com uma situação muito perigosa e real, uma grande tragédia humana… Haverá muitas vítimas em Gaza e os árabes precisam assumir uma posição”, disse Moussa. (...)

*Fonte: http://www.bbc.co.uk/portuguese/

27 dezembro 2008

3 Poemas



















Assentamento


O trigal
doira as coxilhas
(vergadas pelo arado)
do outrora antigo latifundio.

As crianças
coradas e bem nutridas
voltam da escola
(onde antes ficava o rodeio).

O trigo
substituindo
o descampado
os berros do gado
as brigas de touros.

***

A mudança é clara,
evidente:
o individual
arredando
ao coletivo.

***

No assentamento
a comunhão é realizada
a esperança é renovada
a terra, de forma coletiva,
cultivada...

A história
reescrita;
a Justiça,
(ainda que tardia),
resgatada.

(Júlio Garcia - Santiago/1995)

.......


Aparthaid Social


São milhares, são milhões
os moribundos sociais
as chagas estão abertas
no país dos desiguais.

Estão por toda parte
são multidões ... indigentes
nas favelas e nas vilas
ou nos guetos deprimentes
(causados pelo ‘aparthaid’
da ‘sociedade’ ... indecente).

Olha só, meu companheiro
no que virou este povo:
são retalhos, fragmentos
-de vidas que se esgotaram
são pessoas maltratadas
-que de viver já cansaram.

Sorte cruel. Mas, será mesmo
‘sorte’? Mais uma vez vamos nós
culpar de novo o destino?

-Vamos ser mais conseqüentes,
cobrar das autoridades
uma atitude decente
que acabe com o desatino!

O que iremos fazer?
Ficar de braços cruzados?
Ou agir como cidadãos?

-Recuperar nossos sonhos,
ter coragem
ter visão

-deixar de mediocridade
reerguendo esta Nação!

-Pois assim, já não dá mais.

São milhares, são milhões
os moribundos sociais.

-As chagas continuam abertas
no país dos desiguais.

(Júlio Garcia - Santiago/1995)

.......

Intervalo

É noite.

A fila avoluma-se no balcão do bar-lanches

O cheiro de frituras impregnando o ar
tomando conta do ambiente
as bocas voluptuosas triturando o xis-salada
cafés pastéis refris cervejas 'ficadas'
provas futebol risos em profusão 'baladas'
& belas e estonteantes curvas insinuantes & sem maldade
pedindo fogo com a douçura
do anjo

Eu, voyer alienígena exótico
em minha mesa solitária comtemplando
a agitada cena estudantil
.....

Então,

bebo um gole de tinto & degusto
antigas e cálidas ...
recordações

(Júlio Garcia - Canoas/2008)

Coluna


Crítica & Autocrítica - nº 47

* Conforme informei na 'coluna eletrônica' anterior, estive visitando neste último final de semana a bela e hospitaleira cidade de Santiago, 'minha querência amada', atendendo (com prazer) a um compromisso familiar, aproveitando para rever meu pai, José Nunes Garcia (advogado e Defensor Público, hoje aposentado), familiares, amigos e companheiros de luta.

.....

* Também estive, na ocasião, conversando com colegas 'Operadores do Direito' (advogados Daniel Tusi e Roberto Flaviano de Brum), acertando presentes e futuras parcerias, tanto na área Cível quanto Penal. Já com o Júlio Prates e a Lizi, com o Artur Vieiro, com o Ruben Finamor e a Liamara, com o meu pai, com o Tide, o Cândido, com o 'seu' Getúlio, com o Didi e o Juarez Girelli, a conversa estendeu-se também sobre os rumos do PT, do Governo Lula, sobre a conjuntura política e econômica; aliás, não poderia ser diferente...

(...)

.....

* Mas nem só de notícias boas, lamentavelmente, é 'alimentada' esta coluna: fiquei sabendo também que andam acontecendo na 'Terra dos Poetas' verdadeiras barbaridades que têm afetado principalmente pessoas pobres, humildes, que estão sendo usadas como legítimos 'bois de piranha' para propagandear uma eficiência questionável por parte de órgãos da segurança pública regional. Pessoas humildes que têm sofrido, de forma sistemática, violência policial, abuso de autoridade, prepotência de toda sorte. Pessoas essas que são, pelo menos até que seja provado o contrário durante o devido processo legal a que têm direito, inocentes.

.....

* Refiro-me principalmente aos deprimentes fatos ocorridos na semana passada no Bairro São Vicente, em Santiago. Fatos esses que setores da mídia local e regional, falada, escrita e televisionada, de forma afobada e pouco séria, sem a devida investigação que deve nortear a boa prática que caracteriza o jornalismo investigativo, manchetearam como se tivesse ocorrido nessa 'megaoperação' das polícias civil e militar, a efetiva prisão de inúmeros 'traficantes e ladrões' .

......

* Mas, pelo que averiguou o titular da coluna, essa pirotecnia toda é falaciosa e inverídica. Na verdade, está presa ilegalmente, já há mais de uma semana no Presídio Municipal de Santiago, quase uma família inteira de pessoas humildes, mulheres inclusas, que nada tinham a ver com o objeto da 'busca' realizada numa casa próxima, ou seja, uma pequena quantia de maconha que, na sequência da operação, teria sido encontrada na casa de um vizinho.

.....

* Mas isso bastou para que fosse realizada toda uma sorte de ilegalidades contra essa família que, segundo relatos de familiares e vizinhos, incluiu espancamentos, ameaças e humilhações de toda ordem, não faltando ainda ameaças de 'tocar fogo' na modesta residência, onde moram também crianças e um casal de idosos...

...

* Aliás, a casa do suposto 'criminoso' também teria sido 'virada do avesso', quase arrasada durante a megaoperação policial, que contou com um contingente desproporcional de policiais civis e militares, cães inclusos, nesse verdadeiro aparato de guerra que não deve ter custado barato para os cofres do Estado.

.....

* Mas, então, a pergunta que não pode calar: o que é mesmo que está acontecendo em Santiago? Afinal, vivemos numa democracia, num Estado Democrático e de Direito, ou não? Práticas covardes (como tortura física e psicológica, desrespeito, humilhações) oriundas do período ditatorial, atentatórias contra os Direitos Humanos, que deveriam estar sepultadas junto com as demais práticas criminosas ocorridas nos 'anos de chumbo', não podem jamais ser toleradas, em lugar nenhum do Brasil - e do mundo. Ainda mais se essas práticas nefastas são executadas por pessoas que se apresentam como 'agentes da lei'.

....

* CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988 Art. 5º: Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: (...) III - ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante; (...) X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação; (...) XI - a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem consentimento do morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação judicial; (...) XLIX - é assegurado aos presos o respeito à integridade física e moral; (...) LVI - são inadmissíveis, no processo, as provas obtidas por meios ilícitos; LVII - ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória; (...) LXI - ninguém será preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada de autoridade judiciária competente, salvo nos casos de transgressão militar ou crime propriamente militar, definidos em lei; (...) LXIII - o preso será informado de seus direitos, entre os quais o de permanecer calado, sendo-lhe assegurada a assistência da família e de advogado; LXIV - o preso tem direito à identificação dos responsáveis por sua prisão ou por seu interrogatório policial; LXV - a prisão ilegal será imediatamente relaxada pela autoridade judiciária; LXVI - ninguém será levado à prisão ou nela mantido, quando a lei admitir a liberdade provisória, com ou sem fiança; (...) LXVIII - conceder-se-á "habeas-corpus" sempre que alguém sofrer ou se achar ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder; (...) LXXIV - o Estado prestará assistência jurídica integral e gratuita aos que comprovarem insuficiência de recursos; (...)

.....

* Os acontecimentos acima relatados são lamentáveis - e inaceitáveis. A criminalidade, sempre que se manifestar, tem que ser combatida com todo o vigor, é claro. Mas sempre de forma legal, de acordo com o que determina a legislação, a começar pela Constituição brasileira. Que, no caso específico, não está sendo respeitada, muito pelo contrário.

.....

* Assim como outras denúncias que setores da imprensa local estariam encaminhando ao governo do Estado em relação à desmandos ocorridos recentemente na esfera policial, esta merece, sem dúvida, a prioridade maior. E, pelo que tudo indica, não se trata apenas de 'um raio num céu claro': esse tipo de abuso e violência pode estar ocorrendo também em outros municípios do Estado. A luz vermelha foi acesa. Mais tarde voltarei a esse tema, com a profundidade que o mesmo merece. (Por Júlio Garcia, especial para 'O Boqueirão') .

** Foto acima: Monumento 'Tortura Nunca Mais', do artista Demetrio Albuquerque

** Crítica & Autocrítica: coluna que mantenho (i)regularmente no Blog 'O Boqueirão' http://oboqueirao.zip.net

26 dezembro 2008

Transição em Canoas/RS



Jairo Jorge apresentou secretariado e redesenho organizacional com redução de cargos

Baseado nas diretrizes da funcionalidade, resolutividade, inovação, excelência e descentralização, o prefeito eleito Jairo Jorge (PT) apresentou, durante a divulgação da lista de seu secretariado, na segunda-feira, 22, as mudanças que fará na estrutura do Executivo. Jairo afirmou que pretende criar mecanismos de controle, para isso deverá haver transparência nos Cargos de Confiança (CCs), tornando público nomes e funções, além de instituir uma comissão de ética pública e a Controladoria Geral do Município. A redução do número de CC’s e Funções atuais está entre os projetos. O petista reestruturá as secretarias, criando duas e fundindo outras duas. Além disso, incorporará quatro subprefeituras para que o poder público fique mais perto dos cidadãos, nos bairros: subprefeituras sudeste, sudoeste, nordeste e noroeste. O objetivo é superar os déficits financeiro e operacional deixados em todas as áreas pela atual gestão. Para isso, um novo organograma foi definido. Jairo Jorge anunciou ainda, que três funções serão exercidas de forma não remunerada. A primeira dama, Taís Pena, desenvolverá políticas de inclusão para o resgate da auto-estima da cidade; o ex-deputado federal Jorge Uequed exercerá a presidência da Comissão de Ética Pública e; a pró-reitora da Ulbra, Sirlei Dias Gomes, atuará na comissão de festejos dos 70 anos de emancipação política da cidade.

Qualificação

Serão criados os cargos de secretário adjunto e exigida escolaridade para assessores: Assessor de Gestão I – vinculado ao Secretário Municipal terá que ter nível superior; Assessor de Gestão II – vinculado aos diretores terão que ter no mínimo nível médio, Assessor de Gestão III – vinculado aos subprefeitos terão que ter nível fundamental.

Funcionalismo

Dentro do programa de valorização do funcionalismo, o prefeito eleito garantiu que 87 funções que eram ocupadas por CCs passarão a serem desenvolvidas por funcionários públicos. Haverá reestruturação das Funções Gratificadas (FGs).

Novos cargos

Tendo um dos enfoques na administração focada em resultados, Jairo criará os Grupos Executivos de Ação, que será uma força tarefa reunindo 12 secretarias para monitorar os projetos estratégicos. A descentralização administrativa se dará através das subprefeituras e da criação de novas estruturas e secretarias, são elas: Escritório de capacitação de recursos; Secretaria Especial de Comunicação; Secretaria Especial de Projetos Estratégicos; Secretaria Extraordinária de Gestão Hospitalar – HPSC; criação de nove coordenadorias; criação do Instituto Canoas XXI.

*****

Estes serão os novos secretários municipais de Canoas:

Fazenda: Marcos Antonio Bosio – Economista, agente fiscal do Tesouro do Estado.

Obras Públicas: Alcy Paulo de Oliveira – Micro empresário da construção civil, fundador da Associação dos Moradores do Bairro Rio Branco; vereador no período de 1988 a 2008.

Transportes e Mobilidade: Luiz Carlos Bertotto – Diretor de Cidadania e Inclusão Social da Secretaria Nacional de Transportes e da Mobilidade Urbana, do Ministério das Cidades, desde maio de 2003. Desde 2003 é Conselheiro do Conselho Nacional de Trânsito – CONTRAN, e Conselheiro do Conselho Fiscal de Companhia Brasileira de Trens Urbanos –CBTU, sendo deste Presidente desde 2004.

Educação: Paulo Roberto Ritter - Sociólogo, especialista em Ciências Políticas pela PUCRS e mestrando em Ciências Sociais Aplicadas na Unisinos. É primeiro suplente da bancada do PT.

Esporte e Lazer: Carlos Lanes (Cabeludo) – Funcionário público federal; É segundo suplente de vereador pelo PDT.

Meio Ambiente: Celso Barônio – Empresário. É Secretário-Geral do PT/Canoas.

Serviços Urbanos: Marcio Afonso da R. Ferreira – Técnico em Contabilidade e graduando em Ciências Júridicas pela UniRitter. Atua como técnico do Tesouro do Estado.

Cultura
: Jeferson Assumpção – Doutor em Filosofia e escritor. Trabalhou como Assessor de Imprensa no Ministério da Educação e Instituto Nacional de Pesquisas em Educação (INEP). Atualmente, é Coordenador-Geral do Livro e Leitura do Ministério da Cultura.

Saúde: Lúcia Elisabeth Colombo (Beth Colombo) – Beth Colombo é vice-prefeita eleita. É professora municipal aposentada. Foi secretária municipal (1999/ 2000).

Desenvolvimento Econômico: Simone Leite – Professora, administradora de empresas, diretora administrativa- financeira da Urano. É vicepresidente da Cica e diretora regional da Federasul.

Desenvolvimento Social: Márcia Falcão – Educadora popular e cursando Geografia na UFRGS. Foi gestora e educadora de políticas públicas de inclusão social no Governo Olívio Dutra. É membro do programa Fome Zero.

Desenvolvimento Urbano e Habitação: Roberto Tejadas – Presidente do PT/Canoas. Durante o Governo Olívio, assessorou a Fundação Gaúcha do Trabalho e Assistência Social (FGTAS).

Segurança Pública e Cidadania: Alberto Kopittke – Advogado. Assessor Especial do Ministro Tarso Genro (Justiça) e Coordenador da Conferência Nacional de Segurança Pública.

Relações Institucionais: Mário Cardoso –Secretário de Assuntos Institucionais do PT em Canoas. Foi Coordenador Político da campanha do BOM.

Gestão e Planejamento: Róbson Medeiros – Empresário. Foi presidente do Sindilojas. Foi Coordenador- Geral da campanha do BOM.

Controladoria Geral do Município: Ivo da Silva Lech – Advogado. Foi vereador de 1983 a 1986, ex-presidente municipal do PMDB e ex-diretor Comercial do Banrisul Consórcio S/A. Também foi Deputado Federal Constituinte e secretário municipal de Desenvolvimento Econômico.

Procuradoria Geral do Município: Roberta Baggio – Mestre em Direito pela Unisinos, doutora em Direito pela UFSC, Professora de Direito Constitucional e Direito Administrativo da PUCRS e Conselheira na Comissão de Anistia do Ministério da Justiça.


Subprefeituras

Sudeste
: Paulo Accinelli - Foi conselheiro tutelar, vereador e secretário municipal de Desporto, Cultura e Juventude.

Sudoeste: Pedro Bueno – Foi presidente do sindicato dos Marítimos e Fluviários do Rio Grande do Sul, vice-presidente da Fundação Nacional dos Marítimos, diretor de Portos do Governo Olívio Dutra.

Noroeste
: Júlio Cezar de Lima Ribeiro - Professor, pós-graduado em Sociologia Jurídica e Direitos Humanos e acadêmico de Direito Uniritter. Diretor do Colégio Estadual Tereza Francescutti.

Nordeste
: Francisco José Nunes (Francisco da Mensagem) – Foi caminhoneiro, motoboy. É lucutor de mensagens ao vivo e trabalha junto à bancada do PSB na Assembléia Legislativa.

Secretarias Especiais

Instituto Canoas XXI - Será presidido por Aroldo Carvalho Leão, servidor de Carreira do município. Fiscal de Transporte Público.

Secretaria Especial de Comunicação - Será coordenada por Silvana Barletta, jornalista, coordenou a Assessoria de Comunicação da Secretaria de Educação a Distância (SEED) do MEC e da Secretaria de Educação Superior do Ministério (2005 a 2008).

Escritório de Captação de Recursos - Terá Márcio Pestana à frente.

Secretaria Extraordinária da Administração Hospitalar (HPSC)- Rita de Cássia. Advogada. Primeira suplente de vereador do PDT.

Cargos não remunerados

TAÍS PENA – Políticas de Inclusão para o resgate da “auto-estima da cidade”.

JORGE UEQUED – Presidênte Comissão de Ética Pública.

SIRLEI DIAS GOMES – Comissão de festejos dos 70 anos de emancipação política de Canoas.

*Fonte: sítio do Jornal O Timoneiro http://www.otimoneiro.com.br/

Balanço





PT desvenda os truques do governo Yeda

Para fechar o ano, a bancada do PT na Assembléia Legislativa apresentou o seu balanço político de 2008. Em 12 páginas, ilustradas com motivos circenses, os petistas oferecem ao público uma análise dos principais fatos que marcaram a administração tucana em 2008. Além disso, o material traz as impressões de cada um dos dez deputados petistas sobre a conjuntura local e uma pequena seleção de realizações do governo Lula no Rio Grande do Sul. Assinala, ainda, as alternativas apresentadas pela bancada para enfrentar os problemas do Estado. “Como é de praxe, estamos apresentando uma prestação de contas do nosso trabalho legislativo, voltado para a fiscalização das ações do governo, mas sem abrir mão de apontar alternativas para resolver os problemas do Estado”, frisou o líder da bancada do PT, Raul Pont.

Intitulado “Os Truques do Governo Yeda”, o boletim aborda de forma crítica temas como o déficit zero, a corrupção, a instabilidade política, a incapacidade de diálogo da governadora e a tentativa do Executivo de prorrogar os contratos de pedágios por mais 15 anos. A intenção do PT é desmistificar as versões e fatos criados pelo Palácio Piratini, apresentando o outro lado da história. No capítulo chamado “O truque do déficit zero”, por exemplo, os petistas demonstram que o equilíbrio das contas públicas só ocorre no papel e, mesmo assim, porque o Executivo não aplica os percentuais mínimos da receita exigidos pela Constituição na saúde e na educação. Já no capítulo “O truque para transferir dinheiro público para o setor privado”, há um levantamento das irregularidades verificadas na gestão do Detran, Daer, Procergs e Corsan.

Mesa diretora

No almoço com a imprensa em que a bancada apresentou o balanço, o deputado Ivar Pavan (PT) falou sobre seus planos para a presidência da Assembléia Legislativa em 2009. O deputado, que será o primeiro petista a dirigir o parlamento gaúcho, disse que sua gestão terá como principal eixo a valorização da Assembléia Legislativa como espaço de interlocução com a sociedade. “Pretendemos valorizar e potencializar os instrumentos já existentes, como o Fórum Democrático e as comissões temáticas, fortalecendo o papel de mediação do parlamento e atuando não apenas na macro-política, mas na busca de soluções para problemas imediatos”, assinalou Pavan.

Pont anunciou, ainda, que em 2009 o liderança da bancada do PT será exercida pelo colega Elvino Bohn Gass. A liderança partidária, hoje a cargo do deputado Daniel Bordingnon, passará para Ronaldo Zulke. O deputado Fabiano Pereira irá assumir a presidência da Comissão de Serviços Públicos, substituindo a deputada Stela Farias, que está no comando da instância desde o início da atual legislatura. Já o deputado Dionilso Marcon (PT) irá presidir a Comissão de Cidadania e Direitos Humanos no próximo ano. (Por Olga Arnt, do sítio PTSul)

*Charge do Kayser

24 dezembro 2008

Artigo





2008 - Um retrospecto sóbrio

*Por Wladimir Pomar

Passados seis anos de governo Lula, com a participação do PT, continua válida a hipótese de que as vitórias de 2002 e 2006 não representaram revoluções políticas ou sociais. No entanto, também continua válida a tese de que elas representaram revoluções culturais, na medida em que romperam com os medos históricos e permitiram a vitória democrática e popular no contexto das regras eleitorais burguesas.

Assim, não foi só a esquerda que se viu diante de novos paradigmas. A direita tem sido desafiada, de forma ainda mais extrema, a aceitar governos democráticos e populares.

Nesse período, independentemente das teorias correntes e dos zigue-zagues, conformou-se uma frente ampla de apoio ao governo Lula, teoricamente para enfrentar as conseqüências de mais de dez anos de hegemonia neoliberal.

Para medir o que isso significou, em termos de correlação de forças, é fundamental verificar que, no campo de apoio do governo Lula, os trabalhadores (aqui considerados os assalariados urbanos e rurais, os camponeses pequeno-proprietários, os funcionários públicos de nível inferior, professores e outras categorias normalmente assalariadas com rendimentos baixos e médios) e as amplas camadas do exército industrial de reserva continuam em 2008 sendo sua mais firme sustentação.

A classe dos trabalhadores assalariados, apesar do aumento das taxas de emprego, permanece uma classe dispersa (pela dispersão das unidades produtivas) e fragmentada (pelos desempregos estrutural e conjuntural, ainda presentes). A classe dos camponeses pequeno-proprietários também continua submetida a intenso processo de fragmentação, com a destruição de unidades familiares e a expulsão de camponeses das terras em que trabalham.

O exército industrial de reserva, conformado principalmente pelo intenso processo anterior de destruição neoliberal, tornou-se um dos mais amplos setores de apoio do governo Lula, como decorrência do aumento das possibilidades de acesso a postos de trabalho e dos programas sociais do governo. Mas esse setor social possui pouca coesão e organização, além de viver constantemente assolado por ações anti-sociais e repressões policiais.

As classes médias, embora tenham pago a principal cota pela continuidade parcial da política monetária, se beneficiaram da melhoria do ambiente econômico dos anos mais recentes. Com isso, estão ampliando seu apoio ao governo Lula, como mostra pesquisa recente, que aponta 70% de aprovação para o presidente. Por outro lado, como ainda se encontram em processo de proletarização, com seus padrões de vida ameaçados de rebaixamento, e fragmentadas social e politicamente, essa inflexão a favor do governo pode mudar diante de qualquer evento que suponham negativo.

Assim, em 2008, como em 2002, as principais bases sociais de sustentação do governo Lula ainda permanecem fragilizadas. Suas reivindicações e expectativas continuam relacionadas com alimentação, trabalho, emprego, renda, moradia e segurança.

O problema é que, mesmo sendo de nível elementar, as reivindicações desses segmentos populares não dependem apenas de políticas compensatórias e do crescimento econômico. Tanto aquelas reivindicações quanto as políticas que pretendem atendê-las confrontam-se com a crescente tendência de concentração da riqueza e, portanto, com o agravamento da distribuição desigual da renda.

Para superar, mesmo que só parcialmente, a contradição acima, o governo Lula teria de ter construído um modelo de desenvolvimento alternativo, mesmo em convivência com o modelo dominante. No entanto, para tal, teria que ter contato com uma nova correlação de forças, incluindo grandes mobilizações sociais.

Como isso não ocorreu até o momento, o governo Lula tem se pautado pela timidez no atendimento às demandas dos micros, pequenos e médios capitalistas, urbanos e rurais, que o apoiaram. Esses setores, desestruturados em virtude do desarranjo neoliberal, tinham expectativa no crescimento das atividades produtivas, proteção contra a competição selvagem das grandes corporações, abertura de mercados para seus produtos e redução dos custos de mão-de-obra e dos tributos.

Eram, como são, reivindicações e expectativas tipicamente capitalistas, embora com um viés nacional e democrático que não se podia subestimar. Elas foram, em parte, atendidas pelos programas de crescimento econômico e pela abertura e diversificação dos mercados internacionais. Porém, como políticas desse tipo quando não são carimbadas tendem a ser de aproveitamento geral, foram as grandes burguesias nacionais e estrangeiras, representadas politicamente pelos setores majoritários do PSDB e do PFL (atual DEM), e por parcelas do PMDB, as que mais se beneficiaram das mudanças da conjuntura econômica nacional.

Quando lutaram contra a candidatura Lula, em 2002, as burguesias estrangeiras já viviam uma situação de crise econômica. Procuravam sair dela através da corrida armamentista e da produção de guerras (caso explícito das burguesias norte-americana e inglesa) e por meio da especulação financeira, segmentação produtiva, organização de blocos regionais, domínio das organizações multilaterais etc.

A corrida armamentista e as guerras mostraram-se muito úteis para enriquecer algumas poucas indústrias, mas não o conjunto da economia, aprofundando as dificuldades econômicas e financeiras, em especial dos Estados Unidos. A especulação financeira, para valorizar o capital através da geração de dinheiro fictício, carregava um risco sistêmico que poucos ignoravam - mas preferiam desdenhar.

Já a segmentação produtiva, com a industrialização de países com grandes contingentes agrários, contribuiu para a elevação da taxa média de lucro do capital, mas teve efeitos indesejados. Transferiu postos de trabalho, aumentou a dependência econômica das grandes potências em relação aos países emergentes e criou concorrentes efetivos que enfraqueceram o poder econômico, não só das corporações capitalistas, como dos seus países de origem, reduzindo suas pretensões de dominar as organizações multilaterais.

Paralelamente a esse processo, ocorreu o enfraquecimento da ideologia e das políticas neoliberais, reduzindo o poder de convencimento e pressão das grandes burguesias estrangeiras e nativas. Foi nesse contexto global que as potencialidades do crescimento econômico brasileiro colocaram as grandes burguesias estrangeiras numa certa defensiva em relação ao governo Lula.

O mesmo ocorreu com a grande burguesia nativa. Ela também se encontrava no redemoinho da crise econômica mundial, mas viu-se beneficiada pelas novas taxas de crescimento do Brasil. Assim, embora seu viés ideológico tenha se mantido fortemente anti-Lula e anti-PT, ela foi obrigada a entrar numa certa defensiva, para evitar que a oposição social e política interferisse negativamente sobre seus lucros.

Isso explica, em grande medida, a desorientação e o enfraquecimento do PSDB e do PFL (DEM), e o adesismo que tomou conta dos demais setores da representação política burguesa, embora se saiba que adesismo não signifique, necessariamente, apoio.

Por outro lado, o neoliberalismo perdeu, mas não morreu, e continua tendo algum poder de influência. A burguesia, até hoje, não perdeu a esperança de construir um outro projeto, capaz de arrancar as taxas médias de lucro que lhe permitam a reprodução ampliada.

Esperança que, desde fevereiro de 2008, com a falência do Banco Bear Sterns, nos Estados Unidos, começou a sofrer duros golpes, que culminaram com a eclosão da crise financeira norte-americana e européia, que por sua vez se alastra pela economia real não só desses continentes, mas também dos demais.

Essa crise contribui para colocar as burguesias em defensiva ainda maior, pelo menos momentaneamente. De certo modo, ela também ameaça as políticas sociais e de crescimento do governo Lula. Este, por outro lado, tem que levar em conta que as forças sociais que sustentam o sistema dominante ainda são relativamente fortes, apesar de estarem em dificuldades. E que as forças sociais que constituem sua base de sustentação ainda são relativamente fracas.

Mas a crise também é uma oportunidade para a mudança desse quadro. Em termos teóricos, o governo Lula pode transformar suas forças de sustentação social e política, relativamente fracas, em relativamente fortes. E as forças sociais e políticas relativamente fortes do sistema econômico dominante em relativamente fracas. Tudo vai depender de como aproveitará os desafios das condições atuais.

*Wladimir Pomar é escritor e analista político.

Fonte: Jornal Correio da Cidadania

20 dezembro 2008

Reforma Agrária









590 famílias são assentadas em área emblemática do RS

“Hoje é dia de festejar. A porteira está aberta, já tinha meninada pescando no açude. Estas crianças vão crescer sendo donas de terra. São crianças que vão continuar com a gente, lutando pela reforma agrária”. Essas foram as palavras que encerraram, nesta quinta-feira (18), o discurso do ministro do Desenvolvimento Agrário, Guilherme Cassel, que participou, em São Gabriel (RS), do ato de assentamento de 590 famílias.

Durante a cerimônia, foi assinada a portaria de criação de cinco assentamentos – quatro em São Gabriel e um em Santa Margarida do Sul. Também foi oficializado um protocolo de intenções entre a prefeitura de São Gabriel e o Incra/RS para a construção de um entreposto para recebimento e resfriamento de leite. Essas conquistas foram celebradas por um público estimado em 500 pessoas, que comemoram com um grande almoço.

R$ 60 milhões para investir

A pauta do desenvolvimento regional foi enfatizada pelo ministro. “Temos que avançar, temos que mostrar para todo o Rio Grande do Sul que foi correto adquirir esta terra porque aqui nós vamos produzir mais, muito mais do que já foi produzido antes. Esse é o nosso desafio”, afirmou. Cassel destacou que, atualmente, o município de São Gabriel importa 90% dos alimentos que consome. “É nossa a tarefa de mudar esse histórico”, assegurou.

O presidente do Incra, Rolf Hackbart, ressaltou que a autarquia fará todos os investimentos necessários nos novos assentamentos, mas exigiu que, para isso, os assentados demonstrem organização e definam qual a melhor cultura para o plantio, além da adoção de uma agricultura sustentável e preservadora do meio ambiente. “É imprescindível que cada centavo que nós alocarmos neste assentamento seja bem aplicado, pois são recursos advindos de toda a sociedade brasileira”, alertou.

Hackbart adiantou que o Incra possui recursos de, no mínimo, R$ 60 milhões para aplicar durante os próximos três anos nos recém-criados assentamentos. Numa comparação, o presidente do Incra lembrou que esse valor corresponde ao orçamento de todo o município de São Gabriel para 2009. Os recursos do Incra e do Ministério do Desenvolvimento Agrário contemplam créditos para construção de habitações, assistência técnica, obras de infra-estrutura e compra da produção dos assentamentos por meio do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA).

Conquista do Caiboaté

As 330 famílias assentadas na área da antiga Estância do Céu escolheram o nome de Conquista do Caiboaté para batizar o novo assentamento. Representando o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Jane Fontoura afirmou que as famílias irão medir esforços para que a região se consolide como um grande pólo de assentamentos. “Nós somos camponeses e, como camponeses, vamos cumprir nosso papel social”, disse, referindo-se ao propósito da produção de alimentos.

Após dar boas vindas às famílias, o superintendente do Incra/RS, Mozar Dietrich, lembrou que a área conquistada “simboliza muito suor e luta de todos. Que ela seja, então, um local de paz, harmonia e felicidade”. A cerimônia contou com a presença dos prefeitos de São Gabriel, Baltazar Balbo Teixeira; de Santa Margarida do Sul, Cláudia Goulart Brasil; além de outros representantes de prefeituras, parlamentares, lideranças sindicais e integrantes de entidades parceiras da reforma agrária.

* Fonte: sítio PTSul
** Foto: Eduardo Quadros