20 abril 2019

Sim, o lavajatismo quer o poder. Para destruir o Brasil, faltou dizer

Insuspeito de simpatias ideológicas pelo petismo, Demétrio Magnoli, na Folha de hoje, faz excelente análise daquilo que cada vez mais pessoas percebem, embora há tempos seja óbvio: que o “Governo Bolsonaro é só uma escala técnica na rota do Partido dos Procuradores”, uma organização ” que alastrou suas bases pelo Ministério Público, extravasou para setores da Polícia Federal e da Receita e se disseminou entre militares da reserva e políticos (tanto governistas como de oposição).
Hoje, o projeto de poder tem seu próprio candidato presidencial, que atende pelo nome de Sergio Moro, e seu veículo oficioso de mídia, que é o site censurado pelo ato ilegal do STF.
Magnoli acerta em cheio no diagnóstico, mas erra na etiologia deste mal, ao situar  – possívelmente por suas idiossincrasias com o PT – o surgimento de seus “sinais iniciais emergiram em maio de 2017, na “operação Joesley Batista” e no artigo de Rodrigo Janot que denunciava “o estado de putrefação de nosso sistema de representação política”(…) enunciava, então, nada menos que um objetivo estranho à missão judicial da Procuradoria: limpar a República, substituindo a elite política tradicional por uma outra, pura e casta”.
É evidente que o uso político de investigações – sobretudo pelo vazamento seletivo e pela transformação de acusações em provas com alto valor de barganha – vem de antes, muito antes e teve seu primeiro clímax na capa da Veja do “Eles sabiam de tudo” lançada como panfleto eleitoral na véspera da eleição presidencial de 2014.
Não funcionou ali, mas funcionou a seguir, abrindo caminho para que a escória da política, como cupins, transformasse em estrutura carcomida e frágil o Governo, ajudada pela errônea – embora, talvez, inevitável – atitude de Dilma Rousseff de achar que as ideias econômica neoliberais, se postas devidamente na coleira, sossegariam a matilha.
A questão, infelizmente, é que grande parte da direita brasileira – e mais ainda porque seus núcleos de elite precisam descer ao nível da selvageria política para obter base social – já não tem sequer um projeto de desenvolvimento associado, “liberal com tinturas sociais”  como sugeria o pensamento de Norberto Bobbio, que Fernando Henrique Cardoso gostava de citar.
Só o ódio insano é capaz de produzir adesão à versão atual do neocolonialismo que, se quiséssemos fazer paralelos historicos, teríamos de situa no Brasil colonial de antes da vinda da família real: uma subnobreza cuja vassalagem e dependência da metrópole interditava qualquer ação de desenvolimento do que viria a ser esta nação.
E quem são os “ingleses” beneficiários disto é ocioso dizer.
Aí está a chave para que se possa compreender, sem ilusões, o que significa a aspiração “lavajatista” ao poder absoluto: o desejo de destruição do estado nacional cujas bases foram lançadas na  Revolução de 30. Não é apenas no (re)tornar a questão social a “um caso de polícia”. É tornar a política uma dança formal num baile onde só podem estar os convidados desta risível corte.
Aos demais, “cortem-lhe as cabeças”.

19 abril 2019

Jesus ateu


Por Sérgio Saraiva*
O filho de José agonizava. Julgado e condenado à morte. Não merecera perdão.
E o filho de José pensou em José. Havia muitos anos que não pensava naquele homem. Interessante, delirou, que, na hora da morte, ele lhe viesse à mente. José era morto havia muito. José que acolhera sua mãe grávida e lhe dera seu nome de família e lhe ensinara sua profissão, como só faria com seu primogênito.
E o que faria hoje José, se estivesse vivo? Se jogaria contra os algozes do seu filho e tentaria salvá-lo? Ajoelharia em lágrimas e rezaria por sua alma? O que faz o pai de um condenado, no dia da execução de seu filho?
Mas o filho de José o havia renegado como pai, porque se considerava filho de Deus.
Agora, ouvia o sarcasmo do seu carrasco: “você não é o filho de Deus? Pede para que teu pai te arranque da cruz”.
Tolo, pensou o filho de José: você não sabe o quanto eu acreditei que isso ocorreria. Você não é capaz de imaginar sequer o quanto, nos últimos instantes, eu orei para que isso acontecesse. O quão tão intensamente eu supliquei para que isso ocorresse.
E o filho de José ainda conseguiu reunir forças para, ao menos, mover os olhos para o céu. O céu azul de abril sem uma única nuvem e o sol da tarde deitado em posição que lhe queimava ainda mais o rosto. Tudo imóvel. Nem uma leve brisa que trouxesse algum alento ao seu último momento.
– Deus, meu Deus, por que me abandonaste?
E, então, de repente, sua mente se encheu de luz.
Não, você não é o Deus cruel que abandona o filho que lhe pede socorro. Tal ato indigno de um homem, quanto mais de um Deus. Você não me salva simplesmente porque você não existe. Deus não existe. Somente por essa razão, tampouco, salvou João, meu primo e batista, que lhe louvou toda uma vida de temperança e foi assassinado pela concupiscência do poderoso que continuou poderoso e devasso com sua benção. E assim foi enterrado, com orações em seu nome. Quando não foi assim?
Você é o Deus dos inimigos? Eles nos venceram e agora nos oprimem. Todos os dias os oprimidos rezam pela sua libertação. E todos os dias os vitoriosos agradecem a Deus o seu triunfo. Você nos ensinou que é o único Deus. Qual o sentido disso? O único sentido é que há opressores e oprimidos, mas não há um Deus a mediar essa condição. A inexistência de um Deus nos protege de termos de louvar o Deus dos opressores.
Foda-se o Deus de Israel e sua inexistência. Eu lutei para que os que tivessem fome e sede de justiça fossem saciados. Para que os mansos herdassem a Terra. Para que os pobres de espírito herdassem o Céu e os pacíficos fossem chamados filhos de Deus.
Foda-se não haver um Deus. Foda-se o Deus de Israel na sua inexistência. Minha causa é justa, pago o preço de ser morto por ela.
Não ficará registrado que o carrasco percebeu um sorriso nos lábios do executado. Já vira muitos corpos sem vida. Sabia que o espasmo cadavérico prega dessas peças. Nada comentou – seria alvo de pilhérias dos colegas de profissão, se o houvesse feito.
Quanto ao filho de José, sorrira verdadeiramente. Era um homem que encontrara a sua resposta.
*Via GGN

18 abril 2019

O STF se tornou vítima do bolsonarismo que ele próprio adulou



Toffoli e Moraes acordaram para o fato de que não há razões para que os sicários poupem ministros

Por Gustavo Freire Barbosa*

No início de outubro, os jornalistas Rafael Moro Martins e Tatiana Dias publicaram no The Intercept Brasil artigo intitulado “O compromisso do TSE contra fake news é a maior fake news dessa eleição”.
Na ocasião, explicaram como toda a pompa do ministro Luiz Fux – então presidente do Tribunal Superior Eleitoral – em anunciar que a corte iria combater a proliferação de fake news nas eleições não passou de uma daquelas situações na qual a montanha dá luz a um rato.
Por quaisquer que sejam as razões, o poder judiciário brasileiro foi no mínimo negligente no que diz respeito ao enfrentamento às fake news que campearam livres durante o período eleitoral. O The Intercept Brasil já havia denunciado dois meses antes como o partido do vice-presidente, o general Mourão, financiara empresa propagadora de notícias falsasEm dezembro de 2017, a BBC Brasil fez uma magistral reportagem sobre a existência de um exército de perfis falsos usados para influenciar o processo eleitoral.  
A conveniência do TSE em se manter inerte se encaixou perfeitamente nas dificuldades em controlar as redes – em especial o Whatsapp, impossível de ser domesticado, segundo Luiz Fernando Pereira, presidente do Congresso Brasileiro de Direito Eleitoral, entidade organizadora do evento no qual Fux garantiu que as fake news seriam barradas.
O fato é que a usina subterrânea de notícias mentirosas foi uma das coisas que garantiram a vitória de Jair Bolsonaro.
A complacência do Judiciário ajudou a adubar a terra de onde brotaram emblemáticas escatologias como as famigeradas mamadeiras de piroca. O flerte com o bolsonarismo – já evidente quando a candidatura de Lula foi barrada em contrariedade à própria jurisprudência da justiça eleitoral – se tornou escancarado quando Dias Toffoli, atual presidente do STF, começou a dar indiscretas piscadelas à turma do capitão, chegando a nomear o general da reserva Fernando Azevedo e Silva (hoje ministro da defesa) como assessor e a passar pano para o golpe militar de 1964. A própria prisão do ex-presidente, um bálsamo para a extrema direita, só foi possível após o Supremo ter rejeitado seu habeas corpus depois de uma desavergonhada manipulação da pauta pela ministra Carmen Lúcia.  
A ficha sobre o perigo de ter se aproximado dessa gente, entretanto, parece ter caído tarde demais.
Em 14 de março, a coluna Painel, da Folha de S. Paulo, publicou que os grupos de Whatsapp bolsonaristas que estavam hibernando desde o fim da campanha voltaram a operar com força total. O retorno à ativa do submundo das redes tem a ver com o apelo de correligionários do presidente para que religasse a malha clandestina de contatos que o ajudou a vencer as eleições. Além da defesa da reforma da previdência, o STF passou a estar entre os alvos preferenciais dos difamadores.
Essa nova ofensiva coincidiu com um momento complicado para as hostes pesselistas no qual brotavam diariamente novas mudas do laranjal do PSL escancarando a umbilical relação da família Bolsonaro com as milícias, uma metástase fora de controle cujo modus operandi foi esmiuçado em matéria da Piauí de março.
Se a cúpula do judiciário chegou a acreditar que a proximidade com o mandatário a livraria de seu séquito de paramilitares virtuais, os fatos demonstram que se enganou feio.
Descontente com a situação, Toffoli anunciou abertura de inquérito para apurar a enxurrada de notícias falsas, ameaças e ofensas contra integrantes do STF e seus familiares. Tratou como novidade uma das principais estratégias eleitorais da campanha de Bolsonaro ao ponto de afirmar que, só agora, a tecnologia voltada para destruir a honra alheia seria combatida a todo custo.
“Esse assassinato de reputações que acontece hoje nas mídias sociais, impulsionado por interesses escusos e financiado sabe-se lá por quem, deve ser apurado com veemência e punido no maior grau possível”, afirmou Toffoli ao Estadão, emendando que “isso está atingindo todas as instituições e é necessário evitar que se torne uma epidemia”.
Estranha que só recentemente tenha atentado para a necessidade de medidas profiláticas contra a produção industrial de injúrias, calúnias e difamações quando, desde a campanha, ficou mais do que claro que este é um dos pilares sob o qual se sustenta quem hoje ocupa o Palácio do Planalto. A epidemia já está aí há algum tempo, portanto, embora tenha sensibilizado Toffoli somente após os primeiros espirros nos corredores do STF.
Sob as presidências Fux e de sua sucessora, a ministra Rosa Weber, o TSE abriu mão de enfrentar as hordas digitais do bolsonarismo sem acreditar que os milicianos das redes não elegeriam o STF como alvo. Hoje, até de narcotraficantes os ministros estão sendo acusados, o que gerou, por parte do ministro Alexandre de Moraes, a ordem de bloqueio de contas em redes sociais pertencentes a sete pessoas investigadas no inquérito aberto por Toffoli, além de buscas e apreensões em Brasília, São Paulo e Goiás. 
Em um abscesso absolutista, Moraes determinou também a retirada do ar de reportagem e notas publicadas pelos sites da revista Crusoé e O Antagonista que noticiavam a existência de um email de Marcelo Odebrecht que mencionava o presidente da corte.
Fux prometeu bater de frente com as fake news, Weber ignorou a promessa de seu antecessor e Toffoli esperou ver o STF entrar na rota da máquina de moer reputações do bolsonarismo para tomar providências cuja constitucionalidade não escapou de ser questionada pela Procuradoria-Geral da República, cujo pedido de arquivamento do inquérito já foi rejeitado por Moraes.


Ao perceberem que a redoma do STF não é impenetrável à matilha bolsonarista, os ministros pesaram a mão ao tomar medidas que vão de encontro a um republicanismo que, levando em conta as sucessivas sovas que a Constituição vem levando no próprio STF (vide a prisão antes do trânsito em julgado), há tempos se tornou um cadáver insepulto juntamente com fantasias como o devido processo legal e a presunção de inocência.
Toffoli e Moraes acordaram para o fato de que não há razões para que os sicários poupem ministros que, conforme o próprio patriarca do clã já se queixou, foram nomeados em sua maioria pelos governos petistas. Terão agora que lidar com um problema cujo nascedouro tem suas digitais. Os desmedidos ataques à imprensa só demonstram a medida do desespero de quem acaba de perceber que o monstro cresceu e talvez seja tarde demais para contê-lo. Ao menos dentro da lei.
*Via Carta Capital - Grifos deste Blog.

17 abril 2019

Nota do PT sobre a saída do Brasil da Unasul



O Partido dos Trabalhadores repudia veementemente a saída do Brasil da União das Nações Sul-americanas (Unasul) justificada por argumentos torpes pelo atual governo brasileiro. A Unasul foi criada em 2008 por iniciativa dos governos da região com participação dos doze países sul-americanos para promover a integração econômica, social, cultural e política entre seus membros. Na qualidade de espaço de concertação entre os países, criou seu Conselho de Defesa e reafirmou a região como zona de paz.

A nota oficial divulgada pelo Ministério das Relações Exteriores indica o Foro para o Progresso da América do Sul (PROSUL) como substituição da Unasul. De acordo com o documento, o PROSUL exigirá como requisitos essenciais de seus membros “a plena vigência da democracia e o respeito aos direitos humanos”.

Muito nos impressiona o governo de Jair Bolsonaro corroborar com tal argumento na mesma semana em que o presidente extingue por decreto “conselhos, comitês, comissões, grupos, juntas, equipes, mesas, fóruns, salas e qualquer outra denominação dada ao colegiado” federais com atuação da sociedade civil. Cabe também lembrar a falta de apreço deste governo pelos direitos humanos, com declarações racistas, xenófobas, LGBTIfóbicas de Bolsonaro.

Repudiamos veementemente a saída do Brasil da Unasul e sua substituição pelo PROSUL. Ao tomar mais essa decisão equivocada, demonstra a subordinação da política externa a interesses alheios à soberania nacional.

Gleisi Hoffmann
Presidenta Nacional

Monica Valente
Secretária de Relações Internacionais

Entrevista com jornalista que escapou de morrer nas mãos das milícias no Rio é um alerta: Elas se preparam para tomar o Brasil



Ilustração Pedro Franz, revista Piauí

Do Blog do Mello - Vejam nesta entrevista com o repórter fotográfico Nilton Claudino e o sociólogo José Claudio, no Programa do Bial, como as milícias crescem e ampliam seu poder, que já se estende a áreas habitadas por 11 milhões de pessoas no Rio de Janeiro.

É importante perceber, principalmente para as pessoas de fora do Rio, qual o real poder das milícias e como elas se infiltram na sociedade. Especialmente sua relação siamesa com a política e políticos, que está agora sendo ampliada para todo o Brasil.

Nilton Claudino escapou da morte por pouco, e a história de sua reportagem, prisão e como escapou da morte pode ser lida aqui, na Piauí, em depoimento escrito pelo próprio Claudino. Inclusive com a suspeita de que ele teria sido denunciado por uma pessoa do jornal onde trabalhava, O Dia, RJ.

O vídeo abaixo, com a entrevista completa, em breve deverá se retirado do Youtube por ordem da Globo, e só poderá ser visto no Globoplay.




Dilma: golpe de 2016 foi a porta para o desastre



Do Brasil247 - De acordo com [a ex-Presidenta] Dilma Rousseff, o golpe que a derrubou em 2016 foi "o episódio inaugural de um processo devastador que já dura três anos. Teve, para seu desenlace e os atos subsequentes, a estratégica contribuição do sistema punitivista de justiça, a Lava Jato, que sob o argumento de alvejar a corrupção, feriu a Constituição de 1988, atingiu o Estado Democrático de Direito e impôs a justiça do inimigo como regra";"O governo Bolsonaro está ampliando um legado de retrocessos do governo Temer", continua; "Lula sintetiza a luta pela democracia em nosso País" para enfrentar "o aparato neofascista", acrescenta.

CLIQUE AQUI para ler na íntegra.

Estamos de volta!!!



*Caríssimos(as):

Após alguns dias com problemas no site, finalmente conseguimos solucioná-los - e estamos retomando as postagens. Pedimos escusas aos nossos(as) prezados(as) leitores(as) pelo sucedido e agradecemos a compreensão - e as honrosas visitas de todos(as)!

O Editor

04 abril 2019

Pilatos Toffoli mais uma vez lava as mãos e adia julgamento que poderia levar à liberdade de Lula


Por Antônio Mello*
 
Desde dezembro de 2017, o ministro Marco Aurélio Mello liberou para julgamento em Plenário duas ações que tratam do fim da prisão em segunda instância, por ser inconstitucional.

A ministra Cármen Lúcia, enquanto presidente do STF, sentou em cima das ações e não as colocou em julgamento.

Quando Pilatos Toffoli assumiu a presidência em setembro, preocupado em mostrar que não deve sua indicação ao PT, de quem foi advogado, tratou logo de empurrar a votação para o distante abril, na esperança de que o STJ julgasse Lula antes e o condenasse ou absolvesse, tirando assim o pepino de suas costas.

Mas abril chegou e o STJ não julgou Lula, que daqui a três dias vai completar um ano preso, por crime indeterminado e sem provas. E sem terem ainda esgotados seus direitos de defesa, o que contraria a Constituição.

Aproxima-se o dia 10 de abril, dia que Toffoli marcou para o julgamento. Mas todo mundo já sabe que hoje ele vai adiá-lo para até um dia, até talvez, até quem sabe, como dizia uma antiga canção.

Porque Pilatos Toffoli lava as mãos temendo o julgamento das redes sociais e robôs de Bolsonaro e da mídia corporativa.

Lula que amargue a cadeia injusta.
 
*Editor do Blog do Mello

Vídeo histórico: Guedes é o tchuchuca dos bancos

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-Contatos através do e-mail: juliogarcia.adv@outlook.com e/ou fone/whats: 55-98459-5009 - Santiago/RS

#EuApoiooPortalOBoqueirãoOnline!

DESTRUIÇÃO...


*Charge do Kayser

03 abril 2019

Guedes dá vexame e foge da Câmara: tchutchuca é a mãe



A audiência sobre a reforma da Previdência na CCJ da Câmara foi encerrada nesta quarta-feira, 3, depois que o deputado Zeca Dirceu (PT-PR)  afirmou que o ministro Paulo Guedes age como "tigrão" em relação a aposentados, idosos e pessoas com deficiência, mas como "tchutchuca" em relação à "turma mais privilegiada do nosso país"; fora do microfone, Paulo Guedes se dirigiu a Zeca Dirceu e respondeu: "Você não falte com o respeito comigo. Tchutchuca é a mãe, tchutchuca é a vó"; fiasco de Guedes na Câmara fez a bolsa cair e o dólar subir (247)

CLIQUE AQUI para ler (e ver) na íntegra.

01 abril 2019

A vitória do Abaixo a Ditadura

 


Por Helena Chagas, no Divergentes, e para o Jornalistas pela Democracia*

O Palácio do Planalto usou hoje os meios de comunicação oficiais para divulgar um vídeo elogiando o golpe militar de 1964. Não chegou a ser uma surpresa, depois da determinação do presidente Jair Bolsonaro de que comandos militares relembrassem a data. Apesar disso – ou talvez por isso -, acho que quem ganhou o dia foi a verdade. Claramente, venceram os que protestaram contra a ditadura.

Nas redes sociais, uma profusão de depoimentos e vídeos, muitos deles emocionantes e bem feitos, falaram dos anos de chumbo, da tortura, da censura, dos desaparecidos. Nas ruas de diversas cidades, manifestações. Na mídia, ampla cobertura, inclusive sobre as decisões judiciais de proibir e depois liberar comemorações militares do golpe – que, aliás, não deram o ar de sua graça neste domingo.

Na orla do Rio, um avião com uma faixa preta simbolizou tudo: Ditadura Nunca Mais. Neste momento, Bolsonaro estava em Israel, celebrando um casamento de gosto duvidoso com Bibi Netanyahu. Não vi ninguém comemorar o 31 de março, nem contar às crianças sua história.

Vi, sim, muita gente explicando a elas que vivemos aqueles anos de terror, mas que eles não vão voltar porque não vamos deixar.

Fiquei com a sensação de que, mais uma vez, o governo Bolsonaro deu um tiro no pé, lembrando a data e dando oportunidade a muita gente de conhecer melhor essa história triste. Não passarão.

*Via https://www.brasil247.com

31 março 2019

A história da estudante santiaguense Sônia Angel, trucidada pela ditadura aos 27 anos




Sônia Maria Lopes de Moraes Angel Jones nasceu em 9 de novembro de 1946, em Santiago do Boqueirão, Estado do Rio Grande do Sul, filha de João Luiz Moraes e Cléa Lopes de Moraes.

Foi morta aos 27 anos em 1973, em São Paulo. Estudou no colégio de Aplicação da antiga Faculdade Nacional de Filosofia e, posteriormente, na Faculdade de Economia e Administração da UFRJ, mas não chegou a se formar, sendo desligada pelo Decreto nº477, de 24 de setembro de 1969.

No Rio, trabalhava como professora de Português no Curso Goiás.

Casou-se, em 18 de agosto de 1968, com Stuart Edgar Angel Jones, militante do Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8).

Em 1° de Maio de 1969, foi presa por ocasião das manifestações de rua na Praça Tiradentes/RJ com mais três estudantes, levada para o DOPS e, posteriormente, para o Presídio Feminino São Judas Tadeu. Somente foi libertada em 6 de agosto de 1969, quando foi julgada e absolvida por unanimidade pelo Superior Tribunal Militar. Passou a viver na clandestinidade.

Em maio de 1970 exilou-se na França, onde se matriculou na Universidade de Vincennes e, para se sustentar, trabalhou na Escola de Línguas Berlitz, em Paris, onde lecionava Português.

Com a prisão e desaparecimento de Stuart pelos órgãos brasileiros de repressão política, Sônia decidiu voltar ao Brasil para retomar a luta de resistência. Ingressou na ALN e viajou para o Chile, onde trabalhava como fotógrafa. Posteriormente, em maio de 1973, retornou clandestinamente ao Brasil, indo morar em São Paulo. Em 15 de novembro de 1973 alugou um apartamento em São Vicente, junto com Antônio Carlos Bicalho Lana, com quem se unira. Seu apartamento passou a ser vigiado, sendo presa, juntamente com Antônio Carlos, no mesmo mês, por agentes do DOI-CODI/SP, tendo o II Exército divulgado a notícia de que morrera, após combate, a caminho do hospital (O globo 1º de dezembro de 1973).

Foi assassinada sob torturas no dia 30 de novembro de 1973, juntamente com Antônio Carlos Bicalho Lana. (...)

-Leia a história (de vida e  morte) da lúcida, consciente   e corajosa santiaguense Sônia Maria Lopes de Moraes Angel Jones (postado originalmente no Blog Razão Crítica)  Clicando Aqui   Aqui
***
* Nota do Editor: Tenho certeza de que a maioria dos nossos conterrâneos não tem conhecimento de quem foi a Sônia, essa jovem gaúcha trucidada em São Paulo aos 27 anos pelos torturadores a soldo da  odiosa ditadura militar. Esta postagem pretende auxiliar a recompor a verdade histórica e preencher essa lacuna existente na memória do nosso povo.
 
Santiago e o RS estão devendo (e por isso deveriam redimir-se, ainda que tardiamente) uma justa homenagem à esta sua filha, morta precocemente, e de forma tão infame e covarde. Jovem esta que demonstrou coragem, consciência política, determinação e amor ao seu povo - quando muitos vacilaram, se acovardaram ou mesmo traíram a Nação.  (Júlio Garcia)
...
*Postado originalmente neste Blog em 22/01/2011

30 março 2019

De 1964 para cá, muito a esclarecer. O Brasil ainda veste luto

"Ao recomendar a comemoração, ou 'rememoração', do golpe militar de 1º de abril e a revisão histórica do que chama, extemporaneamente, de a 'revolução de 31 de Março', Bolsonaro não coloca somente o País em confronto político. Ele põe o Brasil em perigo e a nossa democracia em risco. Atiça os que sonham com o passado, com a tortura, com as prisões políticas, com a guerra entre um lado e outro", avalia o jornalista Gilvandro Filho, do Jornalistas pela Democracia; "O que aconteceu no Brasil não deve acontecer mais. Até porque muitas barbaridades e muitos crimes não foram esclarecidos. Nesse assunto, a memória brasileira ainda veste luto"

CLIQUE AQUI para ler na íntegra (via 247) 

Ditadura Militar: O que vivi em 28 de maio de 1974, conta Paulo Coelho

O escritor foi sequestrado na ditadura
Conta em detalhes sessões de tortura
Washington Post deu versão em inglês



Por Paulo Coelho* 

28 de maio de 1974: um grupo de homens armados invade meu apartamento. Começam a revirar gavetas e armários –não sei o que estão procurando, sou apenas um compositor de rock. Um deles, mais gentil, pede que os acompanhe “apenas para esclarecer algumas coisas”.

Sou levado para o DOPS (Departamento de Ordem Política e Social), fichado e fotografado. Pergunto o que fiz, ele diz que ali quem pergunta são eles. Um tenente me faz umas perguntas tolas, e me deixa ir embora.

Oficialmente já não sou mais preso: o governo não é mais responsável por mim. Quando saio, o homem que me levara ao DOPS sugere que tomemos um café juntos. Em seguida, escolhe um táxi e abre gentilmente a porta. Entro e peço para que vá até a casa de meus pais –espero que não saibam o que aconteceu.

No caminho, o táxi é fechado por dois carros; de dentro de um deles sai um homem com uma arma na mão e me puxa para fora. Caio no chão, sinto o cano da arma na minha nuca. Olho um hotel diante de mim e penso: “não posso morrer tão cedo.”

Entro em uma espécie de catatonia: não sinto medo, não sinto nada. Conheço as histórias de outros amigos que desapareceram; sou um desaparecido, e minha última visão será a de um hotel. Ele me levanta, me coloca no chão do seu carro, e pede que eu coloque um capuz.

O carro roda por talvez meia hora. Devem estar escolhendo um lugar para me executarem –mas continuo sem sentir nada, estou conformado com meu destino. O carro para.

Sou retirado e espancado enquanto ando por aquilo que parece ser um corredor. Grito, mas sei que ninguém está ouvindo, porque eles também estão gritando. Terrorista, dizem. Merece morrer. Está lutando contra seu país. Vai morrer devagar, mas antes vai sofrer muito. Paradoxalmente, meu instinto de sobrevivência começa a retornar aos poucos.

Sou levado para a sala de torturas, com uma soleira. Tropeço na soleira porque não consigo ver nada: peço que não me empurrem, mas recebo um soco pelas costas e caio. Mandam que tire a roupa.

Começa o interrogatório com perguntas que não sei responder. Pedem para que delate gente de quem nunca ouvi falar. Dizem que não quero cooperar, jogam água no chão e colocam algo no meus pés, e posso ver por debaixo do capuz que é uma máquina com eletrodos que são fixados nos meus genitais.

Entendo que, além das pancadas que não sei de onde vêm (e portanto não posso nem sequer contrair o corpo para amortecer o impacto), vou começar a levar choques. Eu digo que não precisam fazer isso, confesso o que quiser, assino onde mandarem. Mas eles não se contentam.

Então, desesperado, começo a arranhar minha pele, tirar pedaços de mim mesmo. Os torturadores devem ter se assustado quando me veem coberto de sangue; pouco depois me deixam em paz.

Dizem que posso tirar o capuz quando escutar a porta bater. Tiro o capuz e vejo que estou em uma sala a prova de som, com marcas de tiros nas paredes. Por isso a soleira.

No dia seguinte, outra sessão de tortura, com as mesmas perguntas. Repito que assino o que desejarem, confesso o que quiserem, apenas me digam o que devo confessar. Eles ignoram meus pedidos.

Depois de não sei quanto tempo e quantas sessões (o tempo no inferno não se conta em horas), batem na porta e pedem para que coloque o capuz. O sujeito me pega pelo braço e diz, constrangido: não é minha culpa.

Sou levado para uma sala pequena, toda pintada de negro, com um ar-condicionado fortíssimo. Apagam a luz. Só escuridão, frio, e uma sirene que toca sem parar. Começo a enlouquecer, a ter visões de cavalos. Bato na porta da “geladeira” (descobri mais tarde que esse era o nome), mas ninguém abre. Desmaio. Acordo e desmaio várias vezes, e em uma delas penso: melhor apanhar do que ficar aqui dentro.

Quando acordo estou de novo na sala. Luz sempre acesa, sem poder contar dias e noites. Fico ali o que parece uma eternidade. Anos depois, minha irmã me conta que meus pais não dormiam mais; minha mãe chorava o tempo todo, meu pai se trancou em um mutismo e não falava.

Já não sou mais interrogado. Prisão solitária. Um belo dia, alguém joga minhas roupas no chão e pede que eu me vista. Me visto e coloco o capuz. Sou levado até um carro e posto na mala. Giram por um tempo que parece infinito, até que param – vou morrer agora? Mandam-me tirar o capuz e sair da mala. Estou em uma praça com crianças, não sei em que parte do Rio.

Vou para a casa de meus pais. Minha mãe envelheceu, meu pai diz que não devo mais sair na rua. Procuro os amigos, procuro o cantor, e ninguém responde ao meus telefonemas. Estou só: se fui preso devo ter alguma culpa, devem pensar.

É arriscado ser visto ao lado de um preso. Saí da prisão mas ela me acompanha. A redenção vem quando duas pessoas que sequer eram próximas de mim me oferecem emprego. Meus pais nunca se recuperaram.

Décadas depois, os arquivos da ditadura são abertos e meu biógrafo consegue todo o material. Pergunto por que fui preso: uma denúncia, ele diz. Quer saber quem o denunciou? Não quero. Não vai mudar o passado.

E são essas décadas de chumbo que o Presidente Jair Bolsonaro –depois de mencionar no Congresso um dos piores torturadores como seu ídolo– quer festejar nesse dia 31 de março.

*Via https://www.poder360.com.br