26 julho 2019

Araraquara Blues



Por Leandro Fortes, do Jornalistas pela Democracia*
Sérgio Moro saiu de férias e do País para fazer um teatro de quinta categoria perigosamente encenado por agentes do Estado, por ele chefiados.
Pelo Twitter, querendo demonstrar uma surpresa risível, Moro parabenizou os agentes da Polícia Federal que prenderam a Equipe Rocket de Araraquara, quatro jecas enfiados numa trama kafkiana - um deles do DEM, um outro, um bolsominion com cérebro de minhoca, com o perdão da redundância. 
Essa farsa dantesca começou a ser anunciada, muito antes, quando Moro e Deltan Dallangnol perceberam que, simplesmente, negar a existência das mensagens do Telegram, divulgadas pelo The Intercept Brasil, só traria mais vergonha e confusão.
Decidiram, então, partir para o delírio da tese dos hackers adulteradores, um absurdo só passível de ser pautado porque destinado a essa turba de idiotas adeptas do morobolsonarismo.
A prisão de hackers era, portanto, uma questão de tempo, um festim amplamente anunciado pelas hordas bolsonaristas, como bem cabe a esses tempos de insensatez: nas redes sociais, a deputada Joice Hasselmann, do PSL, líder do governo no Congresso Nacional, ameaçou o jornalista Glenn Greenwald, aparentemente, atiçada pela prisão dos russos de Araraquara.
Moro, o suspeito à frente da investigação, não é apenas um paradoxo. É o coveiro do estado de Direito de um país anestesiado diante de tantos absurdos.
Resta saber, até quando.

25 julho 2019

Na Veja, o ‘hacker’ bolsonarista

Por Fernando Brito*

Da revista Veja, agora há pouco:
Um dos alvos da Operação Spoofing, o motorista de aplicativo Danilo Cristiano Marques, de 33 anos, era conhecido por familiares e amigos por ser bolsonarista fervoroso. Por isso, estranharam quando o viram envolvido com um grupo de supostos hackers que invadiram o Telegram de diversas autoridades, entre elas o próprio presidente Jair Bolsonaro e os ministros Sergio Moro e Paulo Guedes.
Marques já foi apontado como um inocente envolvido apenas por ser “laranja” de Walter Delgatti Neto, e Gustavo Henrique Elias Santos apontados como os principais suspeitos do esquema. Mas hoje a própria PF vazou que ele, junto com Delgatti, teriam trocado em dólares e euros cerca de R$ 90 mil, nos aeroportos do Rio e de natal, supostamente para comprar armas.
Aí em cima, a sua foto no Facebook, durante a campanha. Seu parceiro Delgatti era filiado ao DEM, de onde foi expulso hoje.
Alguém aí ainda quer ver uma conspiração petista no vazamento?
*Via Tijolaço

Nota do PT: inquérito de Moro é mais uma armação contra o PT


O PT sempre foi alvo desse tipo de farsa, como ocorreu na véspera da eleição presidencial de 1989, quando a polícia vestiu camisetas do partido nos sequestradores do empresário Abílio Diniz antes de apresentá-los à imprensa.


O ministro Sergio Moro, responsável pela farsa judicial contra o ex-presidente Lula, comanda agora um inquérito da Polícia Federal com o claro objetivo de produzir mais uma armação contra o PT.
As investigações da PF sobre as pessoas presas em São Paulo confirmam a autenticidade das conversas ilegais e escandalosas que Moro tentou desqualificar nas últimas semanas.
Acuado, o ex-juiz repete seus conhecidos métodos: prisões espetaculares e vazamentos direcionados contra seus adversários. É criminosa a tentativa de envolver o PT num caso em que é Moro que tem de se explicar e em que o maior implicado é filiado ao DEM.
O PT sempre foi alvo desse tipo de farsa, como ocorreu na véspera da eleição presidencial de 1989, quando a polícia vestiu camisetas do partido nos sequestradores do empresário Abílio Diniz antes de apresentá-los à imprensa.
O PT tomará as medidas judiciais cabíveis contra os agentes e os responsáveis por mais esta farsa. Quem deve explicações ao país e à Justiça é Sergio Moro, não quem denuncia seus crimes.
Brasília, 24 de julho de 2019
Gleisi Hoffmann, presidenta nacional do PT
Humberto Costa, líder do PT no Senado Federal

BURACOS NA NARRATIVA: Sergio Amadeu, sobre Operação Spoofing: ‘História é completamente inconsistente’

O sociólogo e ativista de software livre fala sobre operação que prendeu supostos autores da invasão do celular do atual ministro da Justiça e Segurança Pública Sergio Moro


São Paulo – RBA - Em participação por vídeo no site Nocaute, o sociólogo Sergio Amadeu, ativista do movimento do software livrefalou a respeito da Operação Spoofing, que prendeu os supostos hackers que teriam invadido o celular do ministro da Justiça e Segurança Pública Sergio Moro. Ele diferenciou, inicialmente, os conceitos de crackers e de hackers. “Primeiro, a maioria dos hackers participa de comunidades de desenvolvimento de softwares compartilhados.
O hacker não necessariamente é um criminoso, é uma pessoa que pode nem ter curso de computação mas tem grande habilidade para lidar com códigos, tem uma vocação, o que faz com que ele tenha paixão por desafios lógicos, por vencer esses desafios. Já o cracker, em geral, é individualista e usa suas habilidades para obter vantagens pessoais. É preciso fazer uma certa diferenciação.”
Amadeu lembra que, no mesmo período em que o ministro Sergio Moro alegou não ter como comprovar a autenticidade das mensagens, já que havia saído do Telegram em 2017, a revista IstoÉ “inventava” uma matéria afirmando “que existia uma conexão com a Rússia, passava por dentro do Telegram, uma coisa absolutamente sensacionalista, pirotécnica, que já abandonaram”, diz.
De lá pra cá, no entanto, a narrativa mudou. “Os hackers russos, altamente sofisticados, não passam de garotos de Araraquara. Agora, curiosamente, falam que não é bem um hacker, mas o que passou a circular é que seria um ataque de spoofing“, aponta. Amadeu explica que existem três tipos de ataque de spoofing, que significa mascarar, se fazer passar por outro: atacando o endereço de e-mail, IP ou DNS.
De acordo com o sociólogo, a explicação da PF sobre a metodologia da invasão é de que os celulares alvo recebiam ligações contínuas, com o aparelho ficando sem condições de receber a ligação e outra pessoa teria instalado o Telegram para se fazer passar pelo usuário original.Uma justificativa questionável.
“A instalação do Telegram em um computador é possível, mas o Telegram vai mandar ao celular registrado um código para validar a solicitação. Quando envia o código, o telefone está ocupado e o hacker conseguiria captar a mensagem na caixa postal”, explica Amadeu sobre a versão corrente na mídia tradicional. “Desculpe, isso é uma falácia. Mesmo com o celular estando ocupado, o Telegram não manda mensagem de voz, mas um SMS, que não compete com a voz. Essa narrativa é muito esquisita”, pontua.
“Essa história é completamente inconsistente e tem como objetivo anular denúncias gravíssimas que o The Intercept fez. Mesmo pegando quem eles queiram pegar, não se anula a denúncia nem a obrigação do jornalista de ter que divulgar aquilo que ele checou como verdadeiro. E as mensagens são verdadeiras”, diz Amadeu, que em seu perfil no Twitter ainda questionou: “Hacker de Araraquara é DJ e não usa proxy. Equivale a um jogador de futebol sem chuteira“.

24 julho 2019

DA ESPERANÇA AO ÓDIO: COMO A INCLUSÃO PELO CONSUMO DA ERA LULA ATIÇOU O RECALQUE NAS ELITES


MORADOR DE UM BECO na periferia de Porto Alegre, Zeca, 52 anos, vivia pedindo dinheiro para comprar leite Ninho para sua filha com deficiência motora e cognitiva. Em 2015, quando ele ganhou uma boa grana de um processo na justiça, a questão do leite parecia finalmente estar resolvida. Mas não. Ele foi direto a um shopping e gastou todo valor em um tênis marca, deixando muita gente perplexa. Assim ele explicou:
Todo mundo se comove com minha filha, e leite não vai faltar. Mas ninguém se importou comigo quando quase morri de frio na fila do posto tentando interná-la, quando sou perseguido pelos guardas de shopping como se fosse ladrão só porque sou pobre. Eu tenho direito a ter coisa boa também. Agora que eu comprei as roupas à vista, me respeitam. Volto no shopping sempre que posso só para passar na frente da loja e ver os vendedores dizer: “OI, SENHOR ZECA!”. Eles dizem meu nome.

A história de Zeca é comum a grande parte da população brasileira que teve o sentido de suas vidas alterado com a inclusão pelo consumo da era Lula. Esta coluna traz alguns resultados e histórias de uma pesquisa de campo sobre consumo popular e política feita durante uma década (2009-2019), em parceria com a antropóloga Lucia Scalco. Nosso interlocutor de pesquisa queria sentir o efêmero prazer e poder proporcionado pela compra de um objeto de status. Mais do que isso, ao dizer que era chamado pelo nome pelo vendedor da loja, ele estava reivindicando sua própria existência numa sociedade capitalista, marcada pela exclusão.

O consumo passou a ser um meio fundamental de reconhecimento, visibilidade e cidadania entre as camadas populares nos últimos anos, com consequências na democracia brasileira.
Nasceu a esperança
A periferia de Porto Alegre é um laboratório para observar as transformações políticas recentes do país. A cidade, governada pelo PT por 16 anos (1990-2006), foi um dos berços do Orçamento Participativo (OP) e um dos símbolos do Fórum Social Mundial. Porto Alegre era internacionalmente conhecida como um modelo de democracia radical. Hoje, a realidade é outra: Bolsonaro venceu em todos os bairros.
Durante os governos do PT, as reuniões do OP eram um canal fundamental de mobilização social. Seu maior legado foi fomentar o espaço coletivo, dando a oportunidade da mulher pobre pegar o microfone e falar sobre suas prioridades.
Após anos de mobilização popular, com a vitória de Lula em 2002, inicia-se uma nova era do PT – o lulismo –, caracterizada por políticas de redução da pobreza, inclusão social e financeira em conciliação com as elites. Mas a relação entre o estado e a população se tornava a cada dia mais individualizada e despolitizada, demandando menos esforço na construção do coletivo. “Toma aqui o seu cartão Bolsa Família, cumpra o check-list e tchau”. Aos poucos, houve uma gradual desmobilização das bases petistas e o esvaziamento da lógica coletiva. Mas isso não era um problema enquanto a economia ia de vento em popa.
No plano social mais do que na transformação das instituições, o lulismo focou-se no acesso: a direitos, universidades, crédito e bens materiais. As novas classes médias e os pobres andando de avião pela primeira vez se tornaram emblemas nacionais. Vale notar que o verbo “brilhar” foi amplamente utilizado por acadêmicos e formuladores de políticas públicas para descrever essa fase marcada pela esperança e emergência de uma nação.
Mas como esse grande momento nacional impactou na formação política dos sujeitos de baixa renda? Diferentes pesquisadores, como Wolfgang Streeck e Lena Lavinas, concordam que políticas públicas neoliberais, como a inclusão financeira e inclusão pelo consumo, levam à erosão da democracia, à retração de bens públicos e ao esvaziamento da política no tecido social. Nesses anos acompanhando os “novos consumidores”, vimos os espaços coletivos minguarem, os bens públicos se degradarem e o tio do pavê que comprava um carro se achar superior a seus vizinhos. (...)
CLIQUE AQUI para continuar lendo a postagem da jornalista Rosana Pinheiro-Machado (no The Intercept Brasil).

RS: Leite anuncia que salários de junho dos servidores só serão quitados em 12 de agosto






Governador Leite e secretário Marco Aurelio anunciaram as que os salários de junho só terminarão de ser pagos em agosto | Foto: Gustavo Mansur/ Palácio Piratini

Da Redação do Sul21*
Em coletiva de imprensa realizada nesta terça-feira (23), o governador Eduardo Leite (PSDB/RS) anunciou que os salários dos servidores públicos do Executivo estadual referentes ao mês de junho só serão quitados no dia 12 de agosto. Esta é a primeira vez desde 2015, quando o governo de José Ivo Sartori (MDB) começou a atrasar salários, em que eles não serão quitados dentro do mês seguinte ao trabalhado. Lembrando que, antes dessa série, os salários deveriam ser pagos dentro do próprio mês.
Durante o governo Sartori, os salários dos servidores foram pagos com atraso ou parcelados em 36 meses. Leite seguiu com os atrasos, pagando primeiro os servidores com vencimentos menores. No entanto, a forma de pagamento mudou no mês de julho, mesclando os dois sistemas (por grupos e parcelas). Leite pagou primeiro os salários mais baixos nos dias 10, 11, 12 e 15, quitando o salário de quem recebe até R$ 4 mil líquidos. No mesmo dia 15, começou a pagar parcelas para quem recebe os maiores salários.
Novas parcelas foram depositadas no dia 16 e nesta terça, quitando os vencimentos de quem recebe até R$ 4,5 mil. Uma nova parcela de R$ 1,1 mil será paga amanhã (24) e outra de R$ 1,2 mil no dia 31 de julho. Contudo, aqueles servidores que recebem mais do que R$ 6,8 mil só terão os salários quitados no dia 12 de agosto. O governo informou ainda que os salários de julho começarão a ser pagos no dia seguinte, 13, para quem recebe até R$ 2,5 mil.
Na coletiva, o governador Leite usou as dificuldades fiscais “já conhecidas” do RS para justificar o atraso, além do volume de despesas herdadas do ano anterior. “Em janeiro, assumimos o governo com o compromisso de quitar duas folhas de pagamento em atraso, e com parte da receita de janeiro deste ano antecipada para dezembro de 2018 (R$ 700 milhões de receita antecipada e R$ 2,6 bilhões referente à folha de dezembro e ao 13º salário de 2018)”, disse, acrescentando ainda que o crescimento econômico nacional foi menor do que o esperado. “Entramos 2019 com expectativa de que a economia crescesse 2,5%, mas encaramos um crescimento de 0,8%”.
Como forma de fazer frente às dificuldades financeiras, o governo vai suspender por 60 dias as autorizações de ampliação de cotas de despesas orçamentárias com recursos livres do Tesouro. “Entendemos que é oportuno fazer esse ajuste durante esse período, o mais complicado para o RS no âmbito financeiro”, afirmou o secretário da Fazenda, Marco Aurelio Cardoso.
O decreto deverá ser publicado já nesta quarta e, segundo o governo, abrirá exceções apenas para gastos em saúde, educação e segurança, em “situações de interesse público”.

23 julho 2019

Se os hackers não forem os hackers terão de ser os hackers, entendeu?


Por Fernando Brito*
Finalmente, alguém vai preso pelos vazamentos da lava Jato.
Claro que nenhum dos que, ao longo de anos, violaram o segredo de Justiça e distribuíram informações à imprensa e a advogados.
Apenas os que, supostamente, invadiram ou tentaram invadir dois celulares de Moro e de dois relatores do braço fluminense da Lava Jato.
São os que produziram os quilométricos arquivos que estão sendo expostos pelo The Intercept e outros veículos de comunicação?
Não tem muita importância se são ou não, durante um bom período terão de ser e há métodos de fazer com que o confirmem, que vão do medo à notoriedade.
“Prova-se” assim, a primeira parte das explicações de Moro: foi um hacker, já até os prenderam.
Mas vão por água abaixo a segunda e a terceira partes da conversa fiada do ministro: a de que não havia o que periciar, pois o aplicativo teria sido deletado há muito tempo (desde 2017) e a de que os diálogos eram falsos, montados, adulterados.
E, se os diálogos não são falsos, não é possível que o conhecimento da verdade não provoque atitudes.
Aliás, um pergunta: se os hackers que têm de ser os hackers forem mesmo os hackers, não deixaram o produto de suas invasões copiado e armazenados onde possam ser alcançados?
Deve ter gente torcendo para estes serem hackers de “meia-tigela”.
PS. E aquela história do hacker russo, do tal “Pavão Misterioso”? Russo de Araraquara?
*Via Tijolaço

22 julho 2019

Benedita da Silva desmascara fake news: “Tão sem pé nem cabeça que me assustei com a insanidade dessa gente”



ESCLARECIMENTO
Benedita da Silva*
A máquina de produzir notícias falsas (FAKE NEWS) ataca novamente.
Dessa vez, de forma alucinante, circula nos grupos de WhatsApp e redes sociais que eu fui embaixadora em Nova York, mesmo sem falar inglês, e que eu também me envolvi em um escândalo de limousine nos Estados Unidos.
É tudo tão sem pé nem cabeça que eu confesso que me assustei com o grau de insanidade dessa gente, pois todos e todas sabem que eu NUNCA fui embaixadora em nenhum lugar desse planeta e muito menos me envolvi em polêmica de limousine.
Colaboro com o combate à fake news. Por isso, iremos à justiça para identificar e processar tanto os responsáveis pela produção dessa calúnia como também as pessoas que insistirem em reproduzir essa fake news em suas redes.
A verdade sempre prevalecerá!
*Benedita da Silva é deputada federal (PT/RJ)

21 julho 2019

O “paraíba”


Por Fernando Brito*
Ontem, no final da tarde, inicio da noite, a calçada da Visconde de Pirajá, por sete ou oito quadras era pródiga em lições de economia, de sociologia, de filosofia e uma prova a medir quanto nos resta de humanidade.
Ipanema, bairro rico da cidade, primeiríssimo mundo, gente bem cuidada e bem vestida – ainda mais nestes tempos de frio – , está vazia. É inverno, não há turistas, os bares já não existem como antes, quase todos amesquinhados pela “gourmetização” da classe média, com nomes e cardápios estranhos e bestas.
Na “ida” da caminhada, como é comum nestes tempos, alguns pedintes, embora em maior número do que em tempos recente. Sessenta anos de Brasil injusto, porém, acostumam a gente a estas cenas, ainda que não nos levem à indiferença.
Na volta, porém, a noite caíra e o frio – nem tanto quanto na véspera, é verdade – fazia brotar, diante das lojas fechadas, pelo horário ou pela crise – um jardim monstruoso de papelão e de cobertores rotos a servirem de ninho a gente, gente e mais gente que se começava a se preparar, como bichos no crepúsculo, para a hibernação na rua.
Aqui e ali a uniformidade da miséria se quebrava: uma senhora idosa, a pele do rosto vincada pelo tempo, sentada sobre um degrau, comia os restos de uma quentinha, talvez a sobra do que conseguira na generosidade do dia; um ou outro cão, destes da raça “não-pet” que saltita, feliz, a provar que amor não é privilégio nem do dinheiro nem do ser humano; o garoto, aí de uns onze-doze anos que cuida, carinhoso da irmã pequena, enquanto a mãe ou quem lhe faça às vezes sai para a caçada de esmolas…
O trabalho de procurar poesia no que faz, a eles e a quem os vê, humanos é, porém, tanto doído quanto cínico.
O blogueiro pensa em tirar fotos, mas o sujeito que o abriga não permite: não posso tirar mais deles nem a imagem, nem o anonimato, não posso os tratar como objetos da curiosidade pública.
Volto o olhar para os que passam por eles. Há nos olhos a mescla de desprezo e medo; nenhuma culpa, porém, porque para isso seria preciso que sua religião e seu deus não fossem uma hipocrisia.
Melhor negá-los, não vê-los, dizer, quem sabe, dizer que não há fome no Brasil, que os desvalidos são os “paraíbas” indolentes – os que não são como os que os servem como porteiros, garçons, cozinheiros, empregadas domésticas.
É gente indolente, preguiçosa, que se acostumou às “bolsas disso e daquilo”, como diz o homem a quem fizeram “Mito”.
Os intelectuais discorreriam sobre o desemprego, a recessão, o crescimento das desigualdades, o desalento que deforma e prostra o ser humano, na degradação da vida urbana que desumaniza pobres e também os ricos e os “remediados” como nós.
Outros sobre os erros do PT, uns de seu republicanismo ingênuo, alguns sobre suas composições com a velha política que induziram a deformações.
Todos podem ter razões, certamente as terão.
Eu prefiro pensar que o ódio aos pobres, aos “paraíbas”, a tudo o que cheire a povo brasileiro nos levou a isso e, pior ainda, não nos deixa sair disso.
E que, no fundo, tudo aceitam, menos o paraíba que nos fez acreditar que o país era de todos e, por essa heresia, há de ser posto a dormir no frio de uma cela em Curitiba.
*Jornalista/blogueiro - Editor do Tijolaço

19 julho 2019

Veja vira piada ao publicar capa grotesca sobre terror contra Bolsonaro

Os internautas não perdoaram a capa de Veja desta semana, que denuncia um suposto plano de uma "Sociedade Secreta Silvestre", comandada por um tal "Anhangá" e formada por "indivíduos que tendem ao selvagem", para matar Jair Bolsonaro, Ricardo Salles e Damares Alves


Se alguém imaginava que a parceria com o Intercept poderia recuperar a credibilidade da revista Veja, é melhor tirar o cavalo da chuva. Neste fim de semana, a revista virou piada nacional ao divulgar um suposto plano de uma "Sociedade Secreta Silvestre", comandada por um tal "Anhangá" e formada por "indivíduos que tendem ao selvagem", para matar Jair Bolsonaro, Ricardo Salles e Damares Alves. As reações dos leitores oscilaram entre o espanto e a perplexidade com uma reportagem tão ridícula. (...)

CLIQUE AQUI para continuar lendo a íntegra da matéria do Brasil247.

“Dignidade não se negocia”, afirma ex-presidente da Argentina em visita a Lula

Acompanhado do sociólogo Emir Sader, o argentino Eduardo Duhalde garantiu que estará no Brasil quando Lula for libertado

Todas as quintas-feiras, Lula recebe a visita de amigos e companheiros de militância / Foto: Joka Madruga

Duhalde é o quinto ex-chefe de Estado a visitar o petista na Superintendência da Polícia Federal em Curitiba (PR). Já estiveram com o ex-presidente Pepe Mujica (Uruguai), Ernesto Samper (Colômbia), Massimo D’Alema (Itália) e Dilma Rousseff. 
Após o encontro privado, os amigos do ex-presidente visitaram a Vigília Lula Livre para comentar as impressões do diálogo, que durou mais de uma hora e meia, no interior da carceragem. “Eu estarei no Brasil no dia em que ele sair, mas sair do jeito que deve sair um homem de bem, sem negociar a liberdade. A dignidade não se negocia. Essa é a posição do meu querido amigo Lula”, enfatizou Duhalde. 
Os líderes trabalharam juntos durante o primeiro mandato de Lula (2003-2006), que coincidiu com o mandato de Duhalde no país vizinho. Aos 77 anos e emocionado com a visita, o argentino, que antecedeu Néstor Kirchner, destacou as raízes que sempre o uniram com o petista. 
“Eu estou muito feliz. Fui o primeiro presidente argentino surgido do movimento de trabalhadores. Tenho por Lula um especial carinho. É o único amigo fora da Argentina. Trabalhamos juntos, muitos anos, pela integração sul-americana”, informou. 
Por ocasião de uma visita de trabalho de Duhalde em Brasília (DF), em 14 de janeiro de 2003, Lula e o argentino lançaram um comunicado em que indicavam o Mercado Comum do Sul (Mercosul) como um projeto estratégico. Para avançar na direção da integração, os líderes decidiram aprofundar a liberalização dos fluxos de comércio entre os países do bloco e a consolidação da União Aduaneira.
O bloco econômico regional é o mesmo que o atual presidente Jair Bolsonaro (PSL) quer “mais enxuto, dinâmico e sem viés ideológico”, conforme declaração dada nesta quarta-feira (17) na Cúpula dos Chefes de Estado do Mercosul, em Santa Fé, na Argentina
Duhalde foi o terceiro presidente a tentar governar o país falido depois da temporada de peronismo neoliberal de Carlos Menem (1989-1999).
No último dia 4, Lula também recebeu outro importante apoio do país vizinho: Alberto Fernández. O favorito à presidência da Argentina, nas eleições de outubro, tem como companheira de chapa a ex-presidenta Cristina Kirchner. 
Duhalde, assim como Sader, apareceu sorridente e entusiasmado após a visita. No entanto, ambos lamentaram as circunstâncias que os levaram até o ex-presidente.
“Emocionante e absurdo, porque quem deveria estar presidindo o Brasil está preso e quem deveria estar preso está presidindo. O Brasil está de cabeça para baixo”, avaliou Sader.
O sociólogo manifestou esperança, mas também indignação com a situação de “um líder de todo o Brasil, para sempre”. Para ele, se trata de um convite para a mobilização popular, também um dos destaques do petista.
“Ele sabe que vai sair e voltar a ser presidente do Brasil. Ele está preparado para isso, informado, analisa e conversa. Agora, é uma brutalidade deixar o Lula preso. A nossa vontade era pegar a mão dele e falar: ‘vamos sair, Lula, seu lugar não é aqui, cercado por esses chacais. Seu lugar é lá fora, na Vigília, com o povo’”, assegurou. 
Sader afirmou que Lula está muito bem, no entanto indignado não apenas com fatores jurídicos que o mantém preso, mas também “com o que estão fazendo com o país”.
“[Ele está] mais maduro, mais reflexivo, tirando lições das experiências nossas e muito preocupado não só com a situação do Brasil, mas com a necessidade de uma resposta mais massiva e sistemática da parte do movimento popular. Como ele disse, esse governo dá, todos os dias, razões para a gente se mobilizar cada vez mais”, avaliou o sociólogo. 
“Hoje eu o vi forte, mais forte do que nunca. Bravo com a situação, mas certo de que sairá para poder liderar seu povo”, completou o advogado argentino.
Preso político desde abril de 2018, Lula tem direito à visita de dois amigos por semana, sempre às quintas-feiras. Nas próximas semanas, ele também deve receber o ex-primeiro-ministro da Espanha, José Zapatero.
*Edição: Rodrigo Chagas - Via https://www.brasildefato.com.br

17 julho 2019

Dodge passou de omissa a cúmplice das trapaças de Dallagnol

"Raquel Dodge assumiu lado, que é o lado deplorável da História. Dodge tomou Partido da Lava Jato; se tornou cúmplice das trapaças do Dallagnol, e isso é mais vergonhoso que a omissão vergonhosa que ela vinha tendo em relação às denúncias aterradoras sobre práticas criminosas de integrantes da corporação que ela chefia", diz o colunista Jeferson Miola



Por Jeferson Miola*
Raquel Dodge reuniu-se nesta 3ª feira, 16/7, com Deltan Dallagnol e outros integrantes da organização criminosa [OrCrim] chefiada por Moro, como Gilmar Mendes nomeou a FT da Lava Jato. É o 1º encontro público da Chefe do MPF com o coordenador da Lava Jato desde a 1ª revelação dos conteúdos aterradores pelo Intercept, há quase 50 dias.
Até então, Dodge estava impavidamente omissa. Em vergonhosa omissão [aqui].
Estivesse o Brasil numa situação de normalidade institucional, com a Constituição e as Leis respeitadas e o Estado de Direito vigente, esperava-se, pelo menos, que “Delta” Dallagnol e seu comparsa de palestras “Robito” Pozzobon fossem notificados do afastamento dos cargos para responder sindicância, recebessem voz de prisão da Chefe e fossem conduzidos pelo japonês da Federal para a Penitenciária da Papuda para iniciarem cumprimento de pena.
Além disso, esperava-se que Dodge anunciasse solenemente aos demais integrantes da comitiva de Curitiba a mudança de padrão: uma vez reveladas novas provas documentais, os/as implicados/as em ilicitudes teriam o mesmo destino do “Delta” e do “Robito”.
O resultado do encontro, contudo, conseguiu ser mais vergonhoso que a omissão vergonhosa que Raquel Dodge vinha tendo em relação aos crimes cometidos por membros da sua corporação. Ao final, Raquel Dodge hipotecou “apoio institucional, financeiro e de pessoal ao combate à corrupção e ao crime organizado, para que a Força-Tarefa Lava Jato cumpra com integridade seus objetivos, […]” [nota MPF aqui].
Uma patética PGR ainda declarou, com uma dose formidável de hipocrisia, que o apoio à força-tarefa permite que “o patrimônio público seja preservado e que a honestidade dos administradores prevaleça” [sic].
Dodge aproveitou o cândido encontro para prestar conta aos membros da OrCrim sobre as “medidas adotadas […] quando surgiram os primeiros indícios de tentativa de invasão de aplicativos instalados em celulares funcionais utilizados por membros do MPF” [sic].
Ela quis demonstrar sua lealdade e sua solidariedade com as precauções adotadas:
– solicitou à PF abertura de inquérito “para apurar os responsáveis pelo crime cibernético”;
– “se manifestou no STF de forma contrária a pedido apresentado pela defesa do ex-presidente Lula, que reiterou – com base nas supostas conversas – pedido de anulação do julgamento que condenou o político”; e – “enviou parecer ao STF para sustentar que a alegação de suspeição se ampara em fatos sobre os quais há dúvidas jurídicas e que o material publicado pelo site The Intercept Brasil ainda não foi apresentado às autoridades públicas para que sua integridade seja aferida”.
O corregedor-geral do MPF, Oswaldo José Barbosa Silva, presente à reunião, “ponderou que nunca houve um tentativa tão agressiva de minimizar o Ministério Público e, exatamente, por isso, a instituição enfrentará a situação de forma cuidadosa” – ou seja, mais coesa, compacta.
O corregedor-geral também tranquilizou os colegas de corporação informando-os que “4 representações com pedidos de apuração da conduta dos procuradores […] foram arquivados com base na ‘imprestabilidade da prova” [sic]. Ele ainda fez um apelo pela “unidade institucional do Ministério Público” – sabe-se lá o significado disso.
Oswaldo Barbosa, é necessário lembrar, é o procurador-fantoche que responde pelo órgão que tripudiado pelo “Delta” na conversa com Sérgio Moro, o Capo di tutti capi: “Não sei se você viu, mas as duas corregedorias – do MPF e do CNMP – arquivaram os questionamentos sobre minhas palestras dizendo que são plenamente regulares” [aqui], disse o deslumbrado caipira ao Capo.
Horas antes da nota da assessoria do MPF sobre o amigável encontro de Raquel Dodge com integrantes da organização criminosa, Oswaldo Barbosa havia acolhido novo pedido de investigação do PT sobre os procedimentos do “Delta”e do “Robito”.
Só o tempo dirá se o acolhimento é para valer, ou se é outra pantomima que vai resultar no 5º arquivamento de representação contra os colegas de corporação. A manifestação dele após a confraria corporativa favorece a aposta na hipótese da pantomima.
Raquel Dodge assumiu lado, que é o lado deplorável da História. Dodge tomou Partido da Lava Jato; se tornou cúmplice das trapaças do Dallagnol, e isso é mais vergonhoso que a omissão vergonhosa que ela vinha tendo em relação às denúncias aterradoras sobre práticas criminosas de integrantes da corporação que ela chefia.
Usando termos “técnicos” de Rodrigo Janot, o antecessor dela que, antes de acertar palestras com Dallagnol alertou que “teremos que falar sobre cachê”, é preciso perguntar a Dodge se ela ganhará cachê por assumir essa posição indecente, imoral e ilegal de apoio à organização criminosa comandada por colegas seus?
O cachê, por acaso, seria a promessa de recondução ao cargo de PGR; ou seria sua indicação para o STF, na vaga ocupada por Celso de Melo? O que não faltou a Dodge foram mostras de grande apego pela escalada na carreira.
Moro e Bolsonaro conhecem-na bem, e sabem que ela pode ser uma peça fundamental no aprofundamento da farsa da Lava Jato e na preservação do regime de exceção.
O acobertamento de crimes cometidos por membros da própria instituição quebra a confiança não só no Ministério Público, mas em todo sistema de justiça do país.
A Nota da Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão, órgão do MPF que atua na defesa dos direitos humanos, é um importante contraponto à posição vergonhosa da direção atual do MPF chefiada por Dodge [aqui].
É uma evidência de que o MPF não é um corpo totalmente infestado pelas práticas fascistas que violam as regras do Estado de Direito e promovem a barbárie.
*Jeferson Miola é integrante do Instituto de Debates, Estudos e Alternativas de Porto Alegre (Idea), foi coordenador-executivo do 5º Fórum Social Mundial - Fonte: https://www.brasil247.com