18 junho 2020

Autocrítica faz quem fracassou

Sociólogo Emir Sader cita a crítica de Pedro Cafardo, editor-executivo do Valor, às elites, que ajudaram Jair Bolsonaro. "Quem tem que fazer autocrítica, é quem fracassou, que levou o Brasil à pior crise da sua história. E não quem teve governos que deram certo, a tal ponto, que só com um golpe foi possível interromper aquele ciclo virtuoso da história do país"

Pedro Cafardo, bandeira do PT e Jair Bolsonaro (Foto: Reprodução | Lula Marques | PR)

Por Emir Sader*
Embora esperada há tempos, não deixa de surpreender a autocrítica da direita, na voz de Pedro Cafardo, editor-executivo do Valor, o jornal do grande empresariado brasileiro. Surpreende porque a elite brasileira, responsável pelas desgraças que o país vive, nunca assumiu suas responsabilidades.
Ele afirma que “a classe dominante” do Brasil foi responsável pela eleição de Jair Bolsonaro e precisa fazer um “mea culpa” por sua escolha. Ele critica empresários, políticos “influentes” e jornalistas que ainda não “pediram desculpas” pela eleição de Bolsonaro e que, de acordo com ele, “fogem de suas responsabilidades”. 
“Políticos influentes se omitiram na campanha eleitoral e deram um ar de ‘dane-se ao país’, escreveu Cafardo. “Empresários só pensaram no próprio quintal e passaram a aceitar ‘qualquer um’, desde que não fosse o PT”. “Esta claro que a escolha do presidente foi responsabilidade das elites brasileiras, do agronegócio à indústria, passando evidentemente pelo setor financeiro. Não há clichê esquerdista algum nessa afirmação que usa a palavra ‘elites’”. “Foram, sim, os mais ricos e teoricamente bem informados que elegeram, ou trabalharam com mãos e mentes pela eleição do atual presidente. Precisam agora fazer mea culpa”, diz ele.
Ele afirma que os eleitos sabiam que Bolsonaro adotaria uma política conservadora, hostil à China e que daria uma banana às causas ambientas, entre outras questões. “O atual presidente tem muitos e graves defeitos, mas também uma qualidade: nunca mentiu sobre suas intenções autoritárias. As elites só não sabiam, mas poderiam desconfiar, que ele adotaria uma política tão desastrosa na área da saúde”.
Qual o sentido desse mea culpa? Em primeiro lugar, nos darmos conta de que é possível, mesmo do ponto de vista do grande empresariado, dar-se contas dessas coisas, tão obvias para nós. Em segundo, de que o PT é realmente o fenômeno maldito para a direita brasileira. De que o medo ao PT, ao retorno a um governo que privilegia o direito de todos, a distribuição de renda, é o fantasma que apavora a toda a direita. De que, mesmo sabendo quem era Bolsonaro, empresários, mídia, políticos, preferiram ele ao PT, sabendo os valores que ele representa e as posições que ele tem.
Quem tem que fazer autocrítica, é quem fracassou, quem levou o Brasil à pior crise da sua história. E não quem teve governos que deram certo, a tal ponto, que só com um golpe foi possível interromper aquele ciclo virtuoso da história do país.
Agora o tatu está encima da árvore. Ele não subiu sozinho. Alguém colocou ele lá. O autor dá nome aos bois: empresários, jornalistas, políticos. Faltou mencionar o Judiciário. Que teriam, todos, que fazer autocritica. Mas autocrítica não é um exercício teórico, mas tem que ser autocrítica prática. 
O que significa hoje autocrítica prática? Só pode significar anulação na chapa Bolsonaro-Mourão e convocação de novas eleições. Nas quais, se supõe, quem fizer autocrítica, vai ter que desmontar seu mecanismo odioso de escolher qualquer um, menos o PT. E então reconhecer o sucesso dos governos do PT, que produzem essa ojeriza de empresários, políticos, jornalistas, juízes. Para permitir que o Brasil supere os danos causados pela opção equivocada deles. 
*Emir Sader é um dos principais sociólogos e cientistas políticos brasileiros - Fonte: Brasil247

17 junho 2020

STF forma maioria pela manutenção do "inquérito das fake news" contra bolsonaristas

Investigações miram ameaças e ataques dirigidos à Corte, além da difusão de conteúdos falsos na internet

Presidente do STF, Dias Toffoli, durante sessão plenária da Corte - Nelson Jr./SCO/STF

Por Cristiane Sampaio*
O plenário Supremo Tribunal Federal (STF) acaba de formar uma maioria pela manutenção do chamado “inquérito das fake news”, alvo de uma ação da Rede Sustentabilidade que questiona a legalidade da Corte para promover esse tipo de investigação e pede a suspensão do processo. As apurações envolvem ocorrências de ataques à Corte e disseminação de conteúdos falsos na internet.  
Nesta quarta (17), na continuidade do julgamento, que teve início no último dia 10, os ministros Alexandre de Moraes, Luís Roberto Barroso, Rosa Weber, Luiz Fux e Cármen Lúcia concordaram com as apurações e afirmaram que elas estariam dentro dos limites legais e constitucionais. O entendimento é o mesmo do relator da ação da Rede, Edson Fachin, primeiro a apresentar o voto, na semana passada.    
Como o plenário do Supremo conta com 11 membros, há agora uma maioria numérica pela manutenção do inquérito. Outros dois ministros, Ricardo Lewandoswki e Gilmar Mendes, devem se pronunciar ainda nesta quarta (17) e o julgamento prossegue na quinta (18).
Tecnicamente, os próximos magistrados ainda podem pedir vistas e levantar questões que eventualmente levem a uma mudança no posicionamento de outros ministros, mas esse tipo de delineamento é um pouco mais raro e, nos bastidores do mundo político-jurídico, a leitura é de que a tendência é o STF manter as investigações do caso.
Edição: Rodrigo Chagas 
*Via https://www.brasildefato.com.br/

16 junho 2020

Coronavírus: Política de distanciamento controlado não gera efeitos no RS, analisam especialistas

Um mês depois de decreto, falta de testes e de controle sobre mobilidade cobram o preço do governo estadual

Apesar de o governo estadual levantar bandeiras coloridas e receber elogios, especialistas que acompanham a dispersão do vírus criticam ausência de controle nas medidas implementadas pelo estado - Divulgação
O distanciamento controlado por cores de bandeiras que o governador do Rio de Grande do Sul Eduardo Leite (PSDB) exaltou como o casamento entre a ciência, a política e a eficiência no combate ao coronavírus atingiu o pico do fracasso desde que foi implantado há pouco mais de um mês. Na sexta-feira (12), o decreto estadual de 11 de maio, deu seu último suspiro. Foi quando a Prefeitura de Porto Alegre anunciou novo decreto para esta segunda-feira (15), restringindo comércio para tentar retomar a eficiência perdida com o fim do isolamento social.

Alguns fatores levam à conclusão de que a guerra para o coronavírus estava perdida no RS e a abertura para a circulação e os negócios só apressaram a derrocada. Apesar de o governo estadual levantar bandeiras coloridas e receber elogios, especialistas que acompanham a dispersão do vírus contam uma história de que se tratava da crônica de um fracasso anunciado.

Academia é contra

O professor do campus litoral norte da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Ricardo Dagnino sabe bem sobre o que fala quando faz críticas severas ao distanciamento controlado. Ele é geógrafo, demógrafo e o responsável por alimentar o Sistema de Informação Geográfica (SIG), da UFRGS, sobre os casos de coronavírus por município no RS.

Desde que o vírus chegou em 29 de fevereiro, acompanha a evolução dos números fechados pelas instâncias governamentais de casos da covid-19 no Rio Grande do Sul. Percebeu muitas falhas na organização, registro e compilação dos dados.
“Não tem como controlar o vírus. Sem teste massivo e sem vacina, não tem como. Sem testar, não tem como desenhar uma política pública. Este distanciamento nunca existiu porque as pessoas não param de circular”, explica Dagnino.

Desde 15 de abril, o governo do estado distribui remessas de testes aos 497 municípios gaúchos / Divulgação


Poucos testes nos primeiros 100 dias de infecção

Desde 15 de abril, o governo do estado distribui remessas de testes aos 497 municípios gaúchos, segundo dados da transparência da página da Secretaria Estadual de Saúde do RS. Os testes rápidos recebidos do governo federal e distribuídos aos municípios somaram 348.460 em 29 de maio.

Desde 29 de fevereiro, até a segunda-feira (8), ou seja, nos primeiros 100 dias de infecção, foram realizados 50.245 testes. Do total recebido do Ministério da Saúde, os municípios e o governo estadual conseguiram fazer 14,4% dos testes.

Juntando todos os tipos de testes no RS, com resultado até o dia 8 de junho, 69.653 foram feitos. É um teste com resultado para cada 163 habitantes, considerando a população de 11,37 milhões de gaúchos segundo projeção do IBGE para 2019. Até essa data, 6.732 casos de infecção por coronavírus foram detectados no estado. Isso significa que 13,4% dos testes rápidos (50.245) feitos no Rio Grande do Sul dão positivo. Extrapolando com uma regra de três simples, se todos os mais de 300 mil testes fossem realizados, o estado poderia ter detectado entre 40 e 50 mil casos de gaúchos infectados.

A periferização ameaça os mais vulneráveis

Não foi por falta de avisos. Desde os casos da Itália, da Espanha e até da China e dos Estados Unidos, sabe-se que o coronavírus se espalha dos centros das cidades e bairros de maior renda para as periferias. É fácil imaginar que o vírus começou do outro lado do mundo, passou pela Europa e foi trazido para o Brasil por quem tem maior renda e pode viajar de avião para outros países.

É o que os cientistas chamam de “periferização”. O professor do Campus Litoral Norte da UFRGS Guilherme Garcia de Oliveira é doutor em Recursos Hídricos e Saneamento Ambiental. Assim como o professor Ricardo Dagnino trabalha com dados de dispersão do coronavírus.

Ele cuida, entretanto, da compilação e análise dos dados mundiais. Para ele, estudos estão claramente a introduzir mais um fator de dispersão do coronavírus e da covid-19. A falta de saneamento básico indica uma causalidade forte.

No Rio Grande do Sul, bairros onde as pessoas que não dispõem de água corrente em casa para lavar as mãos é menor do que em Manaus e em outros estados do Nordeste. Daí, quem sabe, mais uma variável capaz de explicar o menor volume de casos de coronavírus e covid-19 entre os gaúchos.

“O Rio Grande do Sul está um ou dois meses atrasado. De modo geral, ainda não chegamos no pico. Não é apenas a questão do intercâmbio de pessoas. As condições de saneamento básico são uma evidência”, acrescenta o professor Guilherme.

Segundo ele, fatores sociais como a dificuldade de as pessoas fazerem isolamento no Brasil, ficar em ambientes fechados e, quem sabe, o frio a partir de junho, podem significar algum surto da covid-19 nas próximas semanas ou meses em estados mais ao Sul, como é o caso do RS, Santa Catarina e o Paraná.

“Percebemos que em São Paulo o número de casos e de mortes tem subido menos nas últimas semanas. Pode ser que estejamos caminhando para o pico. Mas não se pode dizer que é uma tendência com base em dados de um dia para o outro. É preciso analisar dados semanais no mínimo porque os dados diários são muito voláteis. No Brasil, não começamos uma quarentena de verdade. Tivemos quarentena parcial que está falhando. É uma tendência o vírus se espalhar pelo estado (RS)”, salienta.

Os números podem ser uma armadilha

Ricardo Dagnino, professor da UFRGS, chama a atenção, no entanto, para as respostas precárias que os números podem oferecer. Ele é demógrafo e fala da importância da mobilidade como fator de dispersão do coronavírus e da covid-19.

Morador de Osório (RS), Dagnino conta que uma fábrica de calçados de sua cidade não parou de produzir. E o mais preocupante. Muitos dos trabalhadores que diariamente montam calçados nas esteiras desta grande empresa vêm de lugares distantes.

“Esse distanciamento não existe. É para quem tem condições de se distanciar”, reforça Dagnino

O professor alerta para outra questão. Como os números da Covid-19 são totalizados? Dagnino conta que os números são fechados nos municípios pelas secretarias de saúde locais, repassados para os estados, que, por sua vez, repassa-os à instância federal, o Ministério da Saúde.

O caminho é longo e tem ainda fatores que tornam os dados ainda mais imprecisos. Por exemplo, nos fins de semana, os municípios não costumam manter servidores públicos de plantão para compilar as informações. O efeito, segundo Dagnino, é não se poder confiar nos dados publicados “nas segundas e terças-feiras”.

Ele alerta que toda política pública de combate à pandemia depende da sensibilidade dos governantes. “Enquanto os três filhos mais importantes do país não forem contaminados e ficarem doentes, o presidente não vai parar de ficar mandando a vida voltar ao normal”, salientou.

Fonte: BdF Rio Grande do Sul -Edição: Katia Marko e Raquel Júnia -

15 junho 2020

No RS, 43 Comarcas afetadas por bandeira vermelha deverão permanecer em sistema remoto


A Secretaria da Saúde do RS divulgou nesse sábado (13/6) que quatro regiões do Estado - Caxias do Sul, Santo Ângelo, Santa Maria e Uruguaiana - passaram da situação de bandeira laranja para vermelha, segundo cálculo do modelo de Distanciamento Controlado (https://distanciamentocontrolado.rs.gov.br/), que define o grau de risco à saúde diante da epidemia do novo coronavírus.
A alteração, que passa a valer a partir da próxima segunda-feira (15) e com vigência por duas semanas, afeta as sedes de 43 das 165 Comarcas do Judiciário gaúcho, onde deverá ser mantido o Sistema Diferenciado de Atendimento de Urgência, com preferência ao atendimento remoto, e a suspensão dos prazos dos processos físicos. A disposição consta do Ato nº 22/2020-CGJ.
A observância na mudança das bandeiras classificatórias consta de ato (leia: bit.ly/3fkwYpO) conjunto assinado pela 1ª Vice-Presidência do Tribunal de Justiça e Corregedoria-Geral da Justiça, após o estabelecimento do plano de retorno gradual às atividades presenciais no Poder Judiciário.
A retomada das atividades forenses e no TJRS terá começo, exclusivamente, através de expediente interno, entre 15 e 28 de junho, com rodízio de equipes. Já o atendimento presencial aos operadores do Direito terá seu recomeço no dia 29/6. Detalhes aqui: bit.ly/2UgcbvB.
Confira a listagem das Comarcas que deverão manter o sistema de Sistema Diferenciado de Atendimento de Urgência a partir da próxima semana, de acordo com a Corregedoria-Geral da Justiça:
1. Agudo
2. Alegrete
3. Antônio Prado
4. Bento Gonçalves
5. Bom Jesus
6. Cacequi
7. Canela
8. Carlos Barbosa
9. Caxias do Sul
10. Cerro Largo
11. Farroupilha
12. Faxinal do soturno
13. Feliz
14. Flores da Cunha
15. Garibaldi
16. Gramado
17. Guaporé
18. Guarani das Missões
19. Itaqui
20. Jaguari
21. Julio de Castilhos
22. Nova Prata
23. Nova Petrópolis
24. Porto Xavier
25. Quaraí
26. Restinga Seca
27. Rosário do Sul
28. Santa Maria
29. Santana do Livramento
30. Santiago
31. Santo Ângelo
32. Santo Antônio das Missões
33. São Borja
34. São Francisco de Assis
35. São Gabriel
36. São Luiz Gonzaga
37. São Marcos
38. São Pedro do Sul
39. São Sepé
40. São Vicente do Sul
41. Uruguaiana
42. Vacaria e
43. Veranópolis


(Edição final e grifos este Blog)

O 'deus capital' quer flexibilização...

14 junho 2020

Ato reúne milhares de manifestantes antirracistas e antifascistas em Porto Alegre/RS

Cartazes com mensagens "Vidas negras importam" e "Fora Bolsonaro" se espalhavam na multidão.

Manifestantes saíram do Parque da Redação em caminhada até o Largo Zumbi dos Palmares neste domingo 

Por Felipe Samuel, no Correio do Povo*

Milhares de manifestantes ocuparam as vias de Porto Alegre, neste domingo, em protesto antirracista, antifascista e contra o presidente Jair Bolsonaro. Cartazes com mensagens "Vidas negras importam" e "Fora Bolsonaro" se espalhavam na multidão. A mobilização teve início no Parque da Redenção, no Bom Fim, de onde os ativistas saíram em caminhada até o Largo Zumbi dos Palmares, no Centro Histórico. Houve reforço do policiamento na região, mas o protesto se encerrou de forma pacífica.
Uma das organizadoras do protesto, Tamyres Filgueira criticou o que considera falta de "políticas eficientes" do governo Bolsonaro para a população negra. "Brasil vem sendo negligente nesse sentido, o estado há anos vem aplicando políticas racistas que determinam o genocídio da população negra", afirmou. Tamyres reforçou que muitos bairros periféricos da cidade sofrem com falta de saneamento básico justamente em meio à pandemia do novo coronavírus.
Ela lembra que a população carente muitas vezes enfrenta dificuldades para acessar ajuda emergencial oferecida pelo governo. "Grande parte não tem acesso digital. Isso já exclui grande parte dos trabalhadores e trabalhadoras que não têm nem sequer como pedir esse recurso", observou. Mesmo sem local definido, o grupo promete nova mobilização no próximo domingo.

Explosão social é toureada pela iniquidade crítica de uma geração covarde

"O mundo quer explodir. O fracasso do sistema capitalista chega a ser chocante de tão óbvio. A precarização do debate público em torno desse tema também choca pela inépcia dos debatedores, com suas carteiradas travestidas de títulos acadêmicos de cativeiro", diz o linguista e jornalista Gustavo Conde, acerca do impasse social gerado pelos nichos de poder
Protestos EUA
Protestos EUA (Foto: Reprodução)

Por Gustavo Conde*
E a explosão social continua  sendo adiada. Aliás, é para isso que consiste a atividade jornalística e o debate público: para adiar explosões sociais - para adiar a verdade, para adiar o povo, para adiar a democracia.
A ‘democracia’ defendida por jornais e por “intelectuais orgânicos” é uma democracia conceitual, de gabinete, bonita, limpinha e cheirosa. Eles têm pânico da democracia real de Lula e do PT. Eles têm pânico de partidos políticos que têm democracia interna e que funcionam bem quando governam - sabem gerar riqueza, emprego, soberania, autoestima e igualdade social.
O mundo quer explodir. O fracasso do sistema capitalista chega a ser chocante de tão óbvio. A precarização do debate público em torno desse tema também choca pela inépcia dos debatedores, com suas carteiradas travestidas de títulos acadêmicos de cativeiro.
O coronavírus é uma espécie de recado a essa overdose de acovardamento. E - pasmem - ele disparou mais uma rodada de covardia nos arautos do pensamento representados por especialistas, economistas, sociólogos e toda a sorte de pessoas brancas bem educadas com pós graduação que, é claro, entendem do que falam.
Pessoas que não saem de casa ‘respeitando a quarentena’ mas que pedem tudo pelo telefone e internet expondo entregadores. Não é óbvio que isso é mais uma faceta temerária da desigualdade sanitária que nos envergonha?
Um pouco antes de o coronavírus aparecer na província de Wuhan, na China, o mundo via as maiores manifestações anticapitalistas da história. Chile, Colômbia, Bolívia, Equador e França eram a comissão de frente. A América Latina estava em combustão. Governos sofriam para produzir uma resposta democrática à altura.
O mundo estava prestes a explodir e o coronavírus freou o processo de maneira brusca.
Chega a ser tentador pensar que a deflagração do contágio viral foi “providencial”, como de fato foi. Ao contrário do que se pensa, o coronavírus salvou o capitalismo, pelo menos nesse primeiro momento da pandemia.
E cá entre nós: capitalistas dão uma sorte danada. Milhões de pessoas nas ruas do mundo todo e uma pandemia vem para dar cabo do ímpeto popular. Pura sorte - até porque sabemos que os operadores subterrâneos do capitalismo jamais iriam cometer o abuso de produzir um mutação de vírus em laboratório para colocar “ordem na casa”. Eles são éticos.
Mas esse debate, como sabemos, é interditado. Para isso foi criada a expressão “teoria da conspiração”, para que você não mexa em assuntos reservados (muita gente não sabe que uma mera expressão - seguida de suas derivações discursivo-semânticas - tem o poder de bloquear certos debates públicos).
Carimbe-se a tarja “teoria da conspiração”, e o assunto morre antes de nascer - e ele toma de arrasto toda a prática jornalística, hipersensível que ela é ao sentimento de ridículo e às institucionalidades temáticas (diga apenas o que se pode dizer).
Fato é que o mundo está para explodir faz tempo e as cenas jornalística, intelectual, digital e viral vão adiando ao máximo essa deflagração.
A explosão antirracista nos EUA não é fato isolado. Ela responde ao fracasso do capitalismo como todas as suas antecessoras latino-americanas.
Afinal de contas, esse mundo vai explodir ou não?
A resposta é: se depender o povo, sim. Se depender das elites, é claro que não.
Povo na rua é bom para as elites só quando o governo é uma democracia real e popular. Tome-se as jornadas de 2013. Foram maravilhosas para elite brasileira. Foi esse movimento que nos trouxe até aqui, os 20 centavos mais caros da história da humanidade.
O que me aflige, de fato, como linguista, é ver a inépcia do debate público, da cobertura jornalística, do delay gigantesco entre o que ocorre no mundo e seus desdobramentos na dimensão simbólica e crítica.
Tome-se o Brasil, por exemplo. Discute-se se o governo vai dar o golpe ou não, se os militares são golpistas ou não. Discute-se se se deve assinar um documento nomeado por “Estamos Juntos” para combater o fascismo (fascismo?). Discute-se se a derrubada de monumentos ao genocídio procede ou não, se a abertura do comércio deve acontecer ou não (mesmo com o crescimento do contágio viral e das mortes).
Que debate público é esse? Só pode ser uma piada.
Mas não é.
O nome disso nem é diversionismo. ‘Diversionismo’ seria um elogio a essa monumentalidade ao status quo.
Trata-se, de fato, de efeito-manada. Quem se comporta como gado no Brasil não são os apoiadores de Bolsonaro: são os intelectuais com “formação superior” que aproveitam a oportunidade para se promoverem a si próprios enquanto o povo trabalhador morre de fome e de vírus.
Tome-se as milhares de lives em nome da ponderação e do equilíbrio que proliferam como vírus nas redes sociais já institucionalizadas, mundinho digital afora.
Você, caro leitor, pode morrer isolado no quarto de um hospital - com o celular em punho e sem ar nos pulmões - assistindo um analista de grife lhe pedir equilíbrio e ponderação numa simpática live que possivelmente será sua última lembrança deste mundo cruel e capitalista.
O debate público brasileiro institucionalizado é uma boiada de palavras e teses que pastoreiam todas as reses para o curral do bom comportamento: pedem equilíbrio e ponderação o tempo todo e evitam o disseminar o pânico - afinal de contas, para que serve o pânico, senão para desencadear a revolta da população?
Jornalismo alarmista só quando o povo soberano está no poder. É uma equação tão simples de formular, que resta até chocante (tudo que é óbvio demais é chocante).
Portanto, nós temos que combater um vírus, um genocida e um debate público gerenciado pela burocracia do pensamento, o grande anteparo que protege a aceleração das mortes e a manutenção do poder por militares assassinos.
Esse debate está “querendo” um golpe militar no Brasil. Ele pede, encarecidamente, que se dê logo um golpe militar para que se inicie o sempre tentador processo de vitimização de toda a sociedade, como em nossa ditadura genocida. Aí, teremos uma frente ampla.
Ignoram-se todas as táticas retóricas, toda a possibilidade de se construir uma soberania intelectual de fato no debate público e agir na esfera dos pressupostos, não na superfície do posto, nessa inocência tacanha de achar que se noticia ou se problematiza uma crise entre poderes aceitando a premissa do poder espúrio de militares velhos, brancos e assassinos.
Somos gado enquanto gente e somos gado enquanto discurso.
Ou melhor: não somos gado.
Porque quando o gado é acometido com febre aftosa, por exemplo, imediatamente se providencia a vacinação em massa e os cuidados sanitários para a que a população bovina possa ser abatida com toda a segurança e princípios éticos.
A carne humana vale muito pouco nesse mundo capitalista regado à hipocrisia do jornalismo institucional e de intelectuais de contenção.
*Linguista - via Brasil247

13 junho 2020

Hang pode ser o responsável pela queda de Bolsonaro e Mourão

Suspeitas sobre dono da Havan justificam compartilhamento de provas do inquérito das fake news com ação que pode cassar chapa do presidente
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(FOTO: reprodução redes sociais)
No Estadão - Para o corregedor-geral da Justiça Eleitoral, ministro Og Fernandes, o elo entre o inquérito das fake news, que corre no Supremo Tribunal Federal, e as ações que pedem a cassação da chapa do presidente Jair Bolsonaro e seu vice Hamilton Mourão, em tramitação no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), é o empresário Luciano Hang.
O dono da rede de lojas de departamento Havan é suspeito de financiar o impulsionamento virtual de materiais contendo notícias falsas e ofensas contra as instituições democráticas, incluindo o próprio STF. A pedido do ministro Alexandre de Moraes, relator no inquérito das fake news, o empresário teve celular e documentos apreendidos, além dos sigilos fiscal e bancário quebrados no período que vai julho de 2018 a abril de 2020 – intervalo que inclui a última campanha eleitoral.
Na sexta, 12, contrariando o Planalto, Og Fernandes admitiu que os dados obtidos nas diligências contra Hang, assim como as demais provas colhidas no âmbito inquérito das fake news, sejam compartilhados com as ações de investigação judicial eleitoral que pedem a cassação da chapa presidencial vitoriosa nas eleições de 2018.
(...)
Leia aqui o documento. (Via Conversa Afiada)

12 junho 2020

Central de Movimentos Populares convoca novo ato pela democracia e contra Bolsonaro no domingo

"Sabemos da importância de seguir com a política de isolamento social. Mas é também fundamental, neste momento, sair às ruas pelo fim do governo Bolsonaro, sua política autoritária, genocida e racista", afirma Raimundo Bonfim, coordenador nacional da CMP

Ato antifascista na Avenida Paulista | Foto: Divulgação/Bancada Ativista

Da Redação da Revista Fórum: A Central de Movimentos Populares (CMP) está convocando uma nova manifestação neste domingo (14) pelo fim do governo Jair Bolsonaro, contra o racismo, o fascismo e por direitos. A concentração será a partir das 14h em frente ao Museu de Artes de São Paulo (Masp), na avenida Paulista.
“Nós, da CMP, sabemos da importância de seguir com a política de isolamento social. Mas é também fundamental, neste momento, sair às ruas pelo fim do governo Bolsonaro, sua política autoritária, genocida e racista”, afirma Raimundo Bonfim, coordenador nacional da CMP.
A central orienta que apenas as pessoas fora dos grupos de risco participem da manifestação e que todos usem máscaras de proteção, levem álcool em gel e mantenham distância de 1,5 metros uns dos outros.
Desde o domingo passado, a CMP decidiu convocar e participar das manifestações contra o fascismo e em defesa da democracia, por direitos, que têm levado milhares de pessoas às ruas.

Coluna C&A - nº 193



Coluna Crítica & Autocrítica - nº 193

Por Júlio Garcia**

*A propósito da recente manifestação do Presidente Lula em relação aos cuidados que o PT, demais partidos [setores, articulações e movimentos...] de esquerda, democráticos e antifascistas devem ter sobre assinar (ou não) os vários ‘manifestos’ que estão surgindo, gostaria de registrar que tenho concordância com suas preocupações - que são oportunas, corretas e justas.

*Dentre outras coisas, disse Lula: “Direitos dos trabalhadores foram retirados desde o golpe contra Dilma Rousseff em 2016, mas não são mencionados nos manifestos dos que se organizam para defender a democracia e que, ao formar um frentão [contra Bolsonaro e os fascistas], o PT não pode esquecer da trama da Globo com Moro e do golpe contra a presidenta Dilma Rousseff”. Sobre isso, o jornalista Paulo Moreira Leite escreveu no site Jornalistas Pela Democracia (repostado por este Colunista no Blog do Júlio Garcia). Leiam a seguir:

“O reconhecimento de que os assalariados têm interesses econômicos e políticos próprios, distintos do empresariado e dos setores médios, sempre contribuiu para a conquista de melhores condições de existência dos trabalhadores e das camadas subalternas.

Muitos daqueles direitos que até pareciam garantidos para sempre, como salários compatíveis com o custo de vida, aposentadoria e assistência médica, jamais foram entregues espontaneamente por empresários altruístas, mas conquistados em processos de luta e reivindicação.

Hoje, no capitalismo do século XXI, vivemos um processo na direção inversa, a uberização -- esforço especialmente selvagem de regressão social. Como sabemos, no Brasil esse ataque a direitos tradicionais ganhou velocidade a partir do golpe de 2016, recebendo impulso ainda maior no governo Bolsonaro-Guedes.

Mesmo considerando possíveis mudanças na esfera política no próximo período, num processo cujo percurso ainda não é possível vislumbrar como será, nada indica que a guinada socialmente regressiva do bolsonarismo será interrompida automaticamente -- a menos que a parte mais prejudicada esteja organizada e preparada para ir atrás de um indispensável ajuste de contas.

E aqui se enxerga o papel de Lula, sua recusa em entrar "no primeiro ônibus que aparece".

Numa grande síntese: as mesmas forças políticas que em 1984 estiveram no palanque da campanha pelas diretas-já, ajudando a enterrar o regime militar, ressurgiram de casaca virada em 2016 para votar a favor do impeachment de Dilma Rousseff, no golpe parlamentar que abriu as portas para o bolsonarismo e sua sombra, uma ditadura.

Como farsa, como tragédia, é bom ser cuidadoso. A experiência brasileira ensina que a história costuma repetir-se com frequência indesejável. Alguma dúvida?”
...
*Covid-19: os números oficiais mascaram a realidade: Estimasse que no Brasil ajam mais de 5 milhões de pessoas com o vírus – e o número de mortos é pelo menos 10 vezes maior do que o anunciado. Desnecessário falar aqui sobre a política genocida de Bolsonaro em relação a pandemia. Porém, focando somente no RS, em que pese algumas iniciativas corretas adotadas inicialmente, o posterior afrouxamento em relação ao isolamento/distanciamento social, com a abertura quase indiscrimada do comércio, fábricas, serviços etc. adotado no RS pelo governo Leite, bem como na maioria das cidades (Santiago inclusa) é deveras preocupante... Hora das autoridades (estaduais e municipais) reverem essa exagerada ‘flexibilização’ ... enquanto é tempo!
...

*Por fim, um registro (mais do que necessário!): -Somos antifascistas e antirracistas! #Somos a maioria do povo brasileiro! #Resistiremos e #Venceremos! 
... 
**Júlio César Schmitt Garcia é Advogado, Pós-Graduado em Direito do Estado, Consultor, dirigente político (PT) e Midioativista. Foi um dos fundadores do PT e da CUT. - Publicado originalmente no Jornal A Folha (do qual é Colunista) em 05/06/2020. -Foto: Esquerda Diário

10 junho 2020

NÚMEROS ALARMANTES: Covid-19 já matou 39.680 mil pessoas no Brasil; foram 1.274 mortes no último dia

Com mais de 770 mil infectados, o país hoje está em terceiro lugar entre os que mais têm casos fatais da doença
Imagem eletrônica de célula fortemente infectada com partículas do vírus SARS-COV-2, isolada de uma amostra de paciente. - NIAID Integrated Research Facility (IRF) em Fort Detrick, Maryland/ Fotos Públicas
Por Nara Lacerda* 
Nesta quarta-feira, as secretarias de saúde dos estados, divulgaram que o registro de mortes por causa da pandemia do coronavírus no Brasil alcançou 39.680. Somente nas 24 horas entre 09/06 e 10/06 foram 1.274 novas confirmações de óbitos. Pelo segundo dia consecutivo mesta semana, o número está acima de mil registros diários. 
Com avanço cada vez mais intensificado da pandemia, o Brasil já ultrapassou quase todos os países europeus que estão na lista de nações que mais registraram mortes pela doença e passaram por situações dramáticas nos últimos meses. O país hoje está em terceiro lugar entre os que mais têm casos fatais da doença, muito próximo do Reino Unido, que atualmente contabiliza 41.213 óbitos. Nos Estados Unidos já são mais de 112 mil casos mortes.
Ainda de acordo com os dados apresentados pelas Secretarias de Saúde, o número de infectados pela doença no Brasil chega a 772.416. Entre terça (9) e quarta-feira (10) os novos registros chegaram a 32.913. O índice de letalidade da doença no país é de 5,1%. 
Testes clínicos para vacina no Brasil
O Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos da Fundação Oswaldo Cruz (Bio-Manguinhos/Fiocruz) divulgou que projeto brasileiro para o desenvolvimento de uma vacina entrou em fase de testes clínicos.  Segundo a instituição, as pesquisas têm foco na forma sintética da vacina, que é mais rápida, tem custo reduzido de produção e apresenta mais estabilidade para armazenagem.
Mesmo que os resultados sejam positivos, a Bio-Manguinhos/Fiocruz ressalta que a vacina nacional não deve ser registrada antes de 2022. A instituição foi  indicada pelo Ministério da Saúde como a instituição com capacidade de avaliar as tecnologias e estabelecer parcerias com os principais desenvolvedores mundiais, com foco não só no desenvolvimento e na produção, mas também na distribuição pelo Sistema Único de Saúde (SUS). 
O que é coronavírus
É uma extensa família de vírus causadores de doenças tanto em animais como em humanos. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), em humanos, os vários tipos de vírus podem provocar infecções respiratórias que vão de resfriados comuns, como a síndrome respiratório do Oriente Médio (MERS), a crises mais graves, como a síndrome respiratória aguda severa (SRAS). O coronavírus descoberto mais recentemente causa a doença covid-19.
Como ajudar quem precisa?
A campanha “Vamos precisar de todo mundo” é uma ação de solidariedade articulada pela Frente Brasil Popular e pela Frente Povo Sem Medo. A plataforma foi criada para ajudar pessoas impactadas pela pandemia da covid-19. De acordo com os organizadores, o objetivo é dar visibilidade e fortalecer as iniciativas populares de cooperação. 

Edição: Rodrigo Chagas