05 junho 2022
04 junho 2022
A aliança lucrativa do agro, sertanejo e direita dá as caras de novo
Desde Collor, sertanejos estão lado a lado com políticos de direita. Agora se sentaram no colo da extrema direita.
Ilustração: Amanda Jungles/The Intercept Brasil
NÃO É DE HOJE que artistas sertanejos estão associadas com os políticos de direita. No início da década de 90, durante o governo Collor e o boom da música sertaneja nas rádios, cantores sertanejos eram vistos com frequência na Casa da Dinda, residência oficial do então presidente Fernando Collor em Brasília. Só em 1992, o programa Sabadão Sertanejo, apresentado por Gugu Liberato no SBT, levou os nomes mais badalados do sertanejo para fazer uma roda de sertanejo no quintal da Casa da Dinda em duas oportunidades.
Naquele ano, diversos escândalos de corrupção envolvendo Collor pipocavam no noticiário e o colocavam nas cordas. A cena sertaneja se mobilizou para demonstrar apoio ao presidente que teria o mandato cassado meses depois (Collor renunciou antes do impeachment). Não é de hoje, portanto, que o grosso dos artistas sertanejos apoia a direita.
É uma relação simbiótica que vem sendo construída há décadas entre sertanejos, agronegócio e políticos da direita, um consórcio em que todos saem ganhando. Agora, com o agronegócio sentado no colo da extrema direita golpista e negacionista, a cena sertaneja se sentou também. E está faturando horrores vendendo shows para cidades administradas por prefeitos ligados ao bolsonarismo.
O esquemão bolsonejo veio à tona depois que o cantor Zé Neto, da dupla Zé Neto e Cristiano, aproveitou um dos seus shows para fazer uma patrulha moral sobre uma tatuagem feita por Anitta em uma parte íntima. Ele disse no palco para milhares de pessoas que não depende da Lei Rouanet para fazer shows, insinuando que a artista, uma feroz crítica ao bolsonarismo, dependeria.
Ocorre que a Lei Rouanet até pouco tempo atrás determinava um limite de R$ 45 mil para o cachê de um artista. Hoje, esse limite caiu para R$ 3 mil. No show em que usou o microfone para bancar o bedel do bolsonarismo, Zé Neto e Cristiano faturaram R$ 400 mil dos cofres públicos. O show foi feito na Exposorriso, uma feira agropecuária anual com leilões, shows e rodeios de Sorriso, Mato Grosso. A cidade mato-grossense é administrada por um prefeito tucano que é bolsonarista ferrenho. Tão bolsonarista que contrariou orientação do PSDB e anunciou apoio à reeleição de Bolsonaro.
A hipocrisia de Zé Neto ficou exposta e foi o estopim para que se passasse um pente fino em todas as contratações de shows de cantores sertanejos feitas com dinheiro público. Reportagens com levantamento de gastos indecentes das prefeituras com shows fez a “CPI do Sertanejo” virar um dos assuntos mais comentados nas redes sociais.
As investigações só estão começando e, por enquanto, nada de ilegal foi encontrado no esquemão bolsonejo. A coisa ainda está apenas no campo da imoralidade. O Ministério Público de diversos estados já está investigando a farra sertaneja com verbas públicas.
Um dos casos mais emblemáticos é o de Teolândia, Bahia, cidade com 14 mil habitantes, recentemente arrasada pelas enchentes. Apesar não ter grana para pagar o salário mínimo dos professores e socorrer às vítimas de enchentes, a prefeita bolsonarista decidiu torrar R$ 1,2 milhão dos cofres municipais para bancar artistas sertanejos. Só Gusttavo Lima receberá R$ 704 mil.
Segundo a prefeita do Progressistas, conhecer o artista era um sonho pessoal. Há poucos meses, essa mesma prefeita pediu para que a população mandasse PIX para a conta da prefeitura para ajudar os desabrigados pelas fortes chuvas que atingiram a cidade no começo do ano.
‘Enquanto ele ostenta carrões, mansões, iate e fazendas, o povo pobre dessas cidades sofre com serviços públicos precários’.
Gusttavo Lima é um caso à parte. O sertanejo mais famoso da cena é o que mais recebe verbas públicas para fazer shows em cidades do interior. É também o mais bolsonarista. Assim como Teolândia, diversas cidades com baixo orçamento pagaram cachês gordos para o cantor milionário. Enquanto ele ostenta carrões, mansões e fazendas, o povo pobre dessas cidades sofre com serviços públicos precários. O cantor cobrou R$ 800 mil da cidade de São Luiz, que tem o segundo pior PIB de Roraima. Já a cidade de Conceição de Mato Dentro, Minas Gerais, que tem pouco mais de 17 mil habitantes, iria desembolsar R$ 1,2 milhão para contratar o cantor. (...)
CLIQUE AQUI para ler, na íntegra, a postagem de João Filho no site The Intercept Brasil
02 junho 2022
Lula faz apelo pela unidade da esquerda no RS: ‘É o mínimo que esperam de nós’
O primeiro grande evento da pré-campanha do ex-presidente Lula no Rio Grande de Sul teve, como mote oficial, a defesa da soberania nacional. Mas, o que se viu no palco do Pepsi On Stage, em Porto Alegre, foi um forte apelo público do ex-presidente à unidade dos partidos de esquerda na disputa pelo governo do Rio Grande do Sul e uma possível sinalização de que há caminhos para um acordo, ao menos envolvendo PT, PSOL e PCdoB.
Lula iniciou sua fala lembrando que fazia tempo que não vinha a Porto Alegre, o que não ocorria desde 2018, e lamentou não poder ter feito um ato público na Rua da Praia porque poderia ser considerado como campanha eleitoral. Em seguida, contudo, fez uma enfática defesa da unidade de partidos de esquerda não apenas na campanha nacional, que reúne, além do PT, PSB, PCdoB, PV, PSOL, Rede e Solidariedade.
No RS, apenas PT, PCdoB e PV, que compõem uma federação de alcance nacional, estão unidos até o momento. Antes do evento, Lula já tinha participado de uma reunião com lideranças destes sete partidos no RS, mas que não resultou em avanço concreto. “Eu queria fazer um apelo, um apelo de alguém que aprendeu a fazer política negociando”, disse.
O ex-presidente afirmou que é natural que cada partido queira lançar um candidato próprio, mas ponderou que “não custa nada” as lideranças partidárias se sentarem para negociar mais uma vez. “Não custa nada conversarem um pouco mais e darem de presente a esse povo a unidade para derrotar o Bolsonaro. É o mínimo que esperam de nós”, afirmou.
Enquanto Lula falava, Edegar Pretto e Pedro Ruas, os pré-candidatos de PT e PSOL, respectivamente, ao governo do Estado, juntaram-se no palco para conversar com Manuela D’Ávila (PCdoB), que recentemente anunciou que não iria concorrer ao Senado, citando entre os motivos a dificuldade de construção de uma unidade partidária. E, num sinal ainda mais claro de que uma unidade ainda poderia ser construída, Pretto e Ruas terminaram o evento se dirigindo à frente do palco e, de mãos dadas, erguendo os braços ao lado de correligionários dos três partidos. (...)
CLIQUE AQUI para continuar lendo (na íntegra) a postagem de Luís Gomes no site Sul21.
29 maio 2022
"O Brasil naturalizou a barbárie"
“Essa cena não dura uma semana na mente das pessoas e será substituída por outra”, lamenta o cartunista sobre ação da PRF que matou um homem em uma “câmara de gás”17

247* - Em entrevista à TV 247, o cartunista e ativista político Carlos Latuff criticou a ação da Polícia Rodoviária Federal (PRF), em Sergipe, que matou um homem de 38 anos em uma “câmara de gás” improvisada dentro de uma viatura da PRF: “naturalizamos a barbárie”.
“Apesar de estar lidando com essas questões há muito tempo, às vezes eu me surpreendo com esse tipo de requinte nazifacista”, afirmou.
O cartunista lamentou que apesar dos absurdos, cenas como esta da PRF asfixiando Genivaldo Alves de Jesus, além de casos como as chacinas do Jacarezinho e da Vila Cruzeiro, serão, infelizmente, esquecidas.
“Essa cena não dura uma semana na mente das pessoas e será substituída por outra. Vai se superando em barbarismo. Antigamente essas cenas, vídeos, serviam para mobilizar, indignar, mas o Brasil naturalizou a barbárie”, pontuou.
Latuff destacou que a relação de extermínio da polícia com os moradores das favelas não é característica apenas do governo Bolsonaro - que legitima essa ações -, mas perpassa todos os governos. “Em uma sociedade que tivesse instituições que funcionassem, esse tipo de coisa jamais iria se repetir por que isso é de um barbarismo, que também não é novidade”, destacou.
O cartunista complementa lembrando que o argumento utilizado pela polícia ao longo dos governos é sempre o mesmo para justificar a violência do Estado nas favelas: “esse é um caso isolado. Se houve excesso por parte das forças policiais deverá ser apurado e os responsáveis afastados para responder na lei”.
“E assim as chacinas e as barbaridades vão se sucedendo e a memória das pessoas vai apagando, e daqui a pouco já não se fala mais das chacinas”, finalizou.
24 maio 2022
Bob Dylan - Hurricane
DE JUSTICEIRO A INVESTIGADO - Moro réu: Perdeu a utilidade e terá dias difíceis, diz advogado; O rei está nu, afirma deputado
Wadih Damous analisa notícia de que Moro se tornou réu por prejuízos causados à Petrobras; José Guimarães, um dos autores da ação, detalha danos impostos pela Lava Jato
Por Ivan Longo*
"O rei está nu". Assim o deputado federal José Guimarães (PT-CE) classifica a atual situação do ex-juiz Sergio Moro (União Brasil). Menos de um mês após ter sua parcialidade e suspeição atestada pelo Comitê de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU) nos processos conduzidos contra Lula (PT), o ex-chefe da operação Lava Jato virou réu em uma ação popular que o acusa de prejuízos financeiros, políticos e morais ao patrimônio público nacional, em especial à Petrobras.
A ação, protocolada em abril por parlamentares do PT, foi aceita pelo juiz Charles Renaud Frazão de Morais, da 2ª Vara Federal Cível de Brasília, nesta terça-feira (24). Os petistas pedem reparação, por parte do ex-juiz, por prejuízos à economia brasileira causados pelo desmonte da Petrobras imposto pela operação Lava Jato.
Em entrevista à Fórum, José Guimarães, um dos autores da ação, detalhou esses prejuízos. "Foram mais de 4,4 milhões de empregos perdidos, mais de 172 bilhões que deixaram de ser investidos na economia brasileira. Mais de 85 bilhões em prejuízos de massa salarial, mais de 47 bilhões que o Estado deixou de receber de imposto. E teve grande impacto em mais de 3,6% do PIB brasileiro", afirma.
Os dados citados por Guimarães constam em um estudo elaborado pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), em parceria com a Central Única dos Trabalhadores (CUT), divulgado em março de 2021. Confira a íntegra do levantamento aqui.
Entre outros números, o estudo aponta que a Lava Jato afetou ainda os setores envolvidos diretamente (petróleo e gás e construção civil) e também uma gama importante de outros segmentos (devido aos impactos indiretos e ao efeito renda); em resumo: a operação teve impacto político e também no desenvolvimento de setores econômicos estratégicos para o país.
"Essa operação tinha dois objetivos. Primeiro, construir um projeto de poder. Segundo, perseguir o Lula e o PT. A ação popular [pela qual Moro se tornou réu] tem o objetivo de trazer a verdade dos prejuízos que a Lava Jato causou e ao mesmo tempo pedir punição daqueles que comandaram isso. E essa verdade o Brasil precisa conhecer porque foi dita tanta mentira contra nós, o PT e Lula, que agora o rei está nu", atesta Guimarães.
O parlamentar, ao comentar os danos causados pela operação de Curitiba, ainda a relaciona diretamente com a alta dos preços dos combustíveis e a eleição de Jair Bolsonaro (PL). "Para completar, como eles dolarizaram o preço do barril de petróleo, todos os custos estão sendo passados para o consumidor. Tudo isso foi causado por eles quando iniciaram a Lava Jato, porque era, em última instância, um projeto de poder. Foram eles os responsáveis pela eleição de Bolsonaro", pontua.
"Perdeu a utilidade"
Em conversa com a Fórum, o advogado Wadih Damous, ex-deputado federal e ex-presidente da Ordem dos Advogados do Brasil no Rio de Janeiro (OAB-RJ), afirma que o fato de Moro se tornar réu no âmbito da ação popular mostra que o ex-juiz, assim como outros membros da Lava Jato, como o ex-procurador Deltan Dallagnol, estão sendo "descartados" depois de terem feito "o trabalho sujo".
"Sempre disse, no curso do mandato parlamentar, que chegaria o dia em que Moro, Dallagnol e toda a gangue de Curitiba seriam descartados, por já terem cumprido sua missão, feito o trabalho sujo de quebra da economia, de abertura do mercado da engenharia nacional sendo substituída por empresas estrangeiras, a desmoralização da Petrobras, enfim, todos esses crimes que essa turma praticou. Então, quando isso fosse consumado, como de fato foi, eles perderiam a utilidade. E perderam", diz.
Segundo Damous, o sistema de Justiça brasileiro, apesar de agir com "cinismo", deve fazer com que Moro responda pelos supostos crimes. O advogado aposta que, se a ação em questão fosse apresentada "há 3 ou 4 anos, seria arquivada de plano".
"Mas como os torturadores da ditadura, depois do serviço feito ninguém quer chegar perto. Eles [ex-membros da operação Lava Jato] terão dias difíceis daqui para frente, sem sobra de dúvidas", sentencia.
Presunção de inocência
Marco Aurélio Carvalho, advogado do Grupo Prerrogativas e que assina a ação contra Moro movida por deputados do PT, afirma que, diferente do que foi observado com Lula, o ex-juiz terá assegurado o direito à presunção de inocência.
"Moro é um dos grandes responsáveis pelo rastro luminoso de destruição e de miséria que o lavajatismo deixou no país. Foram quase 5 milhões de desempregos e aproximadamente R$ 200 bilhões de prejuízos à nossa economia. Precisa, pois, responder pelos atos que praticou na condução da força tarefa de Curitiba. Terá direito à presunção de inocência e ao livre e sagrado exercício do direito de defesa, princípios que nunca respeitou na sua vida profissional. Agora como réu terá a oportunidade de refletir sobre o mal que provocou ao país", afirma.
Em entrevista após a notícia de que Moro virou réu, Lula foi na mesma linha que o advogado. "Eu só espero que nessa acusação contra o ex-juiz Moro, que ele tenha o direito de defesa e a presunção de inocência que eu não tive com ele. Se ele tiver que ser julgado, quero que tenha todo o direito de se defender, que a imprensa seja honesta em divulgar as coisas contra ou a favor dele e não com a parcialidade que tiveram contra mim", declarou.
*Fonte: Revista Fórum - Foto: Lula Marques
23 maio 2022
Cajuína - Caetano Veloso
Torquato Neto - (Três Poemas)
O Poeta é a mãe das Armas
O Poeta é a mãe das armas
& das Artes em geral -
alô poetas: poesia
no país do carnaval;
alô, malucos: poesia
não tem nada a ver com os versos
dessa estação muito fria.
O Poeta é a mãe das Artes
& das armas em geral:
quem não inventa as maneiras
do corte no carnaval
(alô malucos), é traidor
da poesia: não vale nada, lodal.
A poesia é o pai das ar-
timanhas de sempre: quent
ura no forno quente
do lado de cá, no lar
das coisas malditíssimas;
alô poetas: poesia!
poesia poesia poesia poesia!
o poeta não se cuida ao ponto
de não se cuidar: quem for cortar meu cabelo
já sabe: não está cortando nada
além de minha bandeira\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\=
sem aura nem baúra, sem nada mais para contar
isso: ar. ar. ar. ar. ar. ar. ar. ar. ar. ar. ar. ar. ar. ar. a
r : em primeiríssimo , o lugar.
poetemos pois
***
Ai de mim, copacabana
um dia depois do outro
numa casa abandonada
numa avenida
pelas três da madrugada
num barco sem vela aberta
nesse mar
nem mar sem rumo certo
longe de ti
ou bem perto
é indiferente, meu bem
um dia depois do outro
ao teu lado ou sem ninguém
no mês que vem
neste país que me engana
ai de mim, copacabana
ai de mim: quero
voar no concorde
tomar o vento de assalto
numa viagem num salto
(você olha nos meus olhos
e não vê nada -
é assim mesmo
que eu quero ser olhado).
um dia depois do outro
talves no ano passado
é indiferente
minha vida tua vida
meu sonho desesperado
nossos filhos nosso fusca
nossa butique na augusta
o ford galaxie, o medo
de não ter um ford galaxie
o táxi, o bonde a rua
meu amor, é indiferente
minha mãe, teu pai a lua
nesse país que me engana
ai de mim, copacabana
ai de mim, copacabana
ai de mim, copacabana
ai de mim
***
GO BACK
Você me chama
Eu quero ir pro cinema
você reclama
meu coração não contenta
você me ama
mas de repente a madrugada mudou
e certamente
aquele trem já passou
e se passou
passou daqui pra melhor,
foi!
Só quero saber
do que pode dar certo
não tenho tempo a perder
você me pede
quer ir pro cinema
agora é tarde
se nenhuma espécie
de pedido
eu escutar agora
agora é tarde
tempo perdido
mas se você não mora, não morou
é porque não tem ouvido
que agora é tarde
- eu tenho dito -
o nosso amor michou
(que pena) o nosso amor, amor
e eu não estou a fim de ver cinema
(que pena)
Torquato Neto (1971)
21 maio 2022
A cinco meses da eleição, JN leva os brasileiros para Nárnia
Por Eliara Santana*
Abrimos a porta do armário, entramos nele e vamos caminhando por entre casacos, num caminho comprido que desemboca em uma floresta densa, e então caímos numa realidade paralela que não é a realidade do nosso quarto onde estava o armário.
Esse é mais ou menos o começo do filme “Crônicas de Nárnia – o Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupa”.
É um filme ótimo – assim como todos os outros da série – que eu vi com meus filhos e super recomendo.
Mas não estou aqui pra comentar filmes, porque sou péssima nisso. Quero falar sobre a realidade paralela a que somos transportados pelo Jornal Nacional em muitos momentos da vida brasileira, como agora.
Porque essa sensação de abrir o armário e aparecer em Nárnia foi a que eu tive ao sintonizar a TV no JN nestes últimos dias. Me senti sendo levada para aquele lugar mágico (e eu adoraria encontrar o Leão), para uma realidade paralela, onde só existem tartarugas marinhas, roubo de celular, campeonato de kitesurf, futebol americano, guerra lá longe, o frio intenso que leva turistas para a Serra Gaúcha e mobiliza redes de solidariedade etc. etc.
Nessa realidade paralela da Nárnia tupiniquim, não há política, não há economia afundando, não há detalhes da briga intestina do PSDB, não há eleições, não há Jair Bolsonaro confrontando as instituições e a própria democracia a todo o momento, não há discussão sobre a proposta de homeschooling que avança no Congresso, não há terceira via e João Dória.
Em resumo, não há nada que mostre que estamos em um momento de grande tensionamento político, social e econômico.
As edições do JN estão pulverizadas e sem grandes blocos temáticos, como em outros momentos – os grandes temas perdem espaço, e temas periféricos ganham muito destaque.
Um exemplo: na edição de 18/05, uma reportagem de três minutos mostrou vários detalhes sobre a saúde das tartarugas, e outra, de dois minutos, mostrou avanços da Federação Americana de Futebol no pagamento a jogadores.
Editorialmente, é claro que o jornal pode ter uma grade variada, com assuntos diversificados.
Mas o JN não é folhetim, não é Globo Rural nem Globo Repórter. É o telejornal de maior audiência da TV brasileira, assistido ainda por milhões de telespectadores e deve, sim, priorizar os temas da conjuntura nacional, como tão bem fazia em outros momentos e contextos históricos recentes.
Estamos a menos de cinco meses desta que será a eleição mais conturbada desde a redemocratização, e é urgente que os temas políticos, econômicos e sociais sejam colocados em destaque na pauta.
Uma reportagem grande sobre a saúde das tartarugas marinhas – que pode ser feita hoje, amanhã, daqui a um ano – no momento em que o presidente da República dá todos os sinais de que vai tumultuar ao máximo o processo eleitoral (na melhor das hipóteses) e em que a inflação galopante está sem controle não faz sentido algum. Ou faz, quem sabe.
Vamos a alguns pontos das últimas edições:
Política e economia encolhem; violência aumenta
Nas edições, o espaço para os temas de política fica cada vez mais reduzido, e os temas de economia (inflação, desemprego, queda na renda, juros etc.) nem sempre estão na pauta – detalhe: não há ministro que aparece para dizer qualquer coisa – como em Nárnia, não há governo.
Os temas violentos – assaltos, roubos, mortes – ganham mais espaço e mais detalhes, assim como os acidentes de trânsito. A briga do PSDB perde lugar para acidente entre ônibus e caminhão no Mato Grosso.
Notícia é, numa definição bem genérica, algo inédito, que traz “novidade” e tem relevância, é o relato de um fato mais importante ou de maior interesse para o público em geral. Ok.
Mesmo a partir dessa definição técnica e superficial, não se justifica que assuntos como a pesca predatória causando diminuição de tainhas ou o transporte de elefantas entre Brasil e Argentina tenham mais destaque no maior jornal da TV brasileira do que a discussão sobre homeschooling que avança no Congresso ou sobre a disputa cheia de golpes do PSDB, que já foi um dos maiores partidos do Brasil.
Enfim, precisamos estar muito atentos para outros componentes do gênero notícia para além dos meramente técnicos, porque esses últimos não explicam o que ocorre no JN.
Bloco de Internacional tem espaço maior
Os assuntos de outros países passam a ser mais importantes do que discutir todas as questões que temos por aqui.
Além da guerra na Ucrânia – variações sobre um mesmo tema –, há muito destaque para questões bem específicas em outros lugares, exemplos: perda do bebê de Britney Spears, casos de Covid na Coreia, venda de trigo da Índia para outros mercados, fim do inquérito sobre as festas do primeiro-ministro inglês na pandemia e por aí vai.
Vejam: não estou dizendo que temas ou assuntos internacionais não devam estar na grade. Pelo contrário. Mas há uma abordagem excessiva e exagerada em relação a vários temas que nem mereciam estar na pauta e que tomam o lugar dos assuntos que nos interessam de fato.
Além disso, a cobertura é eurocentrada – não há nada sobre América Latina, e quando há é negativo, e a cobertura relativa ao Oriente se dá pelo viés da Covid, como o lockdown na China. Sem considerar que muitas das notícias internacionais (como a perda do bebê pela cantora) deveriam estar no Fantástico e não no JN.
Por fim, nada justifica que a notícia da falta de leite artificial para os bebês norte-americanos tenha destaque por dois dias seguidos no jornal – não faltam assuntos por aqui, vale.
Boletim do Tempo ganha mais tempo
A onda de frio extremo que atinge o sul e o sudeste do país deve estar na pauta sim, é algo inédito mesmo. Mas me parece que a onda de frio foi um bálsamo para o JN escapar dos temas difíceis em política e economia – e a tendência de mais tempo para o Boletim do Tempo não é desta semana apenas.
Quero registrar também que a cobertura do JN até se esforça para mostrar o absurdo da situação dos moradores de rua em São Paulo, destaca as ações de solidariedade, mas não problematiza minimamente a ausência do Estado, do Poder Público – nenhuma autoridade é ouvida, é como se o problema fosse somente o frio extremo.
Não se mostra que o presidente afronta a democracia
É bastante claro que a estratégia de Bolsonaro é criar factóides para alimentar seus seguidores e fugir dos assuntos conjunturais do país. E é ótimo que a imprensa não caia nas armadilhas.
No entanto, simplesmente fingir que não há um governo que afronta a democracia e que está destruindo o país – política, econômica e socialmente – não é o melhor caminho, pelo contrário. É preciso que a população saiba o que ocorre, especialmente em ano eleitoral.
Por fim, ao conduzir os brasileiros para uma realidade paralela, que não reflete a situação de gravidade política, econômica e social que o país vive, o JN contribui para a desinformação e cerceia ou interrompe um debate que poderia e deveria estar sendo feito num ano eleitoral.
*Eliara Santana é jornalista, doutora em Linguística e Língua Portuguesa e pesquisadora colaboradora do IEL/Unicamp. Coordenou o curso “Desinformação, Letramento Midiático e Democracia no Brasil”, promovido pela Associação Brasileira de Imprensa (ABI), e foi co-coordenadora do I Ciclo de Letramento Midiático do PPGL da Universidade Federal do Rio Grande
-Fonte: Viomundo
20 maio 2022
LUTO! Faleceu a companheira Judite Dutra!
Nota de pesar pelo falecimento da companheira Judite Dutra
O Diretório Estadual do Partido dos Trabalhadores e das Trabalhadoras recebe, com imensurável pesar, a notícia do falecimento da querida Judite Dutra, esposa e grande companheira do mestre [ex-Governador] Olívio Dutra.
Para nós, ficam os ensinamentos que a companheira Judite nos deixou: de companheirismo, amor e força.
Ao Companheiro Olívio Dutra e a sua família, nossa solidariedade, carinho, caloroso e solidário abraço neste momento de dor.
Judite, Presente!
19 maio 2022
Erros, mentiras, preço de banana: ministro do TCU condena privatização da Eletrobras (único opositor)
Ministro Vital do Rêgo indica falhas em processo, mas é exceção em julgamento na corte de contas
Por Vinicius Konchinski, de Curitiba/PR* - O Tribunal de Contas da União (TCU) aprovou nesta quarta-feira (18) a proposta do governo para a privatização da Eletrobras. Foram 7 votos a favor da venda pelo Estado do controle da maior empresa de energia do país. O único ministro da corte de contas que votou contra a desestatização da empresa foi Vital do Rêgo.
Do Rêgo foi o ministro revisor no processo sobre a privatização da estatal. Se opôs à proposta de desestatização da empresa nos dois julgamentos do TCU sobre o tema –ambos com resultado favorável à venda. O primeiro ocorreu em fevereiro e o segundo foi finalizado no início desta noite.
Leia mais: Homens mais ricos do país agem para privatizar Eletrobras
Já no primeiro julgamento, do Rêgo havia apontado falhas na avaliação do valor que o governo receberá para deixar o controle da Eletrobras. O governo estima receber R$ 67 bilhões por isso. Para do Rêgo, deveria receber ao menos R$ 140 bilhões.
Nesta quarta, o ministro voltou a fazer duras críticas à forma como o governo pretende se desfazer do controle da estatal. Em um voto longo –o qual foi elogiado por ministros do TCU por sua profundidade– do Rêgo afirmou que “erros dolosos” cometidos pelos responsáveis pela privatização farão com que ações da estatal sejam vendidas “a preço de banana”.
“Fizeram um calendário louco para entregar essa Eletrobras à iniciativa privada”, afirmou do Rêgo.
:: Movimentos populares planejam protesto nesta quarta no TCU contra privatização da Eletrobras ::
Risco a programa nuclear
Segundo do Rêgo, por pressa ou omissão, a proposta do governo ignora o fato de a Eletronuclear ter dividendos com pagamentos pendentes à Eletrobras. Essas dívidas podem fazer com que acionistas da Eletrobras passem a ter controle sobre a Eletronuclear, estatal que administra as usinas nucleares do país.
Caso a Eletrobras seja mesmo vendida, na prática, seus compradores passariam a ter controle também sobre a Eletronuclear. Isso, segundo do Rêgo, contraria à Constituição e põe em risco a soberania do país.
:: 160 pesquisadores se manifestam contra a privatização da Eletrobras ::
“A política nuclear brasileira pode ser privatizada”, alertou. “Não venham dizer que isso será acertado depois. Isso não é ‘conta de padaria’”.
Itaipu mal avaliada
O ministro afirmou também que a proposta do governo não fez uma avaliação correta do valor de Itaipu, a qual pertence à Eletrobras, mas será vendida ao governo para que seja mantida sob controle do Estado mesmo se a estatal for privatizada.
Segundo do Rêgo, a Itaipu foi avaliada em R$ 1,2 bilhão. Valeria pelo menos R$ 10 bilhões. Se esse valor não for corrigido, as contas da Eletrobras serão prejudicadas. Seu valor de mercado, por consequência, será comprometido, contrariando o interesse público.
“É ultrajante”, disse. “Itaipu não está sendo subavaliada. Está sendo dada.”
Avaliações equivocadas
Do Rêgo também apontou falhas em avaliações de consultorias contratadas pelo Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para precificação da Eletrobras. Segundo ele, há “erros insuperáveis” nessas avaliações, as quais reduzem a estimativa de preço da estatal.
De acordo com o ministro, as falhas no processo somadas podem causar diferenças de até R$ 40 bilhões na estimativa de valor da Eletrobras. “Não é miudeza”, alertou.
Leia mais: Juca Abdalla, o banqueiro que lucra com a privatização da Eletrobras e administrará a Petrobras
“Homens do mercado estão em festa hoje”, disse do Rêgo. “Estão comprando uma ‘égua prenha’: leva dois pelo preço de um.”
Mentiras sobre futuro
O ministro encerrou seu voto citando “mentiras” que justificam a privatização da Eletrobras. Segundo ele, defensores da venda da estatal dizem que a desestatização tende a melhorar a qualidade do serviço.
“É mentira. A Eletrobras foi chamada a socorrer a população do Amapá em 2020”, disse ele, lembrando que a energia no estado é fornecida por empresa privada, a Linhas de Macapá Transmissora de Energia (LMTE).
:: Privatização da Eletrobras ameaça maior centro de pesquisa do setor elétrico da América Latina ::
Outra inverdade, segundo do Rêgo, é a previsão de redução da conta de luz dos consumidores brasileiros. Ele lembrou que a Eletrobras vende energia a R$ 65 por 1.000 kWh. Empresas privadas, por sua vez, cobram em média R$ 250 por por 1.000 kWh.
*Edição: Rodrigo Durão Coelho - Via Brasil de Fato
18 maio 2022
13 maio 2022
12 maio 2022
Francês que lutou ao lado de Kiev volta horrorizado da Ucrânia: 'nazistas em todos os lugares'
Adrien Bocquet também disse que o massacre de Bucha foi realizado por tropas ucranianas, e não russas, e denunciou a produção de mentiras pela imprensa ocidental
(Foto: Reprodução)
Sputnik* - Adrien Bocquet é um ex-oficial militar que serviu nas unidades do Exército francês. De volta à França após meses na Ucrânia, ele falou em uma rádio local sobre a sua experiência ao lado do Batalhão Azov.
Em entrevista ao portal SudRadio, o militar francês relatou os horrores que testemunhou durante uma viagem humanitária à Ucrânia.
Bocquet passou a maior parte do tempo entregando equipamentos médicos e medicamentos para a Ucrânia. Ele passou várias semanas ao lado do Batalhão Azov.
"Sim, eu sei. Vi coisas terríveis, vi crimes de guerra. E repito: todos os crimes que vi com meus próprios olhos foram cometidos pelos militares ucranianos, não pelos russos", disse Bocquet.
"Não falamos muito sobre o batalhão Azov. Mas eles estão em todos os lugares, não só em Azovstal, não apenas nas bases. Eles estão em Kiev, mesmo em Lvov, em todos os lugares. Há milhares deles, não centenas", comentou.
O militar francês enfatizou que "eles têm distintivos neonazistas". Segundo ele, "não é preciso uma investigação para entender que o batalhão Azov usa uma velha insígnia das unidades da SS [Schutzstaffel, uma guarda especial com a função de proteger Adolf Hitler]".
Ao longo de sua entrevista, ele também relatou crimes contra prisioneiros de guerra russos. "Estes prisioneiros de guerra russos suas mãos estavam amarradas e era evidente que eles tinham sido maltratados antes", detalhou.
De acordo com o relato, "militares russos eram baleados nos joelhos com um Kalashnikov", enquanto "oficiais foram baleados na cabeça, simplesmente porque eles tiveram a coragem de dizer a verdade sobre si mesmos", disse Adrien Bocquet.
Adrien Bocquet também falou sobre Bucha, dizendo que o que acontece em Bucha "é o que está acontecendo na Ucrânia em geral, pelo menos nos lugares onde Azov está no comando".
O militar disse que flagrou jornalistas de televisão americanos perto do rio Bucha produzindo "uma notícia falsa sobre baixas civis e destruição supostamente causadas por ataques aéreos e bombardeios de artilharia da força aérea russa".
*Via Brasil247