23 julho 2024

Parte da esquerda está encantada por Kamala

"Batem bumbo por Kamala Harris, por quê?


Por Arnóbio Rocha*

Parte da esquerda de verdade está encantada por Kamala. São os mesmos  das famigeradas jornadas de junho de 2013, filhos dos mesmos ventos das primaveras Árabes, da praça Maiden, aquele momento horroroso  que uniu a extrema-direita à extrema-esquerda cheirosa, no ultraliberalismo, na defesa da "liberdade". 

Qual liberdade? O moralismo pequeno burguês, asséptico, contra política e que produziu a lavajato, aliás, namoraram a tese de Curitiba.

Hoje, batem bumbo por Kamala Harris, por quê?

Uma mulher descendente de latinos, traços afrodescendente, e  uma mulher reacionária, foi PGR na Califórnia, implacável contra os imigrantes,  vice-presidente de Biden, defendendo Israel e o massacre genocida contra os palestinos. 

Qual justificativa para achar que ela difere em alguma medida de Trump? Ok, pode ser menos pior,  concedo, mas entusiasmo com ela, ou com Biden, é demais.

O identitarismo é destrutivo para esquerda e para humanidade.

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*Arnóbio Rocha é Advogado civilista, membro do Sindicato dos Advogados de SP, ex-vice-presidente da CDH da OAB-SP, autor do Blog arnobiorocha.com.br e do livro "Crise 2.0: A taxa de lucro reloaded". (Foto: Reuters/Nathan Howard) 

- Fonte: Brasil247

21 julho 2024

Criminosos usam apagão cibernético para aplicar golpes e coletar dados

Apagão cibernético que afetou o mundo nesta semana tem sido usado por criminosos como isca para aplicar golpes na internet.

Foto: Joédson Alves/Agência Brasil

Da Agência Brasil*

O apagão cibernético que afetou o mundo nesta semana tem sido usado por criminosos como isca para aplicar golpes na internet, coletando dados confidenciais de pessoas e empresas. Nos Estados Unidos (EUA), a Agência de Defesa Cibernética (CISA) alertou sobre os riscos de se cair em ações criminosas.

“Vale ressaltar que a CISA observou ameaças de agentes tirando vantagem deste incidente [apagão cibernético] para phishing e outras atividades maliciosas. A CISA pede que organizações e indivíduos permaneçam vigilantes e sigam apenas instruções de fontes legítimas. A CISA recomenda que organizações lembrem seus funcionários de evitar clicar em e-mails de phishing ou links suspeitos”, afirmou o órgão dos EUA.

Phishing é roubo de dados mediante diversas formas de fazer a pessoa entregar a informação para o criminoso. Geralmente, é enviado um e-mail com link que leva para uma página falsa, contaminando o computador com um vírus que rouba dados sigilosos, como informações sobre contas bancárias ou dados sensíveis de empresas.

No Brasil, também têm sido relatado alguns casos de phishing usando como isca o apagão cibernético. Os criminosos oferecem soluções tecnológicas para problemas gerados pelo apagão cibernético. Uma empresa de Brasília enviou, neste sábado (20), um aviso aos seus funcionários.

“A Gerência Executiva de Tecnologia da Informação informa que diferentes atores de ameaça estão aproveitando o incidente relacionado ao CrowdStrike Falcon para realizar campanhas de phishing e outras atividades maliciosas. Foram implementadas medidas para bloquear e-mails maliciosos. No entanto, alguns ainda podem escapar dos filtros”, informou a companhia.

Apagão cibernético

Uma falha na atualização de conteúdo relacionada ao sensor de segurança CrowdStrike Falcon, que serve para detectar possíveis invasões de hackers, foi a causa da falha cibernética desta sexta-feira (19), que deixou milhares de empresas e pessoas em todo o mundo sem acesso a sistemas operacionais, especialmente o Windows, da Microsoft.

*Via Sul21

20 julho 2024

PT aprova resolução em que defende a luta contra o extremismo e contra o neoliberalismo

Documento aprovado pelo Diretório Nacional também destaca as conquistas do governo Lula

(Foto: ABR | Ricardo Stuckert)

O Diretório Nacional do Partido dos Trabalhadores (PT) aprovou no dia 18 de julho uma resolução destacando a importância da luta contra o extremismo de direita e o neoliberalismo. Este documento, aprovado após 18 meses do terceiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, enfatiza a consolidação de políticas voltadas à reconstrução do país e à recuperação de direitos e soberania.

A resolução do PT apoia a proposta do presidente Lula de construir um movimento internacional de países e partidos do Campo Democrático para conter o avanço do extremismo direitista no mundo. O documento também endossa a agenda diplomática brasileira de buscar consensos em prol de um mundo mais multipolar, destacando a combinação da defesa da democracia com a luta contra o neoliberalismo e a defesa da soberania nacional.

Conquistas Econômicas e Sociais

O PT ressaltou diversas conquistas econômicas e sociais alcançadas desde o início do atual mandato de Lula, evidenciando os esforços do governo em prol da melhoria da qualidade de vida da população. Entre os principais destaques, estão:

  • Aumento do Salário Mínimo: Pelo segundo ano consecutivo, o salário mínimo subiu acima da inflação, resultando em um aumento significativo da renda média per capita, que cresceu 11,5% em 2023.
  • Controle da Inflação: A inflação, que atingiu dois dígitos em 2022, está agora sob controle, dentro da meta estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional, mantendo-se na casa dos 4%.
  • Redução do Desemprego: O Brasil registra a menor taxa de desemprego em 10 anos (7,1%), com um recorde de 101,3 milhões de pessoas empregadas. Mais de 2,5 milhões de novos empregos foram criados nos últimos 18 meses.
  • Combate à Fome: Em 18 meses, 24 milhões de brasileiros foram resgatados da insegurança alimentar, refletindo os esforços do governo em combater a fome.

A resolução também destaca avanços importantes nas políticas de igualdade e inclusão:

  • Lei de Igualdade Salarial: A lei, que visa corrigir injustiças históricas contra as mulheres, tem mostrado avanços significativos, com os primeiros relatórios indicando uma redução nas desigualdades salariais.
  • Nova Lei de Cotas: Completando dez anos, a lei foi ampliada para incluir populações indígenas e quilombolas, além de aumentar a reserva de vagas em concursos públicos para 30%.

O documento celebra o desempenho positivo da economia brasileira:

  • Crescimento do PIB: O PIB do Brasil está em constante revisão para cima, com projeções apontando um crescimento de 2,5% em 2024. O país voltou a figurar entre as 10 maiores economias do mundo, com o FMI projetando a oitava posição para o Brasil.
  • Exportações e Negócios: O Brasil continua batendo recordes de exportações, com 165 novos mercados abertos para produtos nacionais. Entre janeiro e junho, o país abriu 1,43 milhão de pequenos negócios.

Apesar das conquistas, a resolução destaca os desafios ainda presentes e a necessidade de avançar em várias frentes:

  • Reforma Tributária: O PT enfatiza a necessidade de uma reforma tributária que onere mais os super-ricos e alivie a carga tributária sobre a população de baixa renda. A isenção de impostos para quem recebe até dois salários mínimos a partir de 2025 é um passo nessa direção.
  • Defesa da Democracia e dos Direitos Sociais: A resolução aponta a importância de defender os pisos constitucionais da saúde e da educação, assim como a política de valorização do salário mínimo, como pilares fundamentais para a construção de um Brasil mais justo e igualitário.

No cenário internacional, o PT condena veementemente o genocídio promovido por Israel contra o povo palestino e apoia os pedidos do presidente Lula por um cessar-fogo imediato na região.

O documento também aborda a estratégia do partido para as eleições municipais deste ano, destacando a importância de fortalecer candidaturas nas capitais e principais cidades do país, com o objetivo de derrotar o bolsonarismo e ampliar a representação progressista.

A resolução aprovada pelo Diretório Nacional do PT reafirma o compromisso do partido com a defesa da democracia, a luta contra o neoliberalismo e o extremismo de direita, e a construção de um Brasil mais justo, soberano e inclusivo. Leia aqui a íntegra do documento.

*Fonte: https://www.brasil247.com/

19 julho 2024

PT/SANTIAGO-RS (ELEIÇÕES MUNICIPAIS)

 


Coluna Crítica & Autocrítica - nº 232 

Por Júlio Garcia**

*PT SANTIAGUENSE PREPARANDO-SE FORTE PARA ENFRENTAR MAIS UMA CAMPANHA ELEITORAL – Na noite desta última terça-feira, dia 16, o Partido dos Trabalhadores de Santiago inaugurou sua nova sede municipal. A mesma fica localizada na Travessa Jaime Pinto, nº 135, esquina com a Rua Benjamim Constant, Centro (em frente à Rádio Santiago). Na oportunidade, se fez presente o Deputado Federal petista Elvino Bohm Gass, que fez uso da palavra, assim como as pré-candidatas ao Executivo Municipal pelo partido, companheiras Josieli Minosso Lamana Miorim (prefeita) e Liamara Guarda Finamor (vice-prefeita) e vários/as pré-candidatos/as ao Legislativo Municipal, dirigentes, ex-dirigentes, militantes e simpatizantes do PT (foto acima).

Na pauta da reunião que se seguiu à inauguração da Sede, constou também conjuntura política (nacional e internacional), fortalecimento da unidade partidária e com os movimentos sociais/sindicais, defesa e divulgação das várias ações positivas do Governo Lula (que a maioria os órgãos da mídia tradicional e corporativa não mostra, pelo contrário) e a organização da pré-campanha eleitoral. 

... 

*O PT santiaguense também definiu que fará sua Convenção Oficial no próximo dia 20/07, sábado, na sua nova Sede Municipal, das 9 às 17hs. Segundo a advogada e socióloga Josieli Miorin, Secretária Geral do partido e pré-candidata à Prefeita, “vamos começar oficialmente nossa campanha à partir da Convenção (como determina a Legislação) buscando intensificar também o apoio e a participação de todos os setores de esquerda, populares, democráticos e progressistas de Santiago. Nossas candidaturas e nosso Programa de Governo Democrático e Popular, assim como a nível nacional está fazendo o governo liderado pelo Presidente Lula, representa uma alternativa real de mudanças na política local. Importante também elegermos uma forte nominata de vereadores/as. Chega dos mesmos. É hora de mudar!”, reiterou em sua fala a pré-candidata petista.

...

**Júlio César Schmitt Garcia é Advogado, Pós-Graduado em Direito do Estado, Consultor, ecologista, dirigente político (um dos fundadores do PT e da CUT, ex-Presidente do PT de Santiago/RS), 'poeta bissexto', articulista e midioativista. - Coluna originalmente publicada no Jornal A Folha (do qual é Colunista, que circula em Santiago/RS e Região) em 19/07/2024.

17 julho 2024

Por que diante de tantas provas dos crimes de Bolsonaro, a mídia finge que não está acontecendo nada?

Por Ângela Carrato*

Esta foi uma semana terrível para Bolsonaro. Revelações de que comandou o esquema de roubo de joias sauditas que pertencem ao acervo da Presidência da República e, tão ou mais grave, que ele e seu grupo espionaram integrantes dos Três Poderes, o colocaram mais próximo da cadeia.

Era para a mídia corporativa brasileira ter dado o maior destaque para tais assuntos, a exemplo do que fez a mídia internacional.

No caso das joias, Bolsonaro vinha negando qualquer ação envolvendo relógios, colares, anéis e estatuetas que afanou e depois, atabalhoadamente, tentou devolver.

Quanto à espionagem, nem seus aliados de primeira hora, como os presidentes da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, e do Senado, Rodrigo Pacheco, escaparam dela. O esquema montado pelo ex-capitão e sua turma espionou também ministros do STF, empresários, advogados e jornalistas.

Literalmente ninguém estava seguro e com privacidade garantida durante os quatro anos em que esteve no poder.

Detalhe: nesta espionagem, foi utilizada tecnologia israelense. O que explica aquelas inúmeras viagens, sem aparente motivo, de filhos e assessores de Bolsonaro a Israel. Explica ainda o “carinho” desta família para com um estado que comete genocídio contra o povo palestino.

As ações de Bolsonaro envolvendo o roubo das joias só vieram a público, porque o ministro do STF, Alexandre de Moraes, retirou o sigilo do inquérito que lhe foi encaminhado pela Polícia Federal.

Se dependesse da mídia corporativa brasileira, ela daria a notícia, como deu, de forma discreta, e nada mais.

Um assunto como esse, envolvendo militares de alta patente, como o tenente-coronel Mauro Cid, e seu pai, o general Lourena Cid, viagens aos Estados Unidos, uso de aviões da FAB e até de uma agência do governo brasileiro, a Apex, não mereceu sequer uma reportagem investigativa!

As joias que Bolsonaro roubou valem mais de R$ 6 milhões. Na tentativa de encobrir o crime, ele contou com assessores militares e civis, deixando nítido como transformou a presidência da República em uma espécie de escritório para os seus interesses.

O caso da espionagem é pior ainda. Ele só veio a público em função da operação deflagrada, na quinta-feira (11), pela Polícia Federal. Se dependesse da mídia corporativa brasileira, você, caro leitor ou leitora, não ficaria sabendo de nada.

Já imaginou se tivesse sido o contrário? Se o governo Dilma ou Lula tivessem espionado os demais Poderes da República e a própria mídia?

A mídia corporativa brasileira gastou centenas de edições de jornais e revistas para denunciar um tríplex que nunca pertenceu a Lula e para tentar convencer o respeitável público que deixar algumas roupas e comprar dois pedalinhos era prova de que Lula e sua então esposa, dona Marisa, eram os verdadeiros proprietários de um sítio supostamente recebido como propina.

Jornal Nacional, da TV Globo, fez inúmeras chamadas extraordinárias para as ações da Operação Lava Jato.

Não há como esquecer aquela imagem de um cano enferrujado, num fundo vermelho, do qual jorravam notas de R$ 100 para denunciar corrupção na Petrobras e atribui-la a Lula e ao PT, sem que nada fosse provado e sem que a família Marinho tenha pedido desculpas aos injustamente acusados e ao público.

Lula foi preso e permaneceu 580 dias na cadeia, e não lhe foi dado, sequer, o direito de se pronunciar sobre o assunto.

Não é estranho que essa mesma mídia, diante de evidências e provas as mais diversas de que Bolsonaro cometeu crimes, finja que não está acontecendo nada?

A título de exemplo, basta observar as manchetes dos principais jornais durante a última semana ou mesmo o noticiário da televisão e do rádio.

O escândalo da espionagem feito pela Agência Brasileira de Informação (Abin) por determinação de Bolsonaro não está presente, mesmo com todo o caráter explosivo que possui.

Era para ter merecido manchetes e explicações detalhadas de como acontecia, mas ficou confinado a notinhas de pé de página ou a notícias que sequer mencionavam o nome de Bolsonaro.

É importante lembrar que esse esquema além de monitorar ilegalmente autoridades, também produzia notícias falsas, as fake news, apontando para uma relação estreita com o chamado “Gabinete do ódio”, comandado por Carlos, um dos filhos de Bolsonaro.

Por que a mídia corporativa brasileira esconde os crimes de Bolsonaro e família?

Ao contrário do que alguns possam imaginar, essa não é uma pergunta cuja resposta seja difícil.

Essa mídia busca preservar Bolsonaro na tentativa de ainda usá-lo contra Lula nas eleições deste ano e em 2026, mesmo ele estando inelegível até 2030.

Além disso, é importante lembrar que essa mídia é parte do golpe que derrubou Dilma Rousseff, em 2016, prendeu Lula sem crime, em 2018 e garantiu a eleição de um ser abjeto como o ex-capitão.

Às vésperas da eleição de 2018, por exemplo, o jornal Estado de S. Paulo, em editorial, não afirmou que era muito difícil escolher entre Fernando Haddad, um professor, com várias pós-graduações, ex-ministro da Educação, um humanista, e Bolsonaro?

A mídia corporativa sabia quem era Bolsonaro. Conhecia seu histórico de péssimo militar, seus negócios escusos envolvendo “rachadinhas” e milicianos, suas posições fascistas em defesa da tortura, contra mulheres, negros e o segmento LGBTQIA+.

Parte da classe dominante brasileira, a mídia corporativa empoderou a mentirosa Operação Lava Jato, foi decisiva para derrubar Dilma e para a prisão, sem crime, de Lula e acreditava que, depois de tudo isso, o ex-presidente estaria politicamente liquidado.

A vitória de Lula para um terceiro mandato desconcertou essa turma, mas não fez com que desistisse de seus propósitos.

Lula não tem tido um minuto de tranquilidade desde que tomou posse, tendo que enfrentar e driblar uma extrema-direita feroz no Congresso Nacional e à frente do Banco Central, ambas apoiadas e elogiadas pelos proprietários de O GloboFolha de S. Paulo e Estado de S. Paulo.

A aposta desta mídia é de que o terceiro governo Lula naufragaria, diante da impossibilidade de viabilizar os compromissos que assumiu em campanha.

Como está acontecendo o contrário e a popularidade de Lula volta a subir, ela vê Bolsonaro como um aliado no combate ao adversário comum.

Tentar esconder o roubo das joias e a espionagem significa poupá-lo das críticas e da avaliação negativa da população e mesmo entre os seus seguidores.

Se parte dos bolsonaristas se assemelha ao gado, nada os faz mudar de opinião, a maioria não é assim e sabe distinguir o certo do errado.

Daí a importância da mídia corporativa esconder os crimes de Bolsonaro, fazendo uma espécie de parceria com as redes sociais da extrema-direita que enganam seus usuários ao colocar o ex-presidente como “vítima de perseguição política”.

É na mídia corporativa que os bolsonaristas raiz podem confirmar as informações que recebem. Se lá não encontram nada sobre os crimes de Bolsonaro, a conclusão a que chegam é de que ele realmente seja vítima de injustiça.

Desnecessário dizer que o “gado” não se informa pela mídia independente.

Mesmo Bolsonaro estando inelegível até 2030, a mídia corporativa brasileira acredita que ele possa ser útil para eleger prefeitos e vereadores esse ano contra os candidatos apoiados por Lula e, sobretudo, enfrentar o próprio Lula em 2026.

Para desespero dessa mídia, Lula já anunciou que se houver risco de a extrema-direita voltar ao poder, poderá disputar a reeleição.

Se a semana que passou foi terrível para Bolsonaro, os próximos dias podem se transformar em pesadelo se vier a público o conteúdo de um áudio em que ele, o então diretor-geral da Abin, Alexandre Ramagem (PL), e o então ministro chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Augusto Heleno, articulam para brindar o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) no caso das “rachadinhas”.

O áudio, além de atingir diretamente Bolsonaro e seu filho, pode ser fatal para a candidatura de Ramagem, que pretende disputar a Prefeitura do Rio de Janeiro.

Está nas mãos do procurador-geral da República, Paulo Gonet, decidir se o processo contra Bolsonaro e demais envolvidos no caso das joias será aberto imediatamente, aguardará o término de outras investigações ou será arquivado.

O arquivamento, pela quantidade de provas, se tornaria um escândalo do qual Gonet não se livraria jamais.

Quem o conhece acredita que possivelmente ele opte por aguardar o término de outros inquéritos dos quais Bolsonaro é alvo – falsificação de carteira de vacinas e atentado contra o estado democrático – para juntar tudo num mesmo processo.

Pode demorar um pouco ainda, mas Bolsonaro não sairá ileso dos crimes que cometeu.

Até lá, continuará sangrando e vendo seus seguidores minguarem.

Já a máscara da mídia corporativa caiu completamente.

Sua verdadeira face ficou à mostra. Ela está a serviço de todo aquele que garantir os privilégios de seus proprietários, pouco importando que sejam extremistas de direita, fascistas e criminosos como Bolsonaro, sua família e sua turma.

*Ângela Carrato é Jornalista. Professora da UFMG. Membro do Conselho Deliberativo da Associação Brasileira de Imprensa (ABI) - Fonte: Viomundo

14 julho 2024

"Na França tudo é possível, num certo momento..." (Entrevista com Markus Sokol)



Entrevista de Markus Sokol, membro do Comitê Nacional do Diálogo e Ação Petista [e da Executiva Nacional do PT], ao ‪@brasil247 sobre a vitória da esquerda na França.

Na entrevista, Sokol avalia o movimento que levou a vitória da Nova Frente Popular na França e desmistifica a ideia que a extrema-direita tomou conta da Europa.

O tema tabu da RBS

A atuação “fenomenológica” do noticiário oculta a construção social da realidade, como se eventos climáticos extremos não tivessem historicidade.

  Foto: Isabelle Rieger/Sul21

Por Luiz Marques (*)

O balanço da catástrofe que se abateu sobre o Rio Grande do Sul não sai na televisão. Não obstante, está na ponta da língua dos contribuintes no que toca a gestão administrativa estadual e da capital gaúcha. Em ambas as instâncias, a conduta negacionista dos gestores é reprovada, pelas centenas de alterações na legislação ambiental em prol da autofiscalização empresarial e a falta de manutenção nas comportas do Muro da Mauá, casas de bombas e diques. O negacionismo configura um “crime de responsabilidade” à espera de elucidação. Os mandatários foram desleixados com a “segurança interna” das jurisdições. Como no samba de Noel Rosa: “Meu Deus do céu, que palpite infeliz”. 

Os prejuízos econômicos (patrimoniais), sociais (empregos, moradias, escolas, hospitais), culturais (teatros, cinemas, laços identitários) e emocionais (perdas de relíquias, fotos) afetaram 2 milhões de concidadãos em 467 municípios, num total de 497. Em maio, 600 mil pessoas ficaram desalojadas, 40 mil tiveram os domicílios destruídos. Desnecessário dramatizar a dor. “Nem rir, nem chorar, mas compreender”, diz o filósofo. A pergunta é: por que os governantes, com ar blasé sobre mecanismos de cuidado da natureza e das cidades, cederam à incúria e desprezaram o bem comum? Soberba?

Resposta: seu “modelo de sociedade” centra-se no livre mercado e na acumulação capitalista. O carro-chefe do futuro é a empresa privada. O Estado é o obstáculo. Privatizam empresas públicas, ainda que prestadoras de serviços essenciais para a população (água, luz, gás, transporte coletivo). Se a questão não entra em discussão, é que o objetivo dos meios de comunicação – descontada a autopropaganda – não é informar. Mas satisfazer os patrocinadores, com destaque para as finanças. Daí a oscilação que vai da espetacularização dos fatos até a sentimentalização apelativa. Qualquer coisa, desde que impeça o trabalho do pensamento crítico. Consumidores servem apenas de álibi. 

A atuação “fenomenológica” do noticiário oculta a construção social da realidade, como se eventos climáticos extremos não tivessem historicidade. A enchente converte-se em um rótulo – catástrofe, tragédia. “Não é hora de buscar culpados”, rezam os que têm culpa. Os veículos de comunicação fazem da dissimulação um decreto divino e, a não ser superficialmente, evitam o assunto. O slogan “Pra Cima, Rio Grande” eclipsa os responsáveis pela tempestade no paraíso (neoliberal). Ao mesmo tempo, promove o boicote às ações positivas do governo federal para o bem-estar de todas e todos.

Para se ter ideia, o grupo RBS divulga 126 casas provisórias na Região Metropolitana com loas ao governo estadual, e cutuca o presidente Lula contrário à medida de curta duração. A paralisia das autoridades locais em elencar imóveis até R$ 200 mil para aquisição pela Caixa Econômica Federal cruza incólume. Dia seguinte (5/07), num canto do jornal Zero Hora, insere a boa nova do ministro Extraordinário Para Reconstrução do RS, Paulo Pimenta, sobre 2 mil casas compradas pela União para entrega em julho; e 5 mil já cadastradas para aquisição pela CEF. As prefeituras, por igual, não são admoestadas sobre terrenos para construção de casas aos atingidos. A imprensa canta longe do ninho. Compreender é desmascarar a aporofobia da pantomima corporativa para isentar o sistema. 

A disputa de modelos

Nas práticas de dominação, dois campos são fundamentais – o político e o institucional – para uma consolidação do status quo. Os quadros dos partidos de direita formam-se nos think tanks da mais-valia, a exemplo do Instituto de Estudos Empresariais (IEE). A destreza para sonegar do andar de cima é copiada. A admiração por “empreendedores” ao estilo autocrata de Elon Musk molda a sua cosmovisão. Condomínios fechados e cruzeiros marítimos imitam as mansões e o lazer das “elites”, que não primam por luzes e, sim, pelo dinheiro. A colonização do Estado pelo american way of life e o eugenismo social-étnico corrompem a urbanização democrática com a lógica da plutocracia.

Pelo mecanismo da mimese, o paradigma do neoliberalismo faz paradas no Palácio Piratini e no Paço Municipal da metrópole pioneira: (a) na luta ecológica com a AGAPAN (Associação Gaúcha de Proteção Ambiental), fundada por José Lutzenberger em 1971; (b) na luta pela governabilidade criativa com o OP (Orçamento Participativo), fundado pelo PT / Partido dos Trabalhadores em 1989 e; (c) na luta antineoliberal com o FSM (Fórum Social Mundial), fundado pelos movimentos sociais em 2001. Essas utopias colocaram Porto Alegre no mapa-múndi da esperança e, agora, incentivam a resiliência e energizam a superação das dificuldades com “participação cidadã”. A república não se esgota no binômio “presidencialismo” ou “parlamentarismo”. Há uma terceira variável a considerar.

habitus do “valor de troca” foca o prejuízo das seguradoras de carros, em vez de as 200 mortes de humanos nas águas. A política tira férias. A individualização apaga os principais desencadeantes da crise ecológica. A ênfase nas individualidades salienta as substâncias, quando o que importa para o entendimento são as relações partidárias e de classe. Pierre Bourdieu utiliza o termo “agente” no lugar de “indivíduo” para salientar os condicionamentos socioeconômicos no contexto histórico, e não conferir uma inexistente autonomia às personas. Desvincular a atividade política e institucional dos acontecimentos implica absolver o modelo de sociedade e os gerentes pelas más consequências. 

A liberdade de escolha some diante dos múltiplos relacionamentos e financiamentos que envolvem os indivíduos. Os agentes têm de ser pensados e analisados a partir de uma teoria política relacional; não são átomos isolados. A socialização primária via família e a secundária via escola, somadas ao arrivismo pessoal, injetam nas personalidades públicas as práticas que atenuam o direito à dignidade dos pobres. O princípio da classificação nas interações faz os privilegiados, superiores aos demais. 

Os elogios do governador Eduardo Leite (PSDB) e do prefeito Sebastião Melo (MDB) às falsas virtudes das privatizações e o endosso às grandes construtoras para erguer os edifícios de luxo, em áreas de preservação ambiental e presença indígena, é o selo de mediocridade classista. Os agentes de interesses privatistas na administração das unidades federativas não sentem empatia pelos losers. Pertencem ao campo econômico e cultural dos winners, para quem o progresso começa com ricos e fecha o circuito com ricos. Falta-lhes a imaginação no poder para servir o conjunto da coletividade. 

Posicionar na ofensiva

Os desastres ambientais contrapõem os neoliberais aos progressistas na disputa pela definição dos parâmetros desejáveis ao reerguimento da vida, resgatada dos escombros. O modelo hegemônico baseado na financeirização é confrontado por um modelo alternativo na defesa da população e do combate à especulação. As cidades são dos cidadãos. No dicionário da democracia, a moradia é um direito social. É errado contrabandeá-la para o verbete da “mercadoria”. A primazia está no “valor de uso”. A quantificação é obra do neoliberalismo. A atitude de Lula bota pingos no “i”, ao priorizar as residências fixas para os que tanto sofrem a inaptidão e o descaso dos representantes regionais. 

A sociologia espontânea tira a camada externa da cebola e dá nome aos autores da desgraceira no Sul do país. O tema frequenta as conversas nas filas de ônibus e nos bares. “Não se reelegem”. A ciência denuncia o desmatamento de matas ciliares e a urbanização de orlas há décadas. A ciranda financeira no espaço natural e social, com o repasse dos parques ao lucro e os espigões a título de modernização em zonas de inundação – vide o Pontal do Arado, em Porto Alegre – tem as digitais do governador e do prefeito. Por limitação cognitiva ou por vontade de tergiversar, alguns jornalistas choram a Lava Jato, comparam alhos com bugalhos e calam sobre a condenação do juiz suspeito. 

Eduardo Leite e Sebastião Melo detêm o “capital simbólico” que se esvai com a credibilidade e a popularidade. O grupo RBS com o totalitarismo de um Big Brother orwelliano arvora-se “nossa voz”. Contudo, gravita os interesses do rentismo. O ibope e a ética da responsabilidade mínguam, na holding. Cabe aos democratas e socialistas assumirem a ofensiva política contra os inimigos da solidariedade socioambiental. Como no poema de Neruda: “Desta cinza / amanhã / renasceremos”.

(*) Docente de Ciência Política na UFRGS, ex-Secretário de Estado da Cultura do Rio Grande do Sul

Fonte: Sul21

11 julho 2024

Aprovação de Lula sobe e governo é bem avaliado pela maioria da população, diz Ipec


Lula (PT), presidente do Brasil. Foto: Ricardo Stuckert

A avaliação positiva do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) subiu de 33% em março para 37% em julho, de acordo com a pesquisa da Inteligência em Pesquisa e Consultoria (Ipec) divulgada nesta quinta-feira (11). A avaliação negativa da gestão do presidente manteve-se praticamente estável, oscilando de 32% para 31%.

Esse é o segundo levantamento que mostra a tendência de aprovação do governo Lula nesta semana. Na última quarta-feira (10), a Quaest divulgou uma pesquisa revelando que 54% dos entrevistados aprovam o mandato petista após 1 ano e meio no Executivo.

A pesquisa entrevistou 2.000 pessoas com 16 anos ou mais em 129 municípios entre os dias 4 e 8 de julho, com uma margem de erro de 2 pontos percentuais para mais ou para menos. (...)

*Para ler na íntegra a postagem publicada por Augusto de Souza no DCM, CLIQUE AQUI

09 julho 2024

Um pequeno artigo urgente e um desabafo

Não seria providencial celebrarmos, em algum lugar da cidade, dia 14 de julho, de forma pluripartidária, a vitória francesa contra  o inferno?

Foto: Jean-Luc Mélenchon/Facebook/Reprodução

Por Tarso Genro (*)

A estupenda vitória da democracia na França, contra a extrema direita  e os demais herdeiros de Vichy, conjugada com a vitória dos trabalhistas ingleses que voltam ao Governo depois de 14 anos,  recupera – na Europa – o oxigênio da democracia liberal. Na França, em particular, a reviravolta deveu-se – entre outros fatores que não cabem neste pequeno texto – à rapidez com que a esquerda francesa  reorganizou suas listas eleitorais para privilegiar os candidatos de quaisquer das facções de centro e de centro-esquerda, para acumular votos contra a extrema direita: acumular votos para defender a democracia liberal contra o perigo fascista, racista e antirrepublicano, que se erguia no horizonte.

Jean-Luc Mélenchon, o líder da “França Insubmissa” teve um papel extraordinário neste movimento, pois logo após os resultados do primeiro turno avisou que seu agrupamento faria todas as renúncias para unificar os eleitores antifascistas contra Madame Le Pen e sua corte de reacionários violentos, que estavam à beira do poder. E avisou novamente: este era o perigo que rondava a Europa e ameaçava diretamente os postulados da Revolução Francesa,  já fortemente constrangidos pela concepção de “Europa do Capital”, diversa da concepção também europeísta de “Europa Social”, sempre defendida por Mélenchon e pela sua formação “França Insubmissa”.

Sua postura sem vacilações em defesa da democracia política, que a França Insubmissa integra como compromisso constitucional, tem uma razão de fundo político, que está no terreno dos princípios; e uma razão pragmática, que responde às urgências da luta política de qualquer esquerda, dentro da legalidade democrática. A experiência brasileira mostra que nos tempos de mutação das formas de exercício do poder e controle dos corações e mentes, pelos novos meios de comunicação e informação, novas formas e meios de produzir mercadorias e de controle e processamento da opinião, qualquer vacilação em defesa da legalidade democrática enfraquece a democracia política acaba favorecendo o fascismo.

A ascensão do fascismo e da sua bandidagem à condição de governantes, capilarizados no Estado e ajudados pela mídia oligopólica, pode até “tomar conta” de instituições como o Poder Judiciário, enfraquecendo os seus deveres constitucionais de imparcialidade e neutralidade nos grandes contenciosos políticos do momento. Foi assim com Dilma, foi assim com Lula. A “razão de fundo político” – que está no terreno dos princípios – é jamais conceder ou omitir-se para facilitar os fascistas chegarem ao poder; a “razão pragmática” diz respeito à escolha dos caminhos que devem ser percorridos para criar maiorias políticas contra o fascismo ascendente, que podem ser avaliados a partir da seguinte indagação: é melhor enfrentar o fascismo quando ele está fora do governo ou quando já ocupam o aparato de Estado?

Deve se levar em conta, para compreender o fenômeno político francês, que ali a esquerda tradicional –  Partido Socialista  hoje mais uma formação de centro-esquerda, o Partido Comunista Francês que não mais lidera maiorias progressistas no país, e as pequenas organizações comunistas e socialistas heterodoxas – não tiveram condições, depois de Mitterrand (1995) até o presente, de constituir uma Frente de Esquerda estável para governar. Esta vitória eleitoral mostra que frentes bem-organizadas em torno de princípios e programas visíveis para o povo, ainda que na beira do precipício, podem resgatar os princípios ideais das grandes revoluções do Século passado, com novos fundamentos por dentro da democracia.

A Nova Frente Popular, formada na presença do desastre, resgata – por enquanto – a cultura das liberdades (políticas), da igualdade (formal) que o fascismo sequer respeita como doutrina constitucional, e resgata a fraternidade (policlassista) contratualizada na Constituição do país. Isso é pouco, mas isso é muito. Em contraste com a cultura da morte, da naturalização da desigualdade e do fim – formal e material –  do contrato jurídico de fraternidade popular, que presidiu a queda da Bastilha em 14 de julho de 1789, isso é muito. Não seria providencial, me pergunto e pergunto aos meus companheiros de luta , se não seria bom celebrarmos, neste 14 de julho – em algum lugar da cidade – de forma pluripartidária, libertária, igualitária e fraternalmente concebida – a vitória francesa contra  o inferno?

(*) Tarso Genro foi governador do Estado do Rio Grande do Sul, prefeito de Porto Alegre, ministro da Justiça, ministro da Educação e ministro das Relações Institucionais do Brasil.

**Via Sul21

04 julho 2024

Lula recria a Comissão de Mortos e Desaparecidos Políticos extinta durante o governo Bolsonaro

O presidente anunciará a escolha de quatro pessoas para integrar o novo colegiado

Lula e Bolsonaro (Foto: Leopoldo Silva/Agência Senado | REUTERS/Adriano Machado)

247* - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) decidiu recriar a Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos, extinta no final de 2022, durante o governo Jair Bolsonaro (PL), ex-mandatário que chegou a fazer elogios à Ditadura Militar (1964-1985). O presidente Lula anunciará a escolha de quatro pessoas para integrar o novo colegiado.

A previsão é que a decisão de Lula seja publicada no Diário Oficial da União desta quinta-feira (4), de acordo com informações publicadas no jornal Folha de S.Paulo. Serão três atos. Um deles reverte um ato da gestão bolsonarista que acabou com a comissão. O outro dispensa os integrantes nomeados pelo governo do político da extrema-direita. Um terceiro ato indica os novos nomes.

A procuradora da República Eugênia Augusta Gonzaga retomará o cargo de presidente da comissão, que exerceu até o primeiro ano do governo Bolsonaro. Depois foi exonerada. 

A professora universitária Maria Cecília Oliveira Adão vai ser a representante indicada pela sociedade civil. A deputada federal Natália Bonavides (PT-RN) e o representante do Ministério da Defesa, Rafaelo Abritta, que é civil e não militar, também tiveram indicações confirmadas.

*Via Brasil247

03 julho 2024

Gente Humilde (Chico Buarque, 1970)



*Composição: Chico Buarque / Garoto / Vinícius de Moraes.

VIVA CHICO! 'Gente Humilde': uma homenagem e uma reflexão

Leonardo Boff homenageia Chico Buarque pelos seus 80 anos com uma reflexão a partir da canção Gente Humilde

"O sentido da produção de Chico Buarque vai além do sentido que ele mesmo talvez tenha querido dar a ela", diz Boff - Reprodução/Leonardo Boff

Por Leonardo Boff*

“Gente humilde” é uma canção de Chico Buarque feita em parceria com outros. De sua vasta e complexa obra, esta canção é para mim a mais bela e significativa. Ela fala dos anelos que animam a teologia da libertação que confere centralidade à “gente humilde” e reconhece neles uma força histórica, pouco valorizada pelos analistas sociais. Quero homenageá-lo pelos seus 80 anos com uma pequena reflexão a partir desta canção. Nela tudo é verdadeiro.

As coisas verdadeiras e identificadoras das pessoas se realizam para além da consciência reflexa. São forças que atuam a partir do profundo da vida e do universo, do inconsciente abissal e de arquétipos ancestrais que assomam à consciência das pessoas e através delas se anunciam e emergem na história. Digo isso para superar certa interpretação que dá valor absoluto ao sujeito e ao sentido consciente que ele pretende conferir à sua obra. O sentido da produção de Chico Buarque vai além do sentido que ele mesmo talvez tenha querido dar a ela. Seguramente ele não pretende ter o monopólio do sentido da realidade por ele cantada e descrita. Há múltiplas facetas de sentido que podem ser captadas pelos ouvintes e leitores, que então se fazem co-autores da obra. Transcrevo a canção “Gente Humilde”

“Tem certos dias em que eu penso em minha gente
E sinto assim todo o meu peito se apertar
Porque parece que acontece de repente
Feito um desejo de eu viver sem me notar
Igual a eles como quando eu passo no subúrbio
Eu muito bem vindo de trem de algum lugar
E aí me dá como uma inveja dessa gente
Que vai em frente
Sem nem ter com quem contar
São casas simples com cadeiras na calçada
E na fachada escrito em cima que é um lar
Pela varanda flores tristes e baldias
Com a alegria que não tem onde encostar
E aí me dá uma tristeza no meu peito
Feito um despeito de eu não ter como lutar
E eu que não creio peço a Deus por minha gente
É gente humilde, que vontade de chorar”

No ofício de teólogo e há 50 anos andando com os dois pés, um na academia e outro nos meios pobres, considero esta obra de Chico a mais comovente e perfeita. Ela traduz à maravilha duas realidades.

primeira, “da gente humilde”, de seu completo desamparo social. Não há ninguém por eles. Vão em frente com suas poucas forças, sem contar com ninguém, nem com o Estado, nem com a sociedade fechada em seus interesses excludentes de classe, às vezes, nem com as igrejas, embora uma porção da Igreja Católica fez uma opção pelos pobres, contra sua pobreza e por sua libertação. Mas geralmente só contam com Deus e com eles mesmos. As casas, quando as têm, são simples, com cadeiras na calçada, de onde veem o mundo e compartem as amizades. Possuem um senso ético elevado e um sentido sagrado de família. A casa é pobre mas é “um lar”. Flores tristes, raquíticas, semelhantes a eles, enfeitam a casa, mas reina discreta alegria e serenidade.

segunda realidade que a canção traduz com fina percepção ética e psicológica é a reação de quem não é “gente simples” mas é sensível, humano e solidário com esta condition humaine, no caso, do Chico, Vinicius de Morais e Garoto, co-autores da letra e da música. O compositor pensa “em minha gente”, quer dizer, para Chico, ela existe e está aí, quando para tantos ela não só é invisível como não existe ou é vergonhosamente desprezada. Percebe a diferença de estatuto social: ele vem muito bem de trem; eles, seguramente a pé, caminhando muito. Seu “peito se aperta”, gostaria de viver como eles, anônimos, sem ser notado. Mais ainda: tem “inveja desta gente” por sua coragem de enfrentar sozinha a vida, lutar e sobreviver sem ninguém para ajudar.

E aí irrompe a solidariedade e a compaixão no sentido nobre do termo: como ajudar e estar junto deles? Eclode o sentimento de impotência, “a tristeza no […] peito/ feito um despeito de […] não ter como lutar”.

A Teologia da Libertação, que envolve ainda milhares de cristãos nos vários continentes, começou ao se enfrentar com essa situação relatada por Chico.Esses cristãos assumiram um compromisso libertador, confiando na “gente humilde” e em sua força histórica. Mas a chaga é grande demais. A nossa geração nem a próxima talvez  não consiga fechá-la. Assola-nos um sentimento de impotência mas sem nunca perder a esperança de que um outro mundo é possível e necessário. 

É então que recorremos à Última referência. Deve ter Alguém, senhor do mundo e do curso das coisas, que dê jeito nessa humilhação. Mesmo alguém que não crê, mas que não perdeu seu sentido de humanidade, percebe o sentido libertador da categoria “Deus”. E aí, com emoção incontida, canta o poeta: “E eu que não creio peço a Deus por minha gente/ é gente humilde, que vontade de chorar”.

A impotência é superada porque triunfa a comoção do coração. Deus é invocado, desesperadamente, como derradeira fonte de sentido. Diante da gente humilde, sofrida, anônima, toda descrença seria cinismo, toda indiferença, desumanidade. O efeito final é esse mesmo: “dá vontade de chorar”. E choramos ou enxugamos discretamente lágrimas de comoção, de indignação e de compaixão.

Não há vez que escute esta canção que não me venham lágrimas aos olhos, pois a verdade é tanta e o sentimento tão verdadeiro que a única reação digna são as lágrimas que, segundo São Paulo, é um dom do Espírito Santo. Isso é puro humanismo, testemunhado também por Jesus de Nazaré que se comoveu diante de seu povo abandonado como ovelhas sem pastor.

E aqui cabe uma reflexão de teólogo sobre “a não crença” de Chico, dita nesta canção. Precisamos fazer um discernimento e resgatar qual é a verdadeira crença e qual, a falsa. Isso aparece claro quando conscientizamos o sentido verdadeiro de “Deus” e onde Ele se deixa encontrar sob outros nomes.

Há os que dizem que não creem, mas se preocupam com a “gente simples”, são sensíveis à justiça e se recusam a aceitar o mundo perverso que encontram. E há os que creem em Deus mas nem veem a “gente simples” e são insensíveis à injustiça social e se inserem tranquilamente no mundo perverso em que se encontram.

Onde está Deus? De que lado Ele se encontra? De tudo o que aprendemos dos profetas e da reflexão cristã, Deus está infalivelmente do lado de quem se acerca da “gente simples”, se compromete com a justiça e se enche de iracúndia sagrada contra esse mundo perverso. Isso porque o verdadeiro nome de Deus é justiça, é solidariedade e é amor.

Quem tem Deus continuamente em seus lábios e O professa em suas palavras mas se distancia da “gente humilde”, se faz mouco aos reclamos da justiça e não se incomoda com a solidariedade, está longe de Deus e falto de sua graça. O Deus em que crê não passa de um ídolo porque não há amor, solidariedade e justiça.

Chico se colocou, sem pretendê-lo, ao lado do Deus vivo e verdadeiro porque se situou ao lado da “gente humilde”. Seu engajamento o situa infalivelmente do lado de Deus e no coração de seu projeto de um Reino de amor, de justiça e de paz.

Mais ainda. Na tarde da vida, quando tudo vai se decidir, o critério será, segundo Jesus (veja o evangelho de São Mateus 25, 41-46), o quanto tivermos sido sensíveis à “gente humilde”, aos famintos, aos sedentos, aos pobres e penalizados desta nossa história. Estes que assim fizeram, ouvirão as palavras de infinita bem-aventurança: ”foi a mim que o fizestes”; “vinde, pois, abençoados de meu Pai e tomai posse do Reino preparado para vós desde a criação do mundo”.

Para mim, bastaria “Gente humilde” para eternizar Chico no coração de todos os que não passam ao largo dos caídos na estrada, mas se detêm como samaritanos, sofrem e choram junto. Chico viveu a mesma experiência de seu patrono Francisco de Assis. Essa experiência o converteu de filho de um rico comerciante a um amigo e companheiro dos mais pobres dos pobres, os leprosos (hansenianos). Ele falava deles como sua “gente poverella”, gente humilde da Toscana. De burguês e membro da “jeunesse dorée” que era, largou tudo e fez-se pobrezinho como eles. Era chamado simplesmente de “o poverello de Assis”.

E agora digo como teólogo: atrás desta “gente humilde” de todos os “poverellos” se esconde o Filho de Deus. Dignificar a “gente humilde”, como fez Chico, é resgatar o melhor da herança humanística de nossa história e do Jesus histórico que  viu nos pobres, os primeiros herdeiros de seu sonho. Sempre esteve ao lado do cego, do coxo, do psicologicamente afetado (possessão, na linguagem da época) e se fez ele também um pobre.

Para viver esta dimensão não precisa ser religioso nem crer em Deus. Logicamente se é religioso e crê em Deus se vê reforçado. Mas não é indispensável. Basta ser humano, amante da justiça e um cantador do amor. Nisso se realiza a religião autêntica e aí se encontra o verdadeiro Deus.

*Edição: Nathallia Fonseca - Fonte: BrasildeFato