26 setembro 2009

Poema














SAUDAÇÃO

A cada animal que abate ou come sua própria
espécie
E cada caçador com rifles montados em
camionetas
E cada miliciano ou atirador particular
com mira telescópica
E cada capataz sulista de botas com seus cães
& espingardas de cano serrado
E cada policial guardião da paz com seus cães
treinados para rastrear & matar
E cada tira à paisana ou agente secreto
com seu coldre oculto cheio de morte
E cada funcionário público que dispara contra o
público ou que alveja-para-matar
criminosos em fuga
E cada Guardia Civil em qualquer pais que
guarda os civis com algemas & carabinas
E cada guarda-fronteiras em tanto faz qual
posto da barreira em tanto faz qual lado de
qual Muro de Berlim cortina de Bambu ou
de Tortilha
E cada soldado de elite patrulheiro rodoviário
em calças de equitação sob medida &
capacete protetor de plástico &
revólver em coldre ornado de prata
E cada radiopatrulha com armas antimotim &
sirenes e cada tanque antimotim com
cassetetes & gás lacrimogênio
E cada piloto de avião com foguetes & napalm
sob as asas
E cada capelão que abençoa bombardeiros que
decolam
E qualquer Departamento de Estado de qualquer
superestado que vende armas aos dois lados
E cada Nacionalista em tanto faz que Nação em
tanto faz qual mundo Preto Pardo ou Branco
que mata por sua Nação
E cada profeta com arma de fogo ou branca e
quem quer que reforce as luzes do espírito
à força ou reforce o poder de qualquer
estado com mais Poder
E a qualquer um e a todos que matam & matam & matam
& matam pela Paz
Eu ergo meu dedo médio na única saudação
apropriada

Lawrence Ferlinghetti

*Nota: Este poema foi escrito por Ferlinghetti - uma das principais referências da poesia 'beat'- na Prisão de Santa Rita (Califórnia, EUA), em 1968. Nos anos 60, essa prisão era um dos lugares para onde eram levadas as pessoas presas em demonstrações de protesto. Lá, em 1967, ficaram presas a cantora Joan Baez e sua mãe, Joan Bridge Baez, junto com outras 70 mulheres que ajudaram jovens convocados para o Vietnã a escapar do exército americano.
Tradução: Nelson Ascher

2 comentários:

Omar disse...

Muito bom!
Abraço
Omar

YvyB disse...

Imenso seu universo de poetas,Júlio. Já fui apresentada à vários aqui e todos com forte teor dramático.Lá se foram quarenta anos e pouco mudou. Lá ou aqui as atitudes se igualam. Abrs!