'A dubiedade da pergunta sobre a responsabilidade de
Dilma na Petrobras leva a interpretações diferentes'
*Por
Janio de Freitas, na Folha de S. Paulo
Os 43%
que de fato atribuem "muita responsabilidade" a Dilma "sobre o
caso" Petrobras, na sondagem Datafolha, não proporcionam à oposição uma
base informativa sobre as perspectivas de sua atual ação, nem ao governo
oferecem uma noção dos efeitos do escândalo em sua imagem. Dados indiretos dão
melhor ideia, talvez surpreendente para os dois lados, da situação do confronto
no que mais lhes interessa: a opinião pública, ou do eleitorado.
A
dubiedade da pergunta tornou possível uma quantidade indefinida dos que a
interpretaram com um sentido e dos que lhe deram outro. "Responsabilidade
SOBRE o caso" pode ser a de quem, detentor de uma posição hierárquica
--chefe de família, dirigente de empresa, governante-- deve as providências
para o melhor e correto andamento do que está sob sua responsabilidade. É
admissível, para não dizer certo, que muitos terão recebido a pergunta nesse
sentido.
Mas a
"responsabilidade SOBRE" também podia ser entendida como implicação
NO caso, responsabilidade como parte, em alguma medida, da ocorrência.
As duas
interpretações levam a respostas com profunda diferença, estando, porém,
embaralhadas tanto nos 43% subscritos em "muita responsabilidade" de
Dilma, como nos 25% de "um pouco" de responsabilidade. Índices que,
somados de maneira discutível, fizeram a notícia de que 68% responsabilizam
Dilma por corrupção.
Na
confusão induzida pelo próprio noticiário, bastante caótico, a esta altura
ninguém sabe em que período de governo houve na Petrobras tal ou qual golpe de
corruptor e corrompido. O beneficiário da ausência de clareza é o governo Lula,
no qual se deram a compra da refinaria de Pasadena, o consequente processo
judicial desastroso para a Petrobras, os contratos para construção da refinaria
de Abreu e Lima, inúmeros reajustes e compensações.
Relegadas
essas e outras clarezas, o tipo de noticiário do escândalo contribui, e não
pouco, para que o governo de Dilma apareça na pesquisa como o segundo
pós-ditadura em que "houve mais corrupção", com 20% das opiniões
seguindo os 29% dados a Collor.
Apesar
disso, e aí com muito interesse para a oposição, 46% consideram que o governo
Dilma é o que mais investigou a corrupção. O segundo, longe, é o de Lula, com
16%. (Outro caso de deformação por pouca informação: foi no primeiro mandato de
Lula que o então ministro Márcio Thomaz Bastos preparou e destinou a Polícia Federal
para as investigações de corrupção, com escândalos cujo ineditismo os tornou
históricos, como o da Daslu).
A
pergunta que complementa a anterior é ainda mais expressiva, embora o
percentual menor, para a aferição da atividade oposicionista concentrada no
escândalo da Petrobras. "Em qual governo os corruptos foram mais
punidos?". No de Dilma: 40% das opiniões colhidas. Parte dos que votaram
em Aécio Neves ou dos sem votos válidos, ou de ambos, estão contribuindo para
esse índice recordista, que é maior até do que o contingente, no eleitorado
total, que elegeu Dilma.
O
investimento agressivo que a oposição faz para responsabilizar Dilma Rousseff
pela corrupção na Petrobras, como também por assuntos menos gritantes, reproduz
(com menos brilho, é verdade) mais de um período caracterizado pela mesma linha
de oposicionismo. O resultado a que chega também reproduz o de seus
inspiradores.
http://www1.folha.uol.com.br/
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