21 agosto 2021

81 anos depois do assassinato de Trotsky a 4° Internacional prossegue seu combate

 

Лев Троцкий в цвете. фота Александра Бухмана (1939-40)

Winston Churchill, primeiro-ministro conservador da Inglaterra, escreveu mais de uma vez sobre Leon Trotsky e desejou que ele e suas ideias morressem e fossem esquecidos pela História. Mas ele foi obrigado a reconhecer que talvez apenas Trotsky e Lênin sobrevivessem na História como os mais conhecidos personagens e líderes da revolução russa de outubro de 1917. O ódio brutal do principal líder da burguesia inglesa ao líder bolchevique se direcionava na verdade contra a revolução russa, contra a classe operária que ousara assumir o poder, contra a revolução socialista mundial que assombrava os capitalistas. Esse mesmo Churchill como a maior parte das burguesias do mundo elogiaram Hitler e os nazistas nos anos 1930 pela capacidade que tiveram de reprimirem e esmagarem a mais poderosa classe operária de então, a alemã.

Stálin foi além do ódio e ordenou a execução de Trotsky. Todo o enorme aparato político da Internacional Comunista, seus partidos, jornais e lideranças, mas também a polícia stalinista dentro e fora da URSS (a NKVD, a GPU) perseguiriam de maneira implacável Trotsky e todos aqueles que ousassem discordar da tirania stalinista que se impunha. Na Alemanha, Stálin também ajudou a abrir caminho para Hitler dividindo a classe operária alemã em 1933, impedindo sua unidade para derrotar o nazismo. O ódio da burocracia stalinista contra o revolucionário russo – antigo presidente do soviete de Petrogrado em 1917 e criador do Exército Vermelho – tinha como alvo a democracia socialista e a possibilidade da revolução mundial. Aferrados a crescentes privilégios e a uma ditadura cada vez mais brutal contra a classe operária e o povo soviético, a burocracia stalinista temia a revolução tanto quanto os capitalistas.

Para o grande acordo em defesa da convivência e estabilidade com os capitalistas Stálin ofereceria o assassinato de Trotsky em 1940, mas antes buscou em plena década de 1930 – quando o mundo capitalista mergulhava em profunda crise – novos acordos com as burguesias dos principais estados capitalistas. Tratava-se das políticas de colaboração de classes ou Frentes Populares como ficaram conhecidas e que de fato colocavam as organizações operárias em frentes controladas por partidos das burguesias. Essa política teve o efeito desastroso, por exemplo, de bloquear a revolução espanhola (1936-1939) ou criar uma frente com a burguesia francesa no momento de ascensão da luta de classes na França. A 3ª Internacional, depois de capitular e não combater o nazismo, submeteu-se completamente ao controle dos chefes nomeados de cima para baixo por Stálin e tornou-se um apêndice das manobras diplomáticas da política externa da URSS.

Oposição de esquerda e a 4ª Internacional
Após a ascensão de Hitler na Alemanha em janeiro de 1933, a Oposição Internacional de Esquerda passou a defender a proposta de se construir uma 4ª Internacional a partir de uma orientação de frente única, chamando a mais ampla unidade das organizações operárias para lutar contra o fascismo. As organizações dirigidas pelo stalinismo defendem nesse momento as frentes amplas com as burguesias, que na prática, em nome da “unidade” ou da “democracia”, obrigavam e pressionavam sindicatos por exemplo a abrirem mão de salários, direitos e greves. No Brasil essa política se traduziu na criação da ANL (Aliança Nacional Libertadora) impulsionada pelo Partido Comunista (PCB) e que, ao contrário do que dizia seu nome, buscava aprisionar a classe operária brasileira aos objetivos da burguesia.

Em 1936 Trotsky está empenhado também em impulsionar o “Movimento pela 4ª Internacional”, após a completa falência e burocratização da 3ª Internacional comunista que não esboçara nenhuma reação à derrota do movimento operário alemão ao nazismo. Depois de ser expulso da França e na Noruega ser ameaçado de deportação para a URSS (onde seria fuzilado por Stálin), o governo de Lázaro Cárdenas no México ofereceu asilo ao velho revolucionário russo. A herança da revolução mexicana (1910-1917) de Pancho Villa e Emiliano Zapata se fizera presente nesse gesto.

“A crise da humanidade se resume à crise da direção revolucionária”

Nos meses que antecederam sua morte, Trotsky buscava fortalecer a recém fundada 4ª Internacional que se formara em 1938 e dava seus primeiros passos. Como afirma seu texto fundador – o Programa de Transição – “a crise da humanidade se resume à crise da direção revolucionária”. As condições objetivas para a revolução socialista estavam dadas e era necessário construir uma nova direção revolucionária. Sem o socialismo a humanidade estaria ameaçada de ser arrastada a barbárie pela permanência do capitalismo. A barbárie estava mesmo próxima. A Segunda Guerra mundial (1939-1945) que mataria dezenas de milhões se seres humanos nos anos seguintes apenas começava. Trotsky assinalou em suas últimas notas escritas pouco antes do seu assassinato: “A Segunda Guerra Mundial coloca a questão da mudança de regime de maneira mais imperiosa e urgente que a Primeira. É sobretudo uma questão de regime político. Os operários sabem que a democracia em toda a parte naufragou e que o fascismo os ameaça mesmo ali onde é inexistente. A burguesia dos países democráticos vai naturalmente utilizar este medo do fascismo por parte dos operários, mas, por outro lado, a falência das democracias, seu desmoronamento, sua dolorosa transformação em ditaduras reacionárias, obrigam os operários a se colocar a questão do poder e os torna responsáveis por colocá-la. (…).

Churchill e Stálin temiam os abalos da conjuntura internacional à estabilidade política. Temiam que se repetisse o que ocorrera ao final da Primeira Guerra (1914-1918), a explosão das massas populares e as revoluções. Era essa a aposta de Trotsky e da 4ª Internacional. O stalinismo se tornara linha auxiliar da estabilidade internacional, apesar de todas as aparências em contrário. E o final da guerra em 1945 de fato levou milhões às ruas numa onda revolucionária anticapitalista que varreu todo o planeta. Nem Getúlio Vargas no Brasil escapou. Depois a destruição final da Internacional Comunista em 1943 e ainda os acordos Yalta e Postdam ao final da Segunda Guerra. A vitória contra o fascismo de Hitler e Mussolini só foi possível porque houve a revolução de outubro de 1917, que pode transformar a Rússia rural e atrasada em uma potência industrial através da planificação econômica socialista, com a eliminação da propriedade privada dos meios de produção. O objetivo do aparelho stalinista eliminando Trotsky era o de liquidar com o fio de continuidade da Revolução de Outubro de 1917, a sua herança e exemplo. O assassinato de Trotsky ocorreu entre os dias 20 quando sofreu um atentado em sua casa e 21 de agosto quando morre em um hospital da cidade do México.

81 anos depois, a 4ª Internacional prossegue seu combate para ajudar a classe a se colocar a questão do poder e pôr fim ao sistema da propriedade privada dos grandes meios de produção.

*Por Everaldo Andrade - via https://otrabalho.org.br/

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