Vidas estão sendo perdidas a cada minuto. O colapso humanitário se aproxima de Gaza
Reunião do Conselho de Segurança da ONU sobre a Ucrânia (Foto: REUTERS/Carlo Allegri)
Por Tereza Cruvinel*
Enquanto as bombas de Israel caem sobre Gaza, matando civis, mulheres e crianças (sem eludir o fato de que o Hamas também fez isso), a diplomacia tenta sair da inércia e abrir alguma fresta de esperança. Em sinal da importância que o governo brasileiro está conferindo à reunião de amanhã do Conselho de Segurança da ONU, chamada pelo Brasil, o próprio chanceler Mauro Vieira irá presidi-la, e para isso deve estar neste momento voando da Ásia para Nova York. Ordinariamente, a presidência brasileira seria exercida pelo embaixador junto à ONU, Sergio Danesi.
Este é um momento desafiante para as nações e para seus líderes e o Brasil, com Lula, está se posicionando corretamente e com a presteza que o drama exige. Vidas estão sendo perdidas a cada minuto. O colapso humanitário se aproxima de Gaza.
Pesa a favor do Brasil o fato de estar ocupando a presidência temporária do Conselho de Segurança mas também o posicionamento de seu presidente e a ação de sua diplomacia. O secretário-geral da ONU acolheu imediatamente o apelo que Lula fez ontem às nações, pela obtenção de uma trégua que permita a liberação das crianças israelenses feitas reféns, e das crianças palestinas que estão sob o fogo em Gaza, sem água, sem comida, alguns já sem os pais. Na reunião de hoje a proposta encampará também a ideia de criação do corredor humanitário via Egito.
Não será fácil a obtenção de um consenso no colegiado em que os cinco membros permanentes (EUA, Rússia, China, Reino Unido e França) têm poder de veto. Mas a diplomacia é um bordado minucioso, feito ponto a ponto, com a linha e as cortes certas, na hora exata. O Brasil é experiente com as agulhas diplomáticas.
O êxito no Conselho dependerá de alianças, e Lula está buscando dialogar com governantes de outros países membros. E tem a seu lado, para isso, alguém como Celso Amorim, com seu vasto trânsito e conhecimento com os que ocupam posições no mundo.
Mas é certo que tudo dependerá muito dos Estados Unidos, e neste sentido Lula pode se valer da boa relação com Biden, que internamente não está em condições de adotar posições que o apresentem como insensível, por mais forte que sejam os laços do poder americano com Israel. O Secretário de Estado Anthony Blinken amanheceu nesta quinta-feira em Tel Aviv, fez a esperada demonização retórica do Hamas mas chamou a atenção para a situação dos civis que estão morrendo em Gaza. Este ponto mereceu atenção dos observadores globais.
O corredor humanitário dependerá da anuência do Egito, e para isso pode contar muito a pressão de uma decisão do Conselho de Segurança. Não será fácil mas dali é que pode sair alguma coisa na linha do que disse Lula: alguma humanidade na insanidade da guerra.
O governo, a diplomacia, a FAB e o ministério da Defesa estão fazendo um trabalho louvável. A retirada dos brasileiros de Israel está sendo exitosa e deixando para trás países mais ricos e importantes. Já os que estão em Gaza não sairão antes da reunião de amanhã, mas as equipes brasileiras já estão com tudo pronto, ônibus alugados e listas e contatos conferidos. Tudo depende de que o Egito concorde e de que Israel não bombardeie aquela única passagem para fora de Israel. Se eventualmente o corredor humanitário for conseguido, por lá sairão os de outras nacionalidades, que também estão sofrendo o inferno em Gaza. Inclusive europeus e americanos, que por isso mesmo também tem interesse na proposta.
*Via Brasil247
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