20 fevereiro 2009

Governo Yeda em crise









Denúncias contra o governo Yeda Crusius repercutem na Assembléia

As denúncias contra o governo estadual repercutiram na sessão plenária da Assembléia Legislativa desta quinta-feira (19). As informações sobre distribuição irregular de dinheiro durante e após a campanha eleitoral da governadora Yeda Crusius foram tornadas públicas pelo PSOL. A sigla revelou ter tido acesso a provas de gravações de vídeo e de áudio de testemunhas, que estão sob investigação no Ministério Público Federal. Os deputados petistas querem acesso aos documentos. O líder da bancada, deputado Elvino Bohn Gass, adiantou: “em se confirmando os dados apresentados, não temos dúvida de que não há mais possibilidade de a governadora exercer a função para a qual foi eleita pelos gaúchos”. O PSOL decidiu revelar as denúncias após a morte do ex-representante do governo Yeda em Brasília, Marcelo Cavalcante. Nos próximos dias, ele iria depor no Ministério Público Federal.

Bohn Gass lembrou que, ao final da CPI do Detran, a bancada do PT apresentou voto separado e fez uma representação ao Ministério Público Federal, responsabilizando a governadora e integrantes do governo pelo desvio de R$ 40 milhões dos cofres públicos gaúchos. O esquema descoberto pela Operação Rodin desbaratou uma quadrilha envolvendo figuras do governo estadual e da campanha da governadora Yeda Crusius ao Palácio Piratini. “Agora vemos a continuidade desta representação. Se estávamos estarrecido com aqueles fatos, imaginem hoje com estas informações sobre repartição de dinheiro”, ressaltou. O líder petista adiantou que, de imediato, encaminhará pedido formal ao MPF para que as provas da Operação Solidária sejam anexadas à representação do PT. “Temos aqui uma junção de elementos de apropriação de recursos da população”.
O deputado Raul Pont (PT) disse estar surpreso com a gravidade das denúncias que chegam a partir da entrevista coletiva concedida pelo PSOL. “O partido afirma ter tido acesso a provas. Não dá para tentar desconstituir as informações, alegando falta de prova. Dificilmente uma deputada federal e um vereador e advogado fariam declarações tão bombásticas sem provas”, observou. Ele também lembrou das gravíssimas denúncias e provas obtidas durante a CPI do Detran e que foram encaminhadas ao Ministério Público. A deputada Stela Farias (PT) também considera fundamental a investigação dos fatos.

As denúncias

Segundo a deputada Luciana Genro e o vereador Pedro Ruas, a empresa Mac Engenharia, repassou R$ 500 mil para Lair Ferst, para o ex-secretário Delson Martini, para Carlos Crusius. O fato teria acontecido na presença do ex-secretário da Fazenda Aod Cunha, do ex-secretário da prefeitura de Canoas, Chico Fraga, e Rubens Bordini, que arrecadou recursos durante a campanha da governadora e integra a direção do Banrisul. Ferst foi um dos coordenadores da campanha de Yeda em 2006 e é réu na Operação Rodin, que desbaratou um rombo de R$ 40 milhões nos cofres públicos do Estado. Já o proprietário da Mac Engenharia é citado na investigação da Operação Solidária, em andamento no Ministério Público Federal.

A deputada também falou que há uma gravação onde o deputado José Otávio Germano aparece entregando R$ 400 mil para serem usados no segundo turno da campanha da tucana ao governo estadual. De acordo com as informações reveladas pelo PSOL, há uma outra gravação tratando dos detalhes da compra da casa da governadora. Nesta, aparece Lair Ferst entregando R$ 400 mil para um corretor de imóveis. Além disso, o partido também se referiu a um “mensalinho”, distribuído por Martini e por uma assessora de Yeda. Devido à gravidade das denúncias, o PT quer imediata investigação. (...) (Por Stella Maris Valenzuela, do sítio PTSul).
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*Foto 'pescada' do Diario Gauche - no destaque, o ex-assessor de Yeda, Marcelo Cavalcante, encontrado morto no final de semana em Brasília.

19 fevereiro 2009

Novíssima denúncia abala gov. Yeda







Por que razão Marcelo Cavalcante "começou a ficar apreensivo, muito nervoso"?

Deu no RS Urgente, sobre o conteúdo da 'explosiva coletiva' concedida hoje à tarde, na capital gaúcha, pela direção do PSOL: "Pedro Ruas e Luciana Genro conduziram a coletiva fazendo questão de destacar que a decisão de apresentar as denúncias foi tomada a partir da morte de Marcelo Cavalcante, em Brasília. O depoimento que o ex-assessor de Yeda Crusius prestaria ao Ministério Público Federal, depois do Carnaval, estaria causando dor de cabeça para muita gente, inclusive, obviamente, para o próprio. Em entrevista ao jornal Zero Hora, Magda Koenigkan disse que Marcelo estava muito angustiado em função desse depoimento. “Ele começou a ficar apreensivo, muito nervoso”. Magda confirmou o encontro de Marcelo com a governadora, semana passada, em Brasília. A conversa teria ocorrido na “embaixada” do RS na capital federal. Segundo os representantes do PSOL, Marcelo Cavalcante aparece em várias das gravações em áudio e vídeo que teriam sido feitas por Lair Ferst em encontros envolvendo recebimento ou repasse de dinheiro.

O ônus da prova, como se sabe, é de quem acusa. Durante a coletiva, Luciana Genro, Pedro Ruas e Roberto Robaina foram indagados se não temiam as conseqüências de fazer acusações tão pesadas sem apresentar provas. Pedro Ruas deu detalhes sobre a qualidade de áudio e vídeo de algumas das gravações, enfatizou que o contato que tiveram com esse material não foi através do Ministério Público e deixou aberta a possibilidade de ter cópias do mesmo. Advogado experiente, Ruas não parece um kamikaze político. Se Lair Ferst fez tais gravações, para a sua própria proteção, é possível que outras pessoas tenham tido contato com elas. Foi dito, em alto e bom som, que ele já fez a delação premiada e contou coisas que podem sacudir o Palácio Piratini. Coisas envolvendo, por exemplo, a repartição do dinheiro do Detran e a compra da casa da governadora.
Os acusados não têm outro caminho a não ser exigir judicialmente que os acusadores apresentem as provas das acusações. Trata-se de um movimento previsível que, provavelmente, foi previsto pelos acusadores. O prato servido hoje pelo PSOL tem alto teor explosivo. No frigir dos ovos, há duas alternativas: ou Pedro Ruas, Luciana Genro e Roberto Robaina inventaram as denúncias que apresentaram hoje, ou não..."
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O que o PSOL diz que existe

Na entrevista coletiva de hoje, o PSOL afirma que existe o que segue abaixo:

- Áudio e vídeo mostrando representante da Mak Engenharia entregando 500 mil para a campanha de Yeda na presença de Chico Fraga, Aod Cunha, Rubens Bordini, Delson Martini, Lair Ferst e Marcelo Cavalcante;

- Áudio e vídeo de representantes de empresas fumageiras entregando 200 mil para Aod Cunha e Lair – na conversa, Lair diz que não poderia dar recibo a pedido de Yeda

- Lair Ferst relata conversa que seria sobre a repartição do dinheiro do Detran entre ele, Yeda, Vaz Netto e Maciel. Lair oferece 100 mil por mês para Yeda para manter o esquema e ela responde: por 100 mil eu não me levanto da cadeira.

- Áudio e vídeo de José Otávio Germano entregando 400 mil em espécie, do dinheiro do Detran, para caixa 2 do segundo turno da campanha de Yeda. José Otávio diz que aquela era uma ajuda para obter crédito político. Presentes: Lair, Yeda e Marcelo Cavalcante.

- Longo vídeo de conversa de Lair com o corretor Albert sobre a formatação da compra da casa de Yeda. Bem detalhado. Lair entrega 400 mil em dinheiro vivo para o corretor. Dinheiro este além dos 750 mil pagos formalmente. Neste vídeo são citados nomes de 20 pessoas, entre eles o marido Crusius e vários secretários;

- Áudio e vídeo de distribuição de pacotinhos de dinheiro para várias pessoas cujos nomes não são conhecidos. Quem aparece distribuindo (e inclusive a expressão "mensalinho" é dita por alguém) é Valna Villarins (assessora de Yeda) e Delson Martini. Testemunham o fato: Lair e Marcelo.

- Áudio e vídeo de Humberto Busnello entregando 200 mil para o caixa dois da campanha de Yeda para Aod Cunha. Lair testemunha.

- Áudio e vídeo de uma longa explanação de pagamentos de contas particulares da governadora, supermercado inclusive. Alguma coisa envolvendo empresas de publicidade – DCS entre elas. Presentes: Lair e Marcelo.

- Diálogo sobre reforma da casa de Yeda feita pela Magna Engenharia. Lair é que está negociando.

(http://www.rsurgente.net/)

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*À respeito de todas estas gravíssimas denúncias, eis a lacônica resposta dada pelo governo Yeda, através de nota à imprensa distribuída hoje à noite: "Em resposta às demandas recebidas da imprensa, o Palácio Piratini informa que as declarações que o PSOL deu em entrevista coletiva foram desmentidas pelo Ministério Público Federal. Porto Alegre 19 de fevereiro de 2009."
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**Grifos e edição deste blog.

Atualizado às 22,35 h

Suicídio?








'Sete questões que não querem emudecer'


O sociólogo Cristóvão Feil, do blog Diário Gauche, levanta as seguintes indagações em relação ao episódio que resultou na morte do ex-representante do governo Yeda em Brasília, Marcelo Cavalcante, que trabalhava atualmente como assessor do deputado federal Claudio Diaz (PSDB/RS):

"Ontem à noite conversei com um especialista em assuntos policiais. A propósito da morte misteriosa do ex-assessor de gabinete da então deputada federal Yeda Crusius (PSDB), ele me esclareceu e me confundiu com algumas informações, como:

1) É raríssimo suicídio por afogamento, tanto mais se o local escolhido for nas águas serenas de um lago, onde não há correnteza, redemoinhos ou ondas.

2) Qual o motivo de apressar o sepultamento do corpo? O corpo foi encontrado no amanhecer de terça-feira, ontem à tarde já estava sepultado.

3) Por que não houve perícia técnica para examinar as vísceras do corpo? Em casos de suspeita de morte por afogamento é fundamental examinar a presença de microalgas no interior do pulmão da vítima. O exame legista pode dar respostas sobre agressão antes ou depois do óbito e qual foi de fato o agente causador do mesmo.

4) Como a hipótese de suicídio é remota, por que pessoas do centro do governo Yeda logo classificaram de forma perempta e uníssona, sobretudo uníssona, a morte por suicídio? Seria uma orquestração? De quem? O meu interlocutor estranha a carta de Carlos Crusius que não disse a que veio, salvo para afirmar categoricamente que Marcelo Cavalcanti foi levado ao suicídio. Ficou evidente a “palavra de ordem” de Crusius: morte por suicídio e ponto final.

5) A mídia amiga e os correligionários do falecido passam a repetir a hipótese do suicídio como uma verdade absoluta, fazendo cortina de fumaça para outras hipóteses e especulações menos ingênuas.

6) Uma questão importante: a Polícia Federal está investigando o caso?

7) E o mais intrigante: “por que a mídia amiga – ZH e CP, especialmente – não levantam isso que eu estou dizendo aqui no nosso diálogo? Afinal, essas questões que aponto são elementares, como beber um copo d’ água, para um bom repórter policial” – arrematou o meu atônito interlocutor". (...)

*Leia mais no blog http://www.diariogauche.blogspot.com/

17 fevereiro 2009

Sindicatos x gov. Yeda




Entidades sindicais expõem a destruição do RS pela gestão tucana

A campanha assinada pelo CPERS/Sindicato, Sindicaixa, Ugeirm/Sindicato, Sindisepe, Simpe, Sindiágua, Semapi, Sindjus-RS, Sindet e Federação dos Bancários do RS em defesa dos serviços públicos continua repercutindo com força na mídia estadual e nacional. Apesar do lançamento de um novo outdoor sem o rosto da governadora Yeda Crusius, os sindicalistas reafirmam que todas as denúncias que estão sendo feitas em relação às políticas de destruição do Estado pelo governo tucano estão fundadas em fatos concretos e de conhecimento da sociedade gaúcha.

"Em pouco mais de dois anos, a atual administração estadual já trocou mais de 50% do secretariado, tudo em função de sistemáticas crises. As denúncias não foram criadas pelas entidades, que apenas expõem fatos já públicos. Neste contexto, encontram-se as investigações em andamento em relação ao escândalo do Detran, que foi objeto de uma CPI na Assembléia Legislativa. Além disso, a concepção pouco ética do governo foi claramente demonstrada em gravação feita pelo vice-governador", argumenta a presidente do CPERS, Rejane Oliveira.

Para a dirigente, o comprometimento do interesse público em benefício do interesse privado tem caracterizado o atual governo, o que permite dizer que o governo está destruindo o serviço público. "Na educação as iniciativas partem da municipalização, passam pela introdução de critérios privatistas na gestão e se concretizam com o fechamento de escolas, a enturmação, o fechamento de bibliotecas. Na conta do ajuste fiscal, a educação sofre com a não aplicação dos 35% da receita de impostos, previstos no artigo 202 da Constituição Estadual", adverte Rejane.

Conforme a presidente do CPERS, acusar o CPERS/Sindicato e qualquer uma das demais entidades que assinam a campanha é desconhecer a postura de um governo que opta em substituir o diálogo pela repressão aos movimentos sociais, inclusive com a Brigada Militar tentando dispersar manifestações democráticas com o uso de gás de efeito moral e balas de borracha. "Essa intransigência, autoritarismo e falta de diálogo não é uma leitura apenas dos movimentos, mas da própria Assembleia Legislativa, que abonou os dias greve realizada pelos educadores em novembro do ano passado", concluiu a sindicalista. (Por Assessoria de Imprensa do sítio PTSul e blog Sineta)

'Direto de Caracas'















'A RUA É DOS CHAVISTAS; OPOSIÇÃO SE REFUGIA NA MÍDIA'

*Por Rodrigo Vianna

Os fogos estouram no céu de Caracas.

O Conselho Nacional Eleitoral acaba de dar o primeiro boletim oficial na noite de domingo. Com mais de 94% das urnas apuradas, o resultado já é irreversível: vitória do "sim" no referendo, vitória incontestável de Chavez.
Enquanto isso, ligo a TV no quarto do hotel em Caracas. Chavez já está na sacada do Miraflores, o palácio presidencial: canta o Hino Nacional. Os fogos aumentam aqui em volta do hotel (e olhe que estou em área dominada pela oposição; mas devem haver, por aqui, uns chavistas "infiltrados" entre os "esquálidos" da classe média caraquenha).
Chavez está emocionado. Ato simbólico: inicia o pronunciamento lendo uma mensagem de Fidel Castro, que felicita os venezuelanos pelo triunfo do "sim".
Penso com meus botões: mas Fidel não era um "cadáver político", como noz fizeram crer durante os anos 90? Agora, Chavez, o vitorioso, faz questão de iniciar seu discurso com a mensagem de Fidel. Hum... Algo se moveu na América Latina.
A velocidade é impressionante: Evo aprova a Consituição na Bolívia, Correa avança no Equador, Lugo se firma no Paraguai, Lula atinge 84% de aprovação. Fora os Kirchner na Argentina, e o Uruguai (que já tem o socialista Tabaré no poder, e pode agora eleger Mujica, um ex-guerrilheiro tupamaro convertido ao jogo democrático).
Não dá tempo de pensar muito. Corro pra pegar o táxi, e sigo com o cinegrafista Wanderlei, em direção a Miraflores. As ruas estão tomadas. Uma enorme procissão de motoqueiros chavistas circula pelas ruas do centro, fazendo muito barulho. As pessoas também chegam de carro, mas a maioria veio a pé, ocupando as ruas em volta do Palácio. Não conseguimos seguir mais de táxi. A pé, também, tentamos nos aproximar de Miraflores.
A cena lembra um pouco 2002, quando a multidão tomou as ruas de Caracas, exigindo a volta de Chavez. O presidente havia sido deposto num golpe de Estado comandado pela oposição, com apoio forte da mídia privada venezuelana. Por isso, os chavistas não são muito fãs de equipes de TV: com razão, associam jornalistas com golpismo.
Muitos me param: "de que canal são?". "Brasil, Brasil", respondo rápido. A reação é sempre a mesma: "Brasil, Lula, amigo de Chavez, amigo da Venezuela". Sorrisos, eles querem pular na frente da câmera, dizer o que sentem por Chavez. E os venezuelanos adoram um discurso. Como falam. Sempre alto, empolgados, verborágicos, muito diferentes dos brasileiros.
Subimos na famosa ponte sobre a avenida Baralt. Em 2002, as TVs privadas mostraram cenas de atiradores postados nessa ponte, e numa montagem safada (desmascarada pelo belíssimo documentário "A Revolução Não Será Televisionada"; veja a primeira parte aqui) fizeram crer que os chavistas atiravam sobre a multidão de opositores que passava pela avenida. Foi a senha para dar o golpe!
Dessa vez, não há atiradores, nem golpismo. Há a multidão... O Palácio ainda está a 3 quadras. Avançamos mais um pouco, já é possivel ver as janelas de Miraflores. Mas, é impossível chegar até a sacada de onde Chavez segue discursando...
A multidão enlouquece. Um homem carrega o retrato de Simon Bolivar, com uma moldura dourada, parece arrancado da parede de algum museu. Mas a História aqui está viva, vivíssima.
O dono de uma van nos autoriza a subir na capota do carro, para gravar mais algumas cenas. O povo se aglomera em volta do carro: "Brasileiros, povo irmão", eles gritam, balançando perigosamente o veículo. "Sim, sim, povo irmão, mas não balance assim se não a gente cai daqui de cima, meu amigo", penso eu, enquanto dou um sorriso meio sem graça para os simpáticos venezuelanos, já embalados por algumas doses a mais de uma bebida amarela , que não consigo distinguir dentro daquelas garrafas de plástico.

A festa avança pela madrugada. A rua é dos chavistas.

A oposição se refugia na mídia. Agora pela manhã, o que sobrou da RCTV (uma das emissoras golpistas de 2002) se transforma num palanque. Um sujeito de paletó grita palavras contra Chavez no estúdio, falando na necessidade de defender a honra da pátria. Imagino que seja um líder da oposição. Não! É um jornalista. A imprensa aqui, como no Brasil, é quem lidera a oposição.
Um fato, no entanto, merece ser apontado. O "não" perdeu, mas obteve 45% dos votos. É um patrimônio e tanto. Falta à oposição um nome que consiga unificar tantos setores dispersos, para enfrentar Chavez. Mas a oposição, ao que parece, não tem mais porque se aventurar em golpismo. Ganhou musculatura para fazer o jogo democrático. Sorte da Venezuela.

**Rodrigo Vianna é editor do blog 'O Escrevinhador' http://www.rodrigovianna.com.br/
**Foto acima: Festa popular pela vitória de Hugo Chavez, por Rodrigo Vianna, de Caracas

16 fevereiro 2009

'Dividindo a conta...'



















*Charge do Eugênio Neves

Venezuela









Hugo Chávez comemora vitória em referendo

Caracas - Da BBC Brasil - Diante de uma multidão de simpatizantes, o presidente da Venezuela Hugo Chávez afirmou, na noite deste domingo, que a vitória no referendo abre caminho para a consolidação de uma revolução socialista no país.

"Hoje começa o terceiro ciclo histórico, de 2009 a 2019 (...). Abrimos a porta do futuro para continuar transitando a caminho da dignidade (...) e esse caminho não tem outro nome: é socialismo", afirmou Hugo Chávez ao dirigir-se a seus simpatizantes na varanda do Palácio de Governo. O local havia sido cercado por uma multidão vestida de vermelho, a cor do chavismo, antes mesmo do anúncio da vitória.
"Os que votaram pelo ‘Sim' votaram pelo socialismo, pela revolução e por Chávez", acrescentou o mandatário. Ele discursou acompanhado das filhas, netos e ministros, em um ato que foi transmitido por cadeia nacional de rádio e televisão.
Chávez, que estava eufórico e afônico, disse que o referendo foi uma grande vitória do povo e da revolução, e que os venezuelanos haviam escrito uma "página memorável na história" do país.
Segundo o primeiro boletim do Conselho Nacional Eleitoral (CNE), com 94,2% das urnas apuradas, o "Sim" levou 54,36% dos votos, aprovando a emenda constitucional que coloca um fim ao limite para a reeleição aos cargos públicos.
A medida habilita o presidente venezuelano a candidatar-se a um terceiro mandato presidencial nas eleições de 2012, para as quais ele já se proclamou "pré-candidato".
O presidente parabenizou também a seus opositores pela disputa, e disse que a vitória também era dos que votaram "não", opção que, de acordo com o CNE obteve 45,63% dos votos. A participação, uma das mais altas dos últimos pleitos, foi de 67,05% dos cidadãos com direito a voto.
O presidente venezuelano contou que o primeiro a parabenizá-lo foi o líder cubano Fidel Castro. "Felicidades a você e para seu povo por uma vitória que, por sua magnitude, é impossível de medir", disse Fidel, de acordo com Chávez.(...)
A festa dos chavistas se estendeu durante toda a madrugada, com queima de fogos, caravanas e gritos de "Uh, ah! Chávez, não se vá". (Cláudia Jardim)

14 fevereiro 2009

Artigo









Os desafios da crise

*Por Emir Sader

A dimensão e a provável duração longa da crise aparecem como desafios para governos que não pretendem simplesmente ser vítimas dela ou transferi-la para os mais vulneráveis, resgatando bancos e grandes empresas, sem contrapartidas e sem garantia de direitos para a grande maioria. Uma primeira resposta está sendo dada pelos governos das grandes potências – eles mesmos os maiores responsáveis pela crise, ao deixar o mercado financeiro funcionar sem nenhum tipo de regulação -, usando recursos públicos para resgatar os grandes bancos e empresas privadas, tentando fazer da crise um momento extraordinário de apoio ao mercado, para que este possa recobrar suas condições “normais” de financiamento. Esta é a posição da direita, aqui e lá fora, preocupada com as regulações estatais, com os nacionalismos, com os desgastes que o modelo neoliberal inevitavelmente sofre.

Onde há governos que privilegiam a integração regional, como na América Latina, a direita se preocupa em multiplicar o clima de pânico, destacando os efeitos da crise, tentando desqualificar as medidas de manutenção de ritmos de expansão e de garantia do emprego desses governos e subestimando as medidas anticíclicas tomadas por estes.

Para a esquerda se trata de, por um lado, denunciar o fracasso do modelo centrado na suposta capacidade do mercado de alocação de recursos de forma equilibrada, assim como do caráter de capitalismo exacerbado – que revela sua própria essência de regime mercantil – do capitalismo. Enquanto os que pregavam o modelo fracassado – desde organismos internacionais, de governos, de colunas e editorias econômicas – fingem como se nunca o tivessem feito, para a esquerda se trata de não ficar na denúncia, mas de demonstrar capacidade de formular e colocar em prática políticas de superação do modelo.

Ficar na denúncia das falácias do neoliberalismo e do capitalismo significa reduzir a esquerda a um papel apenas de crítica. No caso atual, ameaçando somar à imprensa de direita, que busca desqualificar as políticas anticíclicas dos governos progressistas. Críticas que não desembocam em políticas concretas, revelam sua fragilidade e sua infertilidade como elemento de transformação concreta da realidade.

A primeira atitude que diferencia governos e forças progressistas é não aceitar passivamente os efeitos da crise, mas reagir com manutenção e incentivos à continuidade dos investimentos. Em segundo lugar, que sejam investimentos e incentivos que tenham obrigatoriamente como contrapartida a garantia do nível de emprego. Em terceiro, se existe apoio a bancos e empresas privadas, que seja acompanhada de poder de decisão dos Estados sobre essas empresas e não gasto de dinheiro publico a fundo perdida. Em quarto, punição para as empresas que agiram de maneira irresponsável, abusando da especulação e colocando em risco a economia do país.

Basta isso? Não. Para que a crise não coloque os governos e forças progressista na defensiva – recordar que The Economist anunciou que era chegada a hora da direita retomar iniciativa, com suas pautas preferidas: crise e ajuste fiscal, por um lado, violência, por outro – é preciso avançar no caminho dos processos que apontam para a criação de um mundo multipolar, em todos os planos. Avançar no Banco do Sul, na criação da moeda única, de um Banco Central único; no Conselho Sulamericano de Defesa; na Unasul; na Alba; nos projetos de integração midiática, educacional, de pesquisa, de políticas públicas, ernergéticos.

Como efeito da profundidade e extensão da crise, podem se enfraquecer ou se fortalecer as políticas progressistas, especialmente na América Latina, onde elas mais tem se afirmado. Dependem das políticas governamentais que sejamos simples vítimas passivas das crises – como fomos na anteriores, inclusive com as três quebras da economia no governo FHC – ou ativamente, avançando na construção de políticas pós-neoliberais.

*Emir Sader (foto) é sociólogo, militante de esquerda, professor e escritor

**Fonte: Blog do Emir (Carta Maior)

A FACE DO GOVERNO YEDA










Campanha de entidades sindicais expõe a destruição do RS pelo governo Yeda

Saiu no sítio do Cpers/Sindicato: Dez entidades do funcionalismo público estadual lançaram na tarde de quinta-feira 12, em Porto Alegre, a segunda parte da campanha em defesa dos serviços públicos. A campanha* repercutiu com força na mídia estadual e nacional. O lançamento aconteceu em ato público realizado no Centro de Eventos do Parque Harmonia, seguido de uma caminhada até o centro da capital gaúcha.
Todas as denúncias que estão sendo feitas em relação às políticas de destruição do estado pelo governo Yeda estão fundadas em fatos concretos e de conhecimento da sociedade gaúcha. Em pouco mais de dois anos a atual administração estadual já trocou mais de 50% do secretariado, tudo em função de sistemáticas crises. As denúncias não foram criadas pelas entidades, que apenas repercutem fatos já públicos. Neste contexto encontram-se as investigações em andamento em relação ao escândalo do Detran, que foi objeto de uma CPI na Assembléia Legislativa. A concepção, pouco ética do governo, é claramente demonstrada em gravação feita pelo vice-governador.

O comprometimento do interesse público em benefício do interesse privado tem caracterizado o atual governo, e isso possibilita dizer que o governo está destruindo o serviço público. Na educação as iniciativas partem da municipalização, passam pela introdução de critérios privatistas na gestão e se concretizam com o fechamento de escolas, a enturmação, o fechamento de bibliotecas... Na conta do ajuste fiscal, a educação sofre com a não aplicação dos 35% da receita de impostos, previstos no artigo 202 da Constituição Estadual.

Portanto, acusar o CPERS/Sindicato e qualquer uma das demais entidades que assinam a campanha é desconhecer a postura de um governo que opta em substituir o diálogo pela repressão aos movimentos sociais, inclusive com a Brigada Militar tentando dispersar manifestações democráticas com o uso de gás de efeito moral e balas de borracha. Essa intransigência, autoritarismo e falta de diálogo não é uma leitura apenas dos movimentos, mas da própria Assembleia Legislativa, que abonou os dias greve realizada pelos educadores em novembro do ano passado.

A campanha é assinada por CPERS/Sindicato, Sindicaixa, Ugeirm/Sindicato, Sindisepe, Simpe, Sindiágua, Semapi, Sindjus-RS, Sindet e Federação dos Bancários do RS.
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*Nos outdoors (foto acima), a face que aparece como a responsável pelas mazelas vivenciadas atualmente pelo RS é a da governadora Yeda Crusius.

**Por João dos Santos e Silva, assessor de imprensa do CPERS/Sindicato

http://www.cpers.com.br/portal2/

13 fevereiro 2009

O PAC AVANÇA NO RS







Ministra Dilma inaugura obras no Vale do Sinos nesta sexta-feira

A ministra da Casa Civil, Dilma Roussef, estará nesta sexta-feira (13) no Vale do Sinos, quando participa da solenidade de inauguração das obras da Av. João Correia em São Leopoldo, primeira obra concluída no RS realizada com recursos do PAC (R$ 18 milhões), e oficializar a retomada das obras de ampliação do Trensurb até Novo Hamburgo.Conforme o líder do governo Lula na Assembléia, deputado Ronaldo Zulke, o retorno da ministra ao Estado demonstra a preocupação do governo federal com a fiscalização das obras do PAC. “Na Assembléia Legislativa, através de um comitê de acompanhamento das obras de infra-estrutura viária na região metropolitana do Estado, mobilizamos entidades e líderes políticos em torno da discussão da extensão do Trensurb. A retomada das obras é uma vitória da sociedade gaúcha”, garante Zulke.

Agenda

9h30--Início do Ato de Inauguração das obras de Revitalização da Avenida João Correia

10h10-Deslocamento da Rua Independência para a Avenida Mauá, após o final da Linha 1 da Trensub

10h15-Ato público de início oficial das obras de Expansão da Trensurb de São Leopoldo a Novo Hamburgo

A ministra Dilma Rousseff, acompanhada do ministro Márcio Fortes, será convidada a acionar, simbolicamente, a máquina de perfuração “Perfuratriz de hélice contínua” para a fundação do Metrô

11h15-Anúncio das Obras da Trensurb em Novo Hamburgo

*Por Assessoria de Imprensa da Casa Civil e sitio PTSul.

12 fevereiro 2009

'De quem será esta face?'








* Hoje é o dia em que os responsáveis pelas mazelas pelas quais padece o Rio Grande serão mostrados à população gaúcha, segundo informa o Cpers/Sindicato, uma das entidades organizadoras da campanha de denúncias através de outdoors distribuidos na região metropolitana de Porto Alegre e interior do Estado.

11 fevereiro 2009

As novas viagens de Yeda








Bancada do PT quer esclarecimentos sobre viagens

As contradições entre as informações divulgadas pelo Palácio Piratini a respeito da viagem da governadora Yeda Crusius e o que vem sendo publicado nos veículos de comunicação dos Estados visitados pela tucana preocupam a bancada do PT na Assembléia Legislativa. Em nome da transparência, o líder e deputado Elvino Bohn Gass encaminhou, na tarde desta terça-feira (10), pedido de informações. Ele cobra do Executivo Estadual esclarecimentos sobre custeio, fretamento de aeronave, comitiva e cidades visitadas. “A transparência é o mínimo que se exige”, pontuou Bohn Gass. “Consta, no site do Diário de Pernambuco, que a governadora está de férias e aqui não foi detalhado o roteiro. Ela tem todo o direito de tirar férias até porque 2008 foi o ano das maiores denúncias que este Estado já viveu, como as relativas à fraude no Detran”, sublinhou o petista, para quem Yeda deveria passar o cargo ao vice-governador.

O parlamentar considera inadequado o tour da governadora justamente no momento em que a Metade Sul do estado sofre em função da tragédia causada pelo ciclone extratropical e a Região Noroeste é castigada pela estiagem. Além disso, acrescentou, há demissões decorrentes do reflexo da crise financeira internacional no Rio Grande do Sul, fugas de presídio e, só no último fim de semana, mais de 20 mortos vítimas da insegurança pública. Bohn Gass salienta que a governadora percorre diversas regiões do País para divulgar o déficit zero, desconsiderando o problema social decorrente desta política que não aplica na saúde e na educação os percentuais previstos na Constituição.

Imobilismo x ações

“Estamos acéfalos no Rio Grande do Sul”, lamentou. No entendimento de Bohn Gass, a governadora deveria seguir o exemplo do presidente Lula e promover reuniões com os setores mais atingidos pela crise, como o da construção civil e das máquinas agrícolas e anunciar medidas para amenizar os impactos da crise no estado. “Mas ela viaja e a bancada do PT quer esclarecimentos porque as notícias não conferem. Os argumentos são falaciosos. Faltou dinheiro para saúde e para a educação. Será que em São Paulo e em Pernambuco, Yeda se refere aos problemas afetos à agricultura, à saúde e à educação?”, indagou o líder, ao sustentar que a sociedade gaúcha tem o direito de ser informada e a governadora o dever de prestar contas dos seus atos. (Por Stella Maris Valenzuela, do sítio PTSul)

*Leia mais
no sítio http://www.ptsul.com.br

Coluna






Crítica & Autocrítica - nº 50

* Fato digno de registro e saudação foi a posse, ocorrida no último dia 31, do deputado petista Ivar Pavan no comando da Assembléia Legislativa gaúcha . Sem dúvida a ascensão do Partido dos Trabalhadores ao comando do parlamento gaúcho é um marco histórico que resgata uma lacuna injusta que ameaçava se eternizar - a exclusão sectária e inaceitável do PT, a maior bancada, por várias legislaturas, da presidência da AL.
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* Ivar Pavan foi eleito deputado estadual pela primeira vez em 1990; está, portanto no seu quarto mandato. Nesse período, ocupou a liderança de bancada e de partido por oito anos e a liderança do Governo Olívio Dutra durante três anos. Agricultor familiar, nascido em Aratiba, construiu sua história ao lado da organização dos movimentos sociais, assim como na construção do Partido dos Trabalhadores.
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* Outro parlamentar que assumiu um importante cargo, desta vez na vice-presidência da Câmara de Vereadores de Porto Alegre, foi o meu amigo e companheiro Adeli Sell, combativo e lúcido vereador petista da capital dos gaúchos. A propósito, tive o prazer de conversar longamente com o Adeli, semana passada, durante almoço no restaurante Mamma Júlia, altos do Mercado Público Municipal (o cardápio foi uma excelente tainha ao molho de camarões), oportunidade em que colocamos em dia os assuntos, principalmente relacionados à esfera política e ao PT, aliás, como não poderia deixar de ser.
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* A sensibilidade a toda prova do presidente Lula ficou registrada de forma indelével durante o enterro do deputado Adão Pretto. Lula, emocionado, assim pronunciou-se: “O homem não vale pela quantidade de discursos que ele faz. O homem não vale pela quantidade de anos que ele viveu. Nós, seres humanos, valemos pela qualidade de vida, pelos compromissos e pelas lutas que fizemos em vida (...) Se tem uma família que conquistou o direito de andar de cabeça erguida neste país, de ter orgulho de cada minuto que este homem viveu, é a família de Adão Pretto"
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* Em minha coluna, na última edição do Jornal Correio Regional, voltei a abordar a delicada situação vivenciada pelo PT santiaguense, em especial no último período, procurando dar minha modesta contribuição para que o partido realize um balanço sério e, ao mesmo tempo, também faça uma autocrítica de sua atuação nos últimos anos. (...) Afinal, o PT (tanto local quanto nacionalmente) ainda não esgotou, creio eu, todas as suas possibilidades como partido de esquerda e existem muitos quadros bons e qualificados em Santiago e região. Havendo disposição, garra, vontade e clareza política, ainda há tempo para isso.
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* Aliás, neste 10 de fevereiro, o Partido dos Trabalhadores está comemorando 29 anos de gloriosa existência. Apesar dos problemas (que não são poucos), dos desafios que temos pela frente para ‘recolocá-lo nos trilhos’, temos muito sim o que comemorar. Parabéns à nossa (ainda) brava militância!
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* A coluna denunciou, com veemência, no final do ano passado, uma série de abusos e injustiças verificadas durante (e após) uma megaoperação policial realizada em Santiago, que supostamente objetivava combater o tráfico de drogas. Parte da mídia local deu especial ênfase a operação que teria prendido uma grande quadrilha de malfeitores. Rendeu até manchete de capa e espaço privilegiado nos demais meios de comunicação de massa, incluindo rádios e TV.
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* Pirotecnia pura. Na verdade, ‘a montanha havia parido um camundongo’, como já denunciávamos.
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* É inegável que houve excesso policial no cumprimento do Mandado de Busca e Apreensão. Houve também tremendo constrangimento e injustiça. A presunção de inocência foi totalmente desconsiderada. Os acusados, pessoas pobres e humildes, sempre negaram o envolvimento com o tráfico de drogas que lhes foi imputado. No entanto, estão já há quase dois meses presos. A defesa requereu a concessão da liberdade provisória, pedindo que os mesmos respondam o processo em liberdade, exercendo suas atividades laboriais, retornando ao seio da família, bem como para poderem exercer sua ampla defesa, como faculta a Constituição brasileira.
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* Mas aos poucos, pelo visto, a Verdade e a Justiça vão se restabelecendo. Desde a semana passada uma das pessoas presas, uma dona-de-casa humilde e mãe de família, felizmente já não está mais no presídio municipal. Foi solta a pedido da promotoria, que entendeu inexistirem provas sobre o crime de que a mesma estava sendo acusada.
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* Espera-se agora que os demais presos tenham o mesmo tratamento dispensado a senhora A. M. S. G. e sejam também agraciados com a liberdade provisória, uma vez que, como muito bem colocam os advogados de defesa, inexistem motivos para continuarem presos: são todos primários, não oferecem risco a ordem pública, não há qualquer indício nos autos de que os mesmos possam fugir e abandonar seus familiares, nem para furtar-se da aplicação da lei penal; portanto, nada há que justifique a prisão cautelar dos mesmos. O pedido de liberdade provisória, aliás, segundo averiguou o titular da coluna, já está com o Exmº Sr. Juiz da Vara Criminal de Santiago.
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* “Prefeitura na Rua” é o nome de uma importante e democrática inovação na forma de interagir com a comunidade, trazida pela nova Administração da cidade de Canoas. Neste sábado o evento ocorreu, pela 2ª vez, no Bairro Rio Branco, e estendeu-se durante toda a manhã, encerrando-se no início da tarde. Presentes o prefeito Jairo Jorge e todo o seu secretariado, que realizaram audiências públicas ao ar livre, recebendo as demandas da população (que compareceu em grande número) e fazendo os devidos encaminhamentos.
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* Dois registros finais: absurda e injustificável a agressão sofrida pela equipe do Jornal Expresso Ilustrado em Jaguari. Nada justifica a violência. Quem acha que está sendo injustiçado, seja qual for o motivo, deve buscar os canais devidos - no caso, a Justiça – e nunca procurar fazê-la pelas próprias mãos. Lamentável.
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* O outro registro é em relação a mais nova polêmica ora travada em Santiago, relativa à mudança - ou não - do Foro. Eu entendo que o mesmo deve continuar no centro da cidade, facilitando o acesso e a vida de quem é carente e precisa de Justiça. Mas, é claro, respeito posições divergentes. Só lastimo a perda do controle que, parece, está ocorrendo por parte de alguns debatedores. A baixaria, sempre, e em qualquer situação, não ajuda, não constrói: é um ‘gol contra’, na verdade. Até mais ver! (Por Júlio Garcia, especial para o blog ‘O Boqueirão’)

**Crítica & Autocrítica: coluna que mantenho
(i)regularmente no Blog 'O Boqueirão' http://oboqueirao.zip.net

09 fevereiro 2009

'A crise do capital é de realização'








Tempo em esgotamento

*Por Wladimir Pomar

Enquanto a Força Sindical se perde em convencer os trabalhadores a fazerem concessões salariais para garantir três a quatro meses mais de emprego, a CUT busca concessões tributárias e fiscais para que os empresários garantam empregos por tempo mais prolongado.
Para ser franco, numa crise sistêmica como a atual, não vai adiantar. Como também não vão adiantar as medidas daqueles governos que estão jogando bilhões de dólares para salvar bancos e empresas.
Isso pelo simples fato de que a presente crise do capital é de realização. Isto é, a capacidade de consumo da sociedade tornou-se muito inferior à capacidade social de produção. É evidente que há setores produtivos em que a produção não atende à demanda, mas eles também são arrastados pela crise global, pouco adiantando que estejam melhores.
A atual crise foi agravada porque, mais do que nas anteriores, as lambanças do capital financeiro, em especial nos Estados Unidos e na Europa, através dos empréstimos subprime, deram a falsa impressão de que a capacidade de consumo continuava alta, adiando ao máximo a eclosão da crise de realização. O resultado é que o fosso real entre a capacidade produtiva e a capacidade de consumo é muito maior do que qualquer estimativa pessimista.
Nessas condições, salvar bancos e empresas pode transformar-se num desastre ainda maior se não for acompanhado de vastos (vastos mesmo) - programas de criação de novos empregos. Em outras palavras, em vastos programas de recriação da capacidade de consumo. São esses programas que podem realmente garantir a sobrevivência das empresas e bancos que ainda não fecharam e criar condições para o retorno de outras, no futuro.
Isso é verdade tanto para os Estados Unidos e Europa, quanto para o Brasil, Rússia, Índia, China e demais emergentes. Estes, em teoria, além de não terem responsabilidade pela crise, não deveriam sofrer tanto quanto os países desenvolvidos. Mas, na prática, só não sofrerão grandes danos se entenderem que, apesar das diferenças, a natureza do problema é o mesmo. Ou seja, que a única forma de criar empregos novos, nas atuais condições, reside em abrir frentes de trabalho nas áreas de infra-estrutura industrial, urbana, rural, ambiental e o que mais haja.
Essa é uma missão que o capital privado não realizará. Não porque esteja sem dinheiro. Há muito dinheiro concentrado, e a salvo do desastre financeiro. Mas porque, neste momento, não adianta investir em projetos produtivos, que não trarão lucros a curto prazo. Depois, porque poucos capitalistas terão disposição em correr o risco de investir em infra-estrutura. Eles preferirão ver o mundo cair à sua volta, e só pretendem voltar a investir quando a poeira baixar.
Então, como já temos reiterado, cabe ao Estado assumir essa missão. O Brasil leva a vantagem de ter o PAC, e do governo haver mantido a elevação do salário mínimo. Porém, na urgência atual isso já não basta.
A onda de pessimismo e pânico que assola a burguesia começa a funcionar como os mecanismos internos de alguns organismos que, diante de uma infecção, resolvem responder a ela com uma carga tão alta de anticorpos, que acabam matando o organismo que queriam defender. E o novo salário mínimo só vai ter alguma efetividade na capacidade de consumo se a massa de trabalhadores de baixa renda se mantiver empregada.
Por isso, está se esgotando o tempo para apressar os investimentos do PAC, assim como outros meios de criação de empregos, capazes de debelar os estragos da crise na economia brasileira. Estamos vivendo uma situação idêntica às secas do Nordeste: ou são abertas frentes emergenciais de trabalho, ou o resto não valerá de nada.

*Wladimir Pomar
é escritor e analista político.
**Fonte: Correio da Cidadania

07 fevereiro 2009

Polêmica
















CartaCapital e o país de Pinocchio

*Por GIUSEPPE COCCO

No Brasil, as vivas polêmicas suscitadas pelo caso Battisti foram e são atravessadas por dois grandes vieses. Obviamente, um deles tem origem na Itália. O outro, só um pouco menos óbvio, é fato da conjuntura política brasileira.
A violenta reação da classe política italiana à decisão brasileira de conceder “refúgio” a Battisti tem dois determinantes.
O primeiro diz respeito à composição fortemente reacionária do atual executivo italiano presidido por Berlusconi. Se o berlusconiano ministro do exterior, Frattini, chamou de volta o embaixador, foram os pós-fascistas a ameaçar com a suspensão do “amistoso” de futebol entre Brasil e Itália; e um deputado da "Lega Nord" a declarar que o Brasil é conhecido por suas “dançarinas” e não por seus juristas.
O segundo determinante diz respeito à composição da classe política italiana considerada em conjunto. Até o Presidente italiano, apesar de seu pouco peso (o regime italiano é parlamentar, e quem 'manda' é o Primeiro Ministro), o pós-comunista Napolitano, protestou veementemente e de maneira deselegante, em carta aberta ao presidente brasileiro.
A cobertura da grande mídia brasileira não traz nenhuma novidade. Quando se trata de Bolívia e Equador, ela prega firmeza e critica a postura conciliatória do governo brasileiro. Quando se trata de Itália, ela repercute (e dá legitimidade a) a pressão italiana, sem nenhuma preocupação com a firmeza “nacional” que a mesma mídia prega nos outros casos. A elite é isso mesmo: “forte com os fracos e fraca com os fortes”!
Mas, há uma segunda vertente de críticas à decisão brasileira no caso Battisti: trata-se das colunas do editor-proprietário de CartaCapital e de um magistrado, ex-chefe da repressão ao narcotráfico (sob FHC) que publica colunas no mesmo semanário, no Terra. Na realidade, essa 'segunda' vertente não faz diferente do que faz a grande mídia: é mais do mesmo, mas piorado. Ao mesmo tempo, há dois traços específicos nessa 'segunda' vertente.
Em primeiro lugar, Mino Carta e Walter Maierovitch pretendem-se inseridos no cenário político brasileiro nacional, no campo progressista, até de centro-esquerda. Sobretudo em função de uma inegável independência do jornalismo da Carta Capital – os dois beneficiam-se das vantagens dessa imagem, entre o público de esquerda. Em segundo lugar, ambos apresentam-se como profundos conhecedores da realidade italiana, sabe-se se por suas origens familiares, sabe-se lá se por algum outro critério pessoal indecifrável. E é assim que se lê, na Carta do Mino (de 28 de janeiro de 2009 ) que “o ministro Tarso Genro expõe ignorância em relação à história recente da Itália”.
As colunas desses dois autores atacam a decisão de Tarso com argumentações supostamente mais rigorosas no plano histórico, jurídico e político. Muitos, na esquerda, ficaram perplexos com o que leram essa semana. O fato é que aqui se viu uma interpretação reacionária à brasileira do balé reacionário encenado por praticamente toda a classe política italiana.
Em outro site[1], Walter chega a formulações de bem baixo nível, que deixamos que o leitor avalie: “Caso Battisti: Tarso Genro protagoniza tragicomédia e vai do masturbador a Bobbio”.
Mas em italiano existe uma frase bem adequada ao paradoxo aparente dessa situação: “non tutto il male vien per nuocere”, nem todo o mal vem (só) para o mal! A postura dos dois colunistas nesse caso é uma boa ocasião para ver, por um lado, que, nesse caso, seu jornalismo não é tão independente como eles desejariam que fosse; pelo outro, que eles são incapazes de apreender as dimensões políticas dos processo sociais e de seus conflitos.
Grosso modo, Mino mobiliza três argumentações.
Uma, geral, que diz muito sobre sua visão dos problemas do Brasil: trata-se de um país que deve firmar-se em nível internacional, ou seja ser sério, nos termos dos palpiteiros que decidem sobre "níveis de risco".
Assim, para Mino, o que pensa o The Economist constituiria alguma espécie de Magna Carta... ou seja uma Carta Capital. A decisão sobre Battisti é ruim, diz ele, porque The Economist não gostou. Para Mino o Brasil ainda seria uma criança que “vive em estado de ignorância”.
A segunda argumentação mobiliza um método jornalístico estranho. Afirmando-se como especialista dos detalhes da vida política italiana e de sua história, Mino elogia a carta aberta enviada a Lula pelo presidente italiano, o “comunista”, diz ele, Giorgio Napolitano. Mas Mino não chama de comunista, de pós ou de ex-comunistas os membros do PD (para onde convergiram os ex-membros do PDS, ex-PCI e os ex-membros da Democrazia Cristiana, DC). Tudo bem, até aí, nada de grave.
Mas, logo depois, Mino fala de uma outra carta, dessa vez enviada pelo presidente do Congresso italiano (Camera dei Deputati), Gianfranco Fini a seu homólogo Arlindo Chinaglia.
Ora, no Brasil, todo o mundo sabe que Chinaglia é do PT. Mas ninguém sabe de que partido é Fini. Se usamos o mesmo critério pelo qual Mino apresentou Napolitano ("comunista"), Fini tem de ser apresentado como "fascista": é dirigente do partido (MSI) criado pelos sobreviventes do regime mussoliniano no imediato pós-guerra, partido que, recentemente, se transformou em "Alleanza Nazionale". Diante disso, o que pensar?
Por que esse tratamento desigual, em artigo de jornalista tão bem informado? Será que Mino não sabia como resolver a incongruência dessa unanimidade entre “comunista” e “fascista”? O nariz de Pinocchio não cresceu. O jornalista não escreveu uma mentira.
Simplesmente omitiu o fato que atrapalhava sua coreografia. E isso, depois de anunciar que, “como recomendaria Hannah Arendt, vamos à verdade factual” (sic).
Ou por ignorância da situação italiana, ou por ter-se atrapalhado com tantos malabarismos jornalísticos, Mino surrupia ao leitor um elemento importante: o drama da classe política italiana está justamente no fato de que comunistas e fascistas têm idêntica opinião sobre os anos 1970, sobre o Brasil de hoje e sobre várias outras coisas. Pobre Hannah Arendt, condenada à revelia a nos ensinar esse tipo de 'verdade'.
A 'verdade' que Mino noticia nada é além da 'verdade' de todos os ex-comunistas e ex-fascistas que negam aos militantes revolucionários dos anos 1970 a possibilidade de, hoje, quase 40 anos depois, serem diferentes do que foram. Por que tantos são hoje “pós”... e os militantes revolucionários daquela época não podem ser?
Pobre Oswald de Andrade, cujo Stanislaw Ponte Preta é citado à toa, para falar do Brasil desde um ponto de vista eurocêntrico que ele tanto criticou!
Por que, em outro parágrafo, falar do fato de que o advogado de Battisti defende também Dantas, e não lembrar que o mesmo advogado defendeu também o MST? MST que assinou manifesto em favor de Battisti e ocupa 8 páginas do mesmo número do semanário?
Por que quando fala do Tortura Nunca Mais pelo avesso que haveria na Itália, não citar o detalhe de que o Grupo Tortura Nunca Mais do Rio de Janeiro apoiou a decisão do Ministro Tarso?
No mesmo numero do semanário, Walter começa sua coluna, falando de Gramsci morto na prisão, por mãos dos fascistas. Não pergunta a pergunta indispensável: o que pensaria o pobre Gramsci, se visse uma situação na qual pós-comunistas e pós-fascistas andam juntinhos?
Não, não. Ninguém aqui pretende mobilizar Gramsci em prol de Battisti. Mas, sim, haveria boa coluna a escrever, sim, sobre o que pensaria Gramsci sobre o voto dos ex-comunistas italianos a favor da guerra do Afeganistão e da guerra Kossovo. O que pensaria Gramsci, sobre isso? E o que pensaria Gramsci sobre direita e esquerda italianas estarem hoje unidas, também, numa furiosa discriminação dos imigrantes estrangeiros? E sobre a imposição das bases militares dos EUA em Vicenza, imposição que a população daquela cidade rejeitou em plebiscito legal (e estamos falando de 2008!) e que direita e esquerda italianas aprovaram? E o que pensaria Gramsci sobre o ex-comunista Walter Veltroni e o líder dos DS o qual – quando prefeito de Roma – ante um fato de delinqüência sexual praticado por um grupo de imigrantes romenos – clamou por punição coletiva, étnica, para todos os “roms” (quer dizer, todos os ciganos)?
Mino e Walter falam da volta do “Febeapá do Lalau” e se pretendem conhecedores finos da realidade italiana. Walter nos explica que as leis especiais de repressão da luta armada não eram “de exceção” mas de “emergência” – sutileza equivalente ao requinte busheano de chamar a tortura praticada em Guantanamo de “novos métodos de interrogatório”.
E então vem Mino e nos diz que “a Itália (...) não alterou uma única, escassa vírgula da sua Constituição para combater o terrorismo”. Pois é.
Difícil supor que Mino não saiba que a Constituição italiana co-habitou por muito tempo não apenas com a máfia e a corrupção, mas, sobretudo, com o "Códice Rocco" – que leva o nome do jurista fascista que o redigiu durante o período mussoliniano. Assim também as relações entre Estado e Igreja continuaram sob o marco do também mussoliniano “concordato”, sem que a Constituição representasse obstáculo a qualquer daquelas legislações fascistas. Até a discriminação atual dos imigrantes é constitucional.
Walter se afirma profundo conhecedor da vida política italiana e escreve: “[na Itália] o terror começou em dezembro de 1969 com a explosão de Piazza Fontana”. Não. A Itália inteira sabe que esse atentado, conhecido como “strage di Stato” (massacre praticado pelo Estado), está na base da chamada “strategia della tensione” – uma série de atentados (nos trens, em manifestação em Brescia, na estação de trens de Bologna) cometidos por fascistas ou agentes do Estado ligados a uma organização paralela da Otan, chamada "Gladio", dirigida por Licio Gelli entre outros.
O que fez a Itália supostamente democrática dos anos 1970, a Itália do tão elogiado presidente Pertini, para salvar as centenas de italianos e milhares de descendentes de italianos que eram torturados e exterminados na Argentina? Será que a seleção nacional italiana se recusou a jogar o mundial argentino por causa disso? Será que Walter sabe nos dar alguma resposta?
A Itália dos anos 1960 e dos anos 1970 era assim: políticos da Democrazia Cristiana misturados com mafiosos, generais golpistas, logias maçônicas, bancos do Vaticano e bombas cegas destinadas a ameaçar o movimento operário e estudantil. Afirmação política que chegou à imortalidade na peça de teatro “Morte acidental de um anarquista” de Dario Fo, prêmio Nobel de literatura. É essa verdade política que nossos dançarinos optaram por não revelar a seus leitores.
O primeiro ato violento da esquerda foi – em 1972 – o homicídio do Delegado Calabresi, acusado de ter defenestrado o anarquista Pinelli para acusar o movimento desse horror. O intelectual Adriano Sofri, na época dirigente do grupo "Lotta Continua" (que tinha 20.000 militantes e publicou ao longo da década um jornal quotidiano do mesmo nome), está pagando com longos anos de prisão uma condenação por responsabilidade moral nesse assassinato. E isso não é político? E Feltrinelli, editor, homem de esquerda e amigo pessoal de Fidel Castro, que morreu também em 1972, tentando sabotar uma torre de energia para tentar acordar os grupos de resistência contra as ameaças fascistas? Feltrinelli foi criminoso comum?
Essa verdade política estava na rua, nas manifestações de milhões de italianos ao longo de toda a década. O Estado italiano nunca desvelou as conspirações e cumplicidades que o ligaram à estratégia da desestabilização (strategia della tensione). Aliás... por que os ministros italianos fascistas não mandam chamar de volta o embaixador italiano no Japão, para conseguir prender, afinal, um dos acusados por vários atentados?
Mino e Walter não lembram do clima daqueles anos? O golpe militar contra Allende (em 1973), o esmagamento da revolta dos estudantes gregos pelos tanques não teria tido, para eles, nenhum impacto nos movimentos de toda a Europa?
Não eram pequenos grupos. Eram manifestações oceânicas, sistemáticas e repetidas, manifestações de rua que diziam: “Grécia, Chile: mai piú senza fucile” [Grécia, Chile, nunca mais sem fuzil].
O próprio compromisso histórico não foi, pelo menos em parte, fruto do veto norte-americano à chegada ao poder do Partido Comunista Italiano? Para não falar de Ustica: será que Mino e Walter ouviram falar de Ustica?
Se sim, como justificam que o Estado italiano tenha acobertado todos os elementos que indicavam que o avião foi derrubado por um míssil, em acidente que matou 81 pessoas? Por que a Itália nunca chamou o embaixador dos Estados Unidos, quando retiraram clandestinamente de território italiano os pilotos militares que derrubaram a cabine de um teleférico ('bondinho'), matando 20 italianos?
Por que não se romperam relações diplomáticas com os Estados Unidos, quando norte-americanos metralharam um carro do serviço secreto italiano cujos ocupantes participavam de uma operação de libertação de uma refém em Bagdá?
Por que as mortes ligadas a Battisti seriam mais pesadas de todas as outras? Não é problema de justiça, ainda menos de moral. Trata-se afirmar uma razão de Estado.
A Itália quer afirmar sua razão de Estado como a única, para que ninguém ouse mais contestá-la. Mino e Walter dançam por essa música.
Chegamos assim à terceira argumentação. Mino e Walter tentam demonstrar tecnicamente que Battisti seria delinqüente comum.
Usando magistralmente os relatórios de polícia (diga-se de passagem que, na época, era "polícia política"; depois, passou a ser designada por uma sigla, DIGOS), Mino e Walter dizem que Battisti teria sido recrutado pelas organizações armadas, depois de ter sido preso por crimes comuns.
Aí, Mino e Walter têm de se decidir, é uma coisa ou a outra: se na Itália daquela época não havia crimes políticos... quando ter-se-ia dado a mágica de transformar-se o crime de Battisti, de crime comum, em crime político? Por que os relatórios de polícia tanto se empenhariam para estabelecer o momento e a forma de sua “politização”?
O fato é que Mino e Walter estão constrangidos numa visão da história que – por mais simpática que tantas vezes seja à histeria anti-Lula da elite brasileira, não tem nenhuma dimensão política. Além disso, tampouco têm capacidade de apreender o papel constituinte das lutas sociais, inclusive quando são violentas.
Será preciso lembrar a Constituição dos Estados Unidos que prevê o direito à revolta contra o poder constituído? Thomas Jefferson, agora, mais um perigoso terrorista?
Bem mais recentemente, em seu discurso sobre a questão do racismo, o atual presidente dos Estados Unidos, Barak Obama, não reivindicou explicitamente as lutas dos negros, inclusive das revoltas violentas? Não tentou a direita republicana usar contra ele, então, sua relação com um antigo militante dos weathermen (movimento de guerrilha contra a guerra do Vietnam)?
Battisti, e com ele centenas de milhares de jovens operários, estudantes, desempregados na Itália dos 1970, participou de um movimento revolucionário, que atacava as bases do sistema de acumulação capitalista e alimentou, até meados dos anos 1970, um processo de libertação que a normalização pós-comunista e pós-fascista ainda não zerou.
Sim, os operários italianos lutavam contra a ordem fabril e contestavam a constituição italiana “fundada sobre o trabalho”, ou seja sobre a exploração do trabalho. Sim, os novos movimentos contestavam a sociedade disciplinar como um todo e construíram a base da abolição dos hospitais psiquiátricos, das lutas pela democratização das prisões, contra o serviço militar autoritário, pela universalização do acesso horizontal ao ensino superior, pela habitação popular e a gratuidade dos serviços.
Essas lutas conquistaram o direito ao divórcio, os direitos das mulheres ao aborto e até as vitórias do Partido Comunista nas municipais de 1975.
Depois, essas lutas foram derrotadas pela espiral dos massacres perpetrados pelo Estado e das respostas armadas que militarizavam o movimento. A repressão desse movimento pela qual optou a esquerda institucional (com o “compromisso histórico”, quer dizer com a conciliação com o histórico partido de poder, a Democrazia Cristiana) não significou apenas a derrota do movimento: significou a derrota da própria esquerda.
Um ano depois da grande operação política de repressão do dia 7 de abril de 1979, a Fiat demitiu dezenas de milhares de operários e começou a contra-revolução neoliberal que se tornaria hegemônica mundialmente até os dias de hoje. Resultado: a esquerda institucional italiana não existe mais.
Os pobres que todo o dia lutam renovando os princípios éticos, quer dizer constituintes, dos direitos e do direito entendem muito bem que, para além do graves erros políticos da década de 1970, na Itália como no mundo todo, aquele ciclo revolucionário está presente, inclusive e sobretudo nos governos democráticos de América do Sul, nas dinâmicas de radicalização democrática que os atravessam. A decisão do ministro Tarso é uma dessas dinâmicas radicalmente democráticas.
***
*GIUSEPPE COCCO
, cientista político, doutor em história social pela Universidade de Paris, é professor titular da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Entre outras obras, escreveu, com Antonio Negri, "Glob(AL): Biopoder e Luta em uma América Latina Globalizada

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[1] http://www.ibgf.org.br/index.php?data[id_secao]=2&data[id_materia]=1918

**Fonte: http://grupobeatrice.blogspot.com/
***Foto: Manifestação com enfrentamento na Itália, início dos anos 70 spectrum.weblog.com.pt/.../seminario_inter.html

06 fevereiro 2009

'Não houve tempo para colher a semeadura'












O poeta Pedro Tierra homenageia Adão Pretto, que desafiou "o medo e a submissão"


Em poema feito especialmente em homenagem ao deputado Adão Pretto (PT-RS), o poeta Pedro Tierra acentua a importância do companheiro nas lutas pela reforma agrária. "Não houve tempo para colher a semeadura. Mas houve tempo suficiente para erguer os olhos e deixá-los contemplar a bandeira vermelha - sinal de terra livre - no portal dos assentamentos". Eis o poema:

Há uma gaita que geme e desafia

Filho do barro e da esperança: Adão.

Pai da palavra, da trova, do canto, apoiado na gaita e na invenção.

Regressas ao barro, na estação das chuvas, como quem fecunda...

Levas no corpo que baixa sobre o pampa - e se enterra com a lágrima de teus irmãos e amores e filhos e sonhos - a surda condição da semente.

Em que madrugada o corpo de Adão Pretto se apartou do barro e se fez vagido, grito, palavra, canto?

Em que marcha as foices levantaram a vontade da manhã, acenderam a luz azul dos seus olhos e desataram o rio da palavra que brotou de sua garganta?

Havia uma cruz e uma encruzilhada. Havia frio. E medo. E a morte dos anjos. Havia panos brancos sobre os braços da cruz como bandeiras de paz. Para que não se extravie a memória dos anjos.

Havia medo. E a palavra como centelha acendendo no acampamento uma canção de coragem. Ouvidos que ouvem e olhos que brilham contra a tarde de cinzas.

Há uma gaita que geme e desafia. Sempre haverá enquanto houver ouvidos que acolham e desafiem a ordem, o medo, a submissão.

Não houve tempo para colher a semeadura. Mas houve tempo suficiente para erguer os olhos e deixá-los contemplar a bandeira vermelha - sinal de terra livre - no portal dos assentamentos.

Há uma gaita que geme e desafia a ordem, o medo, a submissão. A gaita de Adão Pretto desafia o silêncio.


*Pedro Tierra
(Hamilton Pereira) é militante do Partido dos Trabalhadores e das lutas pela Reforma Agrária
**Com a Agência Informes

05 fevereiro 2009

'Lutar Sempre!'







Nota de Solidariedade e Pesar

O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) manifesta publicamente seu pesar pelo falecimento do companheiro deputado federal Adão Pretto, soma-se e se solidariza com a família neste momento de perda para a sociedade brasileira.

Desde o início de sua militância social nas Comunidades Eclesiais de Base e no Sindicalismo Rural, Adão Pretto caracterizou-se pela defesa intransigente da reforma agrária, tendo papel destacado na articulação das famílias de trabalhadores sem terras e de apoiadores desde as primeiras ocupações de terra no Rio Grande do Sul, ainda durante o Regime Militar. Esteve presente na organização e fundação do MST, do Partido dos Trabalhadores e do Departamento Rural da Central Única dos Trabalhadores.

No Congresso Nacional, denunciou e combateu as ações da bancada ruralista, e tornou-se um dos pilares do Núcleo Agrário do Partidos dos Trabalhadores. Apresentou Projetos de Lei que buscavam acelerar o processo de reforma agrária, permitir o acesso à educação para os camponeses e melhorar a qualidade de vida no campo. No último ano, esteve empenhado em denunciar a alteração da faixa de fronteira para beneficiar a instalação de empresas transnacionais da celulose no Rio Grande do Sul.

Mais que um parlamentar, Adão sempre foi um camponês, com seu jeito simples, honesto e contundente, mas acima de tudo um lutador. Sempre presente nas lutas dos movimentos sociais, sempre levando as reivindicações e bandeiras populares para o parlamento, denunciando a criminalização e a repressão da luta do povo.

No ano em que completamos 25 anos, perdemos um de nossos fundadores e um de nossos mais valorosos companheiros. Em sua homenagem, seguiremos fazendo aquilo que Adão Pretto sempre fez em vida: lutar sempre.

Coordenação Nacional do MST

*Do sítio http://www.mst.org.br

Faleceu Adão Pretto




MORREU EM PORTO ALEGRE O DEPUTADO ADÃO PRETTO (PT/RS)

O deputado Adão Pretto (PT-RS), morreu hoje às 7h50 em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. Ele tinha 63 anos e estava internado em estado grave no Centro de Terapia Intensiva do Hospital Moinhos de Vento, onde se submeteu a uma cirurgia para retirada do pâncreas. O velório está sendo realizado na Assembleia Legislativa, na capital gaúcha. O sepultamento ainda não foi marcado.

Adão Pretto foi um dos fundadores do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) no Rio Grande do Sul. Ingressou no PT em 1985. No ano seguinte foi eleito deputado estadual. Em 1991, tomou posse, pela primeira vez, como deputado federal, e manteve-se no cargo, reeleito seguidamente para outras cinco legislaturas.

Adão Pretto despontou como uma liderança expressiva do movimento camponês no interior do Rio Grande do Sul, na organização do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), dos pequenos agricultores e na construção do Partido dos Trabalhadores. Participou das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) e da Comissão Pastoral da Terra (CPT), instituições ligadas à Igreja Católica. Chegou à presidência do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Miraguaí.

Na Câmara, opunha-se aos ruralistas na Comissão de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural. Sua principal bandeira política foi a Reforma Agrária. Chegou a escrever um livro sobre o tema ("Queremos Reforma Agrária", Editora Vozes, 1987).

Em 1986, como deputado estadual, presidiu a CPI da Violência no Campo na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul para investigar os conflitos entre grandes fazendeiros e trabalhadores rurais.

O último projeto de lei do deputado Adão Pretto foi apresentado em outubro do ano passado. A proposta acaba com o pagamento de indenização compensatória nos processos de desapropriação para fins de reforma agrária.

*Com a Agência Câmara e o UOL Notícias
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**O titular do blog externa publicamente seu pesar pela irreparável perda desse grande e abnegado companheiro de lutas, combativo e coerente até o último momento de sua vida exemplar.
'Companheiro Adão Pretto: Presente!' (Júlio Garcia)

04 fevereiro 2009

Agrava-se o estado de saúde do deputado Adão Pretto






Senadores expressam solidariedade ao deputado federal Adão Pretto

O senador Eduardo Suplicy (PT-SP) pediu aos senadores que orassem pela saúde do deputado federal Adão Pretto (PT-RS), submetido a uma cirurgia para a retirada do pâncreas nesta quarta-feira (4), em Porto Alegre. Suplicy informou que o deputado, pai de nove filhos, é "o membro do Congresso Nacional que mais se destacou" como solidário ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).

- Então, aqui, o meu pleito a Deus e a todos para que Adão Pretto continue a ser uma pessoa produtiva, não apenas para trazer mais filhos a este mundo, mas para que a Humanidade, os trabalhadores rurais sem terra, os trabalhadores em geral, os brasileiros possam ter efetiva dignidade em nosso País - afirmou Suplicy, em nome também dos senadores Tião Viana (PT-AC) e Marina Silva (PT-AC).

Mais tarde, uma informação errônea levou o senador Paulo Paim (PT-RS) a anunciar, no Plenário do Senado, a morte do deputado Adão Pretto (PT-RS). Paim chegou a apresentar voto de pesar pelo falecimento do deputado, mas depois retificou sua informação, informando que os órgãos de Adão Pretto estavam paralisados, mas que ele ainda tinha vida.

Baseados na informação dada por Paim, manifestaram em Plenário seu pesar pelo falecimento do deputado os senadores Arthur Virgílio (PSDB-AM), Marina Silva e José Nery (PSOL-PA). Informada a tempo do equívoco, a senadora Fátima Cleide (PT-RO) disse então acreditar em um milagre que possibilitasse a recuperação do deputado.

*Por José Paulo Tupynambá / Agência Senado

03 fevereiro 2009

Lula sobe para 84%






'COMO SE MANTER POPULAR'

A propósito dos números da pesquisa divulgados hoje nacionalmente pelo CNT/Sensus, onde o presidente Lula chegou a 84% de aprovação, a mais alta do seu mandato, Eduardo Guimarães, idealizador do Movimento dos Sem Mídia e editor do excelente blog Cidadania.com escreve - e comenta:

"Muitos ficaram surpresos com a disparada de cerca de 4 pontos percentuais na aprovação de Lula e com o crescimento moderado (mas, ainda assim, crescimento em meio a uma grave crise mundial) de quase um ponto na popularidade de seu governo revelados pela 95a pesquisa CNT-Sensus, divulgada na manhã desta terça-feira, 3 de fevereiro de 2009, mas quem lê atentamente o que escrevo e me dá crédito, tanto quanto eu não ficou surpreso e entende perfeitamente por que isso ocorreu.
Se vocês quiserem, posso fazer uma síntese aqui (de novo) das razões pelas quais Lula e seu governo melhoraram a própria popularidade enquanto a mídia diz que o mundo acabou, que Lula só era bom em tempo de bonança etc.
A elite conservadora brasileira não percebe, mas hoje é impossível esconder fatos e opiniões divergentes. Com a internet, todo mundo acaba tendo acesso a tudo, sobretudo quando milhares e milhares de pessoas de todo país saem difundindo alguma coisa.
Com o fenômeno dos blogs, a interpretação dos fatos tomou o lugar de um passado no qual as pessoas não tinham outras opiniões a partir das quais analisarem a notícia. Hoje, se centenas de milhares de pessoas em cada grotão do país que lêem sobre política ou economia sairem com um ponto de vista daqueles que, no passado, a mídia conseguia confinar, todo mundo acaba sabendo dessa opinião - cedo ou tarde.
Graças a esse fenômeno tecno-sociológico que é a internet, hoje se sabe que o Brasil, ainda que esteja sofrendo os efeitos da crise internacional, é o país que menos sofre, o que se traduz, no dia a dia das pessoas, por um número moderado de demissões enquanto que, no resto do mundo, são legiões os demitidos.
As pessoas percebem, por exemplo, que, enquanto no mundo a queda da venda de carros em janeiro de 2009 foi de quase 30%, no Brasil essa queda foi de muito menores 7%, o que fez o analista Joelmir Betting, ontem à noite na Band, dizer que o Brasil está “descolado” da crise mundial. As pessoas, aliás, percebem quando todos os organismos econômicos multilaterais dizem a mesma coisa.
As pessoas conseguem perceber que a mídia exagera ao noticiar a crise e ao criticar o governo quando o mundo inteiro e a maioria do país o elogiam. As pessoas percebem que o noticiário é negativo para elas, pois alarma seus patrões e pode fazê-los optarem por demitir. E empresários ficam zangados com a mídia porque o martelar da crise lhes prejudica os negócios.
As pessoas percebem que a mídia ataca países pobres com regimes igualmente voltados para o povo e fica do lado das grandes potências quando uns e outros têm contenciosos conosco. As pessoas percebem que, numa questão humanitária como a da Palestina, o governo fica do lado dos mais fracos e manda um emissário pressionar a potência genocida que está causando a mortandade de crianças, mulheres e velhos.
As pessoas percebem o governo repreendendo os empresários que até dois, três meses atrás ganharam os tubos e agora, diante da primeira dificuldade, já querem jogar a conta nas costas do povão e, de quebra, surrupiarem direitos trabalhistas.
Alguns não entendem como é que Lula mantém sua popularidade alta e crescendo. Não entendem como é que ele consegue resistir aos ataques de jornais, tevês e rádios, que infestam cada centímetro de nossas vidas com pessimismo e críticas ao governo. Não percebem que, para manter a própria popularidade, um governante só precisa governar para o povo".

*Cidadania.com: http://edu.guim.blog.uol.com.br/

02 fevereiro 2009

Soberania Nacional





Caso Battisti: Nota da bancada do PT na Câmara dos Deputados

Ao conceder o status de refugiado político ao escritor e militante de esquerda italiano Cesare Battisti, o ministro Tarso Genro, da Justiça, exerceu atribuição privativa que lhe é assegurada pela Constituição Federal e o fez tomando em consideração o conjunto da legislação brasileira sobre o assunto, a jurisprudência firmada pelo STF em processos semelhantes, inclusive a concessão de asilo a outros cidadãos italianos que também participaram de ações armadas na década de 70. O ministro praticou um ato inerente à soberania nacional. Isso é da melhor tradição política do Brasil.

Tarso Genro agiu também dentro dos parâmetros da legislação internacional observada pelos mais diferentes países, tanto é assim que a França acaba de negar um pedido de extradição, formulado pela Itália, contra Marina Petrella, ex—militante das Brigadas Vermelhas, objeto de acusações semelhantes àquelas que são feitas contra Cesare Battisti. Curiosamente, a reação do governo italiano é mais branda.

Por outro lado, é certo que, na esteira da conturbada década de 70 na Itália, no processo movido contra Cesare Battisti não lhe foi assegurado amplo direito de defesa. Pelo contrário, os advogados da confiança do réu foram presos e a defesa foi feita por advogados que usaram procurações falsas. Além disso, a principal prova apresentada contra o réu foram as declarações dadas por um preso protegido pela instituto da delação premiada e conhecido, até por setores do judiciário italiano, por ter uma imaginação prodigiosa.

É importante registrar que Francesco Cossiga, primeiro-ministro da Itália à época dos acontecimentos em questão, reconhece hoje que naquele tempo o Estado italiano recorreu a medidas de exceção.

Diante do exposto, a Bancada do PT manifesta sua irrestrita solidariedade à decisão do governo brasileiro e expressa a certeza de que esse episódio superdimensionado pela mídia não será capaz de abalar as sólidas relações entre o Brasil e a Itália.

Considera finalmente que só a falta de bandeiras políticas consistentes de direita pode explicar o interesse excessivo dispensado ao episódio Cesare Battisti, com o objetivo de politizar uma questão que está sendo resolvida no seu leito natural que é o Judiciário, como admite o próprio chefe de governo da Itália.

Brasília, 1º de fevereiro de 2009.

BANCADA DO PT NA CÂMARA DOS DEPUTADOS

*Fonte: Agência Informes

01 fevereiro 2009

'O mundo está em crise'









O mundo mudou e está em crise. E o Fórum Social Mundial?

BELÉM - Agência Carta Maior - Em encontro promovido pela Revista Margem Esquerda, da Editora Boitempo, neste sábado (31), o sociólogo Emir Sader, o pesquisador do Centre National des Recherches Scientifiques (CNRS), Michael Löwy, e o jornalista Luis Hernandéz Navarro, do La Jornada, analisaram a situação atual do FSM e avançaram perspectivas para um público que lotou o Auditório Setorial Básico da Universidade Federal do Pára.

"O mundo está em crise
. Lucien Goldmann disse que uma das características do capitalismo é a sua indiferença axiológica, sua indiferença ética e moral. Ele é perfeitamente compatível com a democracia, com a guerra, com a barbárie, com o fascismo. Essa é a indiferença ética do capitalismo. Temos três crises. A econômica, a alimentar e a ecológica. As conseqüências da crise ecológica devem ser dramáticas. Infelizmente não temos outro planeta para mudar no universo. Para enfrentar essas três crises nós temos que pensar em alternativas que sejam radicais, ou seja, que arranquem o mal pela raiz”, iniciou Michael Löwy, depois de devolver a agenda e o casaco de Boaventura Souza Santos. O sociólogo português, que participara de mesa pela manhã no mesmo local, havia esquecido seus pertences na mesa.

“Não vamos esperar que essa crise acabe com o capitalismo. Walter Benjamim, que é um pensador que eu respeito muito, dizia que o capitalismo nunca vai morrer de morte natural. Por mais que ele tenha crises, sempre dá a volta por cima. A não ser que a gente dê cabo dele. A solução não é uma versão mais verde, mais civilizada, mais ética e regulada do modo de produção capitalista. Nós temos que pensar em uma alternativa revolucionária”, completou Löwy. Segundo ele, a Amazônia é o local perfeito para a realização desta nona edição do FSM, já que os debates em torno da questão ambiental foram um dos eixos principais do encontro. Escolhido com antecedência de quase dois anos, o tema da Amazônia e de seu papel no equilíbrio ambiental do planeta deveria inicialmente ser o central de todo o evento, mas ficou circunscrito ao primeiro dia de atividades (na quarta, 28, aconteceu o Dia Pan Amazônico) e diluído em outros dez eixos escolhidos pelo Conselho Internacional para os demais dias. O tema da crise e da guerra na Palestina acabaram recebendo tanta ou mais atenção nesses dias que passaram.

E onde está o outro mundo possível, depois do encontro na Amazônia, para Löwy? “A resposta, como diz a canção, está no vento. Em particular, nos ventos da América Latina. A solução radical e revolucionária já está sendo discutida pelos movimentos sociais, por alguns governos, e é o que está se chamando de o socialismo do século XXI. É o nome dessa alternativa, é essa a resposta, é um outro paradigma de civilização. Esse socialismo se reclama de José Carlos Mariátegui, de Ernesto Che Guevara, de Farabundo Martí e se reclama de alguém como Chico Mendes”, respondeu.

Nesta edição, experiências importantes na América Latina em particular mostram que outro mundo continua sendo possível, principalmente pela experiência dos movimentos sociais e governos progressistas e de esquerda no continente. “Começou um período novo, é fundamental entender o momento em que os movimentos sociais elegeram seus próprios governos, como aconteceu na Bolívia. Agora se estabelece uma relação nova com a política e passa-se a disputar a hegemonia de outra forma. Digo isso não para tornar o Fórum governamental ou estatal, nada disso. Mas o Evo Morales não devia ter vindo fazer dois discursos. Devia ter trazido as experiências dele aqui”, disse Emir Sader.

Para ele, existe “uma espécie de pecado original do Fórum. Ele surgiu dirigido por um secretariado de oito organizações brasileiras, o problema é que seis são ONGs e duas são movimentos sociais, MST e CUT. Imagina a desproporção. MST e CUT têm a existência inquestionável, votam as suas decisões, elegem seus representantes. Apesar de algumas ONGs serem conhecidas, como o Ibase, outras são tão desconhecidas que dois de seus representantes mudaram sua representação, eles continuam lá, mas mudaram a representação da organização onde eles supostamente estão. Elegeu-se um secretariado amplo, mas formado por entidades de vários países que tem dificuldade de se estruturar, então eles continuam existindo como Comitê Facilitador”.

A tensão sobre os rumos do fórum vem desde Porto Alegre. Nos primeiros anos, houve quem negasse a luta política, quem fizesse cara feia diante da participação dos partidos e dos chamados movimentos sociais tradicionais (sindicatos, entidades estudantis e outros) e quem rejeitasse a idéia da força das ONGs na construção do processo do Fórum. Segundo Emir Sader, “as ONGs não podem ser o paradigma político de um outro mundo possível. Nós teremos que construir isso. Elas têm lugar aqui, no entanto, o protagonismo tem que ser dos movimentos sociais”. Luiz Hernandez Navarro, acredita que “isso gera uma contradição cada vez mais insustentável, que são as duas contradições principais do Fórum nos dias de hoje: entre a dinâmica e a lógica de funcionamento das ONGs e, por outro lado, o tipo de relação que é necessário estabelecer com a política institucional e com as mobilizações sociais e os governos progressistas”.

O jornalista mexicano ainda remontou uma parte da história do movimento altermundista: “O historiador inglês Eric Hobsbawm fala que o século XX começou com a Revolução Russa de 1917 e terminou com a queda do Muro de Berlim em 1989. Há quem afirme que o século XXI começou com o 1º de janeiro de 1994, a partir do levante do Exército Zapatista de Libertação Nacional, ou no final de 1999 com os protestos contra a OMC em Seattle, que apresentam o que depois viria a ser o movimento altermundista. É quando se começa a plantar a semente de um novo sujeito político social alternativo que o escritor Manuel Vasques Montalbán, já falecido, chamou de os globalizados. O novo século, então, começa com a revolta dos globalizados que seriam, na lógica dele, o equivalente ao proletariado nos primeiros anos do capitalismo. Que isso nos valha como uma descrição do que hoje estamos vivendo: a emergência deste novo ator que possui distintas características em todo o mundo, um ator constituído no marco da globalização capitalista”.

Navarro apresentou a seguinte análise sobre esse tema:

“Na tradição da esquerda, as internacionais eram tradicionalmente de origem operária. Eram os grandes sindicatos que serviam de coluna vertebral. Isso não existe mais, o movimento sindical está aí, é uma cor a mais no conjunto do Fórum, mas está muito longe de hegemonizar. Estamos falando aqui de algo que mescla três atores fundamentais: por um lado, ONGs e fundações internacionais, muitas das quais se apresentam como representantes da sociedade civil sem que seja correto falar assim, porque a sociedade civil por definição não tem representação. Não há quem possa falar pela sociedade civil. O segundo ator são claramente os movimentos sociais e o terceiro são os intelectuais e acadêmicos. Todos desempenham um papel dentro fórum muito complexo e difícil de definir".

"Depois de Nairóbi, em que até empresas privadas financiaram o Fórum, teve quem falasse de que a frase ‘outro mundo é possível’ deveria ser trocada para ‘outro turismo é possível’. Não estou exagerando. Dava impressão de que o modelo nascido em Porto Alegre encontrava seu esgotamento. Mas o Fórum hoje me parece três coisas. Primeiro, ele existe, não é uma invenção, não é uma quimera. O Fórum influi na tomada de decisões políticas de estados, influi em partidos e em movimentos sociais. O Fórum é a única organização multi-setorial internacional com um projeto emergente”.

Enfim, por onde anda o outro mundo possível quando diversas possibilidades não são mais utopia? Em Belém, em Porto Alegre? Em Seattle, nas primeiras manifestações contra a Organização Mundial do Comércio? Em Washington, Sidney ou Gênova, onde elas prosseguiram? No Equador, nas manifestações contra o Tratado de Livre Comércio Andino? Nos governos progressistas da América Latina? Na luta contra Davos, Guantánamo, e o massacre na Faixa de Gaza?

O slogan "outro mundo possível" define a agenda do Fórum Social Mundial e a crise econômica mundial apontada por todos como um terremoto cujas ondas provocarão pesados estragos interroga-a agora frontalmente. Seguindo as análises de Sader, Löwy e Navarro, o próprio FSM não está livre dessas ondas. Ou define uma estratégia de luta política que leva em conta o que ocorrerá no mundo nos próximos meses, ou corre o risco de ser soterrado pelos escombros do mundo atual. (Por Clarissa Pont, enviada especial).

*Leia a cobetura completa da 9ª edição do FSM no sítio da Ag. Carta Maior http://www.cartamaior.com.br

**Foto: Eduardo Seidl