Os Comitês Populares de Luta não são e não podem ser institucionais, atrelados apenas a candidaturas, seja quais forem
Ato em defesa da soberania, em Porto Alegre, com a presença de Lula.
Foto: Joana Berwanger/Sul21
Por Selvino Heck (*)
A eleição de outubro não é qualquer eleição. É a eleição das nossas vidas.
Neste contexto e conjuntura, mais que nunca são absolutamente necessárias e urgentes propostas inteligentes, inovadoras, revolucionárias. É o caso dos COMITÊS POPULARES DE LUTA. Movimentos e organizações populares criam, organizam e consolidam instrumentos sobre um projeto de país no contexto das eleições de 2022. Organizados em diferentes territórios e também ativamente nas redes sociais, os Comitês Populares de Luta já são milhares em todo Brasil. São espaços amplos onde pessoas de movimentos populares, igrejas, escolas, pessoas filiadas ou não a partidos políticos se reúnem para debaterem um novo jeito de fazer política no país. E também para valorizar o trabalho local e de base, estimular novas formas de participação política e criar uma rede de combate às mentiras e notícias falsas.
Os Comitês Populares de Luta não são e não podem ser institucionais, atrelados apenas a candidaturas, seja quais forem, e a futuros governantes, ou a um único partido. São de luta popular, de diálogo com a população e as comunidades. Os Comitês , neste sendo, são achado histórico. São movimento, em primeiro lugar.
Diz João Pedro Stédile: “A necessidade agora é mudar o Brasil e restabelecer a dignidade, os direitos e a esperança de melhoria de vida. Com comida na mesa, soberania nacional e defesa da natureza. Os Comitês Populares de Luta são importantes formas das pessoas participarem da vida política. Elas, as pessoas, podem se reunir em locais próximos entre vizinhos do bairro, colegas de trabalho e de escola para debater o futuro do país. É também uma forma autônoma para desenvolver de forma criativa, sobretudo por meio da cultura, as mais diferentes formas de debate de ideias e de conversa com todo o povo brasileiro” (Brasil de Fato, Ed. Especial, nº 19/2022).
Os Comitês Populares de Luta são de conscientização. Formação na ação, como sempre dizia Paulo Freire, unindo a Pedagogia da Oprimida e do Oprimido, libertadora, com a Pedagogia da Indignação, e sua justa raiva, com a Pedagogia da Esperança e o esperançar de quem não espera que as coisas aconteçam, mas faz acontecer.
Os Comitês Populares de Luta são de organização popular. De baixo para cima, lutam contra a fome, que voltou a crescer assustadoramente, lutam por direitos, lutam por liberdade, justiça social, democracia e soberania.
Os Comitês Populares de Luta são de incorporação militante, de militância cotidiana e permanente, de coragem, de fé: nas comunidades, nos sindicatos, nas Associações de Bairro, nas ONGs, em cada rua, em cada bairro, em cada local de trabalho, em cada escola e Universidade, nas igrejas, nas casas, nos condomínios, nos Assentamentos, em todas as ruas, becos, vielas, morros e favelas.
Os Comitês Populares de Luta podem/devem ligar-se a outras iniciativas, como o ENCANTAR A POLÍTICA, projeto lançado recentemente pela Rede de Fé e Política e Conselho Nacional de Leigas e Leigas.
Escreve Pedro Ribeiro de Oliveira, em É HORA DE ENCANTAR-SE PELA POLÍTICA (Ver em www.fepolitica.org.br): “A Rede Brasileira de Fé e Política e o Conselho Nacional do Laicato do Brasil (CNLB) acabam de lançar o projeto Encantar a Política, para incentivar agentes de base da Igreja a participar responsavelmente da Política. Quem cumpre esse papel incentivador é o próprio Papa Francisco por meio de suas Encíclicas Laudato Sì e Fratelli Tutti, e da Exortação apostólica Evangelii Gaudium. A entrada se dá quando a pessoa descobre a Política como gesto de amor. Diz o papa: ´Alguém ajuda um idoso a atravessar um rio, e isto é caridade generosa, mas o político constrói-lhe uma ponte, e isto também é caridade.` Enfim, Francisco nos convida a fazer Política para o bem da Terra, nossa Casa Comum, hoje devastada por um ´sistema econômico que mata´. Mata a Terra e os Pobres, cujos gritos a Igreja deve escutar e atender. E isso deve começar logo! O processo eleitoral brasileiro já está em andamento. Devem, cristãs e cristãos, deixar-se encantar pela Política e praticar a boa Política” (Quem quiser aprofundar o tema poderá acessar: https:/cnbb.org/encantarapolitica/.)
Não há tempo a perder. O tempo urge e ruge. A vida não pode esperar. Todas as militantes, todos os militantes, lutadoras, lutadores, sonhadoras, sonhadores precisam estar em algum Comitê Popular de Luta em 2022, ou até em mais de um. Os Comitês não são apenas eleitorais. Os Comitês irão além de 2 de outubro e vão se espalhar aos milhares por todo Brasil. É construir o futuro. É ESPERANÇAR.
(*)Deputado estadual Constituinte do Rio Grande do Sul (1987-1990) - Via Sul21
*Do meu face- Tivemos a satisfação de receber (na tarde da última quinta-feira) em nosso Escritório, aqui em Santiago/RS, a ilustre visita do companheiro Renê Ribeiro, acompanhado por colegas e apoiadores.
Renê (na foto, à minha esquerda) que é advogado, ex-vereador e ex-vice-prefeito da nossa vizinha São Borja, integrou durante anos os quadros da BM, assim como o último governo do PT gaúcho... é agora pré-candidato a Deputado Estadual pelo PT/RS e está percorrendo o Estado, participando de várias reuniões com companheirxs.
#"Boa Luta!" e sucesso, companheiro Renê! (Júlio Garcia)
"O golpe de estado de 2016 começou com a entrega da Petrobrás e prossegue com a entrega da Eletrobrás"
Em dezembro de 1994, quando estava prestes a assumir a presidência da República pela primeira vez, o então senador Fernando Henrique Cardoso subiu à tribuna para se despedir do parlamento. O discurso entrou para a História porque anunciou qual seria a linha mestra de seu governo: o enterro da Era Vargas. "Eu acredito firmemente que o autoritarismo é uma página virada na História do Brasil. Resta, contudo, um pedaço do nosso passado político que ainda atravanca o presente e retarda o avanço da sociedade. Refiro-me ao legado da Era Vargas — ao seu modelo de desenvolvimento autárquico e ao seu Estado intervencionista", disse FHC.
O ex-presidente tucano privatizou muito, mas não tudo. Um de seus sonhos, o de criar a "Petrobrax", fracassou. E, como todos sabem, ele entregou o Brasil ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva quebrado e no colo do Fundo Monetário Internacional. Com a descoberta do pré-sal, Lula e sua então ministra de Minas e Energia, Dilma Rousseff, emularam os gestos do ex-presidente Getúlio Vargas, ao manchar as mãos com o petróleo brasileiro, que seria o "passaporte para o futuro".
Mas o pré-sal, em um Brasil controlado por oligarcas entreguistas e militares idem, se converteu em maldição. Em 2013, com as "jornadas de junho", e movimentos como o "Vem pra Rua", apoiados por oligarcas bilionários, como o dono da Ambev, Jorge Paulo Lemann, começou a ser organizado o golpe de estado contra a ex-presidente Dilma Rousseff. O objetivo principal era transferir a renda do pré-sal dos brasileiros para os acionistas privados da Petrobrás.(...)
*CLIQUE AQUI para ler, na íntegra, a postagem do jornalista Leonardo Attuch, Editor do 247.
O Partido dos Trabalhadores – PT de Santiago/RS realizou importante Plenária na noite de quarta-feira, 8/06, tendo por local a Associação dos Cabos e Soldados da BM de Santiago/RS (Greminho, próximo à Escola da URI).
Segundo o Presidenteda Executiva Municipal do PT, o Advogado Júlio Garcia, “foi uma reunião muito construtiva, com boa participação de filiados e simpatizantes; além da qualidade das intervenções, houveram muitas sugestões, encampadas pela Direção, para que o Partido no Município também faça a sua parte para contribuir com um resultado positivo no pleito que se aproxima, que culmine com a eleição dos nossos futuros candidatos”. Disse que “como bem colocou recentemente o companheiro Deputado Edegar Pretto, ‘nosso Estado tem uma rica história de lutas, mas vive um período de muitas dificuldades, assim como o Brasil. Mas temos um povo trabalhador com coração vitorioso e capacidade de superação e vamos construir com Lula um Rio Grande e um Brasil mais justo, solidário e feliz”.
No início da reunião foram saudados (e chamados pela Secretária de Organização, Advogada Josieli Miorin, para compor a Mesa dos Trabalhos) os ex-presidentes do PT santiaguense que se fizeram presentes: José Nunes Garcia, Luis Rodrigues, o ex-vereador Antônio Bueno e a ex-vereadora Iara Castiel (foto acima).
Constou da pauta da reunião: Avaliação da Conjuntura Política, atividades relativas à Pré-campanha Eleitoral (Lula Presidente, Edegar Pretto Governador e demais pré-candidaturas proporcionais do PT), organização interna do partido, informes gerais e filiação de novos(as) companheiros(as) ao PT de Santiago. Foram saudadas e abonadas as filiações ao partido, por membros da Executiva do PT local, dos(a) companheiros(a) Ronald Dias Miorin, Rebeca Santos Martins e Einar Garcia da Silva.
Júlio Garcia informou ainda que, "a partir de agora, as reuniões mensais – ou extraordinárias – serão frequentes, assim como as atividades descentralizadas (nas ruas, Centro, Bairros e Interior) que se darão através dos Comitês Populares de Luta que também estão sendo organizados pelo PT e aliados em Santiago”.
O Partido dos Trabalhadores - PT, por sua Direção Municipal, está convidando todos(as) os(as) companheiros(as), militantes e simpatizantes do Partido para a importante reunião que será realizada nesta quarta-feira, 08/06, com início às 19 horas, na Associação dos Cabos e Soldados da BM de Santiago/RS (Greminho, próximo à Escola da URI).
Na pauta: Avaliação da Conjuntura Política, atividades relativas à Pré-campanha Eleitoral (Lula Presidente, Edegar Governador e demais pré-candidaturas proporcionais do PT), Tarefas, Informes Gerais e filiação de novos(as) companheiro(as) ao PT.
A participação de todos(as) será de muita relevância para a organização e fortalecimento do partido, bem como das tarefas que se impõem diante da atual conjuntura e da futura - e importantíssima! - campanha eleitoral (prestes a iniciar).
A primarização do Brasil e as políticas liberais são as principais causas da inflação no País. Hegemonia do agronegócio, governo ausente, câmbio alto e crise econômica criam tempestade perfeita para disparada dos preços
Lista na mão, semblante tenso, postura hesitante e carrinho vazio: a ida ao supermercado tornou-se um momento delicado para muitos brasileiros. Fantasma de um passado não tão distante, foi chegando sorrateira até se instalar de vez como uma realidade concreta na mesa: a inflação está de volta. E vem atingindo com mais força os alimentos.
A justificativa de que a alta dos preços é um fenômeno global vem sendo repetida à exaustão pelo governo de Jair Bolsonaro, reverberada por seus apoiadores e também por boa parte da imprensa brasileira. Mas é possível culpar a pandemia, o comportamento das commodities e a guerra na Ucrânia pelo descontrole da inflação dos alimentos no Brasil?
O que a cenoura, a batata, as frutas, a carne, o açúcar, o óleo de soja e o café produzidos e consumidos aqui têm a ver com isso? Como explicar uma inflação que parece fora de controle no país que é o terceiro maior produtor de alimentos do mundo? Em 16 anos, os alimentos acumulam alta de 230%, bem acima dos 141,5% registrados pelo IPCA neste mesmo período.
Embora tenha impactado os preços por aqui, o cenário internacional não dá conta de explicar características próprias da inflação brasileira. A dinâmica de formação dos preços dos alimentos está relacionada, em grande medida, a fatores internos.
Política cambial, primarização do comércio exterior, desindustrialização, saldo da balança comercial, concentração de terra e mercado de commodities podem soar como um balaio sortido de um economês incompreensível para a maioria das pessoas.
Mas é o conjunto desses fatores e a interrelação entre eles que impacta, direta ou indiretamente, o preço e a disponibilidade da comida que chega na mesa. Ou seja, o buraco é bem mais embaixo. E, sem entender esse buraco, não há como sair dele. Aliás, no curto prazo não há nada no horizonte que permita ter otimismo quanto ao fim desse ciclo inflacionário.
“São dois problemas conexos, mas distintos. Existe um problema conjuntural externo e existe um problema estrutural brasileiro na própria relação do Brasil com o mundo”, avalia Guilherme Delgado, pesquisador aposentado do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e diretor da Associação Brasileira de Reforma Agrária (Abra). “Do ponto de vista conjuntural, essa chamada volatilidade dos preços agrícolas não é nenhuma novidade, isso sempre houve. Você tem ciclos de ascensão dos preços externos, depois ciclos descencionais. O problema brasileiro essencial é que, há pouco mais de duas décadas, o país ingressou em um chamado movimento de primarização do seu comércio exterior. Esse é o nó da questão”.
Em linhas gerais, a condução do Brasil de volta ao destino histórico de país exportador de produtos primários (agrícolas e minérios), somado aos efeitos perversos de uma política econômica neoliberal ao longo dos últimos seis anos, tornaram essa nova pressão inflacionária muito maior que uma onda, mas um tsunami de efeitos devastadores e consequências de longo prazo.
Em março, o índice de preços de alimentos da ONU, calculado pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), atingiu um novo pico, chegando ao pior resultado desde 1974.
O Brasil já aparecia entre os países em desenvolvimento com as piores expectativas de inflação em todo o mundo, segundo projetou a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) em setembro do ano passado. A projeção não apenas se confirmou, como deve se agravar em 2022.
Em abril, o Brasil teve a pior inflação para o mês desde 1996, período de implementação do Plano Real. No ano, o IPCA acumula alta de 4,29% e, nos últimos 12 meses, de 12,13%, todos os indicadores muito acima dos resultados anteriores. As maiores altas foram dos transportes, seguido pelo grupo de alimentos e bebidas.
Brasil enfrenta inflação de alimentos há 15 anos
Para entender por que, mesmo sendo o maior exportador líquido de alimentos do mundo, o Brasil enfrenta uma alta descontrolada no preço da comida, é preciso dar alguns passos atrás e olhar o quadro como um todo. E o cenário que se revela não é nada bom.
Um dos nove grupos que compõem o IPCA é o Índice de Preços de Alimentos e Bebidas (IPAB). Ele se divide entre alimentação fora de casa e no domicílio, que, por sua vez, se subdivide em itens (carne, legumes, etc) e subitens (músculo, cenoura, etc). Quando o IPAB sobe acima do IPCA, temos a inflação dos alimentos.
Esse processo se agravou durante a pandemia, mas já vem sendo registrado de forma consistente desde 2007 no Brasil, revertendo tendência anterior de queda.
Historicamente, as flutuações nos preços dos alimentos são comuns. O que muda é a capacidade de cada país em absorver esse impacto e manejar a política econômica no sentido de proteger o mercado interno e garantir que a comida chegue à mesa.
Entre os anos 1960 até o começo dos anos 2000, os alimentos vinham se tornando gradativamente mais baratos no Brasil e no mundo. Depois disso, foram dez anos de alta.
“Esse aumento dos preços dos alimentos começou no Brasil por volta de 2007. No mundo, isso já estava se manifestando anteriormente, em 2003. Só que entre 2003 e 2011 a moeda brasileira tendeu a se valorizar, uma valorização considerável”, explica José Giácomo Baccarin, professor da Unesp e membro do Instituto Fome Zero, organização criada em outubro de 2020 para promover e apoiar políticas de combate à fome.
“A partir de 2011 e até 2018 o índice de preços da FAO começa a cair, mas a moeda brasileira vai na contramão: começa a se desvalorizar”, acrescenta o professor, que coordena uma pesquisa sobre a inflação dos alimentos no Brasil.
De fato, os efeitos dessa pressão inflacionária no bolso do consumidor foram bem distintos ao longo dos últimos 15 anos e se relacionam com os rumos da política macroeconômica e o desempenho da economia. Olhando o comportamento da inflação no Brasil, é possível distinguir três momentos.
Entre 2007 e 2014, a alta dos alimentos foi compensada pelo real forte. “O câmbio pode acirrar ou diminuir essa transição para o mercado interno. Se você tem um processo de valorização da moeda nacional, os preços externos são transmitidos mais fracamente para os preços internos. Se você tem uma desvalorização, os preços externos são transmitidos mais fortemente para o mercado interno”, explica Baccarin.
Entre os anos 1960 até o começo dos anos 2000, os alimentos vinham se tornando gradativamente mais baratos no Brasil e no mundo. Depois disso, foram dez anos de alta.
Real forte, emprego e renda compensaram alta até 2014
Além da questão cambial, a inflação dos alimentos até então era compensada por uma série de fatores:
índices de geração de emprego e melhoria na renda
política de reajuste do salário mínimo acima da inflação
programas como o extinto Bolsa Família
mecanismos regulatórios, como os estoques públicos de alimentos
uma série de políticas voltadas à segurança alimentar.
Entre 2015 e 2019, com o agravamento da crise econômica e o início de uma trajetória de forte desvalorização do real, os consumidores passaram a sentir essa alta com muito mais força. O enfraquecimento dos setores industrial e de serviços no Brasil, somado à condução ultra liberal da economia e ao desmonte de políticas públicas, criaram a tempestade perfeita.
A chegada da pandemia, em 2020, e um novo ciclo de alta global dos alimentos, e a instabilidade nos mercados internacionais com o novo conflito mundial, encontram um Brasil de pires na mão.
Entre janeiro de 2020 e março de 2022, quatro grupos de preços tiveram aumentos acima da inflação. Enquanto o IPCA subiu 18,9% neste período, o grupo alimentação e bebidas liderou a alta, com 30,21%, seguido dos transportes (+26,91%), artigos de residência (+24,15%) e habitação (+20,9%).
Durante a pandemia e até março passado, os alimentos que subiram de preço num ritmo muito acima da inflação geral, já num patamar bem alto, foram tubérculos, raízes e legumes (+126,3%); óleos e gorduras (+95,4%); hortaliças e verduras (+80%); frutas (+46,3%); cereais e leguminosas oleaginosas (+43%), aves e ovos (+40,4%); açúcares e derivados (+35,6%); leite e derivados (+32,8%) e carnes (+30,9%).
A alta do óleo de soja, das aves, das carnes e mais recentemente das frutas está diretamente relacionada à exportação desses alimentos e/ou insumos. Mas, como explicar o comportamento dos demais alimentos produzidos e consumidos por aqui?
Maiores altas de alimentos entre janeiro de 2020 e março de 2022 / Arte: O Joio e o Trigo
Mais soja, milho e cana, menos arroz e feijão
Quanto mais lucrativas se tornam as commodities (soja, milho, cana de açúcar e carne, por exemplo), a pressão sobre o uso da terra aumenta. Os grãos para exportação competem diretamente com a produção de alimentos para o consumo interno. Sobra menos espaço para arroz, feijão, mandioca e companhia.
Isso explica o paradoxo de assistirmos a sucessivos recordes na exportação de alimentos durante os dois anos da pandemia. Enquanto poucos exportadores comemoram lucro recorde com o dólar acima dos R$ 5 em 2020 e 2021, mais da metade da população passou a viver com algum nível de insegurança alimentar, e 19 milhões passam fome. A inflação dos alimentos é especialmente perversa porque atinge a população de forma desigual: quanto menor a renda, maior é o impacto da alta no preço da comida.
Nos Estados Unidos, país que tem grande produção de alimentos e muita terra agricultável, a inflação dos alimentos também aumentou acima da média durante a pandemia, mas em um ritmo bem menor. “Alimentos e energia são mais vulneráveis aos choques conjunturais, como questões climáticas e a pandemia, por exemplo. Mas, no longo prazo, tende a acompanhar a inflação geral porque os preços oscilam, mas voltam a cair porque a razão da subida é um choque temporário”, explica o professor Valter Palmieri Jr, doutor em Desenvolvimento Econômico pela Unicamp.
Nos últimos 15 anos, a inflação dos alimentos nos Estados Unidos subiu 5% acima da média geral de preço, enquanto por aqui essa alta foi de 37%. Isso significa que um alimento que custava US$ 10 em 2006, hoje vale US$ 15. No Brasil, um produto vendido a R$ 10 há 15 anos hoje custaria R$ 33.
“Os Estados Unidos são grandes exportadores de alimentos e também grandes importadores. Eles têm capacidade de renda pra isso. Fica no país mais alimento do que eles produzem, ou seja, a exportação líquida é negativa. No Brasil se produz muito alimento, mas fica pro brasileiro muito menos do que é produzido. Essa é a diferença”, acrescenta Palmieri Jr.
A carne é um dos exemplos que sintetiza essa relação do câmbio sobre os alimentos. Quando o real se desvaloriza frente ao dólar, a ração sobe e os custos de produção aumentam, assim como o preço dos animais. Para quem fornece carne para o mercado interno, há dificuldade em repassar esse aumento para um consumidor empobrecido e sem poder de compra. Para o exportador, o custo de produção mais alto é mais do que compensado pela disparada do dólar.
A inflação dos alimentos é especialmente perversa porque atinge a população de forma desigual: quanto menor a renda, maior é o impacto da alta no preço da comida.
A moeda desvalorizada acaba sendo o gatilho para que a oferta deste alimento no Brasil diminua. Soma-se a isso o efeito do câmbio no preço dos combustíveis e, portanto, fretes mais caros. O que afeta também o preço do gás de cozinha, que já acumula alta de 32,34% nos últimos doze meses, segundo o IPCA.
Processo semelhante vem acontecendo com as frutas. Foram dois anos seguidos de recordes de exportação, enquanto o consumo dos brasileiros despencou, como já mostramos no Joio. As frutas estão entre os grupos de alimentos que mais subiram de preço neste período.
“Estamos sujeitos aos preços internacionais porque não há nenhuma política para tentar amenizar essa transferência para o mercado interno. Isso poderia ser feito, especialmente quando os preços dão esse repique, via imposto de exportação ou via controle cambial”, sugere o professor Baccarin.
A carne também é um exemplo sintomático pelo peso que exerce no orçamento das famílias. Foi a vilã da inflação até 2019. Em 12 anos, o preço da carne subiu 274%, muito acima da inflação geral acumulada no período, que foi de 103%.
“O arroz participa com 3,5% da alimentação no domicílio, ou seja, o que a gente compra pra casa. A bovinocultura de corte participa com 18%. Portanto, se há um aumento no preço do arroz e da carne na ordem de 10%, o impacto sobre os gastos vai ser muito mais alto no caso da carne”, explica Bacccarin.
Soma-se a isso um efeito secundário deste processo: a substituição por cortes mais baratos e a procura maior pela chamada carne de segunda faz com que os preços desses alimentos, voltados ao mercado interno, também disparem. Foi o que houve com o músculo (+201%), acém (+181%) e o fígado (+115) nos últimos dez anos, entre 2011 e 2021.
Em 12 anos, o preço da carne subiu 274%, muito acima da inflação geral acumulada no período, que foi de 103%.
A comida in natura foi a que proporcionalmente tornou-se mais cara, estimulando que o consumidor com menor renda faça substituições de menor valor nutricional, em um processo já em curso, mas que se acelerou durante os últimos dois anos. Os alimentos frescos ou minimamente processados foram responsáveis por 70% da inflação total da comida que se compra no supermercado ou na feira e se come em casa, entre janeiro de 2021 e março de 2022. Esse grupo se refere a uma centena de alimentos diferentes e essenciais na dieta da população.
Açúcares e derivados de soja, os maiores vilões da inflação nos últimos dois anos, também registraram alta expressiva de preço. Mas o impacto desses alimentos na composição do orçamento com comida é muito menor do que os demais produtos da cesta alimentar.
Neste mesmo período, os ultraprocessados também subiram de preço, mas em um ritmo muito menor, tornando-se, portanto, proporcionalmente mais baratos. É o que vem acontecendo, por exemplo, com a substituição da manteiga pela margarina, dois produtos absolutamente diferentes, mas que concorrem no mesmo mercado em condições desiguais, como já mostramos no Joio. Enquanto a margarina usa como matéria-prima uma combinação de óleos vegetais mais baratos e sem tanto oscilação de preço, a manteiga é feita exclusivamente da gordura do leite, alimento cuja produção é totalmente voltada para o mercado interno e, portanto, sem os mesmos incentivos que o milho e a soja. Soma-se a isso, o fato de que dois conglomerados – BRF e JBS – concentrarem mais de 80% do mercado de margarinas, com maior poder de barganha na compra de matérias-primas e maior capacidade de investimento.
Diversos fatores contribuíram para a disparada no preço dos alimentos / Arte: O Joio e o Trigo
Agro, a indústria pobreza do Brasil
Maximizado por diferentes mecanismos de incentivos e por uma política cambial que deu as costas para os interesses do povo brasileiro, o agronegócio exportador deu as mãos para o mercado financeiro e tornou-se a maior e mais poderosa força econômica e política no Brasil hoje. Não por acaso segue investindo em narrativas que tentam limpar a barra do setor e desassociá-lo da origem do problema.
Porém, todos os caminhos levam ao agro.
“O que diferencia a decisão de investimento dos agricultores é o tamanho do mercado. Soja tem um mercado de 7 bilhões de habitantes. Feijão, você está pensando em um mercado de 220 milhões, um pouquinho mais. Isso inibe investimento em produtos que são para o mercado interno. O Brasil tem tradição, tem conhecimento e tem tecnologia. A Embrapa poderia ser chamada. Teria que recuperar a assistência técnica que foi destruída neste país. Ter crédito pra esse tipo de agricultor. E trabalhar com o aumento no consumo desses produtos”, sugere Baccarin.
Mas exportar alimentos é necessariamente ruim? Depende. Na opinião de Guilherme Delgado, a centralidade do agronegócio exportador no Brasil do século 21 criou uma “arapuca macroeconômica”. Ele explica que na medida em que demais setores da economia foram atrofiados para privilegiar os saldos gerados pela exportação de produtos agropecuários, cria-se um desequilíbrio estrutural que impacta os produtos voltados para o mercado interno, inclusive os alimentos.
Em conjunturas de crise internacional como a que vivemos agora, esse desequilíbrio se agrava. “O sistema econômico está sendo planejado para crescer a ritmos desiguais. Uma parte do sistema que produz commodities tem um estímulo macroeconômico exacerbado. E setores que não produzem commodities ficam atrofiados”, explica Delgado. “Essa dupla balança – uma catapultada, outra atrofiada – faz com que quanto mais eficiente seja esse processo de ajuste, entre aspas, das contas externas, maior seja a defasagem de crescimento entre o setor produtor de commodities e o de não commodities e aí entram os produtos para abastecimento interno, como os alimentos”, acrescenta o economista.
Com isso, a balança comercial brasileira torna-se cada vez mais dependente dos resultados das exportações agropecuárias, em uma tentativa de compensar o mau desempenho e o esvaziamento de outros setores importantes da economia, como a indústria, infraestrutura e os serviços, muitos dos quais privatizados e entregues ao capital estrangeiro nos últimos anos no Brasil.
Para Delgado, se o agronegócio brasileiro é tão autossuficiente como se propaga, deveria funcionar sozinho, sob as regras de mercado. “O agronegócio tem que exportar e não há nada contra isso. Mas o que ele não tem é que ser o setor especializado na exportação em uma economia desse tamanho, com 220 milhões de brasileiros que precisam comer todo dia.”
Desde Collor, sertanejos estão lado a lado com políticos de direita. Agora se sentaram no colo da extrema direita.
Ilustração: Amanda Jungles/The Intercept Brasil
NÃO É DE HOJEque artistas sertanejos estão associadas com os políticos de direita. No início da década de 90, durante o governo Collor e o boom da música sertaneja nas rádios, cantores sertanejos eram vistos com frequência na Casa da Dinda, residência oficial do então presidente Fernando Collor em Brasília. Só em 1992, o programa Sabadão Sertanejo, apresentado por Gugu Liberato no SBT, levou os nomes mais badalados do sertanejo para fazer uma roda de sertanejo no quintal da Casa da Dinda em duas oportunidades.
Naquele ano, diversos escândalos de corrupção envolvendo Collor pipocavam no noticiário e o colocavam nas cordas. A cena sertaneja se mobilizou para demonstrar apoio ao presidente que teria o mandato cassado meses depois (Collor renunciou antes do impeachment). Não é de hoje, portanto, que o grosso dos artistas sertanejos apoia a direita.
É uma relação simbiótica que vem sendo construída há décadas entre sertanejos, agronegócio e políticos da direita, um consórcio em que todos saem ganhando. Agora, com o agronegócio sentado no colo da extrema direita golpista e negacionista, a cena sertaneja se sentou também. E está faturando horrores vendendo shows para cidades administradas por prefeitos ligados ao bolsonarismo.
O esquemão bolsonejo veio à tona depois que o cantor Zé Neto, da dupla Zé Neto e Cristiano, aproveitou um dos seus shows para fazer uma patrulha moral sobre uma tatuagem feita por Anitta em uma parte íntima. Ele disse no palco para milhares de pessoas que não depende da Lei Rouanet para fazer shows, insinuando que a artista, uma feroz crítica ao bolsonarismo, dependeria.
Ocorre que a Lei Rouanet até pouco tempo atrás determinava um limite de R$ 45 mil para o cachê de um artista. Hoje, esse limite caiu para R$ 3 mil. No show em que usou o microfone para bancar o bedel do bolsonarismo, Zé Neto e Cristiano faturaram R$ 400 mil dos cofres públicos. O show foi feito na Exposorriso, uma feira agropecuária anual com leilões, shows e rodeios de Sorriso, Mato Grosso. A cidade mato-grossense é administrada por um prefeito tucano que é bolsonarista ferrenho. Tão bolsonarista que contrariou orientação do PSDB e anunciou apoio à reeleição de Bolsonaro.
A hipocrisia de Zé Neto ficou exposta e foi o estopim para que se passasse um pente fino em todas as contratações de shows de cantores sertanejos feitas com dinheiro público. Reportagens com levantamento de gastos indecentes das prefeituras com shows fez a “CPI do Sertanejo” virar um dos assuntos mais comentados nas redes sociais.
As investigações só estão começando e, por enquanto, nada de ilegal foi encontrado no esquemão bolsonejo. A coisa ainda está apenas no campo da imoralidade. O Ministério Público de diversos estados já está investigando a farra sertaneja com verbas públicas.
Um dos casos mais emblemáticos é o de Teolândia, Bahia, cidade com 14 mil habitantes, recentemente arrasada pelas enchentes. Apesar não ter grana para pagar o salário mínimo dos professores e socorrer às vítimas de enchentes, a prefeita bolsonarista decidiu torrar R$ 1,2 milhão dos cofres municipais para bancar artistas sertanejos. Só Gusttavo Lima receberá R$ 704 mil.
Segundo a prefeita do Progressistas, conhecer o artista era um sonho pessoal. Há poucos meses, essa mesma prefeita pediu para que a população mandasse PIX para a conta da prefeitura para ajudar os desabrigados pelas fortes chuvas que atingiram a cidade no começo do ano.
‘Enquanto ele ostenta carrões, mansões, iate e fazendas, o povo pobre dessas cidades sofre com serviços públicos precários’.
Gusttavo Lima é um caso à parte. O sertanejo mais famoso da cena é o que mais recebe verbas públicas para fazer shows em cidades do interior. É também o mais bolsonarista. Assim como Teolândia, diversas cidades com baixo orçamento pagaram cachês gordos para o cantor milionário. Enquanto ele ostenta carrões, mansões e fazendas, o povo pobre dessas cidades sofre com serviços públicos precários. O cantor cobrou R$ 800 mil da cidade de São Luiz, que tem o segundo pior PIB de Roraima. Já a cidade de Conceição de Mato Dentro, Minas Gerais, que tem pouco mais de 17 mil habitantes, iria desembolsar R$ 1,2 milhão para contratar o cantor. (...)
CLIQUE AQUIpara ler, na íntegra, a postagem de João Filho no site The Intercept Brasil
Evento encerrou com gesto de Edegar Pretto e Pedro Ruas de mãos dadas diante do público
O primeiro grande evento da pré-campanha do ex-presidente Lula no Rio Grande de Sul teve, como mote oficial, a defesa da soberania nacional. Mas, o que se viu no palco do Pepsi On Stage, em Porto Alegre, foi um forte apelo público do ex-presidente à unidade dos partidos de esquerda na disputa pelo governo do Rio Grande do Sul e uma possível sinalização de que há caminhos para um acordo, ao menos envolvendo PT, PSOL e PCdoB.
Lula iniciou sua fala lembrando que fazia tempo que não vinha a Porto Alegre, o que não ocorria desde 2018, e lamentou não poder ter feito um ato público na Rua da Praia porque poderia ser considerado como campanha eleitoral. Em seguida, contudo, fez uma enfática defesa da unidade de partidos de esquerda não apenas na campanha nacional, que reúne, além do PT, PSB, PCdoB, PV, PSOL, Rede e Solidariedade.
No RS, apenas PT, PCdoB e PV, que compõem uma federação de alcance nacional, estão unidos até o momento. Antes do evento, Lula já tinha participado de uma reunião com lideranças destes sete partidos no RS, mas que não resultou em avanço concreto. “Eu queria fazer um apelo, um apelo de alguém que aprendeu a fazer política negociando”, disse.
O ex-presidente afirmou que é natural que cada partido queira lançar um candidato próprio, mas ponderou que “não custa nada” as lideranças partidárias se sentarem para negociar mais uma vez. “Não custa nada conversarem um pouco mais e darem de presente a esse povo a unidade para derrotar o Bolsonaro. É o mínimo que esperam de nós”, afirmou.
Enquanto Lula falava, Edegar Pretto e Pedro Ruas, os pré-candidatos de PT e PSOL, respectivamente, ao governo do Estado, juntaram-se no palco para conversar com Manuela D’Ávila (PCdoB), que recentemente anunciou que não iria concorrer ao Senado, citando entre os motivos a dificuldade de construção de uma unidade partidária. E, num sinal ainda mais claro de que uma unidade ainda poderia ser construída, Pretto e Ruas terminaram o evento se dirigindo à frente do palco e, de mãos dadas, erguendo os braços ao lado de correligionários dos três partidos. (...)
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