16 junho 2023

Os ruralistas e o futuro do Brasil


Por Juca Ferreira*

A ficha aos poucos vai caindo e as contradições do ruralismo com o futuro do país vão ficando perceptíveis e expostas e as ilusões vão se dissolvendo…

Os ruralistas, o chamado agronegócio, foi uma das principais bases políticas do golpe que afastou a Dilma da presidência e emprestaram todo apoio a Temer e Bolsonaro.

Historicamente são uma força conservadora e reacionária e conspiram sistematicamente contra o futuro e a grandeza do país.

Fizeram parte desses governos oriundos da ruptura com nossa democracia e usaram sua força nesses governos para ampliar e liberar criminosamente o uso de venenos, os chamados agrotóxicos; para aprovar leis que legalizam e ampliam o armamento no campo e praticam sistematicamente a violência contra líderes dos pequenos agricultores e povos indígenas, inclusive com assassinatos de muitos desses líderes; estimularam e alimentaram as iniciativas golpistas e foram os principais estimuladores e financiadores dos acampamentos nas portas dos quartéis e da patética tentativa de golpe do dia 8 de janeiro.

Agora, estão usando o parlamento para inviabilizar o governo do presidente Lula através de táticas para fazer do Congresso uma barreira oposicionista e golpista.

Estão abrindo uma CPI contra o MST e buscam criar o clima de instabilidade e polarização no país.

Nunca tiveram interesse na consolidação de uma democracia no Brasil.

Não manifestam compromisso com nossa soberania e preferem o Brasil à imagem e semelhança de uma das suas fazendas, sem direitos sociais, sem cidadania, onde impera a lei do mais forte.

Ainda vivem a nostalgia da abolição da escravidão e são o principal setor social que possibilita a resiliência das práticas escravistas.

São inimigos da sustentabilidade e são um dos principais predadores da natureza, desmatando, botando fogo nas florestas, contaminando os rios e os peixes, usando de forma predatória os recursos hídricos, reduzindo irresponsavelmente a biodiversidade e praticando o uso abusivo do solo.

Estão sempre conspirando contra as leis que protegem o meio ambiente e destroem as florestas para substituí-las por fazendas de gado e soja e estão destruindo o Cerrado brasileiro, bioma fundamental para o equilíbrio hídrico do país e se dedicam a concluir a obra criminosa de acabar de devastar a mata Atlântica.

São, junto com o garimpo e os madeireiros, os principais algozes das florestas, dos rios e dos povos indígenas em todo o território nacional.

Como setor social são impermeáveis à nação e não demonstram nenhuma tendência de vir a tomar tenência e afinar a viola com o Brasil.

Tem sido um caso de desafinação e dissonância crônica.

*Juca Ferreira (foto) é sociólogo e ambientalista. Desde março de 2023, cuida da área de economia criativa do BNDES. Foi ministro da Cultura nos governos Lula e Dilma.

-Fonte: https://www.viomundo.com.br (enviado por Ana Costa)

14 junho 2023

O espectro das Jornadas de Junho

As manifestações de junho de 2013 ainda pairam como um espectro verde-amarelo sobre a sociedade brasileira


   Foto: Ramiro Furquim/Sul21

Por Luiz Marques (*)

Junho de 2013 paira como um espectro verde-amarelo sobre a sociedade brasileira. Muito já se discutiu acerca do fenômeno político-social que, com o estopim do Movimento Passe Livre (MPL), explodiu para além da redução das passagens do transporte urbano e, num piscar de olhos, tomou conta das principais cidades. O movimento, de viés estudantil, apesar da suspensão da elevação da tarifa em vários estados, prosseguiu com apoio maciço da classe média em procissões de civismo, intolerância e ressentimento. A pauta incorporou reivindicações. “Não era só pelos vinte centavos”.

Para o jornalista César Felício: “Um ponto de inflexão na crise de junho aconteceu no dia 13, quando a Polícia Militar reprimiu com violência a manifestação em São Paulo” (Valor Econômico, 02/06/2023). Em dias anteriores, os black blocs depredaram prédios. Daí em diante, a popularidade da presidenta Dilma Rousseff despencou e a instabilidade se instalou. A agenda “não” à majoração dos bilhetes de ônibus, metrôs e trens, na sequência, mirou as incontornáveis carências dos serviços públicos e os altos gastos com as obras para a Copa do Mundo (2014) e as Olimpíadas (2016). 

O mal-estar foi canalizado pela Rede Globo para o tema da corrupção. As bandeiras originais foram sequestradas. O alvo migrou dos prefeitos e governadores para o Palácio do Planalto, o PT e a esquerda in totum. Propagou-se o vírus antipetista e antiesquerdista, fechando o doloroso ciclo do “mensalão” inaugurado em outro junho (2005), pelo deslocamento de decisões cruciais para fora de instâncias legítimas. O vírus autoritário infectou a população. A lacração dos políticos contaminou o metabolismo sistêmico, independente do teor ideológico – vitória do mercado contra a política.

As bizarrices com ares de “casa grande” passeando na “senzala”, tipo o casal indo para o local de uma protestação com o carrinho de bebê, a babá preta uniformizada e cães da raça Spitz, acharam em um boçal o porta-voz adequado dos rebeldes a favor das desigualdades sociais e culturais. 

Aquele cínico voto de impeachment dedicado a um covarde torturador (coronel Ustra) pavimentou a ascensão do messias da Barra da Tijuca e guinchou as esperanças coletivas para um passadismo encarnado na ditadura militar, em vez de para uma utopia política com base no igualitarismo e na solidariedade. Levantou-se a tampa do esgoto para monstruosidades assumirem lides ministeriais.

“O establishment preferiu mentir, inclusive para si, que estava apoiando um candidato da direita normal. Todos fingiram não ver quem era Jair Bolsonaro”, acusa o sociólogo Celso Rocha de Barros, em PT: uma história. Às favas os escrúpulos, cantou o passarinho ao endossar o AI-5. 

Benito Mussolini é paradigmático. A Fasci Italliani di Combattimento, fundada em 1919, tinha um feixe de hastes de madeira com um machado ao centro, símbolo do poder político da Roma antiga e, por extensão, do poder político da Roma moderna com Il Duce. O líder forjou de modo arbitrário os rituais, os gestos e os valores do Império Romano para enaltecer a “especificidade” do mito da romanidade, reatualizado pelo fascismo. Qualquer semelhança com o teatro de quinta categoria e atores medíocres na Terra brasilis, não é coincidência. A tragédia se repetiu como uma farsa. 

Choveu no paraíso

A maioria dos analistas julga que junho de 2013 revelou duas crises: a do sistema de representação e a da impostura da meritocracia, que fabricou losers despeitados e winners arrogantes de poucas luzes. A revista Focus Brasil (08/06/2023) dedicou um número aos “Dez anos das Jornadas”.

A Lava Jato, nascida em março de 2014, não criou ex nihilo o ódio; aproveitou-se do caudal de estigmatização da atividade política e responsabilizou os detentores de cargos eletivos, funcionários públicos e empresários pelos malfeitos comprometedores do país do futuro, adiado. A exemplo dos veículos corporativos de comunicação, converteu a corrupção no problema fundamental de um país continental, com uma determinação tão estúpida que provocou quatro milhões de desempregados. 

O primeiro mártir do lavajatismo foi o princípio da justiça hodierna, a presunção de inocência. O segundo, o respeito ao processo legal e àcompetência jurisdicional. O terceiro, a verdade, por condenações à revelia de provas materiais, baseadas apenas nas delações premiadas. O quarto, o julgamento imparcial, maculado no conluio do juízo, a promotoria e a mídia na prática do lawfare

O quinto foi a indústria de engenharia, desmantelada para o regozijo das competidoras estrangeiras. O sexto, a dignidade da pátria, lesada pela articulação espúria às suas costas com o Departamento de Estado norte-americano, que culminou na prisão arbitrária de quem ponteava todas as projeções eleitorais. Outrora marco da abdicação de Dom Pedro I em favor do filho, para alguns a magna data da Independência do Brasil, o 7 de abril se transmutaria no triste dia da ignomínia do judiciário.

Então choveu no paraíso, parafraseando o filósofo esloveno Slavoj Zizek. Éramos felizes e não sabíamos. Comprovou-se a tese de que a sublevação das massas se dá em conjunturas econômicas ascendentes, onde uma interrupção brusca impede novas conquistas das camadas oprimidas. 

Entre o impeachment, a posse do vice golpista e o fim do governo neofascista, la porte de l’enfer rodiniana se abriu à lei patronal das terceirizações e à autonomia (em relação à soberania popular) do Banco Central, com a entrega da política monetária aos prepostos do rentismo financeiro. 

Privatizou-se empresas estatais, devastou-se florestas, sucateou-se a educação, legalizou-se a aquisição de armas pelo narcotráfico e as milícias, abandonou-se a política de proteção às mulheres e se turbinou o feminicídio. Mais: se assistiu a incúria no enfrentamento da pandemia com estímulo à imunidade de rebanho, em detrimento da vacinação. O resultado cravou o genocídio de 700 mil vítimas. Em cada escaninho da administração central, o desmonte dos órgãos de controle do Estado e o assalto ao erário guiaram o leme do desgoverno, na pior aventura em 500 anos de extrativismo.

Entre 2003 e 2010, graças a iniciativas governamentais surgiram 15 milhões de vagas formais, mais do que o total de postos de trabalho nos mandatos de Sarney, Collor, Itamar e FHC juntos. Entre 2018 e 2022, em contrapartida, 62,5 milhões de pessoas ficaram abaixo da linha da pobreza e 17,9 milhões viviam na extrema pobreza (dados do IBGE). Arruinou-se a autoestima que a população demonstrava pela simples condição de ser brasileiro. Praças de metrópoles se tornaram campos de refugiados famintos, em barracas improvisadas por invisíveis. Eis uma pequena amostra do quanto são antagônicos os programas de gestão que contrapõem o progressismo ao hiperindividualismo. 

As ondas do mar

Como as ondas do mar de Nazaré, em Portugal, o vagalhão do extremismo de direita produziu-se sob a superfície de correntes impulsionadas numa fenda submersa, capaz de formar um volume e condensar uma força extraordinária antes de quebrar na praia. Na política, aquela placa tectônica correspondeu à questão da moral e dos costumes com a qual o neoconservadorismo, em associação com o neofascismo, se apresentou à sociedade ao sustentar o colonialismo (racismo) e o patriarcado (sexismo), que servem de alicerces para a segregação e a manutenção da dominação capitalista.

O obscurantismo não é aliado do processo civilizacional, mas de exercícios de feitores cruéis. O desembargador do Tribunal de Justiça/SC, suspeito de manter em situação análoga a de escrava a trabalhadora (surda, muda, iletrada), sem salário ou convívio social, por duas décadas, trouxe à tona um passado que ainda governa o presente, a se confirmar a denúncia. Acabar com a escravatura foi fácil, difícil é arrancá-la do habitus das “elites” com sua crua dialética de mando e de obediência. 

Os abolicionistas avisaram: “A escravidão permanecerá por muito tempo como a característica nacional”. Com o que a luta antineoliberalismo confunde-se, hoje, com a luta antirracismo (étnico, social, capacitista). Por isso, para o antropólogo Darcy Ribeiro, a transformação à brasileira será um socialismo moreno, ou não será socialismo. É hora de acertar as contas com 350 anos de martírio.

Vale salientar a denúncia do ex-agente do Ministério Público Federal (MPF) e ex-deputado pelo Paraná, Deltan Dallagnol, ao criticar o projeto de lei de combate às fake news com a alegação de que censuraria versículos bíblicos. O ex-procurador reportava-se a um anacronismo machista. 

“Esposa obedeça ao seu marido, como você obedece ao Senhor. Pois o marido tem autoridade sobre a esposa, assim como Cristo tem autoridade sobre a Igreja. E o próprio Cristo é o Salvador da Igreja que é o Seu corpo. Portanto, assim como a Igreja é obediente a Cristo, assim também a esposa deve obedecer em tudo ao seu marido” (Efésios 5:21-6). Donde se depreende, diferentemente da interpretação patriarcalista do PowerPoint, que a luta contra o neoconservadorismo confunde-se com a luta contra o sexismo, e deverá ter as mulheres à frente. Por que temer os ideais igualitários?

Consuelo Dieguez, em O ovo da serpente, lembra que uma manifestação evangélica reuniu 40 mil pessoas no gramado da Esplanada, em Brasília, no 5 de junho do fatídico ano, véspera dos atos pelo passe livre, que romperam a tranquilidade da capital paulista. O ato teve por mote um repúdio às medidas de criminalização da homofobia, aprovadas na Câmara e remetidas para exame do Senado.

Na época, avaliava-se em 30% o exército “pela liberdade religiosa e pela família tradicional”. Mobilizado por igrejas que agem com ambição indisfarçável pelo poder político, os soldados da fé atacavam os inimigos de sempre: aborto, feminismo, casamento gay, ideologia de gênero. É um risco à democracia que os teocratas disponham de emissoras de rádio e televisão para a pregação de preconceitos, cooptação de fiéis e captura de votos simpáticos a bispos que mercantilizam deus.

Hasta la victoria

Exageros de linguagem sugerem um vínculo automático entre o “Ano da Serpente” e a assunção bolsonarista, critica Marcos Nobre no artigo “Como junho de 2013 levou a culpa pelos desastres do país” (Folha de São Paulo, 04/06/2023), mas não livram a cara dos que possuíam relevo no regime. No calor das mobilizações, a precipitação da mandatária-mor com a proposta de uma Constituinte exclusiva e de dirigentes com a acomodação ao emedebismo sinalizam um fracasso das lideranças, em uma sociedade erguida sobre pactos classistas pelo alto e subtraída por uma nobreza vira-lata.

Não obstante, se “até 2015, nenhuma força política foi capaz de oferecer direção e sentido hegemônicos à energia de junho”, é que se impôs uma falência mais potente: a da representação política clássica (com a objetividade do real subestimada) comparada à crise das direções (com a subjetividade do sujeito superestimada). A tentativa de reinventar a democracia com uma cidadania ativa, por intermédio do Plano PluriAnual Participativo (PPA Participativo), busca corrigir uma correlação adversa de forças a partir de uma “análise concreta da realidade concreta”, às antigas. 

A antipolítica abalou as instituições do Estado de direito democrático, o que ficou sintetizado no desabafo que funcionou como um compêndio de ciência política: “Não me representam”. Quem captou a insatisfação com a “democracia realmente existente” foi a extrema direita, que aprendeu rápido o potencial das redes sociais e da internet. A tempestade seria perfeita se o vandalismo nas sedes dos três poderes, no último 8 de janeiro, tivesse configurado a distopia regressiva armada. 

De acordo com o diretor do Instituto Fernando Henrique Cardoso, o intelecto-tucano Sérgio Fausto: “2013 não produziu mudança institucional positiva que melhorasse a qualidade do Estado brasileiro e da democracia”. Pena o cientista político não reconhecer a responsabilidade do PSDB na trama. O comportamento do mimado, mas derrotado, neto de Tancredo Neves foi a maçã no Jardim do Éden. 

Na Espanha, as circunstâncias foram mais generosas. A ação dos “indignados” (2011) originou uma agremiação de esquerda (Podemos) que, em aliança com os herdeiros do PCE (Unidas), disputou a hegemonia com o PSOE, de centro-esquerda, num idílio de curta duração. Nos Estados Unidos, o Occupy Wall Street (2011) emulou o Black Lives Matter (2013) e as campanhas (2016, 2020) pela candidatura de Bernie Sanders à presidência, subindo a régua da consciência e da luta de classes.

No Brasil, as mobilizações do polissêmico junho na quadra dos progressistas desembocaram: (a) nas ocupações de escolas secundaristas (2015, 2016), com a juventude posicionada ao lado das bandeiras emancipadoras e; (b) no reforço alcançado pelo movimento feminista com a demanda “Ele não” (2018), que impulsionou um protagonismo de vanguarda na eleição seguinte (2022).

O desafio do presidente Lula da Silva é reconstruir a nação e fornecer as condições para que, no plano econômico e político, a participação social desperte a confiança em uma democracia de longa duração, aberta às experimentações. A práxis por inovações supera as iniquidades e sepulta no esquecimento os desvarios de ontem. “Esse é o destino do mar”, no verso de Cecília Meireles.

(*) Docente de Ciência Política na UFRGS, ex-Secretário de Estado da Cultura no Rio Grande do Sul

Fonte: Sul21

12 junho 2023

Por que show de Roger Waters no Brasil virou debate sobre nazismo?

 

Por Jeferson Miola (@jefmiola), em perfil de rede social*

Por um lado, a reação inusitada à performance anti-nazista de Roger Waters, inclusive de setores da esquerda, é fruto de ignorância.

Mas, por outro lado, essa reação também é resultado da eficácia da sórdida e capciosa campanha sionista.

A vida familiar e a trajetória artística de Roger Waters são marcadas pelo combate inconcedível ao nazismo, ao fascismo e aos totalitarismos.

Ele não é um antissemita; mas sim um antissionista, antifascista e antinazista.

Roger Waters é defensor do povo e do Estado Palestino, é um crítico histórico do apartheid e do racismo de Israel em relação aos palestinos, e ativista de primeira linha do BDS – movimento e campanha mundial que defende o Bloqueio, Desinvestimentos e Sanções ao Estado de Israel pelo fim da ocupação e da colonização dos territórios palestinos.

Felizmente, a reação à infâmia contra Roger Waters não tardou: desde que a estúpida reação sionista contra ele começou ser orquestrada, aumentou a procura por ingressos dos shows dele no Brasil.

*Via Viomundo

10 junho 2023

Pimenta diz que Moro e Dallagnol comandaram organização criminosa e devem ser punidos por seus crimes

Ministro da Secom cobra punição dos responsáveis pela Lava Jato, que deixou um rastro de destruição econômica e institucional

O ministro Paulo Pimenta, da Secom, cobrou a punição do ex-juiz suspeito Sergio Moro, hoje senador, e do ex-procurador e ex-deputado Deltan Dallagnol, pelos crimes cometidos por ambos durante a Lava Jato. "Cada vez que mais conversas da Vaza Jato são divulgadas aumenta minha perplexidade e minha indignação de como o Brasil foi capturado por essa quadrilha de bandidos de togas. Moro e Deltan comandaram uma sofisticada organização criminosa com ramificações em vários setores do aparato do Estado brasileiro. Uma perigosa organização que nunca mediu limites e jamais teve escrúpulos para alcançar seu projeto de poder", postou Pimenta, em suas redes. (...)

CLIQUE AQUI para ler na íntegra (via 247)

09 junho 2023

LUTO - Wladimir Pomar presente, agora e sempre!

Militante histórico da esquerda faleceu na madrugada desta sexta (9); leia homenagem de um de seus filho, Valter Pomar


Por Valter Pomar*

9 de junho de 2023, 2h02 da manhã.

Wladimir Pomar completaria 87 anos no dia 14 de julho de 2023. 

Havia planos de festejar a ocasião, chamando amigos, camaradas e a "grande família": 4 bisnetos e 3 bisnetas, 7 netos e 4 netas, 3 filhos e sua esposa Rachel.

As complicações resultantes de uma displasia impediram isso e o fizeram ter um fim de vida terrivelmente sofrido, totalmente diferente do que ele as vezes disse querer ter e particularmente injusto para com um camarada tão gentil, para citar um termo de Espinosa, não o filósofo, mas aquele militante bem alto, tantas vezes visto ao lado de Lula, especialmente a partir da campanha presidencial de 1989, que Wladimir ajudou a coordenar.

Wladimir Ventura Torres Pomar nasceu em Belém do Pará, no ano de 1936, filho de Catarina Torres e Pedro Pomar, militante comunista então perseguido pela ditadura Vargas.

Em 1949, aos 13 anos, Wladimir também se tornou militante do Partido Comunista. Nos anos 1950, atuou no movimento estudantil e no movimento sindical metalúrgico. Em 1962, participou do grupo que "reorganizou" o Partido Comunista do Brasil.

Preso em 1964, por resistir ao golpe militar, Wladimir viveu na clandestinidade até 1976, sendo novamente preso no chamado Massacre da Lapa, quando perderam a vida Ângelo Arroyo, João Batista Franco Drummond e seu pai, Pedro Pomar.

Wladimir saiu da cadeia em 1979, pouco antes da Anistia. Algum tempo depois, ingressou no Partido dos Trabalhadores, integrando a partir de 1984 a sua executiva nacional, como secretário de formação política. Neste período, foi um dos coordenadores do Instituto Cajamar, participou da coordenação da campanha de Lula a deputado federal constituinte e, em 1989, foi coordenador-geral da campanha Lula presidente.

Em 1990, Wladimir encerrou seu mandato no Diretório Nacional do PT e, desde então, não voltou a ocupar nenhum cargo na estrutura partidária. Tampouco foi parlamentar, nem fez parte de nenhum governo petista, com exceção de uma meteórica passagem como assessor na prefeitura de Angra dos Reis (RJ).

Entretanto, mesmo sem cargos formais, Wladimir continuou colaborando de forma militante com o PT, por exemplo na Fundação Perseu Abramo e em atividades de formação, além de assumir algumas tarefas de inteligência na campanha presidencial de 1994.

Exceto pelo curto período em que foi profissionalizado pelo Partido, Wladimir ganhou a vida trabalhando nas mais diversas atividades, como por exemplo a agropecuária, o artesanato, a manutenção de máquinas pesadas e locomotivas, como linotipista, repórter, redator, diretor editorial, tradutor, consultor e professor. Noutras palavras, Wladimir era um "revolucionário profissional", não um político profissional.

Vale dizer, também, que Wladimir não teve formação acadêmica; muitas vezes disse que seu diploma universitário "fora obtido na cadeia". Brincadeiras à parte, é provável que a ausência de vida acadêmica tenha contribuído para manter grande parte de sua obra numa espécie de semiclandestinidade, isso apesar de ter sido – entre outras coisas – um dos primeiros brasileiros a decifrar corretamente o "enigma chinês".

Entre as obras de Wladimir, uma vertente abordou a dialética marxista (A dialética da história, em quatro volumes). Outra vertente abordou temas da história do Brasil e da esquerda brasileira. É o caso de Araguaia, o partido e a guerrilha e de Pedro Pomar: uma vida em vermelhoQuase lá, Lula e o susto das elitesUm mundo a ganharBrasil, crise internacional e projeto de sociedadeO Brasil em 1990 e Era Vargas: a modernização conservadoraCartas do Passado; é o caso, também, da autobiografia intitulada O nome da vida.

A terceira vertente dedicou-se ao debate sobre o socialismo. Wladimir Pomar escreveu diversos estudos e livros sobre a China, entre os quais O enigma chinês: capitalismo ou socialismoChina, o dragão do século XXIA revolução chinesa (Unesp); China: desfazendo mitos. Escreveu, ainda, uma trilogia sobre a teoria e a prática das tentativas de construção do socialismo, ao longo do século 20: Rasgando a cortinaMiragem do mercado e A ilusão dos inocentes.

Wladimir escreveu muito e parte segue inédita, a começar por uma carta escrita em 2005, na qual Wladimir fez alertas e críticas duras contra a conduta de certos dirigentes e filiados.

Ateu, marxista, comunista e petista, Wladimir Pomar foi recentemente convidado por seu amigo Beluce Bellucci a escrever uma apresentação à biografia de Apolônio de Carvalho, recém-publicada na França.

Entregue em março de 2023, este foi o último texto publicado de Wladimir. Lá está dito o seguinte:

"Eu tinha uns 10 anos de idade quando conheci Apolônio, logo depois do final da segunda guerra mundial nos anos 1940. Ele retornara da França e foi recepcionado pela direção e por muitos militantes do então Partido Comunista do Brasil, (PCB), do qual meus pais faziam parte. Na ocasião, mais do que a áurea de herói da guerra de resistência contra as tropas nazistas que ocupavam a França, me impressionou a delicadeza com que tratava a todos, incluindo as crianças que, como eu, haviam sido levadas para conhecê-lo."

"Posteriormente, enquanto o PCB teve vida legal, meu pai e Apolônio trabalharam em sua sede central, perto da Lapa, no Distrito Federal do Rio de Janeiro. E eu me tornei um visitante constante do local, a pretexto de ver meu pai, mas principalmente para ouvir os relatos de Apolônio sobre a guerra e a resistência guerrilheira contra as tropas nazistas. Prática que foi interrompida quando o Partido Comunista do Brasil teve sua vida legal proibida e seus membros tiveram que passar a realizar suas atividades da mesma forma clandestina que utilizaram durante a ditadura Vargas."

"Nessas condições, só retomei os contatos com Apolônio alguns anos depois. Na ocasião, eu já cursava o ginásio e havia ingressado na União da Juventude Comunista – UJC, também clandestina, e já envolta em divergências sobre as políticas que os comunistas deveriam adotar para modificar o sistema político e recuperar a vida democrática. Na ocasião, Apolônio era um dos dirigentes do PCB que davam 'assistência' à UJC e, em virtude daquelas divergências, achou necessário conversar comigo a respeito."

"Mantivemos contatos constantes durante cerca de um ano. Embora nossas divergências teóricas e práticas tenham se mostrado variadas e, em alguns casos, profundas, Apolônio jamais tentou se impor como 'dirigente superior'. Tratava as divergências como algo natural do trabalho político prático, e interessava-se principalmente pelos resultados das ações práticas adotadas para ampliar a influência política entre a juventude."

"Em vários casos, tivemos concordâncias que só se tornaram evidentes anos depois, quando o PCB se dissolveu em várias correntes políticas, após o golpe militar fascista de 1964. Nas novas condições criadas pela ditadura militar, só voltei a reencontrar Apolônio no final dos anos 1980, quando a ditadura se viu obrigada a realizar uma retirada estratégica e os comunistas puderam voltar à vida 'normal', embora disseminados, então, em vários partidos e organizações políticas. E em que muitos de nós, incluindo ele e eu, adotaram o PT como principal centro de atividade política."

"A partir de então, tive a oportunidade de vê-lo novamente em diferentes ocasiões. Guardo na lembrança sua presença solidária no traslado dos restos mortais de meu pai, assassinado por agentes da ditadura. E sempre me lembro de haver convivido com ele em inúmeras atividades petistas. Isso, embora concordássemos que, àquela alturada vida, nossas idades já não permitiam engajamentos como os vividos no passado. E que deveríamos, principalmente, encontrar caminhos que contribuíssem para que os novos combatentes compreendessem as lições do passado."

"Ainda mantivemos contatos esparsos, ele no Rio de Janeiro e eu em São Paulo. E o que mais me impressionava é que ele continuava mantendo o mesmo espírito de modéstia e de luta, espírito que é destacado na obra do francês Alain Viguier."

As palavras com que Wladimir Pomar resumiu Apolônio de Carvalho sintetizam, também, a atitude do próprio Wladimir e de tantos outros heróis mais ou menos anônimos do povo brasileiro: modéstia e luta.

Há mais de quarenta anos, no dia 11 de abril de 1980, por ocasião do translado dos restos mortais de seu pai, Wladimir disse o seguinte: "Há, finalmente, quem diga que Pomar deixou uma herança. É verdade. Ele nos deixou o exemplo de sua vida, um legado de modéstia, de retidão de caráter, de dedicação à classe operária, ao povo e a seu partido, de amor entranhado à verdade, de aversão à vaidade e de constante alerta e combate aos próprios erros. Há quem queira ser dono desse legado. Essa pretensão é uma afronta a meu pai, que sempre se bateu contra o exclusivismo e o espírito de seita. A herança de Pomar, uma herança digna dos melhores revolucionários, não é patrimônio da família ou de qualquer grupo. Ela pertence a todo o seu partido, pertence a todos os revolucionários, à classe operária e ao povo explorado e oprimido. Eu a entrego a vós."

Wladimir Pomar presente, agora e sempre!

* Valter Pomar é filho de Wladimir Pomar e militante do PT. Doutor em História Econômica, Universidade de São Paulo (USP) e professor de economia política internacional no Bacharelado de Relações Internacionais da Universidade Federal do ABC.

-Via Brasil de Fato 

05 junho 2023

Depoimento muda a história da Operação Lava Jato

O ponto mais grave da entrevista do empresário Tony Garcia a Joaquim de Carvalho, na TV 247, reside no aspecto criminal

   Tony Garcia e Sergio Moro (Foto: Divulgação)

Por Paulo Moreira Leite*

É um fato sabido, há pelo menos uma década, que a Lava Jato atravessou vários limites impostos pelas leis que garantem o Estado de Direito para encontrar provas contra adversários políticos -- em particular Lula e o Partido dos Trabalhadores.

A novidade é que, na entrevista, Tony Garcia, empresário, ex-deputado estadual, personagem conhecido nas rodas sociais do Paraná, vai muito além. Num depoimento na primeira pessoa, descreve a criminalidade em grau máximo -- quando as autoridades encarregadas de defender o bem comum e garantir o cumprimento das leis, passam a agir como uma máfia criminosa para atender interesses e recolher benefícios próprios.

Com o conhecimento de quem já passou anos mergulhado nesse universo, negociou delações e cumpriu acordos com promotores e juizes, Garcia fala de atos criminosos que vão muito além dos simples "desvios de conduta," que vez por outra são cometidos aqui ou ali no cumprimento do dever. Não foi nada disso, explica o empresário, ao descrever seus interrogatórios.

"Quando eu respondia alguma coisa que não interessava para ele, ele desligava o gravador e chamava atenção dos advogados, que eu não tinha que falar assim, que eu tinha que falar que era propina. Ele botava na minha boca o que eu tinha que falar”, afirma Garcia na entrevista à TV 247, descrevendo a atuação de Moro.

Neste universo, os instrumentos destinados a garantir o cumprimento da lei -- como a cela de uma prisão, a delação premiada ou uma denúncia judicial -- não passam de instrumentos destinados a beneficiar acertos criminosos e acordos por baixo do pano.

Alguma dúvida?

*Fonte: Brasil247

-Leia também: Jandira cobra explicação de Moro e questiona "que moral" ele tem para se manter na vida pública após o caso Tony Garciaruvid


02 junho 2023

Não é desarticulação, é chantagem explícita e incontrolável

 


Por Moisés Mendes*

Seria apenas ingênua, se fosse mesmo desinformação, mas é deliberadamente grotesca a abordagem média dos jornalistas de direita, que enxergam a postura chantagista do Congresso contra Lula como resultado da falta de articulação do governo.

Conversa, articulação, concessões, incluindo a cedência de cargos, é da natureza da política, e Lula sabe como lidar com essas trocas.

Mas o que acontece desde que Lula assumiu é sabotagem. Jornalistas que tentam apresentar essa chantagem como normal estão naturalizando as atitudes de gangues da direita e da extrema direita.

O que chamam de desarticulação é resultado da ação desmedida dos sabotadores, como nunca o Congresso viu antes.

A síntese do que acontece está em muitas análises de quem não embarca nessa conversa.

O centrão e o bolsonarismo tentam fazer com que Lula tenha um operador da liberação de verbas de emendas dentro do Planalto.

Um despachante que mantenha os buchos do fascismo sempre cheios, para que o Congresso não incomode Lula.

Não bastam ministérios, cargos em escalões diversos e a liberação eventual de verbas para emendas. Tem que ser algo sistemático, da engrenagem do governo.

Todas as votações terão um preço, como ocorreu essa semana. E não há articulação que resolva esse ataque, porque o centrão não quer conversa nem fazer concessões pontuais, quer dinheiro.

Parte do jornalismo de esquerda reafirmou essa abordagem das tias da direita e até faz análises pretensamente profundas sobre a falta de articuladores confiáveis com o Congresso.

O mais hábil articulador, se estiver fora do governo e da base ativa em Brasília, pode ser chamado, onde estiver, que não mudará nada. Até porque a imprensa joga junto com os sabotadores.

Há como sair da armadilha criada pelo fascismo que contagiou a direita? A fragilização de Arthur Lira, com o flagrante nos cofres dos amigos das gangues de Alagoas, pode ajudar?

Talvez dê um susto, mas não ajuda muito. A única esperança está no que Lula sabe fazer como ninguém. Acionar o imponderável e inverter o jogo.

Não para que consiga deixar de pagar, o que parece impossível, mas para que pague menos.

*Moisés Mendes é jornalista em Porto Alegre. Foi colunista e editor especial de Zero Hora. Escreve também para os jornais Extra Classe, Jornalistas pela Democracia e Brasil 247. É autor do livro de crônicas 'Todos querem ser Mujica' (Editora Diadorim)

Fonte: Blog do Moisés Mendes

Não Ao Marco Temporal

 


*Via BrasildeFato

01 junho 2023

Na visita de Maduro, Lula joga luz no viralatismo da mídia corporativa brasileira

'A mídia tradicional brasileira está entre as filhas reacionárias da Sociedade Interamericana de Imprensa, fundada pela CIA', diz o colunista Mario Vitor Santos


Nicolas Maduro  e Luiz Inácio Lula da Silva (Foto: Marcelo Camargo - Agência Brasil)

Por Mario Vitor Santos*

A visita de Estado do presidente da Venezuela ao Brasil obrigou a mídia corporativa brasileira a explicitar mais uma vez a sua subserviência ao discurso do Departamento de Estado dos Estados Unidos para a região.

São ideias, a rigor, já em revisão até mesmo em Washington, mas que se mantêm como prancha de resgate a que se agarra o  alquebrado jornalismo brasileiro.

O que seria dos veículos, editorialistas e seções de temas internacionais sem o recurso à ascendência estadunidense, diante de [quem] todos os veículos se prostram reverentes.

Lula ousou receber Maduro, dar-lhe assento e voz. Não o fez de maneira envergonhada. Defendeu o vizinho. Maduro e Lula retiraram a Venezuela da invisibilidade a que foi relegada pelo massacre jornalístico. A identidade de atitudes em relação à Venezuela entre a mídia corporativa e Bolsonaro é total. Ambos desejariam a continuidade do cancelamento do país vizinho.

Quando Lula, corajoso, fala que é preciso propagar uma outra narrativa sobre a Venezuela, imediatamente ele põe em questão um consenso irracional que tem a adesão até mesmo de alguns setores "de esquerda".:

A lamentar que essa unanimidade narrativa conte com a cobertura flácida realizada pelos veículos subordinados à pública EBC, que se renderam a um acompanhamento rotineiro em lugar de contribuir para dar um tom mais plural ao noticiário.

Sim, há uma narrativa única que orienta a mídia conservadora brasileira e latino-americana subordinada a Washington.

Cobrir a visita de Maduro ao Brasil é um desafio para essa mídia. A mera presença oficial do presidente de uma Venezuela tão difamada aqui tem ares de heresia para essa mídia, que retorna à rotina de dar conselhos sobre o que Lula e agora a Venezuela devem ou não fazer.

Noticiar a visita foi um sacrifício, repercutir foi um strip-tease, tudo obrigando à ruptura daquilo que Maduro, na imperdível coletiva com Lula, chamou de "invisibilização".

Para cobrir a presença de Maduro, os meios são obrigados a transmitir ao menos parte do que falaram os dois presidentes, inclusive do próprio "ditador", logo satanizado como monstro violador da democracia e dos direitos humanos.

A cada notícia sobre a visita repete-se a litania. Os jornalistas seguem um roteiro, que inclui “pagar um pedágio”, como se diz nas redações. O pedágio equivale a jurar de alguma maneira fidelidade a Washington, numa vassalagem constrangedora. A censura das edições não tem limites. Não há escuta dos diversos lados envolvidos. Falta apuração de informações colhidas in loco. Chegar à Venezuela passa por Washington. Teme-se uma verdade não autorizada.

Os comentaristas convocados para examinar o evento, sem exceção, têm a mesma opinião. Indignada com Maduro, claro.

Como de hábito, não há qualquer colher de chá para governantes discordantes dos Estados Unidos (Putin, Xi, Ortega, Maduro ou Erdogan). Mesmo a Venezuela com quem o Brasil compartilha semelhanças históricas, geográficas e culturais, parece distante.

A interdição ao contraditório é total. Os adeptos da nova Guerra Fria advogam liberdade de expressão e pluralismo para os outros, mas não a praticam em seus veículos.

A mídia corporativa brasileira (e parte da de “esquerda”) manifesta-se toda ela no mesmo diapasão, a partir da luz que filtra do Departamento de Estado, penetra na mídia estadunidense associada a ele e assim influencia as direções provincianas dos meios brasileiros.

Em geral, mal preparados e desatualizados em temas internacionais, os jornalistas não arriscam.

Repetem relatórios questionáveis sobre direitos humanos na Venezuela advindos de ONGs bancadas pelos Estados Unidos. Os direitos humanos são usados como arma para intervenção estadunidense. Em nome deles, omite-se a referência às reais causas das dificuldades socioeconômicas: as “900 sanções impostas ao povo venezuelano”, como lembrou Maduro em seu pronunciamento.

A mídia segue a lógica e realiza na prática intervenção nos assuntos internos da Venezuela. É uma sanção adicional ao país. Lula resiste a ela ao pedir uma outra narrativa. O presidente joga de volta o foco então para a atitude da mídia, que, flagrada, esperneia.

Tolera-se, por exemplo, um fato que pode já ser classificado como o roubo do século: o confisco de 31 toneladas de ouro venezuelano pelo Reino Unido. Toda essa riqueza foi colocada nas mãos de Juan Guaidó, autoproclamado presidente do país, herói do "mundo livre", que Lula ontem definiu como "impostor".

Fica tudo por isso mesmo.

Repetem o evangelho anti bolivariano, reclamam de democracia, obscurecendo que o vizinho realizou 29 eleições em 24 anos, sendo 27 vencidas pelo PSUV, partido de Chavez e Maduro. A Venezuela é mais democrática que o Brasil.

A última eleição teve 4 governadores eleitos pela oposição. E eles seguem governando. Ditadura?

A Venezuela, acrescenta Maduro, mudou muito nos últimos tempos. Cresceu 15% no ano passado e deve crescer 5% neste ano.

Espera-se que uma mudança oficial da linha emanada de Washington chegue aqui. Guaidó já foi até destituído da liderança da oposição.

Washington já se rendeu às evidências e começou a transacionar sem alarde com Caracas (o que Moscou nunca, nem no auge da crise, deixou de fazer), a Venezuela vem tentando sair do fundo do poço, mas a mídia segue aferrada a seu credo intervencionista.

Como definiu a agência Bloomberg, a visita de Maduro ao Brasil constitui um "golpe na estratégia de isolamento da Venezuela praticada pelos EUA". Quem sabe não seja o golpe definitivo?

Já a mídia corporativa brasileira prossegue acomodada entre as mais reacionárias filhas da Sociedade Interamericana de Imprensa, fundada pela CIA para orientar os veículos da região. Mal-informada, ignora as mudanças da Venezuela dos últimos tempos. Maduro teve aqui a oportunidade de falar sobre a existência de um novo ambiente entre a classe média e empresários venezuelanos.

A quebra dos tabus geopolíticos operada por Lula ensina, pela diplomacia, um respeito à objetividade, equilíbrio, obediência aos fatos, ao pragmatismo e o respeito à autonomia e soberania de outros povos.

Qualquer ação do imperialismo (sim, ele existe) nossa mídia aceita e justifica. Hoje [30/05], o presidente uruguaio Lacalle Pou e o chileno criticaram Lula, para gáudio do partido da mídia conservadora. Nada que defenda a realidade de um mundo multipolar merece crédito. Há um batalhão   de jornalistas ocupado em satanizar e semear o ódio contra qualquer um que os EUA elejam como inimigos.

O deputado Zé Trovão pediu ao governo estadunidense a prisão de Maduro. Alguém tem dúvida sobre se a mídia corporativa está ou não ao lado deste bolsonarista?

*Mario Vitor Santos é jornalista. É colunista do 247 (fonte desta postagem) e apresentador da TV 247. Foi ombudsman da Folha e do portal iG, secretário de Redação e diretor da Sucursal de Brasilia da Folha.