18 setembro 2023

O julgamento do 8 de janeiro precisa colocar os militares golpistas na cadeia

Julgar os terroristas no STF é apenas o primeiro passo. Para destruir o golpismo, é preciso também condenar a alta patente das Forças Armadas que incitou o ato.



Por João Filho*

DEZESSETE ANOS DE PRISÃO. Essa foi a pena dada ao golpista Aécio Lúcio Costa Pereira,  primeiro a ser condenado na última quinta-feira pelo STF. A condenação se deu por dano qualificado, deterioração de patrimônio público tombado, abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado e associação criminosa. A maioria dos ministros concordou com o voto do relator Alexandre de Moraes que, além da pena de prisão, aplicou uma multa de R$ 30 milhões em  danos morais coletivos — valor a ser pago em conjunto com outros condenados no julgamento. 

A punição é dura, mas compatível com a gravidade:a tentativa de solapar a democracia brasileira. Depois de Aécio, outros dois golpistas foram condenados pelos mesmos crimes e receberam penas parecidas. Essas primeiras condenações têm caráter histórico e pedagógico, já que pela primeira vez se puniu com rigor os delinquentes que conspiram contra a democracia. A anistia concedida aos golpistas de 1964 é a responsável direta pelos atos golpistas de 8 de janeiro. As condenações desta semana indicam que este ciclo finalmente pode ser quebrado. O recado aos golpistas do futuro está dado. Ao todo, 1.390 pessoas estão sendo acusadas pelos atos golpistas de 8 de janeiro. A coisa está só começando. 

O julgamento foi marcado por debates calorosos entre ministros bolsonaristas e ministros democratas. Kassio Nunes cumpriu o seu papel de vassalo do golpismo e tentou desconsiderar o caráter golpista do episódio para enquadrá-lo meramente como um ato de vandalismo. Mendonça seguiu mais ou menos o mesmo caminho, absolvendo os réus pelos crimes relacionados ao golpismo e condenando pelos crimes de vandalismo. Assim como prega a militância bolsonarista, Nunes e Mendonça defenderam a tese estapafúrdia de que o 8 de janeiro foi uma manifestação pacífica, familiar, democrática, que saiu do controle por conta de meia dúzia de manifestantes mais empolgados. Tratam o acontecimento como algo desconectado de outros episódios golpistas, como a tentativa de invasão da sede da Polícia Federal que incendiou carros e ônibus e a tentativa de atentado à bomba no aeroporto de Brasília — ações que foram comprovadamente organizadas nos acampamentos nos quartéis.

Não há dúvidas de que todos esses episódios estão ligados entre si e foram motivados pela expectativa da aplicação da Garantia da Lei e da Ordem, a GLO, para conter o caos através de uma intervenção militar. Esse roteiro está fielmente descrito na minuta do golpe encontrada na casa do ex-ministro Anderson Torres. O desejo por uma intervenção militar sempre foi declarado pelos golpistas. Durante a invasão do 8 de janeiro, o próprio Aécio publicou um vídeo nas redes sociais vestindo uma camisa com os dizeres “intervenção militar federal”. Tratar o assunto como se fosse um “domingo no parque” que fugiu do controle, como lembrou Alexandre de Moraes, é negacionismo puro.

A anistia concedida aos golpistas de 1964 é a responsável direta pelos atos golpistas de 8 de janeiro.

Como se já não bastasse o vexame dos ministros bolsonaristas, os advogados de defesa dos golpistas protagonizaram um show de horrores. A começar pelo advogado de Aécio, Sebastião Coelho da Silva, que já estava errado mesmo antes de abrir a boca. No final do ano passado, ele discursou em uma das manifestações golpistas em pleno quartel general e pediu a prisão de Alexandre de Moraes, o que motivou uma abertura de investigação do CNJ por incitação aos atos golpistas. Ou seja, o advogado do golpista é um golpista. Durante seu discurso, ele simplesmente abandonou a defesa técnica e adotou uma postura afrontosa ao Supremo, afirmando que o julgamento é político e que os ministros são as pessoas mais odiadas do país. Ao invés de argumentos técnicos em defesa do seu cliente, o que se viu foi proselitismo político de quem quer jogar pra torcida bolsonarista. Tudo isso cheira à uma preparação de terreno para se lançar na política em um futuro breve. Mas isso só será possível se o advogado não tiver que sentar no banco dos réus antes. 

O golpista Aécio foi pintado pelo advogado como um pai de família, trabalhador, que só quer o bem do Brasil. Mas o seu histórico aponta em direção contrária. Após as últimas eleições, um vizinho abriu boletim de ocorrência contra ele depois de ter sido ameaçado de morte pelo Whatsapp. A mensagem dizia que ele “seria morto, porque todo comunista merece morrer”. Esta é a postura deste patriota pai de família: ameaça de morte, de golpe e destruição do patrimônio público. 

Os advogados dos outros dois réus condenados seguiram a linha do colega que defendeu Aécio. Ignoraram os aspectos técnicos do julgamento e atuaram como militantes bolsonaristas indignados com uma fictícia perseguição política. O descaramento dos advogados abunda como as provas existentes contra seus clientes. Impossibilitados de confrontarem as fotos, os vídeos e os áudios que comprovam os crimes dos réus, apelaram para os discursinhos bolsonaristas dos mais chulés. Parece que todos eles estão ensaiando para virar parlamentares de extrema direita. 

A pobreza intelectual dos advogados ficou evidente durante o julgamento. Um dos advogados confundiu “O Pequeno Príncipe”, um livro infantil de Antoine de Saint-Exupéry, com o “O Príncipe” de Nicolau Maquiavel, uma obra fundamental da teoria política. Pior que isso: ele queria citar uma frase de Maquiavel que jamais foi escrita por ele. Alexandre de Moraes não deixou barato e colocou o advogado em seu devido lugar: “É patético e medíocre que um advogado suba à tribuna do STF com um discurso de ódio, um discurso pra postar depois nas redes sociais (…) O advogado ignorou a defesa. Não analisou nada, absolutamente nada. (…) Esqueceu o processo e quis fazer média com os patriotas. Realmente é muito triste.”

Os executores do golpe começam a sentir o peso da lei numa democracia. Ainda faltam os financiadores, os organizadores e os mentores intelectuais.

O que vimos esta semana foi uma resposta importante da sociedade brasileira contra o golpismo. Os executores do golpe começam a sentir o peso da lei numa democracia. Ainda faltam os financiadores, os organizadores e os mentores intelectuais. Para blindar a democracia, é fundamental que esses outros grupos também sejam rigorosamente punidos. Durante o julgamento, Alexandre de Moraes ressaltou que as Forças Armadas não aceitaram aplicar o golpe — uma fala que me preocupa um pouco. Está mais do que evidente que o golpe só não foi concluído por não haver as condições materiais necessárias. Não havia apoio do governo dos EUA, nem de parte significativa do grande capital brasileiro. Mas o golpe foi fustigado o tempo todo pelo presidente e pelos militares. 

É fato incontestável que foi o alto comando do exército que permitiu que os acampamentos golpistas acontecessem em seu quintal. O 8 de janeiro não seria possível sem o apoio estrutural e intelectual das Forças Armadas. Não basta prender apenas os civis golpistas. É preciso colocar os militares de alta patente na cadeia para que eles nunca mais ousem sair da caserna para atormentar a democracia.

*João Filho é cientista social e jornalista. Autor do Jornalismo Wando - Via Intercept Brasil

13 setembro 2023

Lula anuncia R$ 1 bilhão em empréstimo para reconstrução de cidades gaúchas*

Novas medidas anunciadas pelo presidente incluem liberação do FGTS para 354 mil trabalhadores atingidos pelas chuvas

Ao lado do vice-presidente Alckmin, Lula anunciou novas medidas de apoio ao RS | Foto: Reprodução

Em vídeo publicado nas redes sociais no início da noite desta terça-feira (12), o presidente Lula anunciou novas medidas de apoio às pessoas e aos municípios atingidos pelas chuvas no Rio Grande do Sul. As medidas incluem a liberação de um empréstimo do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social e a liberação do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS).

Acompanhado do vice-presidente, Geraldo Alckmin, Lula diz que as novas medidas foram definidas em reunião da comissão interministerial criada para tratar da situação. “Além dos R$ 741 milhões anunciados por ele (Alckmin) no último domingo, nós tomamos uma decisão agora de fazer uma concessão de empréstimo de R$ 1 bilhão para ajudar a recuperar a economia de todas as cidades. E, ao mesmo tempo, a liberação de R$ 600 milhões do Fundo de Garantia para atender 354 mil trabalhadores”.

O presidente não descartou que novas medidas possam ser anunciadas. “Nós vamos continuar acompanhando, porque está chovendo ainda. Certamente nós vamos ter muito mais informações e, na medida que forem acontecendo as coisas, nós vamos tomando as decisões. O que eu posso garantir ao povo do Rio Grande do Sul e da região que foi prejudicada pela chuva é que o governo federal não faltará nos atendimentos das necessidades, seja pequeno e médio empresário, morador, pessoas que perderam as casas”, disse.

Em visita ao Rio Grande do Sul no último domingo (10), Alckmin anunciou ações de apoio no valor de R$ 741 milhões. O primeiro pacote inclui R$ 26 milhões para o Ministério da Defesa, para o uso de helicópteros e demais maquinários na região nas buscas e reconstrução. Outros R$ 80 milhões para Ministério da Saúde, que montou um hospital de campanha em Roca Sales (RS) e reconstrução de unidades de saúde destruídas, além da atuação das equipes da Força Nacional de Saúde na região.

O Ministério dos Transportes terá R$ 116 milhões para reconstruir um trecho da BR 116, no km 96, na região do Rio das Antas. O Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social e Ministério do Desenvolvimento Agrário aplicará R$ 125 milhões no Programa de Aquisição de Alimentos (PAA).

Por meio do Ministério das Cidades, R$ 195 milhões serão usados para a construção de moradias. Já o Ministério da Integração Nacional receberá R$ 185 milhões para ajuda humanitária e reconstrução de ruas, estradas, limpeza e pavimentação dos municípios. O Ministério da Previdência Social também receberá recursos, ainda sem detalhamento.

*Via Sul21

11 setembro 2023

CHILE - Pinochet: os 50 anos do “triunfo” de um canalha. Que a terra lhe pese

Foi só em 10 de dezembro de 2006 que Augusto Pinochet desceu ao inferno. O mundo ficou bem melhor sem o verdugo chileno e seu país ainda hoje se reconstrói do horror

Pinochet durante ato militar nos anos de ditadura. BBC/Reprodução

Por Henrique Rodrigues*

Santiago, Chile, 11 de setembro de 1973. Os relógios por todo o país marcam precisamente 10h30. São ouvidos os primeiros disparos dos tanques M41 Walker Bulldog, seguidos de forte artilharia do corpo de infantaria do Exército. O alvo era o Palácio de La Moneda, cujas fachadas começam a ser devastadas pelo fogo pesado que o atinge por todos os lados. Uma hora e meia depois, ao meio-dia, a destruição se consuma com o lançamento de pelo menos quatro foguetes contra a sede da Presidência do Chile por caças Hawker Hunter da FACh. Era questão de horas para que a notícia da morte de Salvador Guillermo Allende Gossens, um médico-cirurgião de 65 anos, marxista e eleito democraticamente para a chefia do Estado daquele país sul-americano, corresse o mundo.

O fato é que muita coisa ocorreu antes desses momentos narrados e o fim da democracia no Chile, mas o propósito deste artigo não é trazer pormenorizadamente esses intentos. Sucintamente, pode-se dizer que Allende foi eleito, em 1970, com 36% dos votos, ante 35% do segundo colocado, um “independente” de direita, e ainda 28% da Democracia Cristã, tida como de centro-esquerda, na terceira posição. Na prática, um resultado que mostrava o racha profundo em três bandas na sociedade chilena, embora Allende tenha sido eleito num segundo turno indireto no qual os representantes do Congresso Nacional o “indicaram” à Presidência, com 78% de “sim”, após sua vitória nas urnas.

Pouco tempo antes do fatídico 11 de setembro, para ser mais preciso 74 dias antes, em 29 de junho, insurgentes do Exército já tinham tentado um golpe contra o primeiro presidente marxista eleito no mundo, mas o chamado “Tanquetazo” deu errado e foi sufocado pelo general legalista Carlos Prats, então comandante em chefe da força terrestre chilena. Só que Prats renunciaria poucos dias depois por ter se envolvido numa briga de trânsito na qual sacou sua pistola e disparou contra um carro onde os ocupantes zombaram dele. A condutora era uma mulher, o oficial quase foi linchado no local e viu nos dias seguintes uma forte campanha de seus companheiros de farda e da imprensa para que ele saísse do comando do Exército. E ele acabou por renunciar ao posto.

Quem assume sua posição é o general Augusto Pinochet, àquela altura ingenuamente considerado um legalista fiel a Allende. Faltavam poucos dias para que o mundo conhecesse a verdadeira face de um monstro diabólico que se tornaria o epítome dos ditadores no planeta. Aqueles disparos de tanque, de artilharia e de foguetes por caças-bombardeiros contra o Palácio La Moneda, do início do texto, foram ordens dele. Pinochet assumiu o golpe, a face do golpe e o controle do golpe.

Já se apresentando ao povo chileno como novo “comandante” da nação, o general ditador posa para uma foto que se tornaria icônica. Frente a frente com outros militares da junta golpista, Pinochet aparece de óculos escuros, por baixo dos quais era possível ver seus olhos funestos, com cara de poucos amigos, num clique histórico e imortalizado pelo fotógrafo holandês Chas Gerretsen, que décadas depois o classificou como um “ator” que sabia olhar para o retratista e passar seu recado com a postura corporal. Naqueles dias que se seguiram, o mundo soube também que o Estádio Nacional de Chile, em Santiago, onde a final da Copa do Mundo de 1962 foi realizada e o Brasil sagrou-se bicampeão mundial, tinha virado um campo de concentração da ditadura, com suas arquibancadas e gramado servindo como “setor de triagem” para os “comunistas”, em alguns casos baleados e brutalmente espancados ali mesmo. Os demais eram levados para campos em locais isolados do país ou executados em unidades das Forças Armadas e dos Carabineros, a polícia chilena.

Por trás daquele homem que se mostrava duríssimo e implacável em sua “luta contra o comunismo”, desfilando nas cerimônias castrenses com uma pesada capa e de luvas negras de couro, vestido com o fardamento de gala do Ejército de Chile, inspirado na indumentária militar das tropas prussianas do começo do século XX, existia um canalha covarde. Muitas pessoas de seu convívio próximo contaram, com o passar do tempo, que Pinochet não ficava sozinho em cômodos vastos do La Moneda, tampouco dormia no palácio, pois tinha medo do fantasma de Allende.

No livro “A Sombra do Ditador”, de Heraldo Muñoz, o diplomata que chegou ao posto de chanceler no segundo mandato de Michelle Bachelet traça um Pinochet diabólico, como de fato era, mas não sem realçar sua covardia, algo bastante comum entre os tiranos de plantão, especialmente quando perdem o poder e precisam acertar as contas com a Justiça.

Para ilustrar a covardia do canalha assassino outrora valentão, nada melhor que o episódio de sua detenção em Londres, em outubro de 1998. Pinochet viajara com o neto, em setembro, para realizar uma cirurgia ortopédica na capital do Reino Unido, mas foi surpreendido dias depois de tocar o solo do aeroporto de Heathrow com uma ordem de prisão internacional emitida pelo juiz espanhol Baltasar Garzón, um magistrado que jamais se acovardou ou deu refresco para déspotas, torturadores e verdugos de qualquer nacionalidade. A partir daquele momento, Pinochet se fez de senil e de pobre coitado, circulando todo encolhido numa cadeira de rodas para enfatizar que estava muito doente e que não poderia responder pelo genocídio que promoveu e liderou. Aceitou até ser internado num hospital psiquiátrico. Conseguiu se safar só em março de 2000, quando embarcou num avião militar da FACh de volta para Santiago, chegando “inteirão” e bem-disposto para ser recebido com pompa e fanfarra por seus lambe-botas fardados.

Pinochet ainda viveu uns bons anos. Desceu ao inferno em 10 de dezembro de 2006, justamente no Dia Internacional dos Direitos Humanos, algo que ele violou e massacrou sistematicamente nos 17 anos em que esteve à frente de uma ditadura brutal. O lado bom é que o mundo ficou bem melhor sem o monstro genocida, em que pesem todas as feridas e cicatrizes presentes até hoje no Chile por conta de sua maldade e despotismo.

Ainda que por décadas seu legado de horror tenha sido brindado por poucos chilenos alinhados à sua nefasta e sanguinária visão de mundo, o renascimento da extrema direita em várias partes do globo fez também com que seus admiradores saíssem dos esgotos e passassem a advogar em defesa do tirano. Até no Brasil tal fenômeno vergonhoso foi visto nas inúmeras vezes em que um alucinado e malévolo Jair Bolsonaro exaltou o monstro chileno durante o período em que esteve no Palácio do Planalto.

No Chile sacudido por protestos e convulsão social dos últimos tempos, muito em decorrência das leis e da Constituição de Pinochet, a “recuperação” da imagem do ditador pôde ser sentida na última eleição, quando o ultrarreacionário José Antonio Kast foi ao segundo turno contra Gabriel Boric reivindicando as “glórias” da ditadura. Terminou derrotado, mas conquistou ainda 44% do eleitorado.

Neste 11 de setembro, data que marca os 50 anos do sangrento golpe de Estado que terminou com a morte de Allende e o fim da democracia no Chile, é dia de lembrar também o “triunfo” de um canalha, assim como de sua derrocada e execração. Pinochet está morto e o Chile segue vivo. Que a terra lhe pese.

*Via Revista Fórum

10 setembro 2023

Allende vive!

O povo chileno e a resistência histórica de Allende, Victor Jara e Pablo Neruda, são um retrato inesquecível da história de ontem. E de hoje.

Deposto por um golpe militar em 11 de setembro de 1973, Salvador Allende foi eleito presidente do Chile pelo Partido Socialista (PS) em 1970 (Fundação Salvador Allende (FSA))

Por Selvino Heck (*)

A Pablo Neruda e Victor Jara


11 de setembro de 1973. 11 de setembro de 2023. 50 anos passados do Pinochetazo, golpe militar, e da sangrenta ditadura chilena que se seguiu. Muitas brasileiras e muitos brasileiros estavam no exílio no Chile, acolhidos pelo governo do socialista Salvador Allende e pelo povo chileno, para escaparem da perseguição política, da prisão, da tortura e da morte. Entre outros, Paulo Freire, José Ernani Fiori, Diógenes de Oliveira, Emir Sader, Darci Ribeiro, Francisco Weffort, Thiago de Mello, entre outras tantas e tantos. 

As ditaduras se espalharam pela América latina na segunda metade do século XX, numa aliança entre os EUA e seus poderes de dominação do mundo, as FFAA, Forças Armadas, de cada país, a direita historicamente escravocrata, as elites, o latifúndio, a grande mídia. As ditaduras começaram no Brasil em 1964. Depois passaram pelo golpe no Chile, com o ´suicídio´/assassinato de Allende e com todas as suas consequências.

Por outro lado‘quando o povo se junta, o poder se espalha’, como diz uma frase da Rede de Educação Cidadã NE, RECID Nordeste. Quando o povo de um país se levanta, os povos dos demais países também se levantam, exigindo justiça, liberdade, soberania, direitos, democracia.

Não tem primavera sem luta, aprendemos ao longo do tempo e da história na América Latina. Toda vez que indígenas, trabalhadoras e trabalhadores, quilombolas e o povo pobre levantam a cabeça no continente latino-americano, os poderes dominantes estabelecidos secularmente dão golpes, implantam ditaduras, perseguem, matam torturam, exilam. Mas, ao mesmo tempo, os mais pobres entre os pobres lutam, resistem.

O povo chileno e a resistência histórica de ontem, com Victor Jara,  Pablo Neruda, são um retrato inesquecível da história de ontem. E de hoje. 

Declamávamos no Brasil “Os Vinte Poemas de Amor e uma Canção desesperada” e o “Canto Geral” de Pablo Neruda.

E especialmente, com amor e emoção desmedidas, cantávamos nos anos 1970, no movimento estudantil e na PJ, Pastoral de Juventude, as canções de Victor Jara, sabendo suas letras de cor, em espanhol, Victor torturado e assassinado dias depois do golpe, em pleno Estadio do Chile.

Quem daqueles tempos não lembra, por exemplo, de “Te recuerdo Amanda”?: “Te recuerdo, Amanda,/ la caje mojada,/ corriendo a la fabrica onde trabajava Manuel.” E de ´A Desalambrar:  Yo pergunto a los presentes/ se no se han puesto a pensar/ que si las manos son nuestras/ y no de los que tengan más”. E de “Plegaria a un Labrador: Levántate y mira la montaña/ de onde viene el viento, el Sol y la agua,/ tu que manejas el curso de los rios,/ tu que sembraste el vuelo de tu alma./ Juntos unidos em la sangre,/ hoy es el tempo que puede ser mañana.”  E mais ainda de “El Pueblo unido: El pueblo unido jamás sera vencido./ De pie, cantando, que vamos a triunfar/ Avanzan  ya as banderas de unidad.” E tantas outras, como “Duerme, Duerme, Negrito”.

Eram, continuam sendo hinos de resistência popular contra as ditaduras, por democracia, soberania e direitos do povo trabalhador. As canções de Victor Jara continuam assombrando e desafiando brucutus, ressurgindo nas vozes dos jovens e dos estudantes, embalando a liberdade e a democracia.

Está sendo assim no Brasil, com Lula de novo na presidência da Republica, a democracia mais uma vez em reconstrução. Um sopro de luz e esperança atravessa o país, a América Latina, o Caribe, Norte a Sul, Leste a Oeste.

O Chile está logo ali, sabemos. Os golpes dados lá são dados também aqui. E vice-versa. Mas quando a primavera acontece lá, vai acontecer aqui também. E se amanhecer aqui, amanhecerá lá. Ou seja, o povo vai às ruas, o povo se mobiliza, o povo grita liberdade e democracia. O povo, lá e cá, cá e lá, não se entrega nunca. Mais cedo ou mais tarde, golpes e ditaduras são derrotados, golpistas e ditadores são derrubados pelo povo e pela História.

Vale relembrar, nesta hora e tempo históricos, o poema “ALLENDE VIVE”, escrito por mim em 1973, logo depois do ‘pinochetazo’. O poema foi publicado no Mural da Faculdade de Teologia da PUCRS, prédio 5, Porto Alegre, Rio Grande do Sul, onde eu estudava de manhã. 

Aconteceu o seguinte, em acontecimento histórico e que nunca  deixo de lembrar e registrar. Um jovem estudante de Economia da mesma PUCRS, que estudava no mesmo prédio, mas à noite, leu o poema. Seu nome: João Pedro Stédile. Conhecemo-nos e começamos a organizar um grupo de estudantes de diferentes Faculdades, para ganhar a direção do DCE, Diretório Central de Estudantes, num movimento estudantil conservador, como a própria Universidade, conservadora. 

Ganhamos o DCE nos anos seguintes, João Pedro, como o chamo até hoje, já fazendo a pós-graduação na UNAM no México. Tornei-me, a partir do poema, representante dos alunos juntos à direção da Faculdade de Teologia e representante geral dos alunos da PUCRS junto à Reitoria, Reitor Irmão José Otão.

No retorno de João Pedro do México, eu já morador da vila São Pedro, no trabalho popular, comunitário e de CEBs, Comunidades Eclesiais de Base, da Lomba do Pinheiro, periferia de Porto Alegre e Viamão, continuamos a trabalhar e lutar juntos: lutas sindicais, Oposições Sindicais, greves, ocupações urbanas e rurais, Macali e Brilhante, Encruzilhada Natalino, Fazenda Annoni, em Ronda Alta, as ocupações urbanas, ele então Assessor da CPT, Comissão Pastoral da Terra, eu na Pastoral da Juventude e nas CEBs, e depois na PO, Pastoral Operária. No início dos anos 1980, fomos juntos nas reuniões da ANAMPOS, Articulação Nacional dos Movimentos Sociais e Sindical, em São Paulo, com Lula, Frei Betto, Olívio Dutra, Avelino Ganzer, tantas outras e outros. Em 1983, fundamos a ONG CAMP, Centro de Assessoria Multiprofissional, depois a construção da CUT, do MST, e fazendo as mobilizações das Diretas-Já.

Salvador Allende inspirou-nos a todas e todos nestes 50 anos, e continua nos inspirando. O poema, escrito há 50 anos, setembro de 1973, é mais que atual, em tempos em que mais uma vez a democracia foi quase destruída, mas felizmente está em reconstrução, embora ainda ameaçada, no Brasil, no Chile, na América Latina, no Caribe, no mundo. 


ALLENDE VIVE


Uma bala mata o homem.

Uma bala não mata a ideia.

Os dias são muitos, incandescentes.

Ardem na poeira do tempo. 

 

Nada como as horas que se sucedem,

os minutos e segundos,

as batidas do coração que abraçam milhões.

 

Sonhos são para serem sonhados.

Sonhos iluminam o horizonte. 

Sonhos são eternos.

 

Há um tempo para cada coisa. 

Há um tempo para a morte. 

Há um tempo para a vida.

 

Latino-americanamente,

caribenhamente,

sobrevivemos. 

Brasileiramente,

vivemos e ressuscitamos Allende.”


(*) Deputado estadual constituinte do Rio Grande do Sul (1987-1990, pelo Partido dos Trabalhadores - PT). Membro da direção do CAMP.

-Fonte: Sul21

GENTE HUMILDE - TAIGUARA

 


*Letra: Vinícius de Moraes e Chico Buarque de Holanda - Música: Aníbal Augusto Sardinha, o Garoto - Canta: Taiguara - 1970

09 setembro 2023

No G20, Lula cita desastre no RS e cobra recursos de países ricos contra aquecimento global

Presidente afirmou que a falta de compromisso mundial com o meio ambiente levou a uma “emergência climática sem precedentes”

Lula participa da abertura da Cúpula do G20 em Nova Delhi, Índia | Foto: Ricardo Stuckert/PR

Da Agência Brasil* - Os países mais ricos, que contribuíram “historicamente” mais para o aquecimento global, devem arcar com os maiores custos para combater o problema. Essa foi uma das cobranças feitas pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante a abertura da Cúpula do G20, neste sábado (9). A reunião fez parte da sessão intitulada “Um planeta Terra” no evento que é realizado em Nova Déli, na Índia.

O presidente exemplificou que as mudanças climáticas, neste momento, afetam o estado do Rio Grande do Sul, com a passagem de um ciclone que deixa desabrigados e mortos. Ele pontuou ainda que os efeitos da mudança do clima têm mais consequências para grupos vulnerabilizados. “São os mais pobres, mulheres, indígenas, idosos, crianças, jovens e migrantes, os mais impactados.”

De acordo com o último balanço da Defesa Civil do Rio Grande do Sul, foram confirmadas 41 mortes e o número de desaparecidos subiu para 46 pessoas. A estimativa do governo estadual é que mais de 120 mil pessoas tenham sido afetadas.

Para Lula, a falta de compromisso dos mais ricos gerou uma dívida “acumulada ao longo de dois séculos”. “Desde a COP [Conferência das Partes] de Copenhague, [em 2009], os países ricos deveriam prover 100 bilhões de dólares por ano em financiamento climático novo e adicional aos países em desenvolvimento. Essa promessa nunca foi cumprida”. (...)

*CLIQUE AQUI para continuar lendo a postagem da Agência Brasil (via Sul21)

08 setembro 2023

Total de mortes causadas pelas chuvas chega a 41 pessoas no RS e 25 estão desaparecidas*

Último boletim da Defesa Civil também aponta 3.037 pessoas resgatadas na maior tragédia por fenômenos naturais no estado

Uma das cidades mais atingidas pela enxurrada dos últimos dias, Roca Sales convive com um cenário de devastação em suas ruas e avenidas. Fotos: Gustavo Mansur/ Palácio Piratini

A tragédia causada por fortes chuvas e enchentes que atingiram o Rio Grande do Sul nos últimos dias causou, até o momento, a morte de 41 pessoas. O número de vítimas fatais foi atualizado às 19h desta quinta-feira (7) pela Defesa Civil Estadual. São mais duas mortes em relação ao boletim divulgado na manhã do Dia da Independência.

As demais vítimas falais eram moradoras dos municípios de Cruzeiro do Sul (4), Muçum (15), Roca Sales (10), Lajeado (3), Estrela (2), Ibiraiaras (2), Mato Castelhano, Encantado, Passo Fundo, Imigrante e Santa Tereza.

O número de desaparecidos também subiu de nove para 25 pessoas – oito em Arroio do Meio, oito em Lajeado e nove em Muçum.

Ao todo, as enchentes que abalaram o RS atingiram 83 municípios, deixaram 2.944 pessoas desabrigados, 7.607 desalojadas e 122.992 afetados. A força-tarefa resgatou 3.037 pessoas.

Alertas

Para receber alertas meteorológicos da Defesa Civil basta enviar o CEP de sua localidade por SMS para o número 40199. Também é possível cadastrar via Whatsapp. Para ter acesso ao serviço, é necessário se cadastrar pelo telefone (61) 2034-4611 ou pelo link https://wa.me/556120344611 e, em seguida, interagir com o chatbot (robô de atendimento), enviando um simples “Oi”.

Após essa primeira interação, o usuário poderá compartilhar sua localização atual ou escolher qualquer outra do seu interesse e, dessa forma, receber as mensagens que serão encaminhadas pelos órgãos de Defesa Civil.

*Fonte: Sul21

TRADIÇÃO REINVENTADA - Primeiro desfile de 7 de Setembro pós-Bolsonaro tem Zé Gotinha, militares indígenas e apoiadores de Lula em Brasília (DF)

Evento é a primeira festividade da Independência sob terceiro governo petista e ocorreu após anos de politização da data

O presidente Lula e a primeira-dama Janja desfilaram pela Esplanada dos Ministérios no tradicional Rolls-Royce - Ricardo Stuckert/ Presidência da República

Por Cristiane Sampaio*

A secura e o calor de Brasília (DF) não impediram que cerca de 50 mil pessoas se reunissem nesta quinta-feira (7), na Esplanada dos Ministérios, para acompanhar o habitual desfile do 7 de Setembro. Com duração de aproximadamente duas horas, esta foi a primeira festividade da Independência sob a terceira gestão Lula. O evento ocorreu em meio à memória gerada pelos anos em que o último ex-presidente, Jair Bolsonaro (PL), politizou a data e tentou colar às comemorações a imagem da extrema direita, com a exaltação dos ânimos de agentes das Forças Armadas.

A ressaca política produzida por aquele contexto fez com que nesta quinta-feira alguns militantes de esquerda comparecessem à avenida para prestar apoio ao atual chefe do Executivo. Foi o que fez a gestora cultural Teresa Padilha, que marcou presença na Esplanada acompanhada de amigas e empunhando a bandeira do segmento LGBTQIA+.

"Estou vindo para este desfile porque eu acredito neste governo, senão não estaria aqui. Esta é uma pauta que o Lula está trazendo, sempre trouxe. Então, acho que é importantíssimo que a gente fale também sobre a diversidade, sobre as diferenças, sobre a importância de a gente estar de igual para igual com todos e todas. O Brasil é isso."

"Acho importantíssimo que a gente fale também sobre a diversidade, sobre as diferenças. O Brasil é isso", afirma Teresa Padilha [à esquerda] / Cristiane Sampaio

Vestindo uma camisa vermelha com o rosto de Lula estampado, a cozinheira Ruth Lira chamou a atenção em meio ao conjunto de pessoas trajando uniformes e balançando bandeiras verde-amarelas. Ela ressalta que foi ao local especialmente com o objetivo de demonstrar apoio ao petista. "Ele foi alvo de muitas coisas ruins, acusações, montagens [político-jurídicas], então, a gente veio prestigiá-lo porque a gente sempre acreditou na sua inocência."

Segundo informou a Secom da Presidência da República, cerca de 50 mil pessoas assistiram ao desfile em Brasília (DF) / Ricardo Stuckert/ Presidência da República

Este ano a comemoração trouxe como slogan a frase "Democracia, soberania e união", em uma tentativa de destoar do sentido dado por Bolsonaro ao evento nos últimos anos, quando a festividade ganhou ares de flerte com a ditadura militar. De forma a evidenciar o tema, o governo federal espalhou banners pelos prédios da Esplanada com imagens que faziam referência ao assunto.

Em sua faceta mais oficial, o evento contou com desfile do presidente Lula e da primeira-dama, Rosângela Lula da Silva, a Janja, que surgiram no tradicional Rolls-Royce. Também contou com a presença de ministros, do presidente do Congresso Nacional, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e da presidenta do Supremo Tribunal Federal (STF), Rosa Weber.

"Todo ano eu venho", diz Edmilson dos Santos, que se entusiasmou com os festejos na Esplanada nesta quinta-feira (7) / Cristiane Sampaio

O trabalhador Edmilson dos Santos foi um dos que se empolgaram na avenida com o desfile. Enquanto assistia à apresentação de tanques do Exército, ele foi flagrado pela reportagem gesticulando um "L", símbolo do apoio a Lula.

"Todo ano eu venho porque acho que é uma forma de festejar não só a pátria, mas a própria democracia. Este ano trouxe minha neta porque acho importante. Eu nasci aqui na capital federal e tenho orgulho de ser brasileiro", disse, acompanhado pela pequena Sophia, de 6 anos, que ansiava pela apresentação da Esquadrilha da Fumaça, a última atração do dia.

A pequena se entusiasmou na hora em que um carro do Corpo de Bombeiros desfilou trazendo no alto o famoso Zé Gotinha, personagem que historicamente povoa o imaginário do país quando o assunto é imunização. A iniciativa se soma a diferentes movimentos do Ministério da Saúde, que tem tentado recuperar os índices de cobertura vacinal no país. "Eu tomei todas as vacinas", gritou Sophia enquanto acenava com empolgação para o personagem, que foi bastante aplaudido pelo público.

Acionada para se somar à festividade da Independência deste ano, Zé Gotinha foi bastante aplaudido pelo público no desfile em Brasília / Ricardo Stuckert/ Presidência da República

Além do tradicional desfile das Forças Armadas, do Corpo de Bombeiros e de representantes de outras instituições, este ano o evento chamou a atenção também por conta da presença especial de indígenas ligados ao Exército. Diferentes agentes dos povos Tariano, Kuripaco, Baré, Kubeo, Yanomami e Wanano participaram da solenidade e fizeram uma saudação a Lula no idioma nativo de cada etnia.

A ministra dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara, exaltou a presença do grupo ao se manifestar pelas redes sociais. "Vale destacar que as Forças Armadas têm papel fundamental nas operações de desintrusão de terras e para garantir a segurança dos povos indígenas em territórios de fronteira. Bom ver o compromisso das Forças Armadas com a democracia, soberania e reconstrução do Brasil", afirmou.

A indígena Maria Flor Guerreira, do povo Pataxó, vive atualmente em Brasília e foi à Esplanada para assistir a todo o desfile. "Estar aqui é uma forma de ajudar a espiritualizar este momento para que este mandato aconteça da melhor forma. É bom ver que o país agora está começando a reconhecer que nós indígenas existimos", afirma.

Queixas

O evento também foi alvo de algumas queixas. Logo na primeira parte da manhã, ainda antes de a cerimônia se iniciar, diferentes pessoas manifestaram dificuldade para acessar as arquibancadas destinadas ao público em geral – parte da estrutura montada na Esplanada estava reservada para convidados dos ministérios e autoridades. O governo havia feito nos últimos dias um cadastramento prévio digital para quem quisesse comparecer, mas a entrada era livre na parte destinada ao grande público.

Apesar disso, as portas foram fechadas em algumas entradas às quais a reportagem conseguiu chegar. Agentes alegaram questões de segurança e afirmaram que o espaço havia lotado.

"Venho há 15 anos [para o evento] e nunca tinha passado por isso. A gente está vindo lá desde o Congresso, tentando entrar de porta em porta, mas não estão deixando entrar", queixou-se o trabalhador autônomo Wellington Pereira, que compareceu junto com a família para ver o filho mais velho desfilar. "Me sinto meio decepcionada com isso. Acho que a organização poderia ter visto melhor essa parte da entrada", disse a esposa dele, Tatiana Cunha.

Também provocou críticas o não funcionamento de um telão posicionado à frente do Ministério da Educação, no bloco L da Esplanada. O equipamento, montado para a transmissão oficial da cerimônia, não funcionou em nenhum momento, enquanto os outros telões operavam dentro da normalidade.

A situação inviabilizou uma melhor visualização do evento por uma parte do público e gerou diferentes gritos de guerra que clamavam por uma solução, mas o problema não se resolveu até o final. O Brasil de Fato procurou a Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República (Secom) para tratar dos problemas mencionados, mas não obteve retorno até o fechamento desta matéria.

*Edição: Geisa Marques - Fonte: Brasil de Fato

04 setembro 2023

83 anos do assassinato de Trotsky e 85 anos da 4ª Internacional*

 

      Leon Trotsky no México


Trotsky foi um militante revolucionário, presidente do Soviete de Petrogrado em 1905, criador do Exército Vermelho em 1917 e, internacionalista, esteve entre os fundadores da 3ª e da 4ª Internacional. Foi assassinado pelo agente stalinista Ramon Mercader, em 21 de agosto de 1940, no México, onde estava exilado.

Para Stalin o seu assassinato, bastante comemorado, “coroou” o ciclo de perseguições, prisões e assassinatos de toda uma geração de bolcheviques que participaram da revolução de 1917 e da formação do Estado Soviético e que de alguma maneira se contrapuseram à sua política.

O assassinato de Trotsky, um ano após o início da 2ª. Guerra mundial, era uma necessidade para o Kremlin e para o capital, visto o seu combate incansável contra a guerra imperialista e pela organização independente da classe operária e dos explorados em escala internacional. Entretanto, nem o stalinismo, nem os representantes do imperialismo, conseguiram enterrar sua história e seu combate em defesa da revolução proletária mundial.

Para os militantes da 4ª Internacional em particular, relembrar os 83 anos do seu assassinato se combina com a comemoração dos 85 anos de fundação da 4ª Internacional e seu programa, o “Programa de Transição”, o maior trabalho antes da sua morte, garantindo a continuidade do marxismo em mais de um século de luta da classe operária mundial expressos na 1ª, 2ª e nos quatro primeiros Congressos da 3ª Internacional, antes da sua transformação em “aparato” a serviço do stalinismo.

Após a morte de Trotsky a jovem 4ª Internacional sofreu. Primeiro com a guerra, depois com a usurpação pelo stalinismo do prestígio da URSS. Em 1953 ela se desagregou, como resultado da revisão do Programa por militantes, liderados por Michel Pablo. Foram anos de combate para o reagrupamento até que a 4ª Internacional pudesse ser reproclamada em 1993, novamente sobre a base do Programa de Transição.

Nesta data, publicamos aqui um texto de apresentação da Revista A Verdade n° 112, que prepara 10° Congresso Mundial da 4ª Internacional, um congresso aberto, que submete a discussão sua apreciação sobre o Programa e a situação atual.

Este texto discute brevemente a atualidade do Programa de Transição, 85 anos depois. Nós aprofundaremos este debate nas próximas edições.

*Por Sumara Ribeiro, no site do Jornal O Trabalho