20 janeiro 2019

“De onde menos se espera, daí é que não sai nada”

Coluna Crítica & Autocrítica - nº 149

19.01.2019


Por Júlio Garcia**

*“De onde menos se espera, daí é que não sai nada” já dizia o Barão de Itararé (pseudônimo do escritor e brilhante humorista gaúcho Apparício Fernando de Brinkerhoff Torelly). Pois, então, não nos causou surpresa a série de cabeçadas dadas nestas primeiras duas semanas do governo (?!!!) presidido pelo ex-capitão Jair Bolsonaro, com suas idas e vindas, afirmações e desmentidos – inclusive por seus subordinados. Seria cômico, não fosse trágico...

*Conforme escreveu o jornalista Carlos Fernandes (no site DCM, repostado no Portal o Boqueirão Online) “Os recuos de Bolsonaro, além de despreparo, demonstram fraqueza política”. Disse mais: “diante tudo, ironia das ironias, fica claro que as únicas medidas louváveis que fez até agora foi justamente voltar atrás daquilo que um dia pretendeu fazer. Bolsonaro, por assim dizer, em apenas 14 dias de governo chegou à impressionante situação política em que se pode afirmar que é um presidente que faz mais e melhor justamente quando não faz nada e deixa tudo como já estava. É realmente um mito.”
...
*Nesse sentido, para ater-me apenas a um dos deprimentes episódios protagonizados recentemente por Bolsonaro, registro aqui o infeliz decreto que libera a posse de armas de forma quase indiscriminada no Brasil - e que trará, no seu caudal, seguramente, mais violência, insegurança e assassinatos. A propósito disso, escreveu o jornalista Fernando Brito em seu prestigiado Blog Tijolaço (repostado por mim num dos blogues que edito). O título da postagem é “A vergonha dos vencedores”. Leiam a seguir ... e façam suas avaliações:

“O decreto da liberação da posse de armas – segundo Bolsonaro, apenas um aperitivo, “apenas o primeiro passo”, para franquear o acesso generalizado a armamento para a população – não pode ser julgado apenas no campo político.

É um retrocesso civilizatório que nos custará muitas vidas e muitos anos para reverter.

Não fosse isso, diria que foi a derrota política inaugural de Jair Bolsonaro.

É algo que, mesmo antes das tragédias anunciadas que irá produzir, só encontrou apoio incondicional em seus adeptos mais radicais.

A classe média, sempre tão feroz na teoria, passa a viver o medo de que o seu vizinho de porta tenha uma, duas, várias pistolas.

Ou o caixa da padaria. Ou o dono da quitanda, que você andou chamando de ladrão por cobrar 10 reais no quilo do tomate. Ou o inspetor da escola dos filhos.

Os neoliberais “cult” não tiveram peito de defender e o próprio Sérgio Moro fez questão de ficar nas sombras no anúncio da “grande conquista”, mesmo sendo, agora, o responsável pela Segurança Pública.

A comparação dos perigos oferecidos por uma arma de fogo com os riscos de um liquidificador, feita pelo sempre energúmeno Ônyx Lorenzoni ofende a inteligência de um asno.

Os vencedores estão envergonhados.

Só o núcleo selvagemente fascista celebra, e olhe lá.”
...

*Para finalizar, deixo aqui mais uma interessante frase do Barão de Itararé: “Sábio é o homem que chega a ter consciência da sua ignorância” –Parece óbvio que isso não vale para Bolsonaro, nem para a maioria de seus ministros, assessores e apoiadores...

*“Poderia ser cálido?”

...

**Júlio César Schmitt Garcia é Advogado, Pós-Graduado em Direito do Estado, Poeta e Midioativista. Foi um dos fundadores do PT e da CUT. - Publicado originalmente no Jornal A Folha (do qual é Colunista) em 18/01/2019.

*Via Portal O Boqueirão Online  (coluna escrita antes das últimas maracutaias bombásticas produzidas pela 1ª famiglia - e seu laranjal -  virem à tona...)

19 janeiro 2019

Foi Moro quem vazou para o jn ferrar o Bolsonaro? Quem morre primeiro: Bolsonaro, a Globo ou o... Moro?





Do Conversa Afiada* - O jornal nacional disparou 24 minutos de metralhadora AK-47 no peito do Bolsonaro.

O jn teve acesso a devastadores documentos do COAF (Conselho de Controle de Atividades Financeiras), subordinado desde 2/I/2019 ao Ministério da Justiça do Ministro Sergio Moro.

(Assista aqui à reportagem do COAF).

Segundo o COAF do jornal nacional, Flávio Bolsonaro, filho do presidente da República, recebeu em sua conta bancária 48 depósitos EM DINHEIRO (EM DINHEIRO), sempre no valor de R$ 2 mil, numa agência que fica dentro da Assembleia Legislativa do Rio.

(Ele se elegeu senador em 2018.)

No total, segundo o documento do COAF de Moro, R$ 96 mil foram depositados em cinco dias.

A reportagem indesmentível do jn imediatamente instalou-se no PiG: no Globo, é claro, na Fel-lha e no Estadão (que, por sinal, tem também uma outra denúncia contra o senador Bolsonaro, oriunda do mesmo COAF do Moro), como demonstra essa ilustração:


Trata-se de uma declaração formal de guerra.

A Globo quer derrubar o Bolsonaro.

Ela não faria isso em nome de um princípio que jamais respeitou, a liberdade de expressão múltipla.

Como disse seu fundador, o Dr Roberto, ao Boni:

- Isso aqui é uma usina de poder, não é um circo.

Bolsonaro já disse que pretende destruir a Globo em seus alicerces: com o fim do Bônus por Volume e a a revisão da publicidade oficial.

Ele não precisou da Globo para se eleger.

A Globo não tem alternativa.

Se correr, o novo mundo da internet pega ela: o Google vai googlar a Globo.

Se ficar, os bolsonários matam ela de fome.

Porém, nessa batalha tem um outro agente de poder: o Moro!

Moro tem posse e porte de arma!

Moro é um vazador contumaz, confesso e disso se vangloria.

Vazar documentos sigilosos foi a arma que ele e a Globo usaram para destruir o PT, prender o Lula, desmoralizar a Política, derrubar a Dilma, uma presidenta honesta, e fechar a indústria nacional com o desemprego de um milhão de trabalhadores honestos.

No dia seguinte à posse, Bolsonaro realizou o maior desejo do Moro: tirou o COAF do Ministério do Primata do tal neolibelismo e entregou ao Moro.

Quem vaza para o jn os documentos do COAF que atiram no peito do Bolsonaro?

O primeiro suspeito é o Moro!

18 janeiro 2019

Ministro Marco Aurélio avisa que vai mandar para o lixo pedido de Bolsonaro para não investigar Queiroz

lixeira

Segundo o G1, o ministro do STF Marco Aurélio Mello disse que já no primeiro dia de trabalho vai mandar para o lixo o pedido de Flávio Bolsonaro para interromper as investigações sobre seu ex-motorista Fabrício Queiroz, que movimentou mais de R$ 1,2 milhão em um ano, atitude que levantou suspeita pelo Coaf.
“Já na sexta-feira, pela manhã, assinarei a decisão – sexta, dia 1º de fevereiro”, afirmou o ministro. Perguntado sobre qual será o caminho, o ministro respondeu: “O Supremo não pode variar, dando um no cravo outro na ferradura. Processo não tem capa, tem conteúdo. Tenho negado seguimento a reclamações assim, remetendo ao lixo”, afirmou Marco Aurélio.
“Não é antecipação de decisão. É só coerência com o que, até aqui, fiz”, completou o ministro.[Fonte: G1]

*Via Blog do Mello

"Tome vergonha e explique o caso Queiroz" (Senadora Gleisi a Bolsonaro)


A presidente nacional do PT, senadora Gleisi Hoffmann (PR), eleita deputada federal, bateu duro em Jair Bolsonaro; em tweet ela foi taxativa: "Tome vergonha e explique seu envolvimento com as falcatruas do Queiroz. Explique pq mudou de posição em relação ao foro privilegiado. Comece a governar, diga a que veio!", disse a parlamentar; o ministro do STF Luiz Fux determinou a paralisação das investigações contra Fabrício Queiroz, ex-assessor e ex-motorista do senador eleito Flávio Bolsonaro (PSL-RJ); Queiroz é um suposto laranja da família do presidente
247* - A presidente nacional do PT, senadora Gleisi Hoffmann (PR), eleita deputada federal, bateu duro em Jair Bolsonaro; em tweet ela foi taxativa: "Tome vergonha e explique seu envolvimento com as falcatruas do Queiroz. Explique pq mudou de posição em relação ao foro privilegiado. Comece a governar, diga a que veio!", disse a parlamentar. O ministro do STF Luiz Fux determinou a paralisação das investigações contra Fabrício Queiroz, ex-assessor e ex-motorista do senador eleito Flávio Bolsonaro (PSL-RJ). Queiroz é um suposto laranja da família do presidente

No mesmo texto, ela questiona Bolsonaro por suas críticas seguidas ao PT: "De novo atacando o PT!"

Nesta quinta-feira (17), o ministro do Supremo Tribunal Federal Luiz Fux determinou ao Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ) a paralisação das investigações contra Fabrício Queiroz, ex-assessor e ex-motorista do senador eleito Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), deputado estadual no Rio.

Segundo o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), o ex-assessor fez uma movimentação atípica superior a R$ 1,2 milhão entre 2016 e 2017, inclusive pagamentos de R$ 24 mil a Michelle Bolsonaro, mulher do presidente eleito.

O pedido para emperrar as investigações foi feito pelo próprio Flávio Bolsonaro, o que levanta mais suspeitas ainda sobre o envolvimento da família do presidente em irregularidades. 


17 janeiro 2019

Serrano: Queiroz não tem foro e liminar de Fux é indefensável

Erick Julio (Agência PT de Notícias) - A liminar do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luiz Fux, desta quinta-feira (17), que suspendeu as investigações criminais contra Fabrício Queiroz, ex-motorista do futuro senador Flávio Bolsonaro, é questionável juridicamente. Quem aponta é o jurista e professor de Direito Constitucional Pedro Serrano que lembrou que nem o futuro parlamentar do Senado Federal, nem o ex-assessor possuem foro privilegiado.

“A posição do ministro, sob ponto de vista jurídico, é indefensável. A fundamentação dele me parece equivocada porque o foro privilegiado só ocorre a partir da investidura no cargo, a partir do exercício do mandato”, disse Serrano ao explicar que o filho de Jair Bolsonaro (PSL) ainda não possui a prerrogativa do cargo de senador.

Reportagem do jornal Estadão revelou que, apesar de não ser formalmente investigado, Flávio Bolsonaro alegou, no pedido liminar que fez ao STF na quarta-feira (16), que vai ganhar o foro perante a Corte, já que vai assumir o mandato de senador no dia 1º de fevereiro. Para o Serrano, no entanto, a decisão de Fux contraria o entendimento do próprio STF, ao qual ele também foi favorável, que em maio de 2018 decidiu que o foro privilegiado ficou restrito a senadores e deputados federais.

Flávio Bolsonaro, por sua vez, ocupa atualmente o cargo de deputado estadual no Rio de Janeiro. “O foro visa proteger o mandato e não a pessoa. Se o mandato [de senador] não se iniciou, a pessoa ainda não tem a proteção do foro privilegiado”, explica o jurista.

Ainda segundo Serrano, as investigações criminais contra Queiroz devem prosseguir, independentemente, de Flávio Bolsonaro ter foro privilegiado ou não. “A decisão de Fux também foi complicada porque o assessor deve ser investigado. Ele [ministro] tem que verificar o que fundamenta investigar os dois juntos, porque muitas vezes o STF manda investigar as pessoas que não tem foro de forma separada das que tem”, aponta.

Dois pesos, duas medidas
 
De acordo com Serrano, a liminar serve para fazer uma análise de como a Justiça tem se comportado nos últimos anos. Para ele, tanto o STF, quanto o Ministério Público têm comportamentos diferentes, dependendo de qual força política é investigada.

“Eu abro a notícia de hoje de que o ministro Fux tinha dado a liminar e vejo o Ministério Público dizendo que não sabia os fundamentos da cautelar e que não iria se manifestar sobre a decisão porque é sigilosa. É interessante olharmos esse caso e outros recentes. O ministro preocupado em salvaguardar os direitos do investigado. O MP preocupado com a garantia do sigilo, que são comportamentos corretos do plano constitucional. Mas é interessante como a Constituição Federal só está sendo aplicada para as pessoas ligadas ao governo, ou amiga do governo. Gente da família do presidente da República”.

Para o jurista, tanto o STF, como o MP tiveram comportamentos totalmente contrários no caso do ex-presidente Lula. “No caso dos adversários da direita, como no caso do Lula com PowerPoint do MP, não houve a preocupação com sigilo, com prisão cautelar para fins de confissão. Ou seja, o que nós notamos é que o sistema de justiça é incapaz de ser imparcial no plano da política e isso é muito grave para a democracia brasileira”, critica.

Nós, pré-históricos

O homem das casernas quer o seu contemporâneo de volta à autodefesa que restava ao homem das cavernas


Por Janio de Freitas*

O argumento de que a livre posse de armas de fogo, como diz Jair Bolsonaro, "é para garantir às pessoas o legítimo direito de defesa", dá uma decoração enganosa ao seu teor pré-histórico: o governo militarizado entrega à população a tarefa de defender-se da criminalidade que a aflige. O homem das casernas quer o seu contemporâneo de volta à autodefesa que restava ao homem das cavernas.

De alguns milênios para cá, a defesa dos cidadãos é atribuição das forças do Estado para isso mantidas. E aos governos compete dirigi-las com inteligência e civilidade. Na falta dessas qualidades, o roteiro cênico que o governo militarizado propõe é empolgante. Segue-se um trailer.

É nas ruas, nas lojas, nos espaços e eventos públicos que a criminalidade assola o cidadão. Se deve praticar a autodefesa armada, a vítima precisaria fazê-lo, a bala, no lugar público onde é atacada. Como são incontáveis os ataques diários, havendo inúmeros casos sem registro policial, o que o governo militarizado espera é um tiroteio assombroso produzido pelas autodefesas. Seriam tiros o dia todo, todos os dias, em toda a cidade, qualquer que seja.

Pior do que a massificação das armas é a obtusidade em que se ampara tal "reforma". O problema da criminalidade se manifesta pela já existente posse (ilegal) de armas. Armar suas vítimas para pretensa autodefesa não reduz, antes amplia os crimes de tentativa e de homicídio mesmo, agora praticados pelos antigos e por novos usuários de armas. A posse livre e legal de armas não tem como contribuir para a redução da criminalidade cometida como meio de vida ou melhora de vida. Não há como atribuir a raciocínios inteligentes o armamentismo trazido pelo governo militarizado.

Por desídia, incompetência, corrupção ou o que mais, as forças do Estado têm perdido, até com humilhação, no confronto com o fenomenal avanço do chamado crime organizado. Mesmo o Exército não consegue se impor, no máximo evitando o insucesso óbvio, com medidas incipientes como as da intervenção no Rio. Por mais chocante que pareça, é justo reconhecer que as grandes facções têm comprovado muito mais criatividade, ordem interna e funcionalidade estrutural do que a variedade de forças a que enfrentam.

Principal incumbido do problema, Sergio Moro ainda não descobriu que a corrupção não é tudo, não é o mais difícil e nem mesmo o principal entre as obrigações do Ministério da Justiça. E entre os males mais urgentes e perigosos no país, sua atenção continua concentrada na "criminalização do caixa dois", nas "contrapartidas em doações", no "aumento de penas", por aí. Nem uma palavra, antes ou depois de empossado, sobre políticas e táticas de ação contra a violência sempre crescente. Nem mesmo as duas semanas do show dado contra policiais e militares no Ceará desligou-o do seu samba de um assunto só.

A propósito, o governador petista do Ceará, Camilo Santana, cometeu um deslize. Recebida a Força Nacional para socorrê-lo, elogiou Sergio Moro como um aliado contra o crime organizado. Moro, na verdade, recusou o envio da Força, que assim mesmo Jair Bolsonaro determinou. Desperdiçar uma oportunidade de referência positiva a Bolsonaro, ainda mais equivocada, é imperdoável. Afinal, não se sabe quando, e se, haverá outra. A pré-história não oferece muito o que imitar.

*Janio de Freitas (foto) é Jornalista - Publicado originalmente no jornal Folha de São Paulo - Via Conversa Afiada

16 janeiro 2019

A vergonha dos vencedores




Por Fernando Brito*

O decreto da liberação da posse de armas – segundo Bolsonaro, apenas um aperitivo, “apenas o primeiro passo”, para franquear o acesso generalizado a armamento para a população – não pode ser julgado apenas no campo político.

É um retrocesso civilizatório que nos custará muitas vidas e muitos anos para reverter.

Não fosse isso, diria que foi a derrota política inaugural de Jair Bolsonaro.

É algo que, mesmo antes das tragédias anunciadas que irá produzir, só encontrou apoio incondicional em seus adeptos mais radicais.

A classe média, sempre tão feroz na teoria, passa a viver o medo de que o seu vizinho de porta tenha uma, duas,  várias pistolas.

Ou o caixa da padaria. Ou o dono da quitanda, que você andou chamando de ladrão por cobrar 10 reais no quilo do tomate. Ou o inspetor da escola dos filhos.

Os neoliberais “cult” não tiveram peito de defender  e o próprio Sérgio Moro fez questão de ficar nas sombras no anúncio da “grande conquista”, mesmo sendo, agora, o responsável pela Segurança Pública.

A comparação dos perigos oferecidos por uma arma de fogo com os riscos de um liquidificador, feita pelo sempre energúmeno Ônyx Lorenzoni  ofende a inteligência de um asno.

Os vencedores estão envergonhados.

Só o núcleo selvagemente fascista celebra, e olhe lá.

*Jornalista - Via Tijolaço

15 janeiro 2019

Cem anos sem Rosa Luxemburgo: uma vida pela revolução

Rosa Luxemburgo fundou a Liga Spartakus, que deu origem ao Partido Comunista Alemão / (Foto: Divulgação)

Teorias políticas da dirigente marxista ecoaram ao longo da história e permanecem atuais

Brasil de Fato - por Lu Sudré - Há exatamente cem anos, em 15 de janeiro de 1919, a filósofa, economista e militante polaco-alemã Rosa Luxemburgo foi assassinada em Berlim, capital da Alemanha, em retaliação a suas contribuições para a luta revolucionária da esquerda. A tentativa de sufocar as ideias transformadoras da maior pensadora marxista do século 20 foi em vão: o legado dela ecoa ao longo da história e permanece atual. 

Rosa Luxemburgo fundou a Liga Spartakus, organização socialista, anti-imperialista e anti-militarista que atuou na Alemanha durante a Primeira Guerra Mundial – e, posteriormente, deu origem ao Partido Comunista Alemão.

Nascida em 5 de março de 1871 em Zamośc, na Polônia, a filósofa envolveu-se com a militância revolucionária desde a juventude e formou-se politicamente ao lado de outras figuras históricas, como a feminista alemã Clara Zetkin. 

Por ser tratar de uma herdeira da teoria de Marx, a elaboração teórica de Rosa Luxemburgo se concentra na crítica ao modo de produção capitalista e suas contradições.

Isabel Loureiro, especialista no pensamento de Rosa Luxemburgo, explica que a obra da comunista discorre sobre como o capitalismo gera, necessariamente, a desigualdade entre classes, indivíduos e países. A teórica escreve que, a partir de um modelo de produção racista e sexista, o capitalismo perpetua-se, com a finalidade de acumular indefinidamente. Para isso, destrói vínculos sociais e a natureza, e se sustenta com base na exploração dos trabalhadores. 

"A Rosa sempre foi uma grande defensora das liberdades democráticas, fruto das revoluções burguesas no Ocidente. Ela viveu a infância e a adolescência na Polônia dominada pelo império tzarista [monarcas da Rússia] e sabia muito bem como era uma vida sem liberdade de imprensa, de associação, de reunião, sem liberdade religiosa e sem direitos de nenhuma espécie para os trabalhadores e para as mulheres", relata Loureiro. 

Doutora em Filosofia pela Universidade de São Paulo (USP), a pesquisadora é colaboradora da Fundação Rosa Luxemburgo e ressalta a importância do legado da militante polaco-alemã.

"Sua contribuição original à teoria política é que as transformações sociais estruturais só podem ser obra da ação autônoma das massas populares. Ou seja, a instituição de uma sociedade verdadeiramente socialista não pode resultar de golpes de vanguardas políticas que imaginam saber o que é melhor para os trabalhadores e se colocam no lugar deles", analisa. "Rosa sempre foi decididamente contra a ideia de vanguarda substituta das massas. A revolução, para ela, é obra da ação livre dos trabalhadores. Ou não é revolução".

A partir da ação autônoma, as massas aprendem com suas próprias experiências e se formam politicamente na luta. Rosa Luxemburgo chegou a essa análise, sobretudo, acompanhando a organização dos trabalhadores na Revolução Russa, de 1905 e 1907.

Apesar de divergir em alguns aspectos com Vladimir Lênin e Leon Trotsky, líderes da Revolução de 1917, Rosa Luxemburgo era muito admirada pelos dirigentes comunistas. Segundo Loureiro, ela criticava o que considerava “uma incompreensão dos bolcheviques no tocante à democracia. Sua crítica soa como uma advertência contra o posterior totalitarismo stalinista”.

Quanto às obras mais importantes para a esquerda, a estudiosa enumera, em primeiro lugar, o livro “A acumulação do capital”, e outros dois artigos: “Questões de organização da social-democracia russa” e “Greve de massas, partido e sindicatos.” Em seguida está o texto “O que quer a Liga Spartakus?”, programa adotado pelo Partido Comunista Alemão.

Já a obra “A revolução russa”, onde registra suas críticas, é uma recusa à violência, principal bandeira erguida pela dirigente: “Ela rejeitava incisivamente o terror, tanto contrarrevolucionário quanto revolucionário. E acreditava que a revolução socialista, por ser obra das grandes massas populares, não precisava matar os adversários”.  (...)

CLIQUE AQUI para continuar lendo.

Bolsonaro assina decreto que facilita posse de armas no faroeste Brasil



“Como o povo soberanamente decidiu, para lhes resguardar o direito à legítima defesa, vou agora, como presidente, usar esta arma”, afirmou Bolsonaro, mostrando a caneta como se fosse sua arma; a flexibilização da posse e do porte de armas é rejeitada pela maioria dos brasileiros, mas, mesmo assim, Bolsonaro decidiu adotar a medida por decreto

CLIQUE AQUI para ler na íntegra a postagem do Brasil247

14 janeiro 2019

VENEZUELA

A quem interessa uma intervenção na Venezuela?
 
Por Gleisi Hoffmann*
 
Acabo de voltar da Venezuela, onde participei, como presidenta do PT e a convite do governo eleito, das solenidades de posse do presidente Nicolás Maduro. Não me surpreendi com o ataques e reações por parte de quem não compreende princípios como autodeterminação e soberania popular; quem não reconhece que partidos e governos de diferentes países podem dialogar respeitosamente.
 
Por várias razões, os problemas internos da Venezuela, econômicos, sociais e políticos, têm sido motivo de pressões externas indevidas que só agravam a situação interna. Mas a posse de Maduro em seu segundo mandato desatou um movimento coordenado de intervenção sobre a Venezuela, patrocinado pelo governo dos Estados Unidos e referendado por governos de direita na América Latina, entre os quais se destaca, pela vergonhosa subserviência a Donald Trump, o de Jair Bolsonaro.
 
Gostem ou não, Maduro foi eleito com 67% dos votos. O voto na Venezuela é facultativo. Três candidatos de oposição concorreram e as eleições se deram nos marcos legais e constitucionais do país (Constituição de 1999), o que foi atestado por uma comissão externa independente. Um dos membros da comissão, o ex-presidente do governo da Espanha José Luiz Zapatero, declarou: "Não tenho dúvida de que (os venezuelanos) votam livremente". Como outros países se acham no direito de questionar o voto do povo venezuelano?
 
Não podemos nos iludir: a ação coordenada contra o governo da Venezuela não passa nem de longe por uma suposta defesa da democracia e da liberdade de oposição na Venezuela. Não há nenhum interesse em ajudar o povo venezuelano a superar seus desafios reais. O que existe é a combinação de interesses econômicos e geopolíticos com jogadas oportunistas de alguns governos, como é o caso, infelizmente, do Brasil.
 
A Venezuela não é um país qualquer. É a detentora das maiores reservas de petróleo do planeta. O país assumiu, desde 1o. de janeiro, a presidência da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) no ano de 2019. Desde a eleição de Hugo Chávez, em 1998, a Venezuela vem desafiando os modelos econômicos e políticos excludentes que vigoravam naquele país – e na América Latina – e exercendo cada vez mais fortemente sua soberania.
 
O interesse dos Estados Unidos e seus aliados de subjugar esse incômodo vizinho e avançar sobre suas reservas estratégicas é notório. Nós já vimos esse filme: a invasão americana no Iraque, em nome de defender os direitos do povo e instalar a democracia, resultou em 250 mil mortos, cidades destruídas, miséria, fome e terror na ocupação. Depois, largaram tudo para trás, deixando um rastro de destruição e desalento, sem antes terem propiciado que suas empresas ganhassem muito dinheiro e, como país, se posicionassem estrategicamente no acesso ao petróleo dos países árabes. Como está o Iraque agora? Melhor ou pior do que estava antes? Tem democracia? Seu povo é mais feliz? Isso não interessa mais. O que interessa é que o império conquistou o que queria.
 
São muito preocupantes os movimentos dos governos Trump e Bolsonaro, entre outros, para desestabilizar o governo eleito de Maduro e sustentar um governo paralelo da oposição. Usam uma retórica de guerra como há muito não se ouvia em nosso continente. Querem intervir na Venezuela – considerando até uma intervenção militar – com a narrativa de que seria uma ditadura, que os direitos humanos não são respeitados, que há crise humanitária; precisa-se intervir para salvar o povo.
 
Alguém acha, sinceramente, que os EUA estão preocupados com a democracia e com os diretos humanos na Venezuela? Por que não se preocupam com a fome no Iêmen? Por que tratam as pessoas em processo migratório de forma hostil? Foi a preocupação com os direitos humanos que fez o governo Trump enjaular crianças como animais?
 
Nossa Constituição e a tradição da diplomacia brasileira defendem a não-intervenção em outros países. É o respeito às nações e a autodeterminação dos povos. Não precisamos adular impérios que se utilizam das crises alheias pra cobrir seus próprios problemas e tirar vantagens políticas e econômicas, fazendo guerras e intervenções. Já assistimos esse filme e ele só traz mais dores. Quando o ex-presidente George W. Bush quis comprometer o Brasil na guerra contra o Iraque, o ex-presidente Lula reagiu com altivez: "Nossa guerra é contra a fome".
 
As dificuldades por que passa o povo da Venezuela só foram agravadas pelas sanções e bloqueios econômicos impostos pelos EUA e seus aliados. Nunca é demais lembrar que o governo da Colômbia recusou vender remédio ao governo venezuelano. Assim acontece com outros produtos. A Venezuela é muito dependente de importações. Enquanto bloqueios e sanções permanecerem, o povo sofrerá e migrará, impondo também sofrimento aos que fazem fronteira com o país.
 
A saída, a solução pacífica para a crise venezuelana, que tem impacto na América Latina, é a negociação política, é conversar com todos os lados. Papel que o Brasil deveria estar fazendo, como já fez com sucesso, e não colocando mais lenha na fogueira.
 
Esta semana Bolsonaro se encontrará com o presidente Macri na Argentina. Jornais dizem que primeiro ponto da pauta será a Venezuela. Se tiverem o mínimo de responsabilidade com a paz, a ordem e a boa convivência dos países e povos latino-americanos, proporão diálogo com as partes venezuelanas. Caso contrário, só vamos acelerar a crise. Uma intervenção lá sobrará para todos nós.
 
Os democratas brasileiros, que se preocupam sinceramente com o destino de nossos povos, sabem que a intervenção, de qualquer espécie, não é a saída para a crise da Venezuela. E não é preciso estar de acordo com Nicolás Maduro, com seu governo ou com os processos institucionais venezuelanos para entender que, no caso de uma intervenção militar, o papel do Brasil, infelizmente, será de bucha-de-canhão.
 
*Gleisi Hoffmann (foto) é senadora (PT-PR) e Presidenta Nacional do Partido dos Trabalhadores.