15 janeiro 2019

Cem anos sem Rosa Luxemburgo: uma vida pela revolução

Rosa Luxemburgo fundou a Liga Spartakus, que deu origem ao Partido Comunista Alemão / (Foto: Divulgação)

Teorias políticas da dirigente marxista ecoaram ao longo da história e permanecem atuais

Brasil de Fato - por Lu Sudré - Há exatamente cem anos, em 15 de janeiro de 1919, a filósofa, economista e militante polaco-alemã Rosa Luxemburgo foi assassinada em Berlim, capital da Alemanha, em retaliação a suas contribuições para a luta revolucionária da esquerda. A tentativa de sufocar as ideias transformadoras da maior pensadora marxista do século 20 foi em vão: o legado dela ecoa ao longo da história e permanece atual. 

Rosa Luxemburgo fundou a Liga Spartakus, organização socialista, anti-imperialista e anti-militarista que atuou na Alemanha durante a Primeira Guerra Mundial – e, posteriormente, deu origem ao Partido Comunista Alemão.

Nascida em 5 de março de 1871 em Zamośc, na Polônia, a filósofa envolveu-se com a militância revolucionária desde a juventude e formou-se politicamente ao lado de outras figuras históricas, como a feminista alemã Clara Zetkin. 

Por ser tratar de uma herdeira da teoria de Marx, a elaboração teórica de Rosa Luxemburgo se concentra na crítica ao modo de produção capitalista e suas contradições.

Isabel Loureiro, especialista no pensamento de Rosa Luxemburgo, explica que a obra da comunista discorre sobre como o capitalismo gera, necessariamente, a desigualdade entre classes, indivíduos e países. A teórica escreve que, a partir de um modelo de produção racista e sexista, o capitalismo perpetua-se, com a finalidade de acumular indefinidamente. Para isso, destrói vínculos sociais e a natureza, e se sustenta com base na exploração dos trabalhadores. 

"A Rosa sempre foi uma grande defensora das liberdades democráticas, fruto das revoluções burguesas no Ocidente. Ela viveu a infância e a adolescência na Polônia dominada pelo império tzarista [monarcas da Rússia] e sabia muito bem como era uma vida sem liberdade de imprensa, de associação, de reunião, sem liberdade religiosa e sem direitos de nenhuma espécie para os trabalhadores e para as mulheres", relata Loureiro. 

Doutora em Filosofia pela Universidade de São Paulo (USP), a pesquisadora é colaboradora da Fundação Rosa Luxemburgo e ressalta a importância do legado da militante polaco-alemã.

"Sua contribuição original à teoria política é que as transformações sociais estruturais só podem ser obra da ação autônoma das massas populares. Ou seja, a instituição de uma sociedade verdadeiramente socialista não pode resultar de golpes de vanguardas políticas que imaginam saber o que é melhor para os trabalhadores e se colocam no lugar deles", analisa. "Rosa sempre foi decididamente contra a ideia de vanguarda substituta das massas. A revolução, para ela, é obra da ação livre dos trabalhadores. Ou não é revolução".

A partir da ação autônoma, as massas aprendem com suas próprias experiências e se formam politicamente na luta. Rosa Luxemburgo chegou a essa análise, sobretudo, acompanhando a organização dos trabalhadores na Revolução Russa, de 1905 e 1907.

Apesar de divergir em alguns aspectos com Vladimir Lênin e Leon Trotsky, líderes da Revolução de 1917, Rosa Luxemburgo era muito admirada pelos dirigentes comunistas. Segundo Loureiro, ela criticava o que considerava “uma incompreensão dos bolcheviques no tocante à democracia. Sua crítica soa como uma advertência contra o posterior totalitarismo stalinista”.

Quanto às obras mais importantes para a esquerda, a estudiosa enumera, em primeiro lugar, o livro “A acumulação do capital”, e outros dois artigos: “Questões de organização da social-democracia russa” e “Greve de massas, partido e sindicatos.” Em seguida está o texto “O que quer a Liga Spartakus?”, programa adotado pelo Partido Comunista Alemão.

Já a obra “A revolução russa”, onde registra suas críticas, é uma recusa à violência, principal bandeira erguida pela dirigente: “Ela rejeitava incisivamente o terror, tanto contrarrevolucionário quanto revolucionário. E acreditava que a revolução socialista, por ser obra das grandes massas populares, não precisava matar os adversários”.  (...)

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