07 junho 2015

Perdemos de novo, professora Maria da Conceição?


Mal ou bem, forças progressistas estão à frente do governo há 12 anos: o 'enrosco', com ela diz, é pilotado pelo campo progressista. E o atinge diretamente.

Por Saul Leblon, na Carta Maior*

A professora Maria da Conceição Tavares tem dois motivos para não querer falar nesse momento.

A gripe alegada, que acentua o grave característico da voz,  é o menor deles.

O quadro difícil da crise brasileira, o mais contundente.

Estamos falando, porém, de uma mulher que não costuma deixar desaforo esperando na soleira da porta. 

-Perdemos, professora Conceição?

Ela hesita um pouco, tergiversa, mas só um pouco.

Em seguida dispara o grave com a inflexão de ordem unida famosa, capaz de acionar todas as atenções ao redor, seja qual for o redor, tenha ele a solenidade que tiver.

‘Perdemos. Isso está à vista, não? --devolve com a força de uma pedrada.

Mas em seguida vem outra, mais na mira: ‘O primeiro tempo, por certo’.

Num átimo recolhe o grave com a  inflexão que vai buscar o distraído até no fundo do auditório e o submete às prontidões incontornáveis:

‘Não digo que perdemos o jogo, que todavia é muito duro’.

Abriu a avenida para uma narrativa de longo curso, mas se contém.

A dificuldade em extrair da decana dos economistas brasileiros uma avaliação mais desabrida do governo de sua amiga Dilma Rousseff, sendo ela a economista a quem todos ligam quando o mundo despenca e é preciso saber para onde ir, é ilustrativa da gravidade do momento brasileiro.

Não qualquer gravidade.

Desta vez, o ‘enrosco’, com ela diz , é pilotado pelo campo progressista. E o atinge diretamente. 

Mal ou bem, forças progressistas estão à frente do governo há 12 anos  -- ainda que não no poder e, sobretudo, na companhia não propriamente opcional de parceiros de uma ambígua ‘governabilidade’, em xeque nesse ‘momento Cunha’ da vida nacional.

Esse protagonismo singular explica a perplexidade do olhar crítico que se enxerga no próprio objeto da crítica e não gosta do que vê.

A história não é um closet no qual se possa trocar o figurino e recomeçar do zero. Neste filme, os protagonistas se defrontam com um enredo de urdidura que pode ser modificada, mas não ignorada.

A correlação de forças é uma delas. Frequentemente evocada para justificar rendições e traições, nem por isso deixa de existir.

É prima política das vantagens comparativas na economia –também e não raro evocadas para justificar a submissão ao poder econômico existente e o entreguismo conveniente.

Nem um, nem outro são fatalidade, mas construções históricas. (...)

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