21 julho 2020

Quem ainda tem medo de impeachment?

Jair Bolsonaro e protesto contra ele (Foto: Isac Nóbrega/PR | REUTERS/Bruno Kelly)

Por Emir Sader*
O que de pior o Brasil tem é o governo do Bolsonaro. Nenhum outro governo, estadual ou municipal, se assemelha a ele. Todos os problemas que o pais vive se chocam com o governo federal, obstáculo à sua resolução.
Ha um consenso cada vez maior que com Bolsonaro o país não conseguirá superar a pandemia, dado que não há políticas do governo contra ela, como o próprio Bolsonaro age e fala contra as medidas de precaução, que poderiam limitar os seus efeitos. Tampouco se acredita que, com Bolsonaro e seu inseparável ministro da economia, Paulo Guedes, o país poderá sair da depressão econômica e da monstruosa precariedade econômica de milhões e milhões de brasileiros.
Menos ainda se pode pensar que a instabilidade política inerente ao governo nas atuais circunstancias, poderia ser superada tendo a Bolsonaro como presidente.
Ha, segundo as pesquisas, 70% de rejeição de Bolsonaro no país. O que isso significa? Que querem que Bolsonaro deixe de ser o presidente do país? Como pensam que isso se poderia dar?
Pela quantidade de crimes de responsabilidade que Bolsonaro continua a cometer, se poderia pensar que a via institucional normal para o fazer seria o impeachment. Mas na oposição, nem todos os setores apoiam o impeachment. Como pretendem encarar então o Fora Bolsonaro? Ou não estão pelo Fora Bolsonaro.
Por que tem medo do impeachment? Quem tem ainda medo do impeachment?
Quem tem medo do impeachment aceita que um presidente tenha sido eleito de forma fraudulenta, governe cometendo todo tipo de crimes de responsabilidade, a cada semana, a cada dia. Sua rejeição de Bolsonaro – entre os 70% que o rejeitam – não chega ao limite de comprometer-se com o impeachment.
O que desejam então? Que Bolsonaro baixe o tom das ameaças, que deixe de pregar um golpe, que deixe de atacar frontalmente o Judiciário e o Congresso, aos meios de comunicação. Que deixe o Paulo Guedes avançar seu modelo ultra neoliberal, que os militares sigam ocupando o governo – inclusive o ministério da saúde -, que o Centrão siga seu jogo de troca das nomeações pelo apoio ao governo.
O que lhes incomoda são os excessos com Bolsonaro. Mas, como diz Brecht, os excessos revelam a essência de um fenômeno. O estilo de Bolsonaro faz própria da sua própria natureza como governante. Ele é um governante antidemocrático por definição. Sua política econômica é desastrosa para o país: nem consegue retomar o crescimento da economia, nem tem condições de gerar empregos.
Quem tem medo do impeachment prefere o país assim, desintegrando-se, descompondo-se, pelo vírus e pela falta de governo, do que uma situação de nova disputa pelo governo. No fundo, tem medo do PT, que segue como a alternativa democrática a esse governo. Preferem refugiar-se nesse governo militarizado do que correr o risco – para eles, direita – de um governo do PT, mesmo moderado. Por isso votaram e/ou trabalharam para a vitória de Bolsonaro, sabendo que ele é.
Nem querem pensar nos males que o Brasil teria deixado de sofrer, se Haddad tivesse sido eleito presidente do Brasil. Não assumem responsabilidades pelos sofrimentos dos brasileiros com o governo Bolsonaro. Nem se dispõem a pagar seus erros, jogando-se com tudo o que possam, para tirar o Bolsonaro da presidência.
O Fora Bolsonaro é o único caminho para tirar o Brasil das suas crises – a de saúde pública, a econômica, a social e a política.
*Emir Sader é um dos principais sociólogos e cientistas políticos brasileiros. -Via Brasil247

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