Ex-presidente do PT defende decisão firme do Judiciário e reformas institucionais para evitar novas tentativas de golpe no futuro
“O Judiciário não tem outra alternativa senão caminhar no sentido de aceitar a denúncia, de condenar e de prender, porque a própria legitimidade do sistema de Justiça vai estar em jogo”, declarou Genoino. Ele ressaltou que a extrema direita sempre adotou uma estratégia de confronto com as instituições e que esse embate se repete em outros países. “Veja o que está acontecendo com a extrema direita nos Estados Unidos e na Argentina. Esse confronto com o sistema de Justiça é um dado da realidade.”
O ex-presidente do PT defendeu que a esquerda não pode se limitar a acompanhar os desdobramentos jurídicos da denúncia contra Bolsonaro, mas deve atuar politicamente para promover mudanças estruturais no país. “Não podemos apenas ficar batendo palma. Temos que fazer um debate político sério e avançar na reforma das instituições que participaram da tentativa de golpe, particularmente as Forças Armadas.”
Genoino destacou que a presença de três generais e um almirante no banco dos réus não pode ser tratada como um fato isolado, mas sim como um indicativo da necessidade de mudanças profundas. “Isso não aconteceu por acaso. Chegamos a esse ponto porque as Forças Armadas foram capturadas por uma ideologia golpista. Nós não podemos repetir o erro da transição da ditadura para a democracia, quando não fizemos reformas institucionais profundas.”
A disputa entre a extrema
direita e a “direita gourmet”
Genoino também avaliou o impacto da denúncia para o futuro político da direita no Brasil e alertou que a velha direita tentará capitalizar a crise para se apresentar como alternativa viável ao bolsonarismo. “Essa denúncia não significa o fim da extrema direita. Eles vão seguir com a tática de provocação, narrativa mentirosa e mobilização. Mas a velha direita já está tentando ocupar esse espaço, e a esquerda não pode se perder nessa disputa.”
Para ele, o erro estratégico seria buscar uma aliança genérica contra Bolsonaro e acabar diluindo a identidade da esquerda. “A esquerda não pode se confundir com a velha direita. Ela precisa se apresentar com suas bandeiras, sua ação política e atrair setores do centro para uma aliança tática, sem abrir mão de suas posições.”
Governo Lula e as reformas
ministeriais
Sobre as mudanças no governo Lula, Genoino alertou que a reforma ministerial não pode ser conduzida de forma hesitante e deve priorizar o fortalecimento da base progressista. “O governo não pode ficar nesse vai e vem com a reforma ministerial. O Lula precisa evitar desgaste e fazer uma mudança que fortaleça o núcleo político de sustentação do governo, e não aprofundar a aliança com o centro.”
Ele também defendeu que o presidente continue adotando uma postura cautelosa em relação à denúncia contra Bolsonaro. “O Lula está corretamente evitando transformar isso numa questão política, porque a extrema direita quer se vitimizar e dizer que está sendo perseguida. Ele tem que continuar afirmando o devido processo legal, o direito de defesa e a presunção da inocência. A politização desse julgamento só favorece a narrativa da extrema direita.”
O risco de anistia e o embate
no Congresso
Questionado sobre a possibilidade de anistia para os golpistas, Genoino disse que essa bandeira continua sendo um objetivo da extrema direita, mas que a esquerda deve enfrentá-la diretamente. “Eles falam em anistia antes mesmo de haver julgamento. Primeiro tem que ter denúncia aceita, depois condenação e prisão. Não podemos subestimar essa estratégia deles, porque eles querem criar um factoide político e dar sobrevida ao movimento golpista.”
Ele ressaltou que a mobilização política será fundamental para impedir que essa pauta avance no Congresso. “A extrema direita fala alto, tem ousadia e busca pautar o debate público. A esquerda tem que assumir uma posição de vanguarda no combate a eles, como a esquerda francesa tem feito, como o governo do México tem feito. Não dá para cair na ilusão de uma aliança ampla que, no fim, fortalece a direita em vez de derrotá-la.”
Reformas estruturais para
evitar novos golpes
Por fim, Genoino reforçou a necessidade de reformas institucionais, especialmente nas Forças Armadas, para evitar que o país volte a enfrentar tentativas golpistas. “Não basta comemorar o fato inédito de termos generais no banco dos réus. Precisamos entender por que chegamos a esse ponto. Como essa mentalidade golpista se formou dentro das Forças Armadas? Por que a Operação Punhal Verde e Amarelo foi planejada? Se não tratarmos dessas questões, o risco de um novo golpe continuará existindo.”
O ex-presidente do PT defendeu a criação de uma nova política de defesa nacional, alinhada a um projeto democrático e popular. “O Brasil precisa discutir uma agenda de mudanças estruturais. O papel das Forças Armadas tem que ser redefinido, assim como o funcionamento do sistema de segurança pública e dos órgãos de controle do Estado. Esse é um debate que precisa ser feito agora, e não apenas quando estivermos diante de outra ameaça à democracia.”
A entrevista de Genoino reforça que a denúncia contra Bolsonaro não é um ponto final, mas sim o início de uma disputa política intensa que exigirá da esquerda uma atuação firme, sem concessões à velha direita e com um projeto claro para o país. -Assista clicando Aqui
*Fonte: Brasil247
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