Entrevistados analisam recuperação de popularidade do governo, relação com Congresso e nova comunicação do Planalto
Lula tem ampliado a aprovação do governo e adotado postura mais firme diante do Congresso, avaliam analistas - Ricardo Stuckert/PR
O ex-presidente do PT José Genoíno e o cientista político Paulo Roberto de Souza avaliaram, em entrevista ao podcast Três por Quatro, do Brasil de Fato, que a melhora da popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) está ligada a uma mudança de postura do governo, mais firme diante do Congresso e mais conectada com pautas populares.
Ambos também projetam que a campanha de 2026 tende a ser “mais à esquerda”, em meio a um cenário de crise global e disputa política intensa no país.
Para o cientista político Paulo Roberto de Souza, o governo vive seu melhor momento desde o início do mandato. Ele destacou que o Planalto acertou ao alinhar ministérios, resultados e discurso, o que ajudou a impulsionar a imagem do presidente. “Sem dúvida, Lula está surfando muito bem, com alguns rearranjos comunicacionais importantes. Isso já vem desde antes da metade do ano. Há uma convergência muito mais explícita entre o governo, seus ministérios e os seus resultados”, afirmou.
Souza lembrou que, em um contexto de crise democrática global, a aprovação de Lula é uma exceção. “Poucas lideranças no mundo democrático têm aprovação razoável há anos. A aprovação do governo Lula pode ser considerada ótima”, avaliou.
José Genoíno avaliou que o contexto internacional de instabilidade econômica e política, com o avanço da extrema direita, tem levado governos progressistas a reforçar posições mais nítidas. “A crise sistêmica que o mundo vive empurra para a esquerda. Governante que quer sobreviver tem que ter posição. O Lula entendeu isso”, disse.
Segundo ele, o presidente conseguiu se recuperar politicamente ao adotar uma postura de enfrentamento, deixando para trás o tom excessivamente conciliador do início do mandato. “Lula percebeu que os caras [a elite dominante e a extrema direita] queriam botá-lo no chão pra ganhar em 2026 e fazer o programa do tudo ou nada. Quando ele percebe isso, ele vai para a briga. Ele tem um instinto de sobrevivência muito forte”, analisou.
Problema da esquerda é projeto estratégico
Apesar da melhora na popularidade, Genoíno defendeu que o campo progressista precisa apresentar um programa mais claro e de longo prazo. “O grande problema nosso, para a esquerda, é ter um projeto estratégico sobre o futuro do país. Não adianta apoio incondicional a Lula. Tem que dizer: ‘Lula, te apoiamos com base nessa plataforma’”, explicou.
O ex-presidente do PT também afirmou que o sucesso do governo depende de medidas estruturais, como a reforma tributária e a reconstrução da política de segurança pública. “São gargalos que têm que estar presentes no programa que vamos disputar em 2026”, indicou.
Na avaliação dos convidados, o cenário eleitoral de 2026 deve ser marcado por uma agenda mais ideológica. “Lula queria fazer um mandato pragmático, mas a conjuntura o empurrou para uma agenda mais à esquerda. A campanha de 2026 vai ser mais à esquerda, pode guardar essa frase”, afirmou Souza.
Agenda internacional e comunicação popular
Na política externa, Genoino avaliou que a atuação do governo vem reforçando o papel do Brasil no cenário global. “Com exceção da Venezuela, Lula acertou na agenda internacional. O fortalecimento do Brics, a postura sobre a Palestina e a Ucrânia, tudo isso se comprova agora”, apontou.
O ex-deputado lembrou que o alinhamento entre a soberania e a integração regional é essencial para a projeção do país. “Se você não faz a integração latino-americana, como vai influenciar no mundo?”, questionou.
Souza também destacou que a virada comunicacional foi decisiva para a melhora da imagem do governo, citando o trabalho do secretário de Comunicação Social da Presidência, Sidônio Palmeira. “Sidônio entendeu a lógica das redes. A comunicação do governo entrou na linguagem do TikTok, dos memes, e está explicando de forma didática. É um esforço claro para falar com o povo”, observou.
Segundo o cientista político, a comunicação mais simples e direta ajudou a reduzir a distância entre o governo e a população, “traduzindo políticas complexas em mensagens compreensíveis para o público”.
Para ouvir e assistir
O videocast Três Por Quatro vai ao ar toda quinta-feira, às 11h ao vivo no YouTube e nas principais plataformas de podcasts, como o Spotify.
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