22 janeiro 2017

‘Não se faz oposição a um governo golpista, se combate’, defende Eugênio Aragão


Por Marco Weissheimer, no Sul21*
O procurador federal Eugênio Aragão criticou, na tarde de sexta-feira (20), a naturalização do golpe contra a presidenta Dilma Rousseff e a aceitação do governo Michel Temer como algo legítimo. “Nós podemos ser oposição a um governo eleito legitimamente, mas não podemos ser oposição a um governo golpista. Não se faz oposição a um governo golpista, se combate. Eles não são nossos adversários, são inimigos”, disse o ex-ministro da Justiça durante o painel “Defesa da democracia e o futuro da esquerda”, realizado no Parque da Redenção dentro da programação do Fórum Social das Resistências. Aragão criticou também, no atual contexto político, as propostas de eleições diretas já e de convocação de uma Assembleia Nacional Constituinte.
“Neste momento, pautas como Diretas Já e Constituinte são agendas que mais nos dispersam que nos unem. A agenda fundamental é o golpe que não passou de um arrastão de trombadinhas. O tema central é o desfazimento do golpe e a restituição da presidenta Dilma. Não podemos abandonar essa agenda sob pena de sermos acusados de hipócritas. Não dissemos que esse golpe foi misógino, machista e antidemocrático? Tudo isso passou? Negar o nosso discurso e trocá-lo por uma variação é algo que nos enfraquece. Uma nova eleição direta agora significaria aprofundar o golpe, tornando a reconquista da legitimidade mais distante. Se tivéssemos uma nova Constituinte agora, a direita transformaria o Brasil num Estado teocrático”, afirmou.

“Os juristas brasileiros são os maiores golpistas”
Eugênio Aragão definiu o atual momento vivido no País como a mais grave crise do republicanismo brasileiro. “Voltamos a um estágio atrasado marcado pela desestruturação das nossas instituições e pela destruição de políticas públicas. A superação desse momento vai depender da nossa capacidade de gerar coesão. Para isso, precisamos modular o nosso discurso, definir uma estratégia comum e superar dois vícios históricos da esquerda: o esquerdismo e o burocratismo”, defendeu. Para o procurador, o discurso do “Volta Dilma” não precisa ser contrastado com a inviabilidade disso acontecer. “O que é mais importante agora é a manter a coerência e a unidade. Esse discurso nos unifica. Precisamos promover um grande debate nacional, formando comitês locais, organizando seminários, fazendo conversas como esta que estamos fazendo aqui hoje”. 
O ex-ministro não poupou críticas ao Judiciário, assinalando que, desde o período do Império, os juristas brasileiros são os maiores golpistas. “Quando a República foi proclamada, em 1989, o superior tribunal de justiça da época manteve todos os seus juízes. Não houve nenhuma mudança na passagem da monarquia para a república. O golpe deles é permanente e muda de face a cada instante para nos confundir”. Para Aragão, a extrema debilidade do Estado brasileiro facilitou o golpe. “Quando saímos da ditadura, não fizemos nenhuma transição democrática de verdade. Quando o STF disse que a Lei da Anistia não permitia o julgamento dos crimes de tortura, desaparecimentos forçados e execuções, a anti-anistia se institucionalizou. Recusamos justiça a atrocidades do passado. Isso foi apenas o começo. Não quisemos discutir os temas da unificação e da desmilitarização das polícias. Fomos por demais lenientes e deu nisso: uma geléia geral em que a esquerda se amalgamou com aqueles que querem destruí-la”.
“O futuro da esquerda passa pela democracia”
Organizado pela Central Única dos Trabalhadores e pela Fundação Friedrich Ebert, o debate também contou com a presença do ex-senador chileno e presidente da Fundação Chile 21, Carlos Ominami, da deputada federal Maria do Rosário (PT-RS) e do presidente da CUT-RS, Claudir Nespolo. Ex-ministro da Economia do Chile, Carlos Ominami fez uma análise dos problemas enfrentados pela esquerda latino-americana e apontou aquele que é, na sua opinião, o principal eixo programático para a superação do quadro atual. “O futuro da esquerda passa pela democracia e o futuro da democracia passa pelo seu aprofundamento”. Para Ominami, os golpes que aconteceram em Honduras, no Paraguai e no Brasil se deram não só pela ofensiva da direita, mas também pelos erros cometidos pela esquerda. “Nós temos democracias de baixa intensidade que são muito frágeis. Fizemos mal algumas coisas. Não devemos considerar a democracia como um meio para chegar a outra coisa, mas sim como um fim”, defendeu.
O ex-senador, que participa atualmente de uma articulação para formar uma nova frente da esquerda chilena, chamou a atenção ainda para a necessidade de defender a democracia de seus novos inimigos. Entre eles, destacou o ceticismo com a política e a democracia, o populismo de direita (expresso exemplarmente, segundo ele, na vitória de Donald Trump nos Estados Unidos) e o populismo judicial. “É algo ruim e muito danoso quando juízes começam a legislar e governar ou quando querem fazer justiça com a imprensa. No caso do Brasil, o que está se buscando não é fazer justiça, mas sim impedir que Lula volte a disputar o governo com as armas da democracia”.
“Não há democracia de direita”
A deputada Maria do Rosário também defendeu a necessidade de a esquerda priorizar programaticamente a agenda da radicalização da democracia. “A direita despreza a democracia. Produzir uma democracia renovada é, portanto, uma tarefa da esquerda. Não há democracia de direita, pois esta não respeita sequer os valores e princípios clássicos dos liberalismo. Ela trabalha com uma produção contínua de crises que inviabilizam a continuidade da democracia. Nós não estamos vivendo uma crise da democracia hoje no Brasil, pois a democracia faliu no dia do impeachment da presidenta Dilma. O golpista Temer não tem nenhuma legitimidade para indicar o novo ministro do STF, após a morte de Teori Zavascki. Do mesmo modo, o Senado, cheio de investigados na Lava Jato, não tem nenhuma isenção para sabatinar o novo ministro”, afirmou.
Rosário sustentou ainda que a esquerda deve retomar o debate sobre o direito à representação e a qualidade dessa representação. Além disso, acrescentou, precisa enfrentar o tema do capital. “Não há possibilidade de democracia com o atual grau de exploração. Para ser democrática, a esquerda precisa ser anti-capitalista, humanista e feminista. Precisa assumir integralmente a agenda dos direitos humanos, que nem sempre foram um tema central para a esquerda”.
Claudir Nespolo, por sua vez, definiu a conjuntura atual como um período de resistência, de acumulação de forças para uma nova fase. “Estamos assistindo a uma revisão da Constituição de 1988, que está sendo feita sem voto, sem participação popular e sem um processo constituinte. O centro dessa revisão é o ataque à Previdência e às leis trabalhistas”. O presidente da CUT-RS anunciou que, para enfrentar essa ofensiva da direita, estão sendo construídos, em todo o país, comitês em defesa dos direitos para preparar a população para uma grande greve geral em 2017.
*Via http://www.sul21.com.br/

21 janeiro 2017

A Globo já decidiu pelo fim da Lava Jato



Por Renato Rovai*
O funeral midiático de Teori Zavaski tem servido não só para render homenagens em alguns casos sinceras ao ex-ministro, mas fundamentalmente para dar sinais claros que a pizza do que resta da Lava Jato será servida sobre o corpo ainda quente do antigo relator do caso.
Não interessa mais a ninguém, em especial a Globo, que a operação continue arrastando para a cadeia a elite nacional e ao mesmo tempo acabe com o PSDB.
Mesmo que isso custe não prender Lula, que começa a se tornar a hipótese mais plausível, mas apenas deixá-lo inelegível.
As delações da Odebrechet, Camargo Correia e quetais esquentaram demais o jogo e avançaram para o terreno da imprevisibilidade total.
Há esquemas tucanos aos montes nessas delações e por um bom tempo havia uma clara orientação de Marcelo Odebrechet de também tratar do esquema de propinas da mídia. No MP, havia rejeição a inclusão deste capítulo.
O esquema de propinas com as vestais da mídia funcionava assim. A empreiteira fazia uma grande obra. A titulo de exemplo, o Rodoanel. E o governador ficava com um caixa para operar. O dinheiro não precisava ser depositado na conta de um laranja, de um cunhado ou seja lá quem fosse. De repente um assessor de confiança deste político ou o próprio ligava para o responsável pelo caixa e dizia: faz um negócio lá com o jornalão dos fulano. (...)
CLIQUE AQUI para ler, na íntegra, o artigo do jornalista Renato Rovai (via Revista Fórum)

20 janeiro 2017

Lula: "É hora de fazer com que o povo volte a ter esperança no PT"




Em discurso no 6º Congresso Nacional do PT, presidente de honra do partido conclama os filiados a defender por todo o país o modelo de desenvolvimento em que a legenda acredita

CLIQUE AQUI para ler na íntegra.

O mistério que Teori deixou para sempre sem resposta

Por que esperou Cunha terminar o trabalho sujo?
Por que esperou Cunha terminar o trabalho sujo?

Por Paulo Nogueira*
De Teori Zavasvki, indicado por Dilma em 2012, esperava-se que reforçasse as ideias progressistas no STF.
Isso acabou não acontecendo. Teori se tornaria sob esta ótica uma decepção, mais uma das más escolhas de Dilma (e Lula) para o Supremo.
Compare. Nos Estados Unidos, o presidente Roosevelt só conseguiu colocar em prática seu New Deal quando, com as trocas que pôde fazer, dotou a Suprema Corte de juízes afinados com seu ideário igualitário, na década de 1930.
Esta grande lição de Roosevelt — montar um Supremo alinhado com a presidência — foi ignorada por Lula e por Dilma, com as conhecidas consequências.
Teori, se tinha algo de progressista em sua índole, escondeu muito bem. Alguns o classificavam como discreto e reservado. Na verdade, ele sempre pareceu mais acuado e intimidado do que qualquer outra coisa.
Mais que tudo, ele deixa sem resposta a explicação para sua decisão mais importante no STF.
Por que demorou tanto para afastar Eduardo Cunha do comando da Câmara?
Ele era responsável pelo caso Cunha, e já tinha em mãos fazia meses os documentos que levariam o presidente da Câmara à cadeia.
Mas Teori se movimentou apenas depois que o impeachment já se consumara.
Por que tamanha espera?
Eis a pergunta de importância histórica gigantesca que Teori deixou, para sempre, sem resposta.
*Jornalista, Editor do DCM - fonte desta postagem

19 janeiro 2017

Morte de Teori Zavascki: Marco Aurélio pede que relatoria da Lava Jato seja redistribuída já; filho de Teori escreveu sobre ameaça; Machado e Jucá falaram sobre ministro em diálogo

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Ministro do Supremo Tribunal Federal viajava de São Paulo para o litoral sul do Rio de Janeiro; magistrado tinha três filhos e estava na Suprema Corte desde 2012.

Da Redação*
Em entrevista à Band News FM, o ministro do Supremo Tribunal Federal Marco Aurélio Mello lamentou a morte do colega Teori Zavascki e defendeu que haja redistribuição imediata da relatoria da Operação Lava Jato.
Frisando que frequentemente é minoritário na Corte, Mello afirmou que o regimento do STF prevê a redistribuição em casos urgentes.
O ministro disse que o andamento do processo não pode esperar pela indicação de um novo colega pelo presidente — golpista — Michel Temer, que teria depois de passar pela confirmação do Senado.
A interpretação literal das regras do STF prevê que Teori seria substituído pelo nomeado por Temer. Ele, vários de seus ministros e integrantes da base parlamentar do governo golpista estão sob suspeita na Lava Jato.
O ministro que morreu hoje foi indicado pela presidenta Dilma Rousseff, em 2012.
No caso de uma redistribuição imediata, há a possibilidade de que o caso fique com o ministro revisor da turma, o decano do STF, Celso de Mello.
Mello foi indicado em 1989 pelo então presidente José Sarney.
O ministro Teori tomou algumas decisões polêmicas no STF, dentre as quais o afastamento do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha.
Ele também anulou a interceptação telefônica entre a então presidenta Dilma e o ex-presidente Lula feita ilegalmente e divulgada pelo juiz de primeira instância Sergio Moro. A divulgação deu gás ao impeachment da petista. (...)
CLIQUE AQUI para continuar lendo (via *Viomundo).

Lançamento do 6º Congresso Nacional do PT



Evento será nesta quinta-feira (19) e contará com algumas das principais lideranças de esquerda do País. O lançamento do 6º Congresso Nacional do PT será transmitido ao vivo pelo site e Facebook do partido. 

17 janeiro 2017

Debate: "O PT não pode mais vacilar frente a ofensiva de um Judiciário apodrecido"


João Vaccari, ex-tesoureiro do PT Nacional, sendo preso pela PF

"6º Congresso do PT: Falso combate à corrupção encobre interesses escusos"

Por Misa Boito*
No dia do natal, os petistas ganharam o que se pode chamar de um presente de grego. Em entrevista ao O Estado de S. Paulo, o presidente do PT, Rui Falcão, perguntado se o PT vai punir casos de corrupção, aventou a hipótese de o 6º Congresso criar mecanismos para julgar os petistas presos pela Lava Jato.
Apesar de reconhecer “o processo de parcialidade na Justiça brasileira hoje”, Rui Falcão aceita abrir processo interno para petistas aos quais Moro apontou o dedo e colocou na cadeia?
A principal “parcialidade” da Justiça é o fato que o pretenso combate à corrupção é instrumento de uma perseguição feroz contra o PT, para facilitar o caminho à destruição da soberania da nação, a serviço do imperialismo dos EUA. Proliferam evidências das relações entre Moro e o Departamento de Estado norte-americano, além de evidentes serviços que a Lava Jato está prestando para os interesses de grandes multinacionais petrolíferas e da construção civil.
Rui Falcão reproduz o mesmo equívoco do texto de Valter Pomar, “O PT na luta contra a corrupção (contribuição ao Congresso do partido) ”disponível no site do partido. O texto, depois de afirmar coisas corretas, como denunciar a hipocrisia no combate à corrupção pela burguesia, e mesmo de propor questionar “a legalidade e a legitimidade dos processos desenvolvidos pela Lava Jato e outros semelhantes”, é forçoso dizer, entra no jogo jogado pelo hipócrita combate à corrupção.
Quem acusa?
Pomar afirma que “cabe também avaliar segundo nosso próprio juízo os filiados que estejam sendo acusados de malfeitos”, e propõe “eleger no sexto congresso uma ‘Comissão Especial de Investigação’”.
Acusados por quem? O que menos falta, nesta operação hipócrita de combate à corrupção, são petistas acusados de malfeitos. A começar por Lula, contra o qual Moro, Dallagnol & Cia abriram uma metralhadora giratória. Independente da intenção do proponente, tal proposta joga água no moinho das operações fraudulentas. Moro aponta o dedo e o PT investiga?!
O PT não pode, no 6º Congresso, repetir os erros dos dois últimos. No 4º Congresso (fevereiro de 2014) ao recusar uma campanha pela libertação dos companheiros (José Dirceu, Genoíno, Delúbio naquele momento já presos, e João Paulo, preso alguns dias depois), condenados injustamente na Ação Penal 470. No 5º Congresso (junho de 2015), ao não tirar nenhuma campanha prática pela libertação do companheiro Vaccari, o primeiro petista acusado de malfeito pela operação Lava Jato e preso, dois meses antes do Congresso, em abril de 2015.
Mais grave ainda seria o 6º Congresso dar esse perigoso passo em falso e criar uma comissão para investigar os petistas acusados por Moro e toda turma de togados. Isso só facilitaria o trabalho para os que querem aumentar a safra de petistas acusados de malfeitos. Evidentemente, o movimento operário não deve coabitar com os que queiram viver do movimento e não para o movimento. Mas, absolutamente não é disso que se trata aqui.
Primeiro porque individualizar o problema, procurando culpados, ofusca a verdadeira discussão que o PT está chamado a fazer para livrar-se da política de conciliação (adaptação às instituições, política de alianças eixada na aliança nacional com o PMDB).
Segundo porque o partido não pode vacilar na denúncia das operações fraudulentas desse Judiciário. Ao contrário, o partido está chamado a defender a libertação dos petistas, condição para que o PT possa ter uma posição independente. A libertação dos presos em operações fraudulentas é parte do combate em defesa do PT. E também contra estas instituições que condenam o país ao atraso.

*Misa Boito integra as direções do PT/SP, da corrente O Trabalho do PT e do DAP - Diálogo e Ação Petista  - Fonte: http://otrabalho.org.br/

Coluna Crítica & Autocrítica - nº 115


Deputados Marco Maia e Valdeci Oliveira (PT/RS) intensificam agendas e colaboram na discussão sobre os rumos do Partido dos Trabalhadores




Crítica & Autocrítica - nº 115

*Conversei hoje longamente com o companheiro e amigoDeputado Federal Marco Maia, do PT/RS (canoense, metalúrgico, cutista, também ex-presidente da Câmara dos Deputados). Dentre os assuntos, o agravamento da situação conjuntural vivenciada pelo país através das ações (ou falta delas) adotadas pelo impostor/golpista Michel Temer e sua troupe, especialmente no que tange aos ataques aos direitos dos trabalhadores, a questão da Previdência Social, desemprego crescente, recessão etc. 

*Marco Maia (foto) informou-me também que está viajando hoje para Brasília/DF. Na quarta-feira o deputado irá a São Paulo para participar da reunião do Diretório Nacional do PT, devendo permanecer na capital paulista até o dia 20 (sexta), participando ainda de uma série de reuniões e debates (do Movimento Muda PT e Mensagem ao Partido) relacionados ao 6º Congresso. Em breve também será divulgada a data da agenda que o destacado parlamentar petista estará realizando em Santiago.

*O ano de 2016 não vai deixar saudades, mas o de 2017, segundo avaliamos, poderá ser diferente, desde que ocorra efetivamente uma reação forte da sociedade - especialmente dos trabalhadores e da juventude - que propicie um recuou e mesmo a derrota da política de lesa pátria e de ataques ao povo trabalhador protagonizadas pelo (des)governo capitaneado pelo traíra Temer e seus aliados de direita. (A propósito desse tema, assim como em relação ao 6º Congresso do Partido dos Trabalhadores,  desafios e perspectivas, que está iniciando sua fase municipal,  o deputado petista estará concedendoentrevista exclusiva a este blogueiro nos próximos dias). 

*O Deputado Marco Maia reafirmou-me também o interesse em retomar um forte trabalho político em nossa Região, especialmente no município de Santiago (cidade-polo Regional). A propósito disso, fruto de uma rica discussão política que iniciamos ainda no final do ano passado, em Canoas, uma parceria política entre o seu Gabinete e este Editor começou a ser gestada. (...)

CLIQUE AQUI para continuar lendo (via 'O Boqueirão Online').

16 janeiro 2017

Presidenta Dilma: "A democracia tem sido corroída pelo Estado de Exceção"


Será?

'Só eleições diretas vão garantir a retomada do crescimento e da geração de empregos e o reencontro com a democracia no Brasil' (Presidenta Dilma)

O Brasil caminha para um futuro incerto, a depender do governo ilegítimo, que tem mostrado sua verdadeira face, frustrando as esperanças da sociedade. A solução passa por eleições diretas para presidente, substituindo o governo ilegítimo. Essa é a condição imprescindível para o País sair da crise e retomar o rumo da democracia, do crescimento e da geração de empregos. 
Passaram-se apenas seis meses desde que o golpe parlamentar interrompeu o meu mandato, consagrado por 54,5 milhões de votos. Tramaram um golpe que contou com o apoio de oposicionistas, traidores e parte da mídia e lançou o País em um período de incertezas e retrocessos.
Violentaram a Constituição de 1988, por meio de um golpe parlamentar que fragilizou as instituições e precipitou o Brasil no abismo da crise institucional.
Tudo é possível quando um mandato presidencial é desrespeitado. O impeachment sem crime de responsabilidade escancara as portas para o avanço da crise política e institucional.
Daí os conflitos institucionais que se aprofundam e o choque entre Legislativo e Judiciário. As relações de harmonia e equilíbrio entre os Poderes, exigidas pela Constituição, estão comprometidas.
Em apenas 90 dias, muito do que alertei ao longo do processo de impeachment tornou-se real. As contradições se acentuaram e conturbaram o cenário político, econômico e social. As ações para estancar a “sangria” da Operação Lava Jato têm se mostrado ineficazes. Movimentos sociais, estudantes, professores e cidadãos sofrem com a repressão às suas manifestações.
Assistimos, estarrecidos, ocupações de escolas e universidades por jovens em defesa de seu futuro serem coibidas com violência, enquanto manifestantes que invadem o Congresso, pregando a volta da ditadura, são tratados com complacência. Os sinais de deterioração dos direitos sociais estão evidentes.
Reconheço, ainda assim, que nenhum de meus mais pessimistas prognósticos previa o escândalo gerado pelo episódio do apartamento de luxo em área histórica de Salvador. E que isso merecesse do ocupante da Presidência da República mais atenção do que os problemas reais do nosso povo, como o desemprego crescente ou a paralisação das obras de integração do São Francisco, para citar apenas dois exemplos.
A democracia tem sido corroída pelo Estado de Exceção. A interrupção ilegal do mandato de uma presidenta é o mais destruidor dos elementos desse processo, pois contamina as demais instituições.
Daí a distorção dos fatos por setores da mídia oligopolista, ou a decisão do Tribunal Federal da 4ª Região que autorizou medidas excepcionais, como a suspensão da lei e da Constituição em nome do caráter excepcional da Lava Jato.
Outro sinal é a perseguição implacável ao presidente Lula, submetido à “justiça do inimigo”, na qual a regra é destroçar a vítima. (...)
CLIQUE AQUI para continuar lendo o artigo assinado pela Presidenta Dilma na Revista Carta Capital.

14 janeiro 2017

Advogados do Presidente Lula: Nota sobre entrevista de delegado da Polícia Federal à revista Veja


Mauricio Moscardi Grillo evidencia o caráter político dos processos movidos contra Luiz Inácio Lula da Silva

Os advogados que representam o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva emitiram nota neste sábado (14) a respeito de entrevista concedida pelo delegado da Polícia Federal Mauricio Moscardi Grillo à revista Veja.
Nela, o servidor deixa claro que é movido por razões políticas - e não pelo estrito cumprimento do dever legal - nas ações investigativas e processuais que promove contra Lula. Grillo admite, com todas as letras, que trabaha com "timing", ou sentido de oportunidade, para decidir os atos processuais que executa contra o ex-presidente, o que contraria a legislação em vigor no país e os principais mais básicos do Estado de Direito.
Leia, abaixo, a íntegra da nota dos defensores de Luiz Inácio Lula da Silva a respeito do assunto. 

"Sobre a entrevista concedida pelo Delegado Federal Mauricio Moscardi Grillo, coordenador da Lava Jato na Polícia Federal, à revista Veja (“Da prisão do Lula”, 14/01/2017), fazemos os seguintes registros, na condição de advogados do ex-Presidente Luiz Inacio Lula da Silva:

1- A divulgação pela imprensa de fatos ocorridos na repartição configura transgressão disciplinar segundo a lei que disciplina o regime jurídico dos policiais da União (Lei no. 4.878/65, art. 43, II) e, afora isso, a forma como o Delegado Federal Mauricio Moscardi Grillo se dirige ao ex-Presidente Lula é incompatível com o Código de Ética aprovado pela Polícia Federal (Resolução no. 004-SCP/DPF, de 26/03/2015, art. 6o, II) e com a proteção à honra, à imagem e à reputação dos cidadãos em geral assegurada pela Constituição Federal e pela legislação infra-constitucional e, por isso, será objeto das providências jurídicas adequadas.
2- Por outro lado, a entrevista é luminosa ao reconhecer que a Lava Jato trabalha com “timing” ou sentido de oportunidade em relação a Lula, evidenciando a natureza  eminentemente política da operação no que diz respeito ao ex-Presidente.
É o “lawfare”, como uso da lei e dos procedimentos jurídicos para fins de perseguição política, exposto reiteradamente pela defesa de Lula, agora afirmado, de modo indireto, pelo próprio coordenador da Lava Jato na Policia Federal.
3 – Se Lula tivesse praticado um crime, a Polícia Federal, depois de submetê-lo a uma devassa sem precedentes, teria provas concretas e robustas para demonstrar o ilícito e para sustentar as consequências jurídicas decorrentes.
Os mesmos áudios e elementos que a Lava Jato dispunha em março de 2016 estão disponíveis na data de hoje e não revelam nenhum crime. Mas a Lava Jato, segundo o próprio Delegado Federal Mauricio Moscardi Grillo trabalha com “timing” ou sentido de oportunidade em relação a Lula.
4- A interceptação da conversa entre os ex-Presidentes Lula e Dilma no dia 16/03/2016 pela Operação Lava Jato foi julgada inconstitucional e ilegal pelo Supremo Tribunal Federal. O Delegado Federal Mauricio Moscardi Grillo e a Lava Jato afrontam a Suprema Corte e revelam desprezo pelo Estado Democrático de Direito ao fazer afirmações sobre esse material sem esse registro. Ademais, é preciso, isto sim, que o Delegado Federal coordenador da Lava Jato esclareça o motivo da realização da gravação dessa conversa telefônica após haver determinação judicial para a paralização das interceptações e, ainda, a tecnologia utilizada que permitiu a divulgação do conteúdo desse material menos de duas horas após a captação, tendo em vista notícias de colaboração informal – e, portanto, ilegal - de agentes de outros países no Brasil.  A divulgação dessa conversa telefônica em menos de duas horas após a sua captação, além de afrontar a lei (Lei n. 9.296/96, art. 8o. c.c. art. 10), está fora dos padrões técnicos brasileiros verificados em situações similares.
5-  A condução coercitiva de Lula para prestar depoimento no Aeroporto de Congonhas foi ato de abuso de autoridade (Lei no. 4.898/65, art. 3o., “a”) porque promoveu um atentado contra a liberdade de locomoção do ex-Presidente de sua liberdade fora das hipóteses autorizadas em lei. Por isso mesmo, fizemos uma representação à Procuradoria Geral da República para as providencias cabíveis e, diante da inercia, documentada em ata notarial, promovemos queixa-crime subsidiária, que está em trâmite perante o Tribunal Regional Federal da 4a. Região. O tema também é objeto do Comunicado que fizemos em julho ao Comitê de Direitos Humanos da ONU. Portanto, o Delegado Federal Mauricio Moscardi Grillo deveria repensar não só o local da condução coercitiva de Lula, mas, sobretudo, a inconstitucionalidade e a ilegalidade do ato. Merece registro, adicionalmente, que o local do Aeroporto de Congonhas para onde Lula foi levado tem paredes de vidro e segurança precária, tendo colocado em risco a integridade física do ex-Presidente, de seus colaboradores, advogados e até mesmo dos agentes públicos que participaram do ato, sendo injustificável sob qualquer perspectiva.
6-  Ao classificar as ações e providencias da defesa de Lula como atos para “tumultuar a Lava Jato” o Delegado Federal Mauricio Moscardi Grillo e a Lava Jato mostram, de um lado, desprezo pelo direito de defesa e, de outro lado, colocam-se acima da lei, como se estivessem insusceptíveis de responder pelos abusos e ilegalidades que estão sendo praticadas no curso da operação em relação ao ex-Presidente. Deve ser objeto de apuração, ademais, se pessoas que praticaram atos estranhos às suas funções públicas ou com abuso de autoridade estão sendo assistidas por “advogados da União” – pagos pela sociedade - como revela o Mauricio Moscardi Grillo em sua entrevista.
Cristiano Zanin Martins e Roberto Teixeira"

Imperatriz acerta em cheio umbigo do agronegócio

Enredo “Xingu, o clamor que vem da Floresta”, da Escola de Samba Imperatriz Leopoldinense, fala sobre luta pela terra / Divulgação
Enredo é tudo que o agronegócio não quer ouvir
Por Alan Tygel*
Há alguns meses, publicamos neste espaço um artigo sobre a tentativa desesperada do agronegócio em salvar sua imagem perante a sociedade com a novela O Velho Chico. Na ocasião, afirmamos que o investimento na novela tentava construir a imagem de um agro-pop-tudo em oposição ao velho coronelismo. A motivação para esse esforço veio de uma percepção do próprio agronegócio de que a sociedade o associa ao desmatamento, aos agrotóxicos e ao trabalho escravo.
Em 2012, o mesmo agronegócio, representado pela Basf, comprou o samba da Vila Isabel. O (lindo, por sinal!) enredo, que tinha Martinho da Vila como um dos autores, não era sobre os agrotóxicos e transgênicos produzidos pela empresa, mas sim sobre a vida camponesa cumprindo sua missão de alimentar o povo. Por trás, havia a tentativa subliminar de associar esta linda imagem ao agronegócio.
Neste ano, é da mesma Sapucaí que vem um belo golpe na imagem do agronegócio. Depois de um ano marcado, entre outros, por ruralistas formando milícias para atacar indígenas, a Imperatriz Leopoldinense acerta com beleza e elegância o ego daqueles que se acham donos do país.
O enredo, chamado “Xingu, o clamor que vem da Floresta”, fala basicamente sobre luta pela terra. E tudo que o agronegócio não quer ouvir.
Um dos trecho diz que “O belo monstro rouba as terras dos seus filhos / Devora as matas e seca os rios / Tanta riqueza que a cobiça destruiu”, e emoldura alas como os "Olhos da cobiça", "Chegada dos invasores" e "Fazendeiros e seus agrotóxicos".
                                                    
Acostumados a olhar apenas para o próprio umbigo, sem enxergar um palmo além da sua soja transgênica, ruralistas irados lançam notas e escrevem matérias a torto e a direito. Por mais que se procure, sempre batem nos mesmo dois argumentos falaciosos: (1) o agronegócio alimenta o Brasil; (2) o agronegócio sustenta o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro.
O primeiro argumento é o mais débil de todos; sabemos que a grande massa de produção agrícola se concentra nas commodities de exportação (soja, milho para ração, cana-de-açúcar), e o Censo Agropecuário de 2006 mostrou que 70% dos alimentos que chegam à nossa mesa vêm da agricultura familiar, mesmo tendo ela direito à apenas 24% das terras. Portanto, esse argumento é claramente falacioso.
Em relação ao PIB, a análise é um pouco mais profunda, mas o argumento não é menos falacioso. Em primeiro lugar, precisamos entender que o PIB representa o conjunto de riquezas produzidas pelo país. Não fala sobre distribuição de renda, nem geração de empregos. Não se importa no bolso de quem essa riqueza vai parar. Pois bem: em 2015, a produção de soja rendeu ao Brasil R$90 bilhões. Ótimo? Nem tanto. Como vimos recentemente, a enorme dependência de insumos externos do agronegócio faz com que grande parte deste valor fique nas mãos das empresas transnacionais. Custos com sementes, agrotóxicos, fertilizantes e máquinas podem chegar a 90% do preço final, num mercado completamente oligopolizado por gigantes transnacionais como Bayer, Monsanto, Cargill, Basf, Syngenta, Bunge, Dreyfus, ADM… Nem no Brasil o dinheiro fica.
Não custa lembrar que o subsídio do governo no Plano Safra chegou à casa dos R$ 200 bilhões no ano passado, só para o agronegócio. É transferência direta do governo para as transnacionais, e ainda dizem que isso sustenta o PIB. Como nota de rodapé, poderíamos incluir ainda que o agronegócio não gera empregos: são apenas 1,7 pessoas por 100 hectare (ha), enquanto a agricultura familiar emprega 9 vezes mais: 15,3 pessoas por 100 ha. Entre 2004 e 2013, o agronegócio reduziu 4 milhões de empregos, ou 22% do total. No mesmo período, o desemprego no Brasil caiu de 11,7% para 4,3%.
Que chorem os plantadores de soja, criadores de zebu e especuladores da fome: o Carnaval de 2017 já tem vencedor, e somos nós: povos indígenas, quilombolas, camponeses, sem terra, do campo, das florestas e das águas, todas e todos que lutam por seus territórios sadios contra o agronegócio.
Todo nosso respeito à Imperatriz Leopoldinense.
*Alan Tygel, da Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida

13 janeiro 2017

"Hoje é treze sexta-feira prenda minha, é dia de louvação/ Me fugiram os amigos mais antigos, me deste consolação"





* Prenda Minha - Telmo de Lima Freitas

Hoje é treze sexta-feira prenda minha 
é dia de louvação
Me fugiram os amigos mais antigos
me deste consolação

Já passaram muitas luas, prenda minha 
muitas luas já passei
Fiz promessas pro negrinho coitadinho
por isso que te encontrei

Acho cedo muito cedo prenda minha 
pra dizer que escureceu
Foi a noite dos teus olhos prenda minha 
que acordou os olhos meus

Foi teu riso disfarçado prenda minha 
que laçou meu bem-querer
Se eu fugir do sul do mundo num segundo 
Voltarei prá te rever

Abre o poncho desta alma prenda minha 
que eu preciso me abrigar
Se o inverno for intenso como penso
muito frio eu vou passar

Hoje é treze sexta-feira prenda minha 
é dia de louvação.

11 janeiro 2017

Temer, Gilmar e a Schilda, por Eugênio Aragão



Vamos todos fingir que é normal o presidente do Tribunal Superior Eleitoral pegar carona com um sedizente presidente da república (com letras minúsculas mesmo) para ir a Lisboa, supostamente para participar das cerimônias funerais do maior democrata português da contemporaneidade. É normalíssimo, porque o tal presidente do tribunal é quem vai pautar um processo que pode significar o fim do que se usou chamar, na mídia comercial, de “mandato” do sedizente presidente da república. O tal presidente de tribunal é inimigo notório da companheira de chapa do sedizente presidente que urdiu um golpe para derrubá-la. Mas, claro, tem toda isenção do mundo para julgar ambos.“Nada haverá de suspeito”, como diria o insuspeito jornalista Ricardo Noblat. Quem ousaria dizer o contrário?
A carona (ou boleia, como diriam nossos irmãos lusos) veio a calhar. É, antes de mais nada, uma bela viagem 0800, com todos custos cobertos por mim, por você, por nós, obsequiosos bobões. A ideia é só aproximar réu e julgador e – por que não? – usufruir um pouquinho do que a capital portuguesa tem de melhor a oferecer: as tabernas, o fado, as ginjinhas, as pataniscas de bacalhau ou os famosos pastéis de Belém. Nestes tempos bicudos, nada melhor que uma “escapadela” para enfrentá-los com maior disposição. Ninguém é de ferro. As exéquias do democrata lusitano certamente são a menor das preocupações do réu e de seu julgador, pois vê-los prestar suas últimas homenagens ao gigante da política portuguesa parece tão obsceno quanto fosse ver Lula prestá-las a Augusto Pinochet.
Vamos todos fingir que neste país chamado Brasil há um patriótico chefe do ministério público, que faz muito bem em ir a Davos. Lá vai cantar uma ode ao combate à corrupção que se usou chamar de sistêmica ou organizada pelas bandas de cá. Ou, quiçá, até de uma forma de governança. Isso também é normalíssimo, porque em Davos se reúnem bancos e fundos de envergadura global para traçar estratégias sobre novos investimentos e analisar a conjuntura política e econômica no planeta. Claro, faz sentido. Com as proezas ditas de si e de seu poderoso órgão acusador, vai atrair enorme interesse por investimentos nobres em seu país. Finjamos que grandes empresas adoram investir em economias tingidas de corrupção sistêmica, certificada pelo chefe da acusação.
O poderoso órgão de acusação, regiamente sustentado com nossos impostos, como é sabido também, sacrificou no altar da moral purgatória mais de um milhão de empregos e pôs fim a um projeto de desenvolvimento nacional e de uma sociedade inclusiva. Mas, claro, tudo com a melhor das intenções. Fez um nobre serviço à democracia do tal Brasil, permitindo ao réu a caminho de Lisboa instalar-se no poder sob as bênçãos de seu julgador caroneiro, para liquidar, num verdadeiro off-sale, os ativos econômicos do país, as jóias da família. Disso empresários em busca de lucros gostam. Mas esse deve ser o menor problema do chefe do ministério público, pois vê-lo em Davos parece tão obsceno quanto ver George Soros num Encontro Nacional dos Procuradores da República em Comandatuba.
Vamos todos fingir que temos um preocupado ministro da justiça que declara publicamente apoio ao governo do Amazonas para debelar, em seu sistema penitenciário, a guerra assassina entre facções de traficantes. Normalíssimo, oras. O azarado ministro, de boa-fé, não se lembrou ter negado o pedido desesperado de uma governadora, de uso da Força Nacional que, talvez, pudesse ter salvo a vida de trinta e poucos brasileiros em Roraima, massacrados na vindita de uma facção contra outra, que dizimara quase sessenta concidadãos em Manaus.
É aceitável, afinal, que o governador do Amazonas, destinatário do apoio do tal ministro da justiça, tenha sido financiado em sua campanha eleitoral pela empresa copiosamente remunerada para administrar a penitenciária onde trucidaram os quase sessenta brasileiros. Faz todo sentido, por isso, que pontifique: “nenhum dos mortos era santo!”, como se aplaudisse os padrões da administração penitenciária contratada de seu doador. E faz todo sentido que o tal governador se julgue Deus, para condenar os trucidados ao fogo eterno. Não é que ele mesmo poderia estar lá, se fossem levar a sério, no tribunal do julgador caroneiro, o imperativo de cassação de seu mandato por compra de votos? Deixá-lo falar de falta de santidade é tão obsceno quanto imaginar o cramunhão ser canonizado.
A literatura popular alemã contém antiquíssimo anedotário de autoria controvertida sobre uma cidadezinha chamada Schilda. Seus habitantes, os ingênuos Schildbürger, são os protótipos de néscios que fazem, com naturalidade, tudo de forma a nada dar certo. Inventaram um papel higiênico que se pode usar nos dois lados: a prova de sua eficiência está na mão… O Brasil de nossos fingimentos virou uma enorme Schilda.Fazemos os maiores absurdos, mas não perdemos a esperança ingênua de acertar. E não entendemos quem ouse não concordar.
Um julgador pegar carona com um réu a ser por ele julgado; um chefe do ministério público ir a Davos para ajudar a atrair investimentos numa economia que chama de podre, ou um ministro da justiça se esquecer de que negara meios a uma governadora para evitar um massacre, mas que agora, diz, vai dá-lo a um outro governador que faltou bater palmas para o banho de sangue no xilindró sob sua responsabilidade: tudo isso não é muito diferente do uso de papel higiênico nos dois lados. Mas quem fica com as mãos borradas somos nós que fingimos estar tudo bem.
Bem vindos à Schilda brasileira!
*Eugênio Aragão é ex-subprocurador da PGR e ministro da Justiça no mês final do Governo Dilma.
Fonte: Tijolaço

10 janeiro 2017

RS: Carta Aberta pede que Sartori suspenda extinções de fundações e se abra ao diálogo


A Carta foi lida pela radialista Kátia Suman |
Foto: Fernanda Canofre/Sul21

Por Fernanda Canofre, no Sul21*
O espaço do Chalé da Praça XV, um dos pontos mais tradicionais do Centro de Porto Alegre, não foi suficiente para o público mobilizado para o ato de divulgação da Carta Aberta ao Governo do Rio Grande do Sul, assinada por intelectuais, artistas e cientistas gaúchos, no fim da tarde desta segunda-feira (9). O documento foi encaminhado à Casa Civil do governo do Estado horas antes do ato.
Na Carta, o grupo questiona especialmente o argumento de “economia” usado pelo governo desde que propôs as extinções de nove fundações estaduais e duas empresas. O documento diz: “Os motivos orçamentários apresentados são frágeis para justificar uma ação tão radical. Com essas demissões e extinções, economizam-se cerca de R$ 189,2 milhões, segundo dados divulgados pela imprensa, o que representa apenas 0,69% do orçamento do Poder Executivo realizado em 2016, de acordo com dados oficiais do Portal da Transparência RS”.
Segundo Luís Augusto Fischer, escritor e professor da Faculdade de Letras da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), a Carta encaminhada ao Piratini conseguiu reunir 66 assinaturas através de telefonemas e mensagens. Entre os nomes estão Luis Fernando Verissimo, Jorge Furtado, Alfredo Jerusalinsky, Vitor Ramil, Maria Amélia Bulhões, Maria Beatriz Luce e Kátia Suman. O ato desta segunda serviu para expandir o apoio. Listas para outras pessoas que quisessem se juntar ao manifesto circularam durante o evento.
Espaço do Chalé da Praça XV não foi suficiente para acolher público
que participou de ato | Foto: Fernanda Canofre/Sul21
O grupo organizador da Carta também pede a José Ivo Sartori (PMDB) que abra uma janela de diálogo com a sociedade gaúcha. “O que a gente está pedindo é que o governo, tendo obtido autorização da Assembleia para extinguir as fundações, que ele reveja essa posição, suspenda a extinção e aceite conversar conosco. Somos professores, pesquisadores, gente da área da cultura e da ciência, que quer ter o direito de dizer coisas sobre a extinção de órgãos tão importantes”, explica Fischer.
Fischer diz ainda que a ideia do grupo é que esta seja mais uma frente política a questionar medidas do governo do Estado, ao lado de outros movimentos já existentes. “Nós queremos mostrar ao governo que há um ganho que não se mede só em uma contabilidade. A gente está tentando mostrar como essa outra economia tem importância e precisa ser levada em conta”, declarou.
Durante a fala de abertura do ato, o cientista político Benedito Tadeu César lembrou ainda que a Carta vai além da questão de partidos. “Acima de qualquer posição partidária e ideológica, entendemos que um governo deve dialogar com a população”, afirmou.
* Via http://www.sul21.com.br/