21 outubro 2018

Janio de Freitas: ”Uso fraudulento da internet em benefício de Jair Bolsonaro é irreparável e inapagável”



Caso do disparo de mensagens no WhatsApp fere a lisura da eleição presidencial


Judiciário está diante de um problema que põe à prova o discernimento, a coragem e a consciência de um bom número de magistrados


O dano causado à lisura da eleição para presidente, pelo uso fraudulento da internet em benefício de Jair Bolsonaro, é irreparável e inapagável.

Já atingido por desprestígio crescente nos últimos anos, o Judiciário está diante de um problema que põe à prova o discernimento, a coragem e a consciência de um bom número de magistrados. Não só do Tribunal Superior Eleitoral. E ainda da Polícia Federal, que em eleições anteriores comprometeu-se em facciosismos.

São vários crimes associados e simultâneos que se mostram na revelação da repórter Patrícia Campos Mello de que empresas pagaram ao menos R$ 12 milhões por pacotes de disparos em massa de mensagens, no WhatsApp, contra Fernando Haddad (PT).
Já se sabe que uma das empresas de informática capazes desse serviço, por exemplo o Dot Group, pode lançar mensagens para 80 milhões de pessoas.

Gasto de empresas com candidatos é crime eleitoral. Toda ajuda financeira a candidato precisa ser declarada à Justiça Eleitoral, o que não se deu, até por sua origem ilegal.

O uso de endereços eletrônicos deve ser fornecido pelo candidato ou seu partido, sendo ilegal a listagem com outra proveniência, como houve. Formação de quadrilha. Textos com falsidades, prática de fake news também ilegal. Abuso de poder econômico para influir no resultado de eleição.

Embora o inventário possa continuar, já se tem aí o suficiente para deixar entalados os juízes dos tribunais superiores.

Apesar da prolixidade criminal e do seu propósito, feita a revelação, foi no exterior que ocorreu a repercussão devida à gravidade dos fatos.

Mas não há omissão, ou mero e incomodado raspão no assunto, que esvazie esta dupla constatação: “o peso adquirido pela rede na formação da opinião nacional”, como dito em editorial da Folha, é uma obviedade; a destinação do benefício gerados pelas ilegalidades é a outra.

A quanto chegou o impulso não se saberá com exatidão. Mas os saltos do percentual de apoio a Bolsonaro, depois de sua demorada lerdeza nas pesquisas, encontram no golpe dos empresários uma possibilidade de explicação mais convincente do que o tal ódio antipetista.

Esse velho sentimento não contou com fatos repentinos e repetidos que o levassem a espraiar-se nos saltos de tantos milhões de eleitores conquistados, em intervalos de 48 ou 72 horas.

Os juízes que devem se ocupar desse caso —supondo-se que não o despachem também para o futuro incerto— substituíram os candidatos na criação de expectativa.

Alguns deles, como Luiz Fux, já fizeram afirmações claras sobre aspectos legais agora suscitados pelos empresários bolsonaristas.

Mas imaginar algum indício em tais precedentes será esquecer as decisões que levaram à crise de prestígio do Supremo e às críticas ao Superior Eleitoral. Apoiador de Bolsonaro ou de Haddad, espere sem esperança.

Pois é, Bolsonaro falou muito e à toa em fraude. Por algum motivo, fraude não lhe saía da cabeça.

*Fonte: Viomundo

Veja também:


Filho do ‘mito’ diz que 1 cabo e 1 soldado bastam para fechar o STF. Veja



Inacreditável, mesmo nestes dias em que a gente não duvida de mais nada, o vídeo postado pelo Diário do Centro do Mundo no qual o deputado Eduardo Bolsonaro, filho de Jair, diz que, no caso do Supremo Tribunal Federal impugnar a candidatura de seu pai por algum financiamento irregular de campanha, poderiam fechar o STF apenas “com um soldado e um cabo, sem querer desmerecer o soldado e o cabo”.
-Se o STF quiser arguir qualquer coisa, sei lá, “recebeu uma doação ilegal de R$ 100 do José da Silva, impugna a candidatura dele”. Ei não acho isso improvável, não, mas aí vai ter de pagar pra ver. Será que eles vão ter esta força mesmo? O pessoal até brinca lá (lá, onde?): se quiser fechar o STF, sabe o que você faz? Você não manda nem um jipe lá, manda um soldado e um cabo – não é querer desmerecer o soldado e o cabo, não”.
Bolsonaro filho pergunta “o que que é o STF?”. “Tira o poder da caneta de um ministro do STF, o que ele é na rua?”
– Se você prender um ministro do STF, você acha que vai ter uma manifestação popular a favor do ministro do STF?(bate palmas). Milhões na rua, gritando “solta o Gilmar, solta o Gilmar…”? Com todo o respeito que eu tenho ao excelentíssimo ministro Gilmar Mendes, que deve gozar de imensa credibilidade entre os senhores (da platéia).
No trecho final, ele dá mostras do que pretendem (é manchete de hoje do Estadão) ao enfiarem Sérgio Moro no Supremo:
– É igual soltar o Lula. O Moro peitou um desembargador que está acima dele. Por que? Porque o Moro está com  moral pra cacete. Você vai ter de ter um culhão filho da puta pra conseguir reverter uma decisão dele. Quero ver quem vai dar o contrário…
Estarrecedor, mas parece que já escolheram o cabo que vão mandar para cumprir a “missão” de fechar o STF.
(Por Fernando Brito, no Tijolaço)

19 outubro 2018

'Todos Pelo Brasil' - Movimentos realizam manifestação nacional pela democracia neste sábado

"Vamos vencer a violência e o ódio e construir, com Haddad, um Brasil unido", diz a convocação da Frente Brasil Popular


São Paulo – RBA* - Em defesa da democracia e dos direitos da população, manifestações populares estão agendadas para este sábado (20) em todos os estados. A mobilização intitulada "Todos pelo Brasil" é organizada por movimentos sociais. "Vamos vencer a violência e o ódio e construir, com (Fernando) Haddad, um Brasil unido", diz a convocação da Frente Brasil Popular.

De acordo com a organização, as manifestações devem contar com a presença de algumas das principais lideranças políticas brasileiras. O objetivo é expor os retrocessos representados pela candidatura de Jair Bolsonaro (PSL).

A convocação também enaltece o movimento #EleNão, no último dia 29. "As mulheres foram para as ruas no primeiro turno e com uma imensa manifestação do ajudaram a garantir o segundo turno. Agora é preciso que toda a sociedade civil, mais uma vez, se organize para mostrar a nossa indignação e amor pelo Brasil, resistir e virar o jogo nas urnas no dia 28 de outubro", diz o texto.

Em São Paulo, o ato será às 15h, no vão livre do Museu de Arte (Masp), na Avenida Paulista, região central da capital. Já no Rio de Janeiro, a manifestação começa às 13h, na Cinelândia.

Belo Horizonte terá seu ato às 12h, na Praça Sete de Setembro, no centro. A programação em Salvador começará às 14h, com concentração no Largo do Campo Grande. [Em Porto Alegre o Ato será no Parque da Redenção,  a partir das 15h].

Segundo o site da campanha O Brasil Feliz De Novo, cerca de 30 cidades já possuem atos programados em prol do candidato petista, e mais de 1 milhão de pessoas já confirmaram presença. Confira a agenda completa aqui.

Vox Populi: distância cai para 6 pontos



Pesquisa Vox Populi/CUT divulgada na manhã desta sexta-feira aponta: Bolsonaro tem 53% das intenções de voto válidos e Haddad tem 47%; a diferença entre os dois é de apenas 6 pontos percentuais, o que indica que a disputa eleitoral está aberta e o país terá uma reta final emocionante, com uma subida do candidato do PT que tem sido a tônica das últimas eleições.

CLIQUE AQUI para ler na íntegra

Driblando a democracia na eleição




Por Tereza Cruvinel, no JB*

A vantagem de Jair Bolsonaro sobre Fernando Haddad subiu para 18 pontos percentuais (em relação aos 16 apurados na semana passada por Datafolha). Podia ser até maior, nas circunstâncias: Bolsonaro cresce surfando nova e forte onda antipetista , turbinada pelo mar de mentiras, calúnias e baixarias disseminadas contra o adversário pelo aplicativo whastsapp, através de milhares de grupos fechados, muitos criados a partir do exterior. 

O que se diz neste tubo de esgoto só é conhecido por quem lê, não podendo ser desmentido ou combatido. Esta variante digital da guerra suja eleitoral pode fazer da eleição brasileira caso tão rumoroso quanto o da Cambridge Analytics/Facebook na eleição americana. 

A presidente do TSE, ministra Rosa Weber, convocou as campanhas de Jair Bolsonaro (PSL) e Haddad para discutirem o assunto hoje. 

Ela sabe que a eleição virou um faroeste sem lei e que um lado atua no vale-tudo. Faz seu gesto inútil para que fique registrado. 

Os consultores do tribunal teriam recomendado alguma forma de controle do aplicativo mas a maioria dos ministros não parece disposto a comprar uma briga. Acordo não haverá porque Bolsonaro já recusou um protocolo ético proposto por Haddad. Seus representantes dirão que não controlam os grupos, apesar das evidências de que seguem uma estratégia e um comando. 

O jogo sujo pelo whatsapp difere das fake news, notícias falsas postadas em espaços públicos. Ontem mesmo o TSE mandou o Facebook retirar conteúdos ofensivos a Haddad. Mas como entrar nos grupos e determinar que deixem de veicular isso e aquilo? O TSE não tem este poder. 

Eu fiquei algumas horas em um grupo. Um participante pediu meu “adicionamento” mas logo depois, por minha baixa interação ou outro motivo, fui excluída. Mas vi e li horrores. Desde mentiras sobre desvios ocorridos nos governos petistas, que revoltam um eleitor já amargurado com a crise e a corrupção, até obscenidades, como o meme erótico de Lula e Haddad, completamente nus numa montagem. 

Sobre desvios, destaco a série de 32 fotografias de obras de infraestrutura que Lula e Dilma teriam bancado em diversos países, presenteando-os com o dinheiro do BNDES, que deixou de ser aplicado no Brasil em nossas estradas, hospitais e escolas, dizem lá. Cada obra com sua foto, descrição e valor, na casa dos bilhões de dólares. 

Quem não se revoltaria com isso? É tarde para o PT explicar que o BNDES não deu dinheiro para os governos destes países, como ali é sugerido. O banco financiou empresas brasileiras, como a Odebrecht, que faz o porto de Mariel em Cuba, para poderem executar as obras que conseguiram. Isso se chama financiar exportações de serviços. Exporta-se o serviço e a matéria-prima nacional e os brasileiros ganham empregos nestas obras. Não sei se foram 32, como asseguram. 

Há fartura de banner, memes e textos sobre roubalheiras, a riqueza de Lula, o luxo em que vivem os petistas (como a falsa Ferrari de Haddad). E também sobre as acusações de ordem moralista, na linha kit gay e pregação do incesto nas escolas. Diante da pancadaria nos grupos, soam como brincadeiras inocentes as Fake News bolsonaristas no Twitter e no Facebook. 

Segundo a revista Fórum, o ativista Everton Rodrigues, responsável pelo blog “Falando Verdades”, foi desligado do Whatsapp após divulgar, no sábado, 13, uma lista com mais de 50 grupos pró-Bolsonaro administrados por números telefônicos que ficam nos Estados Unidos, principalmente em cidades da Califórnia. Ele apresentou cópia de um registro dos grupos mantido pela central do aplicativo. Alguns destes números, segundo Everton, atuaram como “administradores” na campanha de Donald Trump, cujo estrategista digital, Stevie Bannon, tornou-se consultor de Bolsonaro. Em recente entrevista, Bannon apontou o Brasil como parte de um “movimento” populista de direita global, que contaria com sua atuação. 

Assim, a eleição vai sendo decidida não pelo que Bolsonaro diz, não pelo que ele propõe, no inexistente programa de governo, ou no debate de que se recusa a participar, e sim pelo mar de mentiras que vai arrastando mais eleitores para Bolsonaro, fornecendo os argumentos toscos e infundados, que eles brandem exaltados para justificar a escolha feita. 

*Fonte: Jornal do Brasil  - Grifos deste Blog

HADDAD PEDE AO TSE INELEGIBILIDADE DE BOLSONARO POR CRIME ELEITORAL

Sônia Braga cobra de Rosa Weber e do TSE providências sobre o Bolsolão

18 outubro 2018

Empresas bancam campanha ilegal contra Fernando Haddad pelo WhatsApp



As ações ilegais em plataforma digitais devem atingir seu nível mais crítico na reta final da campanha eleitoral; empresas estão comprando pacotes milionários de disparos em massa de mensagens contra o PT no WhatsApp e preparam uma mega operação na semana anterior ao segundo turno, informa a jornalista Patrícia Campos Mello no jornal Folha de S. Paulo; a prática é proibida, pois se trata de doação de campanha por empresas, vedada pelo TSE. Cada contrato chega a R$ 12 milhões e a Havan está entra as compradoras; os disparos de mensagens chegam a centenas de milhões.

CLIQUE AQUI para ler na íntegra (via 247)

16 outubro 2018

A Economia Política do fascismo

O fascismo mais evidente, explicitado politicamente, tende a vir à tona em conjunturas econômicas difíceis

Créditos da foto: 'Guernica', de Pablo Picasso (Reprodução)


 
Nos anos 1930, década da maior crise econômico-social já ocorrida no capitalismo, o mundo se viu às voltas com o surgimento e crescimento do nazismo na Alemanha e de ideias e movimentos fascistas, que acabaram por assumir o poder em diversos países – principalmente na Europa, mas não exclusivamente.

A sua consequência mais imediata foi a instalação nesses países de regimes ditatoriais (Estados policiais), que destruíram o Estado de direito típico das democracias liberais: fechamento ou controle dos parlamentos, subordinação do judiciário às necessidades do regime de exceção, extinção da liberdade de imprensa e de opinião, suspensão das garantias individuais do cidadão, proibição de reunião e associação sindical e partidária e, no limite, prisões arbitrárias, torturas e assassinatos.

O seu desdobramento mais deletério foi a Segunda Guerra Mundial, que envolveu praticamente todos os países e regiões do planeta, resultando em 50 milhões de mortos, com a chacina e o genocídio assombroso de populações civis, em especial judeus, ciganos e outras minorias étnicas, homossexuais e deficientes físicos e mentais. Ao final do conflito (1945), o nazismo e o fascismo foram derrotados em todas as frentes (apesar de sua sobrevida em Portugal e na Espanha); mas logo a seguir instalou-se a chamada Guerra Fria, entre o capitalismo (com o seu Estado de bem-estar social nos países centrais, mas não na periferia) e o socialismo soviético – disputa encerrada pelo desmoronamento interno deste último, no início dos anos 1990.

A partir daí, entrou-se em um período de hegemonia absoluta do imperialismo dos Estados Unidos, apoiado no ideário neoliberal e acompanhado pelos processos de reestruturação produtiva e financeirização do capitalismo em escala mundial; ambos difundidos pela mundialização do capital (a chamada globalização). Os resultados daí decorrentes foram ficando cada vez mais explícitos com as sucessivas crises econômicas; primeiro nos países periféricos (anos 1990) e em 2008 no centro do capitalismo (os Estados Unidos).

Ao lado dos avanços tecnológicos até então inimagináveis e do extraordinário crescimento da riqueza material, evidenciou-se o aumento escandaloso da concentração da riqueza e da renda em quase todos os países, crescimento da pobreza, distanciamento cada vez maior entre os países centrais (ditos desenvolvidos) e os países periféricos (subdesenvolvidos), elevação do desemprego estrutural e precarização do trabalho, desmoralização da democracia liberal (dos parlamentos e políticos profissionais, dos judiciários e seus agentes, da mídia corporativa dominada pela plutocracia). Tudo isso acompanhado pela criminalização da política, xenofobia, homofobia, misoginia, racismo e… a volta do fascismo – no mundo e no Brasil.

O filósofo e escritor italiano, Umberto Eco, constatou, acertadamente, que o nazismo foi uma experiência única, localizada na Alemanha na primeira metade do século XX; diferentemente do fascismo, que existiu, e pode existir e se reproduzir, de várias maneiras e formas em distintos lugares e épocas. Mas, ao falarmos de fascismos, no plural, estamos afirmando também que existe um “núcleo duro” comum a todos eles que os igualam. Então, quais seriam as características ou atributos que definem qualquer tipo de fascismo? A resposta a essa questão é decisiva, condição necessária embora não suficiente, para compreendermos fenômenos como, entre outros, Trump nos Estados Unidos, a Frente Nacional na França, a Liga Lombarda na Itália e Jair Bolsonaro no Brasil; bem como termos a exata noção e dimensão do perigo e do fantasma que ameaçam atualmente a convivência civilizada nas sociedades contemporâneas.

O fascismo mais evidente, explicitado politicamente, tende a vir à tona em conjunturas econômicas difíceis (como a brasileira atualmente e o centro do capitalismo desde meados dos anos 2000) de crise (desemprego, precarização do trabalho, queda da renda e aumento da pobreza) que penaliza a maioria da sociedade, especialmente os grupos e camadas que caem na escala social: que descem econômica e socialmente, que mudam para pior o seu status social. É principalmente nessa parte da população, atingida pela crise de modo particular, e também entre aqueles que, potencialmente, podem vir a cair, que o fascismo pode proliferar e recrutar seus apoiadores.

Essa hecatombe social, que atinge duramente o modo de vida desses indivíduos, é sentida como uma derrota pessoal e uma enorme injustiça (o que de fato é); sentimento que pode (não necessariamente, portanto) ser transformado em rancor, ressentimento e ódio contra o status quo (o sistema vigente) – qualquer que seja este último. O fascismo apelará a esse grupo de “perdedores” frustrados com um conjunto de ideias e sentimentos difusos e confusos, como explicação para a situação desfavorável em que se encontram – ignorando e obscurecendo as razões e contradições mais profundas do desenvolvimento capitalista, que levaram à crise.

Em primeiro lugar, o fascismo traz um apelo fortemente emocional contra o “outro”: imigrantes, minorias étnicas (como ciganos), judeus, comunistas, homossexuais, negros, nordestinos no caso do Brasil, mulheres independentes e/ou feministas (misoginia), vagabundos e marginais de todo tipo, moradores de rua, sem teto, sem terra etc. Tudo misturado, o “outro” é o responsável (culpado) direto, ou indireto, pela situação desfavorável vivida pelo indivíduo, o perigo a ser combatido – devendo ser negado liminarmente e, se possível, ser eliminado simbólica e/ou fisicamente.

Em segundo lugar, exatamente pelo fato do “outro” ser tão heterogêneo, os argumentos políticos contra ele, que procuram desqualificá-lo e criminalizá-lo, são sempre toscos, confusos e contraditórios, primários, quase infantis. Por isso, a racionalidade e a coerência não são o forte do fascismo; o que o leva a mobilizar seus potenciais adeptos (o fascismo é fortemente mobilizador!) apelando para o senso comum e sentimentos/emoções irracionais – que não são passíveis de serem entendidos nem explicados minimamente de forma lógica. Essa característica se expressa, de forma inequívoca, no líder fascista – que encarna toda a irracionalidade dessa ideologia regressiva.

Por fim, o fascismo, por definição, é autoritário e antidemocrático pela própria natureza: não admite a presença e a participação do “outro”, podendo, no limite, fazer uso de violência paramilitar. Tem como um dos seus principais aliados os sentimentos de “raiva”, “medo” e “insegurança”: raiva dos que decaíram socialmente e medo e insegurança dos que ainda não desceram na escala social, mas se sentem ameaçados (de fato ou subjetivamente). E, para coroar, apresenta soluções simplórias (e perigosas) para problemas complexos, soluções compatíveis com o senso comum e a diminuta capacidade intelectual de seus militantes e potenciais apoiadores, movidos fundamentalmente por emoções negativas (rancor, ódio e inveja). Exemplo: propor que a população adquira armas, como resposta à insegurança e criminalidade.

No Brasil, na atual conjuntura, o fascismo, além de apresentar as características listadas acima, se constitui também de uma mistura bizarra de moralismo (no âmbito do comportamento, dos costumes e da cultura), fundamentalismo mágico-religioso reacionário (difundido principalmente, mas não apenas, por variadas denominações evangélicas), ideologia da meritocracia e do empreendedorismo (avessa às políticas sociais, aos impostos e a tudo que é público), negação dos direitos humanos e apelo à violência e às formas mais extremadas de repressão policial (justificadas pela necessidade de segurança), e exaltação do individualismo, da competição e do mercado como valores maiores da vida social. É o fascismo brasileiro da era neoliberal, com fortes vínculos religiosos, abertamente pró-capital e que tem apoio e expressão importante no âmbito das instituições do Poder Judiciário e do Ministério Público – que vem contribuindo, juntamente com a “direita moderna neoliberal”, para legitimar a construção de um Estado de exceção no país, cuja ponta de lança, operacional e simbólica, é a Operação Lava-Jato.

Essa estranha mistura ideológica amplia, para além dos “perdedores”, os segmentos sociais potencialmente sensíveis ao fascismo; em especial atinge parte daqueles que conseguiram ascender socialmente (tiveram sucesso) na Era Lula (regredindo ou não posteriormente), mas que acreditam que isso ocorreu exclusivamente por esforço individual e mérito próprio, sem qualquer vínculo com políticas públicas, e cuja sociabilidade se dá fundamentalmente através da religião – e não, ou muito secundariamente, através do trabalho.

Nesse segmento de “classe média baixa”, o sucesso econômico-social, sempre individual, é justificado pelo merecimento (a teologia da prosperidade), um prêmio (uma benção) de Deus àqueles que trabalham disciplinadamente e que seguem os seus ensinamentos (os da igreja). Os que não conseguem obter sucesso (a maioria) é porque não se esforçaram o suficiente e, por isso, não têm o merecimento e a chancela de Deus. A experiência individual é extrapolada, indevidamente, para o conjunto da sociedade através da ideologia da meritocracia, associada também a uma espécie de teologia mercantil: uma troca interessada entre o Deus e o fiel (é dando que se recebe).

Adicionalmente, o “fascismo brasileiro”, na atual conjuntura político-econômica, também tem forte apelo entre segmentos importantes da massa pobre marginalizada, totalmente precarizada e sem qualquer tipo de organização política (trabalhista, partidária etc.). E por fim, o seu atual candidato a Presidência da República, Jair Bolsonaro, sensibiliza parte da população jovem desinformada e despolitizada, mas que tem presença nas redes sociais e que enxerga nele um “comportamento supostamente transgressor”, distinto dos demais políticos profissionais – em geral desmoralizados.

Aqui vale uma observação importante: a maioria das pessoas que faz parte desses grupos, potencialmente sensíveis na atual conjuntura, por diferentes razões, à mensagem fascista, não são politico-ideologicamente fascistas. Na verdade, elas expressam uma decepção enorme com a sua condição de trabalho e de vida, associada à total descrença com a política institucional, os partidos e, no limite, a própria democracia. Os sentimentos de insegurança (em todos os níveis) e impotência conspiram contra a possibilidade de conceber planos e imaginar o futuro de suas trajetórias de vida. Uma ausência completa de perspectiva, restando apenas o aqui e o agora.

Em suma, o fascismo, mais do que um credo político, é uma visão (prática) social do mundo reacionária (anti-iluminista) e um modo de sociabilidade, que procura influenciar e dirigir a vida cotidiana das pessoas – separando-as em grupos dotados, segundo ele, de especificidades irredutíveis. Na atual conjuntura brasileira ele vem acompanhado pelo racismo biológico e/ou cultural (discriminando principalmente negros e nordestinos), machismo, misoginia e homofobia.

Em qualquer lugar, o fascismo situa-se na extrema direita do espectro político-ideológico e se caracteriza pela defesa da propriedade privada de forma absoluta e do capitalismo – sendo visceralmente anticomunista ou mesmo antisocialdemocrata. Por isso, a depender das circunstâncias (como na Itália fascista de Mussolini), pode ser utilizado e apoiado pelo grande capital (hoje, a grande burguesia financeirizada) – quando este se sente fortemente ameaçado em seus interesses de classe. Reuniões recentes de Bolsonaro com agentes do capital financeiro e grandes empresários aplaudindo, rindo e se divertindo são sintomáticas: Mussolini e Hitler, histriônicos como Bolsonaro, no início também eram considerados irrelevantes, “folclóricos” e engraçados, quase que palhaços (com o perdão destes). Na sequência, a história se mostrou trágica.

*Luiz Filgueiras é professor titular da Faculdade de Economia da UFBA. Doutor em Teoria Econômica pela Unicamp e pós-doutorado em Política Econômica pela Universidade Paris XIII. Autor do livro História do Plano Real (São Paulo, Boitempo, 2000; última edição em 2016) e coautor do livro Economia Política do governo Lula (Rio de Janeiro, Contraponto, 2007). - Via Carta Maior

** Publicado originalmente no Le Monde diplomatique Brasil

15 outubro 2018

A democracia está ameaçada: não deu para notar?


Por Flavio Koutzii (*)
A grande turbulência das eleições nacionais opaca em parte nossa eleição estadual. É extraordinário e deprimente a velocidade com que Sartori e Leite anunciaram seu apoio a Bolsonaro. Especialistas em afirmações contundentes consideraram Sartori mais enfático desde o primeiro momento. Certamente instado por seus coordenadores, Leite se corrigiu rapidamente.
O certo é que o que pareceria uma manobra tática regional foi e é uma decisão muito mais grave, há transposição de um limite, a identificação com posições bárbaras. Não tem volta. Sejam ou não eleitos, ficarão para sempre associados às posições nefastas, regressivas e fascistóides que Bolsonaro representa. Escrevo essas linhas para impedir (ao menos tentar) a banalização desse fato.
A anuência de Pedro Simon é um melancólico finale e a ambiguidade dele e de Ibsen Pinheiro dão conta de todo o seu constrangimento e busca de álibis que dão às costas à democracia.  Eles deviam lembrar-se que durante os 13 anos de governos petistas, não houve violência política, nem o preconceito patrulhando as ruas, nem ruptura institucional, nem um sieg heil suspenso no ar, muito menos desconsideração das regras da democracia.
Não transformem sua crítica ao PT num álibi, defendam a democracia que é seu dever, ao menos, se ainda respeitam sua própria história, como fez tão corajosa e honradamente Bona Garcia!
(*) Flavio Koutzii foi deputado estadual [PT/RS] por várias legislaturas e chefe da Casa Civil do governo Olívio Dutra. - Via Sul21

Bona Garcia, fundador do MDB-RS, lamenta apoio a Bolsonaro e abre voto em Haddad



Por Luís Eduardo Gomes, no Sul21*

Na última segunda-feira (8), a direção do MDB no Rio Grande do Sul convocou uma entrevista coletiva para anunciar que o partido estava recomendando o voto em Jair Bolsonaro (PSL) no segundo turno da eleição presidencial. A decisão foi abraçada pelo governador e candidato à reeleição José Ivo Sartori (MDB) e respaldada pela presença das principais lideranças estaduais da legenda. Naquele momento, estiveram ausentes alguns dos figurões do MDB gaúcho, como Pedro Simon, Germano Rigotto e José Fogaça. O primeiro, no entanto, já anunciou que seguirá a recomendação da direção.

Ainda assim, o aparente consenso também gerou desconforto interno. Um dos fundadores do partido no Estado, João Carlos Bona Garcia se diz triste com a decisão e anuncia que irá votar em Fernando Haddad (PT), mesmo fazendo críticas ao PT. Para ele, o partido faz um cálculo eleitoral em razão do fato de Bolsonaro ter vencido as eleições no RS no primeiro turno, mas que se configura um “cheque em branco”.

“Isso não tem nada a ver do ponto de vista ideológico, não tem nada a ver do ponto de vista de aprovação do futuro governo, nem aprovação das ideias dos candidatos à presidência. Claro que não, é só uma questão de eleição em busca de votos, o que, na cabeça do candidato, é normal. Agora, eu acho que a vida não se restringe a uma eleição. Porque você vai estar dando um cheque totalmente em branco a um candidato que todo mundo conhece, suas posições sempre foram muito ruins para a democracia, uma pessoa racista, preconceituoso em relação às mulheres, apoiou e apoia ainda a ditadura militar que houve no País, apoiou e apoia a tortura, defende os torturadores. Todo mundo conhece”, diz.

Bona Garcia iniciou sua militância contra a ditadura aos 17 anos, quando ingressou na VPR (Vanguarda Popular Revolucionária), organização que atuou na luta armada. Foi preso, torturado, trocado pelo embaixador suíço Giovanni Enrico Bucher, que havia sido sequestrado. Foi banido e exilado. Ao contrário da direção do partido, que acredita que Bolsonaro não seja uma ameaça à democracia, Bona Garcia diz que é preciso olhar para o histórico do deputado federal e não para suas declarações supostamente mais moderadas do período eleitoral.

“O Bolsonaro tem anos e anos de vida parlamentar e todo mundo conhece a posição que ele tem, o que ele pensa sobre todos os problemas da vida nacional. Do passado, presente e o que pensa para o futuro. Ele pode agora, como é época de eleição, vestir uma roupagem de conciliador, de unir o País, porque ele também quer votos. Então, ele vai se apresentar como um moderado para ter os votos do pessoal mais de centro. Agora, a vida dele não é essa. O posicionamento dele não é esse. O que ele vai fazer, sabe-se lá o que é.  Mas você não pode comprar o Bolsonaro pelo que ele foi a vida toda”, diz.

-Clique AQUI para conferir a íntegra da entrevista.

14 outubro 2018

'Agora é mobilizarmos para evitar o pior para ao nosso povo' (Deputado Marco Maia)


  
Caros(as) companheiros e companheiras  de lutas!!

Nossa campanha foi ao limite do possível, mobilizamos muito, mas infelizmente não foi o suficiente para que conquistássemos a vitória.

Estes últimos anos foram duríssimos e, com certeza, impactaram o nosso resultado.

Quero agradecer a cada um e a cada uma de vocês que estiveram comigo nesta caminhada. Ela é apenas mais uma etapa de nossa luta cotidiana.

Agora é mobilizarmos para evitar o pior para o nosso povo.

A campanha do companheiro Haddad 13 Presidente recomeça agora, fortalecida! Nossa mobilização total será muito importante para garantirmos a vitória, para evitarmos o retrocesso, o triunfo do obscurantismo e do fascismo em nosso país.

Contem sempre comigo para a boa luta em defesa de nosso povo, da democracia, dos trabalhadores e trabalhadoras!!! 

Um cordial e afetuoso abraço à todos(as)!

Deputado Federal Marco Maia - PT/RS

*Via WhatsApp e Portal O Boqueirão Online

13 outubro 2018

Bolsonaro se entrega no primeiro programa eleitoral do 2º turno


Por Pedro Breier*

A candidatura Fernando Haddad abriu seu primeiro programa eleitoral do 2º turno denunciando a onda de violência fascista dos últimos dias. Foi acertada a exibição do vídeo de Bolsonaro falando em “metralhar a petralhada” [foto]. Tornou evidente a conexão do discurso de ódio do candidato com o surto de ataques.

Depois da denúncia, o programa focou-se nas realizações de Haddad no Ministério da Educação e na prefeitura, bem como nas propostas. A aparição pontual de Lula indica que a campanha deve mesmo focar mais em Haddad, embora não deixando Lula de lado.

Haddad ainda mencionou as fake news do Whatsapp, além de fazer a defesa da democracia em mais de um momento.

Foi um bom programa o da candidatura do PT. É provável – e recomendável – que o PT explore, nos próximos dias, a fuga de Bolsonaro dos debates.

O programa de Jair Bolsonaro iniciou de forma grotesca: “denunciando” o Foro de São Paulo. As teorias malucas do Olavo de Carvalho atingiram um público inédito, hoje.

Logo no começo do programa, uma fala de Lula é reproduzida como se fosse algo extremamente grave. O ex-presidente diz que a esquerda de todos os países que participaram do Foro chegou ao poder. Só isso. Uma simples constatação de Lula é pintada como algo perverso. Bizarro.

Logo na sequência, o locutor manda um “Cuba é o país mais atrasado do mundo”, o que é uma evidente mentira descarada, vide, para ficar apenas em um exemplo, na medicina avançadíssima do país.

O programa explorou as prisões de petistas feitas pela Lava Jato e, logo após, mergulhou num anticomunismo alucinado, criticando até a cor vermelha. É positivamente ridículo dizer que o PT, um partido de centro esquerda moderado, tem alguma coisa a ver com comunismo. O triste – e trágico – é que muita gente acredita nessa baboseira.

Não faltou o momento família, uma tentativa de humanizar o candidato. Ele falou bastante sobre a relação com sua filha. O alvo é o voto feminino, grande dificuldade de Bolsonaro.

Sobraram referências ao combo Deus, família e pátria, típico de movimentos autoritários de direita.

No final, Bolsonaro simplesmente se entrega:
'Precisamos sim de políticos honestos e patriotas. E, mais do que tudo, um governo que saia do cangote da classe produtora.'

O candidato fala em “classe produtora” se referindo aos empresários.

Repararam no mais do que tudo?

O governo “sair do cangote dos empresários” significa a retirada de direitos trabalhistas para que a taxa de lucro dos empresários se mantenha ou cresça, mesmo durante a crise. Essa é a receita da direita para ajudar os (grandes) empresários: rebaixar as condições de vida dos trabalhadores.

Sobre o drama dos trabalhadores brasileiros, que sofrem com o desemprego e a queda na renda por causa da crise, Bolsonaro não deu uma palavra. Zero.

O PT propõe aumentar o poder de compra da população e fazer a roda da economia girar, o que ajuda os pequenos e médios empresários ao mesmo tempo em que melhora a vida dos trabalhadores.

Não é evidente qual é a melhor proposta para o país? 

*Advogado e midioativista - Via Blog O Cafezinho