20 novembro 2019

20 de Novembro: Por um Brasil livre do racismo




Por Orlando Silva*

A história nos mostra que a formação do povo brasileiro foi conflituosa, dolorosa e violenta, tendo o jugo da escravidão como seu elemento organizador. Destino principal do tráfico negreiro, nosso país recebeu cerca de 5 milhões de africanos para trabalhos forçados. Sem exagero, é possível afirmar que a escravidão foi a base do conjunto da atividade econômica brasileira por mais de 300 anos.

Fomos a última nação a aboli-la e o fizemos sem reparação aos milhões de escravizados. Tal realidade legou uma sociedade profundamente desigual e que traz até hoje os traços do que chamamos racismo estrutural, como se pode verificar por qualquer índice de medição da desigualdade social.

O relatório “Desigualdades sociais por cor ou raça no Brasil”, recentemente divulgado pelo IBGE, atesta que, embora pretos e pardos sejam 55,8% da população, representam 64,2% dos desempregados. De acordo com a mesma pesquisa, a renda média dos brancos é 73,9% superior à dos negros. A renda de uma pessoa negra empregada formalmente é mais próxima a de uma branca que esteja na informalidade do que a igualmente registrada. Há um dado ainda mais revelador: entre os brasileiros mais pobres, 75% são negros, ao passo que dos mais ricos 70% são brancos.

O racismo se verifica de maneira ainda mais cruel: a população negra, especialmente os jovens, é vítima de um genocídio cotidiano. O Atlas da Violência de 2019, estudo do Ipea e do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, traz números consternadores: o Brasil superou a marca de 65 mil homicídios ao ano, sendo que 75% das vítimas são pretos e pardos – a taxa chega a assombrosos 43 assassinatos por 100 mil habitantes.

Na mesma linha seguem as estatísticas sobre o encarceramento. Somos o terceiro país do mundo em população carcerária, já ultrapassando a casa dos 800 mil detentos. O perfil destes, mais uma vez, corrobora a exclusão social: 64% dos presos são negros.

Essa tragédia pode ficar ainda pior, a depender do grupo de extrema-direita que governa o país. Bolsonaro quer distribuir armas para a população e incentiva abertamente a violência como política de segurança. O pacote anticrime de Sérgio Moro e Bolsonaro visa facilitar o encarceramento em massa e legalizar a violência arbitrária empregada por maus policiais em serviço, através da ampliação do excludente de ilicitude. Só em 2019, seis crianças foram mortas em operações policiais no Rio de Janeiro. É o sangue dos pobres da periferia, o sangue dos negros que escorre. 

A desigualdade também se reflete na representação política. Sendo 55% da população, os parlamentares negros somos apenas 24% na Câmara Federal. Nesse mês da Consciência Negra, realizamos uma articulação inédita e construímos, em conjunto com a Coalizão Negra por Direitos, um projeto de lei (PL 5885/2019) com medidas para enfrentar o racismo institucional.

Em meio a tantos percalços, tivemos uma notícia alvissareira na última semana: pela primeira vez na história os negros são maioria dos estudantes das universidades públicas, com 50,3% das matrículas. É o resultado concreto da ampliação e democratização das universidades federais que tivemos nos governos anteriores e das políticas afirmativas que começaram a ser implantadas em meados da década passada. Um pequeno passo nessa longa marcha que nos separa de um Brasil mais justo.

Por tudo isso, o 20 de novembro é um dia de celebração e luta, dia do Brasil reencontrar a sua história e tomar medidas para escrever as páginas de um futuro livre do racismo. Viva, Zumbi! 

*Orlando Silva é deputado federal pelo PCdoB-SP

-Via Jornal GGN

19 novembro 2019

RS: Entidades manifestam apoio à greve e fortalecem a luta dos educadores



Porto Alegre/RS - A greve dos educadores, iniciada nesta segunda-feira (18), em repúdio ao pacote desumano do governo Eduardo Leite, que ataca brutalmente direitos históricos da categoria, recebe, a todo momento, manifestações de apoio.
Entidades representativas do funcionalismo público gaúcho, que também serão atingidas pelos projetos do Executivo e que compõem a Frente dos Servidores Públicos, universidades federais e sindicatos de professores municipais são algumas das que enviaram manifestações de solidariedade ao magistério púbico estadual.
Já no primeiro dia de greve, os 42 núcleos do CPERS contabilizaram a adesão de milhares de educadores. A tendência é a de que nos próximos dias a paralisação cresça ainda mais fazendo com que se consolide como uma das maiores greves da trajetória de lutas do sindicato.
O CPERS agradece a todas as importantes manifestações de apoio que vem recebendo, pois elas são fundamentais para fortalecer a justa luta contra o desmonte da escola pública e os direitos dos educadores gaúchos. (...)
CLIQUE AQUI para ler na íntegra (via site do CPERS/SINDICATO)

Tenebrosas transações

Para Leandro Fortes, do Jornalistas pela Democracia, "confirmada a história de Bebianno, não haverá mais dúvidas sobre as intenções – e o caráter – de um juiz de Direito que usou a toga para encarcerar um inocente como parte de um projeto de poder que incluía uma passagem pelo Ministério da Justiça em direção ao Supremo Tribunal Federal"

Jair Bolsonaro e Sergio Moro (Foto: Valter Campanato / Agência Brasil)

Por Leandro Fortes, para o Jornalistas pela Democracia* - Sérgio Moro negociou com Paulo Guedes o cargo de ministro da Justiça, no segundo turno das eleições de 2018, segundo Gustavo Bebianno, em entrevista ao jornalista Fabio Pannunzio, disponível no YouTube e rodando nas redes sociais.

Bebianno, embora seja um escroque, não tem nenhuma razão para inventar uma coisa dessa. Age por ressentimento, depois de humilhado e defenestrado da Secretaria Geral da Presidência por Jair Bolsonaro, mas tem credibilidade no que diz respeito às entranhas do bolsonarismo: na campanha de 2018, era o presidente do PSL, partido que Bozo, aliás, acaba de descartar, também.
Confirmada a história de Bebianno, não haverá mais dúvidas sobre as intenções – e o caráter – de um juiz de Direito que usou a toga para encarcerar um inocente como parte de um projeto de poder que incluía uma passagem pelo Ministério da Justiça em direção ao Supremo Tribunal Federal.
A confissão do ex-presidente do PSL, aliada aos vazamentos do Intercept Brasil, dá a dimensão exata do conluio de Moro com Bolsonaro, a partir da prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no kafkiano processo do triplex do Guarujá, uma farsa que envergonha o Ministério Público e o Judiciário brasileiro.
Significa que Moro usurpou o processo legal, junto com a turma de procuradores de Curitiba, para prender o candidato que liderava as pesquisas e garantir, mais adiante, a eleição de um demente de extrema-direita apenas para satisfazer alimentar sua egolatria com uma vaga no STF.
O mesmo STF que tem, agora, mais do que nunca, de anular esse processo do triplex e iniciar uma investigação séria e necessária sobre os trambiques de Moro com a famiglia Bolsonaro.
*Via Brasil247

18 novembro 2019

O Brasil está perdendo a credibilidade no mundo, sua liderança e seu “soft power”, seu poder brando




*Bob Fernandes entrevista o ex-ministro Celso Amorim

Pasquim e 247- A força da imprensa alternativa



"O Pasquim de 50 anos atrás revive aqui no 247 e espero que dure não só para fazer história, mas para mudar a História do nosso país", diz Miguel Paiva, do Jornalistas pela Democracia. "Somos um bando de jornalistas competentes, malucos e teimosos que acreditamos num Brasil mais justo e mais feliz", definiu

Por Miguel Paiva, para o Jornalistas pela Democracia*
Na data de hoje [17/11], há exatos 50 anos, a atriz Leila Diniz dava sua famosa entrevista ao semanário Pasquim. Além de toda a repercussão que teve por conta da linguagem descontraída, apesar dos asteriscos nos palavrões, a entrevista selou a importância do Pasquim como jornal inovador e transgressor.
Alternativa talvez ao pensamento da classe dominante que acaba sendo o pensamento dessa "imprensa de cativeiro" como define muito bem meu parceiro Gustavo Conde. Se não for dele é de alguém que merece os mesmo louros. Na época da ditadura éramos a imprensa nanica, aquela pequena força, resultado da união de poucos e bravos jornalistas românticos e corajosos que viam num jornaleco semanal e de humor, a saída para o cerceamento das notícias e da informação em geral.
Em plena época soturna da ditadura pós AI-5 um jornal se arriscava toda a semana nas bancas. Acabou sendo a voz que faltava para o público leitor ávido de comentários sobre a realidade. O humor, sábio como sempre criava uma nova linguagem para transmitir essas notícias que a imprensa comum não conseguia.
A entrevista com Leila Diniz acabou por consolidar essa linguagem que já era a linguagem do Pasquim. Uma maneira coloquial e descontraída de falar sobre assuntos sérios ou não. O humor, como sempre, aborda os fatos por um viés inesperado, procurando o avesso da realidade, aliado à uma irreverência que vinha muito da intuição. Isso marcou o Pasquim como o representante não só de Ipanema e sua  fauna, como do Brasil inteiro que queria saber das coisas.
O jornal acabou vendendo mais do que sua capacidade de administrar tamanho sucesso. Eram jornalistas e não empresários e os empresários que se associaram acabaram metendo os pés pelas mãos, de modo intencional ou não e o que era muito bom acabou virando um puta abacaxi nas mãos daqueles jornalistas românticos.
Além dessa notória inaptidão para os negócios a ditadura não deixava o jornaleco em paz. Além da censura, a redação sofreu uma "gripe" coletiva nas masmorras de Deodoro que só podia ser noticiada, para justificar a ausência no jornal, como uma doença que acometeu todos ao mesmo tempo. Ninguém entendia o que acontecia e nós, os que não fomos presos e aí incluo Martha Alencar, Millôr Fernandes, Henfil e Chico Junior , tentamos manter o jornal vivo para, inclusive, pagar os salários da turma nobre da redação.
Foram dois meses de esforço sobre-humano para continuar a fazer um jornal dinâmico e engraçado. Todos os jornalistas, artistas, figuras de destaque do Rio e do Brasil colaboraram mas, assim mesmo, foi difícil vender como antes. O faturamento caiu mas o jornal resistiu. Quando foram soltos, a redação estava de pé, as contas em dia (até quando?) e o país na mesma. Mas o jornal continuou.
Somos um bando de jornalistas competentes, malucos e teimosos que acreditamos num Brasil mais justo e mais feliz. Através do Brasil247 faremos prosseguir nosso trabalho de informar, com textos ou charges que carregam toda a nossa força e indignação. O Pasquim de 50 anos atrás revive aqui no 247 e espero que dure não só para fazer história, mas para mudar a História do nosso país.
Quem puder dê um pulo no SESC Ipiranga em São Paulo para ver a exposição Pasquim 50 anos que além de comemorar a data lança a digitalização de todos os números do jornal que estarão à disposição na Biblioteca Nacional.
...
*Miguel Paiva - Cartunista, ilustrador, diretor de arte, roteirista e criador da Radical Chic e Gatão de Meia Idade.

17 novembro 2019

NOVO PROJETO DE PODER DE BOLSONARO, A ALIANÇA PELO BRASIL É O PRIMEIRO PARTIDO NEOFASCISTA DO PAÍS


BOLSONARO ALUGOU* um partido nanico, ajudou a transformá-lo em um dos maiores partidos do Brasil e agora o abandona após uma tentativa fracassada de golpe para tomar o seu controle e abocanhar o fundo partidário. Pela ótica da dinâmica política tradicional, esse jogo é uma loucura que levaria ao enfraquecimento e isolamento do governo. Mas não é assim que pensa quem tem como objetivo destruir a democracia como a conhecemos.
O presidente da República já mostrou que não tem nenhum interesse em formar uma maioria no Congresso que o ajude a governar. É um governo que renega as mediações democráticas e busca a radicalização para atingir seus objetivos.
Desde a posse, a família Bolsonaro vem implodindo grandes aliados construídos durante a campanha. Bebianno, Alexandre Frota, Joice Hasselmann, Witzel, João Doria e Luciano Bivar são alguns nomes que foram expurgados de maneira desleal. A tropa de choque bolsonarista vai ficando cada vez mais reduzida e isso não parece ser um problema para a família Bolsonaro. Ao que tudo indica, a intenção é ir empurrando o governo com a barriga, rezar para a economia sair do buraco e continuar apostando na fidelização da sua militância alucinada nas redes sociais. Não é novidade que este é um governo preocupado exclusivamente em agradar um séquito de reacionários e lunáticos catequizados por Olavo de Carvalho.
O presidente anunciou essa semana a criação da Aliança pelo Brasil, a futura nova casa da extrema-direita governista brasileira. Mais que isso: será uma sigla controlada pela família Bolsonaro e formada apenas por devotos fiéis do presidente.
Não se sabe ainda se a Aliança pelo Brasil será criada a tempo de disputar as eleições municipais do ano que vem. Se tudo for feito como manda a lei, será quase impossível. Mas estamos no Brasil 2019 e sabemos que as leis não têm sido garantia de muita coisa.

Será necessário coletar quase 500 mil assinaturas em pouco mais de quatro meses, o que seria um feito inédito. Mas os bolsonaristas contam que isso será possível com assinaturas digitais, feitas através das redes sociais e de um aplicativo que será lançado pelo partido. Acontece que a lei não prevê a possibilidade das assinaturas digitais, apenas em papel. Como será impossível juntar quase meio milhão de assinaturas em papel em quatro meses, o bolsonarismo vai conseguir as assinaturas digitais e tentar jogar essa disputa pro campo jurídico. Diante da escalada dos discursos autoritários do governo, alguém duvida que haverá radicalização e incitação do povo contra os tribunais quando esse caso for julgado? Ou será que os Bolsonaro vão mandar logo um cabo e um soldado ao TSE? Me parece bastante claro que o bolsonarismo não irá retroceder nem aceitar qualquer decisão que não seja a criação do partido do presidente. Eles não entraram nessa empreitada para depois ficarem sem partido.
É possível que haja, como houve nas eleições, uma grande mobilização das igrejas evangélicas pela criação do partido. Será que teremos pastores na porta da igreja trocando assinatura por um pedacinho no céu? O bispo e prefeito do Rio de Janeiro Marcelo Crivella já colocou a máquina da Igreja Universal à disposição para a coleta de assinaturas.
O manifesto de fundação do partido é um ajuntamento de chavões fascistoides. Não há nada ali que lembre um projeto de país, que pregue a conciliação, que apresente propostas para a economia e para o desenvolvimento social. É só um panfleto rancoroso que aposta no maniqueísmo e no confronto como método de governo, tendo Jair Bolsonaro como um líder messiânico. “Muito mais que um partido, é o sonho e a inspiração de pessoas leais ao Presidente Jair Bolsonaro, de unirmos o país com aliados em ideais e intenções patrióticas”, diz o manifesto. A palavra democracia não é citada em nenhum momento do texto. O partido se apresenta oficialmente como um grupo político formado por pessoas leais a um único político. É essa lealdade incondicional ao Messias que motivou o rompimento dos bolsonaristas com o PSL. Não havia divergências ideológicas ou programáticas entre eles. A separação se deu porque o núcleo bolsonarista queria o controle do partido e não admitia conviver com correligionários que não demonstrem lealdade cega e absoluta ao seu grande líder.
Em outro trecho, o manifesto diz que “a Aliança pelo Brasil é o caminho que escolhemos e queremos para o futuro e para o resgate de um país massacrado pela corrupção e pela degradação moral contra as boas práticas e os bons costumes”. As “boas práticas” e os “bons costumes” certamente não se referem às rachadinhas no gabinete do Flávio Bolsonaro nem ao conteúdo pornográfico que o presidente publicou no Twitter. É só a velha ladainha moralista que os moralistas gostam de pregar, mas não de cumprir.
Nos perfis do projeto de apresentação do novo partido de Bolsonaro, as palavras “Deus”, “pátria” e “família” são exibidas. Não parece coincidência o fato de esse ser o lema dos integralistas.
Inspirados no fascismo italiano, os integralistas são um movimento ultrarreacionário, criado há oito décadas no Brasil para abrigar o ideário fascista. A Ação Integralista Brasileira teve papel fundamental no golpe militar de 64 e hoje apóia o governo Bolsonaro. Durante as eleições, o grupo formalizou apoio à candidatura do ex-capitão e chegou a participar de um ato de campanha na avenida Paulista. Muitos integralistas são filiados ao PRTB de Levy Fidelix, cujo lema da campanha para deputado federal também era “Deus, pátria, família”.
Mas não é só o lema. Tudo na Aliança pelo Brasil lembra os integralistas, desde a estética à ideologia. A defesa dos valores cristãos, a rejeição à democracia liberal, o nacionalismo autoritário — tudo parece ser uma cópia dos integralistas. Não dá nem para chamar de versão moderna do integralismo, porque tudo no bolsonarismo cheira a mofo.
A Aliança pelo Brasil pode ser classificada com tranquilidade como o primeiro partido neofascista do Brasil. Sim, neofascista. Todos os elementos estão ali: o ultranacionalismo, o anticomunismo, a contestação permanente da democracia liberal, a veneração por um líder populista, o discurso autoritário. Será um partido neofascista de cunho religioso e que já nascerá com alguma relevância no jogo político partidário, já que foi criado pelo presidente da República e tem como uma de suas principais bandeiras a exaltação de sua figura. É uma pena que a grande imprensa nacional, que até hoje evita chamar o governo Bolsonaro de extrema-direita, jamais chamará o neofascismo pelo nome.
A democracia brasileira está prestes a fornecer espaço para um partido cujos fundadores ameaçam constantemente a democracia, atacam princípios constitucionais e exaltam os criminosos do regime militar. É um partido que resgatará oficialmente o legado do fascismo brasileiro. O Partido Social Liberal, que foi temporariamente ocupado para a extrema-direita poder entrar na democracia, ficou pequeno. Faltava um partido genuíno, criado para unir todos as tribos neofascistas que desejam exaltar Bolsonaro e o Deus cristão. Não falta mais.
*Por João Filho, no The Intercept Brasil

16 novembro 2019

Wiphala




*Via Brasil de Fato

**Para os quíchuas e aimarás, a Wiphala é a expressão do pensamento filosófico andino, e seu conteúdo manifesta o desenvolver da ciência, tecnologia e arte, é também expressão dialética de Pacha-Kama e Pacha-Mama, é a imagem de organização e harmonia de irmandade e reciprocidade nos Andes. Fonte: https://pt.wikipedia.org/

15 novembro 2019

Nada a comemorar. De golpe em golpe, a República estrebucha

"Começamos a República com um golpe militar, e isso não poderia mesmo dar coisa boa", lembrou Ricardo Kotscho, do Jornalista pela Democracia, em seu artigo sobre o 15 de novembro, Dia da Proclamação da República. Ele destaca que temos "agora no poder um tenente reformado como capitão, aos 33 anos, depois de ser preso e processado pelo Exército por atos de insubordinação... Como vemos, a República baixou de patente".
Militares que aderiram ao golpe permanecem no governo para garantir equilíbrio (Foto: Marcos Corrêa/PR)

Por Ricardo Kotscho, no Balaio do Kotscho e para o Jornalistas pela Democracia* - Sexta-feira, 15 de novembro de 2019, feriado da Proclamação da República.
Para mim, que trabalho de domingo a domingo, hoje é um dia como outro qualquer, nada vejo para comemorar, 130 anos depois.
Se não me falha a memória dos tempos de escola, o que houve no dia 15 de novembro de 1889 foi um golpe militar para destituir o imperador D. Pedro II, seguido de muitos outros golpes até chegarmos aos tenebrosos dias atuais com um ex-militar no poder.
Muita gente não deve lembrar, mas nossos dois primeiros presidentes republicanos foram marechais do Exército.
A galeria de militares na presidência foi inaugurada pelo marechal Manuel Deodoro da Fonseca, que renunciou dois anos depois, para dar lugar a outro marechal, Floriano Vieira Peixoto.
Era a chamada “República da Espada”, como a chamavam na época.
O primeiro presidente civil, Prudente de Moraes, só seria eleito pelo voto direto em março de 1894.
No mais longo período de militares no poder, vários generais se sucederam na Presidência da República na ditadura militar (1964-1985), começando por outro marechal, Castelo Branco, e terminando em João Figueiredo, que saiu pela porta dos fundos, recusando-se a entregar a faixa presidencial ao civil José Sarney.
Pela primeira vez, temos agora no poder um tenente reformado como capitão, aos 33 anos, depois de ser preso e processado pelo Exército por atos de insubordinação..
Como vemos, a República baixou de patente, embora um batalhão de generais de pijama tenha sido convocado para fazer parte do governo (nove deles já foram demitidos).
É a primeira vez também que somos governados por um quarteto, o presidente e três dos seus filhos.
Antes, em 1968, tivemos uma junta de três militares, os comandantes das Forças Armadas, no impedimento de outro marechal, Costa e Silva, em 1968.
De golpe em golpe, dos mais variados tipos, chegamos a 2016, quando um golpe parlamentar derrubou a presidente Dilma Rousseff, abrindo caminho para a volta dos militares ao poder, agora pelo voto direto.
Escrevo sem consultar minha modesta biblioteca nem o Google e posso estar cometendo alguns enganos de memória, mas em resumo é isso.
Começamos a República com um golpe militar, e isso não poderia mesmo dar coisa boa.
Já tem até gente, como o ministro da Educação, este abominável Weintraub, nostálgica da Monarquia.
Ficamos sabendo esta semana que Bolsonaro até pensou em colocar como vice um herdeiro da família imperial, o “príncipe” Philippe Orleans e Bragança, que é deputado federal por São Paulo.
É o enredo pronto para para uma bela porno-chanchada com Alexandre Frota, Oscarito, e Grande Otelo, tendo como tema musical o Samba da República Doida, que está estrebuchando.
Bom final de semana a todos.
Vida que segue.
*Via Brasil247

14 novembro 2019

Assembleia do CPERS lota Praça da Matriz e promete greve histórica no RS


Assembleia Geral do CPERS lotou Praça da Matriz, em frente ao Palácio Piratini. (Foto: Giulia Cassol/Sul21)

“O governador Eduardo Leite disse que não contribuímos com o pacote. Tu não pede para quem está sendo enforcado que contribua para o enforcamento. Não pede para o professor pagar o próprio salário. Não pede para o educador ajudar com a destruição e privatização da escola pública. O governador quer guerra. É greve que ele vai ter! Eles verão a maior greve que esse Estado já teve”. Com essas palavras, a professora Helenir Aguiar Schürer, presidente do CPERS Sindicato, resumiu o espírito da categoria para enfrentar as políticas do governo Eduardo Leite (PSDB). Se a assembleia geral realizada na manhã desta quinta-feira (14), em frente ao Palácio Piratini, servir como indicativo da mobilização da categoria, a greve convocada para iniciar na próxima segunda-feira (18) promete iniciar forte. A Praça da Matriz e os arredores do Palácio Piratini e da Assembleia Legislativa foram tomados por trabalhadores em educação vindos de dezenas de municípios do Estado. 

A assembleia serviu para definir a composição do comando de greve e discutir estratégias de mobilização. A proposta da greve já havia sido aprovada, dia 8 de novembro, na reunião do Conselho Geral do CPERS que contou com a participação de representantes dos 42 núcleos do sindicato. Além de protestar contra a política de arrocho e parcelamento salarial, a mobilização dos educadores também repudia as propostas de alteração do Plano de Carreira do Magistério, do Estatuto dos Servidores e da Previdência Estadual.(...)

CLIQUE AQUI para continuar lendo a postagem do jornalista Marco Weissheimer no Sul21.

O álibi de Bolsonaro no dia da morte de Marielle - por Luis Nassif



A questão central é porque Bolsonaro se preparou para ir ao Rio, porque o porteiro anotou que Elcio Queiroz iria para a casa de Bolsonaro. E porque ele não foi.

Policiais civis iniciam paralisação de dois dias contra ‘pacote do retrocesso’ de Leite


Da Redação do Sul21*
Policiais civis iniciaram na manhã desta quarta-feira (13) uma paralisação de dois dias contra o pacote de medidas que o governador Eduardo Leite (PSDB) está apresentando com mudanças nas carreiras e na Previdência dos servidores públicos estaduais. A orientação da Ugeirm, sindicato que representa os agentes da Civil, é de que as viaturas permaneçam paradas nas delegacias entre às 8h desta quarta e às 18h de quinta-feira (14).
Nesta manhã, a direção do sindicato e diversos membros da categoria se concentraram nos arredores do Palácio da Polícia, em Porto Alegre, para conversar com a população sobre o impacto que o pacote de medidas trará para a segurança pública no Rio Grande do Sul. A avaliação de Fábio Castro, vice-presidente da Ugeirm, é de que os dois dias de paralisação terão grande adesão dos policiais civis. “A expectativa é que a paralisação vai atingir 100% da categoria, porque o ataque é muito forte. Então, vai ser uma das mais fortes nos últimos anos”, diz. (...)
CLIQUE AQUI para continuar lendo.

13 novembro 2019

BOLÍVIA: AO VIVO Povo se levanta contra O GOLPE

Invasão de embaixada da Venezuela desrespeita convenção da ONU

Briga após invasão da Embaixada da Venezuela em Brasília
Ao não colocar prontamente a segurança pública – Polícia Militar e Federal – para defender a embaixada venezuelana em Brasília, Jair Bolsonaro dá um perigoso passo em direção à barbarização das relações diplomáticas brasileiras.
Sinaliza que acaba qualquer tipo de proteção a um território estrangeiro salvaguardado pela Convenção de Viena da ONU (1961) e reconhecida pelo Decreto 56.435, de 8 de junho de 1965.
O Decreto – que reproduz o texto da Convenção – estipula o seguinte, em seu Artigo 22:
“1. Os locais da Missão são invioláveis. Os Agentes do Estado acreditado não poderão neles penetrar sem o consentimento do Chefe da Missão.
2. O Estado acreditado tem a obrigação especial de adotar tôdas as medidas apropriadas para proteger os locais da Missão contra qualquer intrusão ou dano e evitar perturbações à tranqüilidade da Missão ou ofensas à sua dignidade.
3. Os locais da Missão, em mobiliário e demais bens nêles situados, assim como os meios de transporte da Missão, não poderão ser objeto de busca, requisição, embargo ou medida de execução”.
Ao desrespeitar uma Convenção, o país está sujeito a várias sanções por parte dos organismos internacionais.
Até agora, nem a Presidência da república e nem o Itamaraty se pronunciaram a respeito.
O incentivo e aplauso da invasão por parte do deputado Eduardo Bolsonaro sinaliza o apoio tácito do governo brasileiro ao vandalismo.
É mais um passo para que o Brasil seja considerado um pária internacional.
*Por Gilberto Maringoni

Ceder à escuridão levará todos à treva


Por Fernando Brito*
As ditas “instituições” estão sendo colocadas ante um impasse.
A “nova direita”, medíocre, fundamentalista e violenta recusa qualquer solução de composição e disputa democrática.
Os pedidos de “prisão preventiva” de Lula e a tentativa de emendar, no tranco, a Constituição para que ele possa ser novamente preso deixam tragicamente claro que, paradoxalmente, nem é mais o líder petista o grande “inimigo”, agora.
O adversário a ser vencido é o sistema de freios e contrapesos próprio das democracias.
Congresso e Judiciário devem render-se, acovardados, ao que dizem ser “a voz das ruas”, ainda que as vozes sejam apenas as dos grupos histéricos e minguantes que encontraram na Lava Jato seu partido político.
Seu programa para o país não vai além de prender, de encarcerar e, afinal, não se pode dizer que não seja um sucesso de dimensões continentais, pois se tornou uma regra em toda a América do Sul: Argentina, Peru, Colômbia, Paraguai, em tempos e escalas diferentes adotaram o mesmo desvario.
Que encontrou corolário no golpe boliviano, onde sequer se aceitou uma nova eleição, sob supervisão internacional e ressuscitou-se a fórmula velha de 40 anos de um golpe, já nem militar, como se está percebendo, mas policial e que vai acabar entronizando um fanático no comando do país.
Por nossas bandas, chegamos ao impensável exercício de um poder familiar, onde a trinca de filhos presidenciais manda e desmanda, tumultuando o Congresso, acocorando o Judiciário e substituindo-se à Polícia, num caso e noutro apagando os rastros de sua delinquência.
O ministro da Justiça, que ascendeu usando a Justiça, vira garoto propaganda para, agora, mudar a lei ao sabor de suas vontades autoritárias.
A grande mídia, espancada, chutada e cuspida, finge escandalizar-se mas, ao fim e ao cabo, aceita que tudo seja feito para evitar o “mal maior” que representaria o livre alinhamento das forças políticas a suas lideranças naturais.
Congresso e Judiciário não se afirmarão se não puserem, agora que têm a chance, fim a esta escalada, enquanto as ameaças não têm mais que a força de bravatas.
Concessões covardes, como a de Dias Tóffoli ao sugerir a mudança na lei, um escárnio por tratar-se de cláusula constitucional pétrea, só trazem mais crise e usurpação.
O mesmo será se a chance de podar os delírios de poder que usam como ícone o Sr. Sérgio Moro não forem detidos no julgamento de sua mais que evidente suspeição.
Do contrário, não é a esquerda, não são os movimentos sociais, nem é a racionalidade que serão lançadas às trevas.
Todos o serão, sem distinção, inclusive Rodrigo Maia, Davi Alcolumbre e os ministros que ousarem dissentir da histeria punitiva.
*Jornalista - Editor do Blog Tijolaço (fonte desta postagem)

12 novembro 2019

Em meio a um ‘vácuo de poder’, cresce a resistência ao golpe na Bolívia

Mesmo com a renúncia de Evo e sem o comando do MAS à frente do Estado, há uma crescente resistência popular, o que colocará vários obstáculos ao bloco golpista, diz analista Breno Altman



São Paulo – RBA - Após a saída do ex-presidente Evo Morales rumo ao México, onde receberá asilo político, cresce a resistência de grupos indígenas, trabalhadores e camponeses contra o golpe de Estado. Milhares de apoiadores do Movimento ao Socialismo (MAS), partido de Morales, partiram de El Alto com destino à capital, La Paz, nesta segunda-feira (11). Munidos de paus e da bandeira multicolor Whipala – que representa os povos andinos–, eles marcharam aos gritos de “agora sim, guerra civil”, dispostos a fazer o enfrentamento com as forças policiais e grupos paramilitares de extrema-direita. Por outro lado, as Forças Armadas anunciaram ações conjuntas com a polícia para tentar conter os protestos na capital, no que vem sendo apontado como um estado de sítio não-oficial.
“O elemento mais importante a ser destacado é o crescimento da resistência. Mesmo com a renúncia de Evo, já a caminho do México, mesmo sem o comando do MAS à frente do Estado, há uma crescente resistência popular, o que colocará vários obstáculos ao bloco golpista. E acende a esperança de que essa situação, mais cedo ou mais tarde, possa vir a ser revertida”, afirmou o jornalista Breno Altman, editor do portal Opera Mundi, ao jornalista Glauco Faria, para o Jornal Brasil Atual, nesta terça-feira (12).
Em paralelo ao crescimento das tensões entre a resistência e as forças de repressão, há um “vácuo de poder” político no país, até o momento, já que toda a linha sucessória que poderia ocupar a cadeira presidencial – o vice-presidente, Álvaro Garcia Linera; a presidenta do Senado, Adriana Salvatierra, e o presidente da Câmara dos Deputados, Victor Borda – também renunciou juntou com o Morales. A segunda-presidenta do Senado, Jeanine Añez, anunciou que pretende ocupar a presidência interinamente e convocar eleições presidenciais em 90 dias, mas, segundo Altman, não há previsão constitucional para que ela assuma.
O cenário é agravado por disputas internas entre a ala golpista “moderada”, do ex-presidente Carlos Mesa, e a ala “dura”, liderada pelo presidente do Comitê Cívico de Santa Cruz, Luis Fernando Camacho, que comanda as milícias armadas. “A ala moderada é uma ala golpista, como todas as outras, mas quer uma rápida institucionalização do processo, com a convocação de eleições para que a Bolívia possa ao menos simular alguma normalidade institucional”, disse Altman. “Por outro lado, a ala dura, dá sinais de querer a instituição de uma junta provisória, com participação cívico-militar. Uma ditadura escancarada, com o propósito de destruir o MAS e as forças de esquerda do país, e só então organizar um processo eleitoral com cartas marcadas.”

“Macho” Camacho

O editor do Opera Mundi classificou Camacho, que se autointitula “Macho” Camacho, como um “fascista delinquente” e “arrivista”. Ele lidera os setores mais reacionários e racistas da elite de Santa Cruz. “É a cidade onde está concentrada a burguesia branca boliviana, de onde historicamente nascem os golpes contra governos progressistas. Quando Evo ganhou, em 2005, esse grupo conspirou contra ele, tentando articular uma situação golpista que o impedisse de governar o país.”
Camacho também tem adotado a alcunha de “Bolsonaro boliviano”, e além dos traços de violência fascista, combina elementos de fundamentalismo religioso. Ele se apresenta como um suposto representante de uma “justiça divina” contra os “comunistas” do MAS e indígenas, que tem uma cosmovisão baseada na crença e adoração da Pachamama (Mãe-Terra). Ele chegou a invadir o Palácio Quemado, sede presidencial, no domingo, e foi fotografado com uma bíblia aberta sobre a bandeira boliviana. “A Bíblia vai voltar ao Palácio do Governo”, era o seu lema nos últimos meses, quando liderou a ala radical contra o presidente Evo Morales.
“Ele representa o anseio da burguesia de Santa Cruz de estabelecer uma ditadura aberta, para desmontar tanto a estrutura política do estado plurinacional que Evo veio construindo nos últimos anos, quanto as conquistas econômicas e sociais do país. Eles querem a privatização das riquezas minerais. Defendem um novo modelo econômico vinculado umbilicalmente aos Estados Unidos e outros centros capitalistas, o que é uma regressão geral desse projeto econômico de resultados tão importantes”, afirma Altman. O viés racista anti-indígena, segundo ele, além da herança dos tempos coloniais, representa o ódio da elite contra os avanços sociais conquistados por indígenas, camponeses e trabalhadores.

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11 novembro 2019

Lula e o futuro

"A volta de Lula terá dois tempos. Agora, ele falará para a militância, para os pobres que já compuseram a base social do PT e para os aliados de uma esquerda que tentará reunificar", diz a colunista Tereza Cruvinel. "Num segundo momento ele deve tratar da ampliação de uma coalizão para enfrentar o bolsonarismo nas urnas de 2022, se Bolsonaro durar até lá

Adversários de Lula não sabem o que é democracia (Foto: Ricardo Stuckert)
Por Tereza Cruvinel*
O jogo muda com Lula, isso é certo, embora a vista não possa alcançar os desdobramentos de sua volta à luta política, em atos que demonstraram claramente sua dimensão como líder popular. O astral do Brasil já mudou.
Por ora, cabe esclarecer mistificações destinadas a semear receios e a tentar conter o despertar e a reaglutinação das forças populares derrotadas pela vitória da extrema-direita em 2018.
1.  Polarização não é radicalização
Está em curso a grosseira falácia de que a volta de Lula trará polarização e radicalização ao quadro político.  Ele traz a polarização com Bolsonaro, e isso é da essência da política. Agora haverá quem se contraponha ao poder unipolar do bolsonarismo,  assentado no autoritarismo, na vulgaridade, na ameaça constante às instituições do Estado de Direito e na imposição do projeto econômico-social neoliberal com debate interditado. Não há polarização onde não existe o pressuposto democrático da alternância no poder, da pluralidade política.
Lula já começou a polarizar com Bolsonaro no discurso da saída, ainda em Curitiba, e avançou na fala de sábado em São Bernardo. Mesmo preso, era ele, na oposição, que quando podia dava as pancadas mais duras no presidente.  Isso significa que haverá combate duro ao projeto de Paulo Guedes, à Lava Jato e a tudo que compõe o calcanhar de Aquiles de Bolsonaro, como as relações com as milícias, as investigações sobre o caso Mariele e o esquema das rachadinhas operadas pelo sumido Queiróz. Mas ninguém ouviu Lula pregar o impeachment de Bolsonaro ou mesmo o Fora Bolsonaro. Por ora, seu horizonte é o da eleição de 2022, quando a esquerda poderá derrotar a ultra-direita, como ele mesmo disse no sábado.
Polarização, entretanto, não é radicalização. Lula voltou para fazer política dentro do sistema, não vai agora se fantasiar de anti-establishment como Bolsonaro. Ele foi duas vezes presidente pelo sistema em vigor, disputando e vencendo eleições.  Não vai, portanto, instigar atos de violência da militância petista, que vai mobilizar, tentar tirar da letargia, reocupando as ruas e reagrupando o campo progressista.
A polarização com Bolsonaro estabeleceu-se em 2018, mesmo com Lula removido da disputa pela Lava Jato, porque o centro ou centro-direita não conseguiu produzir um candidato competitivo. Bolsonaro deu-se bem, surfando a onda antipetista e falando para os bolsões radicais conservadores que saíram do armário.
Vazio estava e vazio, pelo visto, continuará o chamado centro. “Queremos que Lula volte para a cadeira”, proclamou ontem numa rede social o  governador João Dória, candidato a candidato deste segmento do espectro. Com esse discurso, está fazendo eco ao bolsonarismo, não irá a lugar nenhum, não vai se diferenciar.  O outro é Luciano Huck, que ainda não encontrou o caminho para se apresentar como alternativa.
2.  Lula, a esquerda e o centro
A falácia de que Lula voltou mais à esquerda também é corrente. Ele mesmo teria dito algo parecido, o que também é mal compreendido. O que ele tem dito é que algumas concessões não poderão mais ser feitas. É que algumas propostas (ou medidas, se o PT voltar a governar o Brasil) não poderão mais ser abandonadas. Por exemplo, a regulação da mídia e a taxação das grandes fortunas.
Lula sabe, mais que ninguém, que a esquerda não vencerá sozinha. Foi com alianças ao centro, ampliado uma coalização progressista, que o PT venceu em 2002, 2006, 2010 e 2014. Dilma caiu, entre outros motivos, porque negligenciou a necessidade de ampliar seus apoios ao centro.
A volta de Lula terá dois tempos. Agora, ele falará para a militância, para os pobres que já compuseram a base social do PT e para os aliados de uma esquerda que tentará reunificar.  Com Ciro Gomes e o PDT dificilmente haverá reaproximação mas PC do B e PSOL estavam em São Bernardo. E há diálogo com o PSB, se não como um todo, pelo menos com a ala mais forte, a nordestina, liderada pelo governador de Pernambuco Paulo Câmara. 
Reconstruída a unidade possível, espelhando a Frente Brasil Popular do passado, reanimada a militância, quebrada a anestesia popular, num segundo momento ele deve tratar da ampliação de uma coalizão para enfrentar o bolsonarismo nas urnas de 2022, se Bolsonaro durar até lá.
Muitos no PT são contra qualquer reaproximação com os “golpistas” de 2016 mas a luta política, se exige coerência, exige também pragmatismo. A eleição municipal do ano que vem será o laboratório para a rearticulação de alianças, não com todo o centrão, não com todo o PMDB, mas com os setores de centro que hoje estão assustados com Bolsonaro e procurando uma boia de salvação. Muitos erros foram cometidos nas alianças do passado, e certamente o próprio Lula aprendeu com isso. Mas isolar-se na esquerda, isso não condiz com seu reconhecido tino político.
Também por isso, Lula vai polarizar, sim. Vai combater o governo Bolsonaro, oferecendo um projeto alternativo ao país, tentando fortalecer o polo da esquerda, e medindo forças já no ano que vem.
Não vai radicalizar no sentido de pôr fogo no circo, uma distorção semântica que está sendo propagada pelo bolsonarismo que agora haverá disputa e combate.
*Colunista do 247, Tereza Cruvinel é uma das mais respeitadas jornalistas políticas do País - Via 247