18 novembro 2019

Pasquim e 247- A força da imprensa alternativa



"O Pasquim de 50 anos atrás revive aqui no 247 e espero que dure não só para fazer história, mas para mudar a História do nosso país", diz Miguel Paiva, do Jornalistas pela Democracia. "Somos um bando de jornalistas competentes, malucos e teimosos que acreditamos num Brasil mais justo e mais feliz", definiu

Por Miguel Paiva, para o Jornalistas pela Democracia*
Na data de hoje [17/11], há exatos 50 anos, a atriz Leila Diniz dava sua famosa entrevista ao semanário Pasquim. Além de toda a repercussão que teve por conta da linguagem descontraída, apesar dos asteriscos nos palavrões, a entrevista selou a importância do Pasquim como jornal inovador e transgressor.
Alternativa talvez ao pensamento da classe dominante que acaba sendo o pensamento dessa "imprensa de cativeiro" como define muito bem meu parceiro Gustavo Conde. Se não for dele é de alguém que merece os mesmo louros. Na época da ditadura éramos a imprensa nanica, aquela pequena força, resultado da união de poucos e bravos jornalistas românticos e corajosos que viam num jornaleco semanal e de humor, a saída para o cerceamento das notícias e da informação em geral.
Em plena época soturna da ditadura pós AI-5 um jornal se arriscava toda a semana nas bancas. Acabou sendo a voz que faltava para o público leitor ávido de comentários sobre a realidade. O humor, sábio como sempre criava uma nova linguagem para transmitir essas notícias que a imprensa comum não conseguia.
A entrevista com Leila Diniz acabou por consolidar essa linguagem que já era a linguagem do Pasquim. Uma maneira coloquial e descontraída de falar sobre assuntos sérios ou não. O humor, como sempre, aborda os fatos por um viés inesperado, procurando o avesso da realidade, aliado à uma irreverência que vinha muito da intuição. Isso marcou o Pasquim como o representante não só de Ipanema e sua  fauna, como do Brasil inteiro que queria saber das coisas.
O jornal acabou vendendo mais do que sua capacidade de administrar tamanho sucesso. Eram jornalistas e não empresários e os empresários que se associaram acabaram metendo os pés pelas mãos, de modo intencional ou não e o que era muito bom acabou virando um puta abacaxi nas mãos daqueles jornalistas românticos.
Além dessa notória inaptidão para os negócios a ditadura não deixava o jornaleco em paz. Além da censura, a redação sofreu uma "gripe" coletiva nas masmorras de Deodoro que só podia ser noticiada, para justificar a ausência no jornal, como uma doença que acometeu todos ao mesmo tempo. Ninguém entendia o que acontecia e nós, os que não fomos presos e aí incluo Martha Alencar, Millôr Fernandes, Henfil e Chico Junior , tentamos manter o jornal vivo para, inclusive, pagar os salários da turma nobre da redação.
Foram dois meses de esforço sobre-humano para continuar a fazer um jornal dinâmico e engraçado. Todos os jornalistas, artistas, figuras de destaque do Rio e do Brasil colaboraram mas, assim mesmo, foi difícil vender como antes. O faturamento caiu mas o jornal resistiu. Quando foram soltos, a redação estava de pé, as contas em dia (até quando?) e o país na mesma. Mas o jornal continuou.
Somos um bando de jornalistas competentes, malucos e teimosos que acreditamos num Brasil mais justo e mais feliz. Através do Brasil247 faremos prosseguir nosso trabalho de informar, com textos ou charges que carregam toda a nossa força e indignação. O Pasquim de 50 anos atrás revive aqui no 247 e espero que dure não só para fazer história, mas para mudar a História do nosso país.
Quem puder dê um pulo no SESC Ipiranga em São Paulo para ver a exposição Pasquim 50 anos que além de comemorar a data lança a digitalização de todos os números do jornal que estarão à disposição na Biblioteca Nacional.
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*Miguel Paiva - Cartunista, ilustrador, diretor de arte, roteirista e criador da Radical Chic e Gatão de Meia Idade.

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