18 novembro 2022

É preciso desmilitarizar a República

"A questão republicana mais urgente é a erradicação do militarismo a que tanto deve a tragédia nacional"

"Por ora, a cor do Governo é puramente militar, e deverá ser assim. O fato foi deles, deles só, porque a colaboração do elemento civil foi quase nula. O povo assistiu àquilo bestializado, atônito, surpreso, sem conhecer o que significava. Muitos acreditaram seriamente estar vendo uma parada."
- Aristides Lobo (Diário Popular, 18/11/1889)
Por Roberto Amaral*

Implantada por um golpe militar, a República brasileira sucede um Império anacrônico, sem pretender romper com sua ordem econômico-social, fundada no escravismo e na lavoura. Com ela sobrevive a sociedade patrimonialista, excludente, profundamente desigual e conservadora que hoje nos espanta. Despida de republicanismo (doutrina que jamais chegou ao povo e era desconhecida pelas tropas que desfilaram pelas ruas do Rio de Janeiro em 1889), a república nascente conservaria as duas características básicas da monarquia, a cuja natureza reacionária seus líderes não se opunham de fato: a ausência de povo e de representação, fragilidade que a perseguirá por quase um sesquicentenário, o tempo de sua vida até aqui. A reforma, na realidade, jamais foi objetivo dos oficiais golpistas; pretendendo derrubar um gabinete malquisto por eles, terminaram destronando o imperador longevo – pelo qual, aliás,  o país nutria reconhecida empatia.   

A República, um projeto das elites que não cogitou do concurso do povo, se impõe para que, mudando-se o regime, em nada fosse alterado o mando: o Brasil agrário da monarquia sobreviverá na República da lavoura exportadora do café, herdeira das exportações de madeira, açúcar e ouro, matriz da sociedade exportadora de grãos, carne e minérios in natura. No império e na república, continuamos cumprindo o papel de fornecedores das mercadorias   que o mundo rico demanda. Para cumprir com seu destino chega descasada da democracia, exatamente um século após a matriz cunhada pela revolução francesa. Nos estertores do século XIX continuávamos sendo um país cuja política desconhecia a participação popular: sem povo, sem partidos, fizéramos a independência e construíramos o império; sem povo deveríamos fazer a república sereníssima. Entre nós, a res publica é capturada pelo interesse privado. Somos conservadores até com relação à classe-dominante:  herdeira da casa-grande, é a mesma desde o Brasil-Colônia.

Contra o unitarismo monárquico, no entanto abraçado pelos jacobinos que articularam o golpe, a constituinte fundadora da República (1891), dominada pelos representantes da ordem descaída, optou pelo federalismo defendido pelo latifúndio e pelo escravismo, que, assim, sem serem frustrados pela História, como veríamos, esperavam conservar o mandonismo local, aquele sentado na grande propriedade. A terra continuava vencendo. A República vai consolidar-se como o regime da hegemonia das oligarquias, que só conheceria seu declínio com o golpe de 1930, sobretudo com o Estado Novo (1937-1945) que, por sinal, investirá contra o federalismo. E hoje, ainda lutando pela consolidação do nosso limitado processo democrático, podemos registrar dois fracassos rotundos: o da República, jungida aos interesses privados, e o do federalismo, inviabilizado pelos escandalosos desníveis regionais, caldo de cultura de uma crise em gestação.

Mal saído do escravismo, cujas marcas conservaria até os dias que correm, o país dava os primeiros passos na aventura capitalista preso aos interesses da terra dominantes desde a colônia: a República era a solução das elites para a crise política agudizada pela Abolição. Na República, como no império, sob os traficantes de escravos e senhores de engenho ou sob o cutelo dos “coronéis”, o país continuaria sem projeto, sem rumo, preso às forças do atraso que obstaculizavam a industrialização. Numa história recorrente, o antigo regime colonial se projeta no império agrarista, que por seu turno sobreviveria numa república indiferente à manifestação da soberania popular, eis que dominada por um sistema eleitoral escandalosamente fundado na fraude. Como falar de República em sociedade pervadida pela desigualdade social e a exclusão das grandes massas da cidadania? Em vez da ruptura que abriria as portas ao progresso, impõe-se a conciliação que mantém a ordem do passado. Daí a indiferença com a qual foi recebida a fratura política aparentemente tão radical. Para a classe-dominante, a transição de regime não passaria da simples troca de um imperador vitalício por um presidente eleito pro-tempore. No fundamental,  tudo continuaria como dantes no quartel de Abranches. E assim continuou.

O 15 de novembro, movimento das elites sem raízes na organização social, foi, não obstante suas consequências institucionais e políticas, uma quase ópera-bufa, encenada por atores que, no seu conjunto, ignoravam o papel que lhes cabia desempenhar. O mais deslocado de todos era o velho marechal, retirado da cama de enfermo para se transformar em herói. A cena contempla momentos burlescos.

Convencido, após muita relutância, de que deveria atender ao chamamento político de seus comandados, posto em sua farda de gala com o auxílio do ordenança, Deodoro monta em um cavalo que lhe é trazido por um miliciano, atravessa a pequena distância que o leva ao Campo de Santana e, sem espada, mão direita levantada, saúda como saudavam os comandantes assumindo a tropa: “Viva o Imperador!”, a que a tropa (atendendo a um reflexo condicionado, como de hábito) ecoou: “Viva, para sempre!”. O capitão José Bevilaqua, positivista e seguidor de Benjamin Constant, narra o episódio a que assistiu:  “Chega  o momento supremo da proclamação. O general Deodoro hesita ainda ante nossas instâncias, a começar pelo Dr. Benjamin, Quintino, Solon, etc., etc. Rompemos em altos e repetidos vivas à República! Abafamos o viva ao Senhor D. Pedro II, ex-Imperador, levantado pelo general Deodoro, que dizia e repetia ser ainda cedo, mandando-nos calar! Por fim, o general, vencido, tira o boné, e grita também: Viva a República! A artilharia com a carga de guerra salva a República com 21 tiros!” (Vide MENDES, R. Teixeira. Benjamin Constant. Rio de Janeiro. Ed. do Apostolado Positivista do Brasil,1913. pp. 356-7).

Implantado, por um golpe militar levado a cabo pela oficialidade do exército sediada na então capital do Império, repita-se, o novo regime é a avenida pela qual trafegam rupturas constitucionais e irrupções militares que chegam aos nossos dias. Nasce com o golpe de 1889, a que se seguem o golpe frustrado de Deodoro (1891), o golpe de Estado de Floriano e a primeira ditadura republicana, conhecida como “ditadura da espada”,  e de permeio contabiliza duas revoltas da armada (uma contra Deodoro e outra contra Floriano, que assumira já confrontando a constituição republicana recém promulgada) e o levante das fortalezas de Santa Cruz e Laje (1892). Consolida-se o militarismo que havia sido atenuado pela assembleia constituinte (formada por representantes da lavoura, quase todos vindos do antigo regime) e influenciada pelo liberalismo de Rui Barbosa.

Mas era só o começo de uma série de crises políticas e intervenções militares que parece não ter fim: duas cartas outorgadas (1937 e 1967); duas longevas ditaduras (a de 1930-1945, com o intermezzo constitucional de 1943-1937 e a de 1964-1985); após os levantes das fortalezas de Santa Cruz e Laje (1892) a  revolta da armada contra o presidente Floriano (1893), após a “ditadura da espada” (1891-1894), seguida pelo  massacre, pelo “exército pacificador de Caxias”, dos camponeses de Canudos (1896-7) e o massacre, pela Marinha, dos heróis (previamente anistiados) da Revolta da Chibata (1910);  três levantes militares (1922, 1924 e 1935);  a insurreição paulista de 1932; o putsch integralista de 1938; o golpe militar de 1945 que derrubou o Estado Novo que outro golpe militar havia implantado em 1937; o golpe de 1954 que depôs Getúlio Vargas; a tentativa de golpe para impedir a posse de Juscelino Kubitscheck (1955); o golpe militar para garantir a posse dos eleitos (o 11 de novembro de 1955); os motins da aeronáutica contra o governo JK (Jacareacanga em 1956 e Aragarças em 1959); a tentativa de golpe para impedir a posse de João Goulart (1961), o golpe parlamentar de 2016 e o continuado projeto de golpe sustentado pelos militares no governo Bolsonaro que se mantém de pé até hoje, podendo ameaçar a posse de Lula e acompanhar seu governo.

Como visto, a preeminência sobre a vida civil e a ruptura da ordem democrática são a marca indelével da caserna insubordinada na vida republicana, e assim ela chega aos nossos dias, valendo-se das armas – que a nação lhe entrega para a defesa da soberania – para promover seguidos atos de desestabilização institucional contra os interesses do país.

Na raiz de tantos males a impunidade, o outro nome da “conciliação” que permeia uma história dominada pela cada-grande.   

À insolência das notas dos atuais comandantes das forças militares do Estado brasileiro sobre o processo eleitoral, coordenadas pelo ainda ministro da defesa, soma-se recente carta de antigo comandante do exército, missivista do golpismo desde sua agressão à autonomia do STF.  De qualquer forma é estranho que, privado da fala e dos movimentos, possa ditar e escrever uma declaração pública em que estimula a insurreição contra a soberania do voto e trata como patriota uma escória que vai à porta dos quartéis pedir mais um novo golpe.

A questão republicana mais urgente – sem dúvida o desafio político-institucional de maior relevo – é a erradicação do militarismo a que tanto deve a tragédia nacional. Não se trata, tão-só, da efetiva subordinação do soldado ao poder civil. Trata-se de seu rigoroso enquadramento disciplinar. Ou seja, da repressão à sua permanente insubordinação, tanto mais repugnante quanto se opera mediante o uso ilegal da força contra pessoas e instituições desarmadas.

É chegada a hora de colocar o guizo no gato. Este, o desafio republicano.

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Um medalhão na Big Apple – Com uma fala abjeta proferida num convescote empresarial em Nova York, aonde ministros do STF (irregularmente sobre-remunerados por empresa privada especializada em lobby) foram flanar e falar de temas brasileiros, Dias Toffoli, exemplarmente medíocre como advogado e juiz, conseguiu ofender a memória de dois países ao mesmo tempo: a Argentina e o Brasil – a cuja Constituição, democrática, deve respeito e obediência funcionais. Como dizia o inesquecível Barão de Itararé, “de onde menos se espera, daí é que não sai nada, mesmo”. Ou sai porcaria.
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*Roberto Amaral é Cientista político e ex-ministro da Ciência e Tecnologia entre 2003 e 2004

-Fonte: Brasil247

17 novembro 2022

O Brasil voltou: Lula na COP27 retoma o protagonismo do Brasil na governança global

Fórum ouviu especialistas em relações internacionais e meio ambiente sobre a participação de Lula na Conferência Climática e a avaliação é unânime: Brasil se livra do obscurantismo diplomático deixado por Bolsonaro e deve voltar a ter papel de destaque no mundo


Considerado "exuberante" pelo jornal The New York Times, o discurso feito pelo presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na Conferência da Organização das Nações Unidas (ONU) para o Clima, a COP 27, realizada no Egito, foi marcado, principalmente, pela frase "O Brasil está de volta".

"Quero dizer que o Brasil está de volta. Está de volta para reatar os laços com o mundo e ajudar novamente a combater a fome (...)  Voltamos para ajudar a construir uma ordem mundial pacífica, assentada no diálogo, no multilateralismo e na multipolaridade. Voltamos para propor uma nova governança global", declarou o ex-líder sindical que se prepara para governar o Brasil pela terceira vez a partir de janeiro de 2023. 

Em sua fala, Lula se comprometeu a não medir esforços para zerar o desmatamento no Brasil até 2030 e fez questão de dizer, por mais de uma vez, que a luta contra o aquecimento global e as mudanças climáticas está diretamente associada ao combate à pobreza e à fome. O presidente eleito ainda foi além, ultrapassando a questão ambiental e propondo uma reforma no Conselho de Segurança da ONU para a construção de uma nova "governança pacífica global". (...)

CLIQUE AQUI para continuar lendo a postagem do jornalista Ivan Longo na Revista Fórum.

11 novembro 2022

Responsáveis por novo comunicado da Defesa deveriam ser processados por prevaricação e atentado à democracia

Novo comunicado da Defesa é apenas irresponsável e vai na direção contrária à própria missão constitucional das Forças Armadas, que é de promover a paz


Ministro Paulo Sérgio Nogueira (Defesa) (Foto: Divulgação 14ª Brigada de Infantaria Motorizada | Marcos Corrêa/PR)

Por Miguel do Rosário*

O ministério da Defesa publicou hoje, nervosamente, uma série de postagens para “explicar melhor” o relatório divulgado ontem, no qual não apontava nenhuma fraude ou irregularidade nas eleições presidenciais.

Não poderia ser mais ridículo. Mas também não poderia ser mais claro. A Defesa cumpre ordens do presidente Jair Bolsonaro, que deve ter ficado furioso com o teor vazio do documento, e sobretudo com o sentimento de mal estar e frustração com que foi recebido pelas vivandeiras acampadas diante dos quarteis.

O novo comunicado não traz nada de novo. Busca apenas enfatizar que o relatório divulgado ontem (respire fundo): “embora não tenha apontado, também não excluiu a possibilidade da existência de fraude ou inconsistência nas urnas eletrônicas e no processo eleitoral de 2022”.

É a mesma coisa que afirmar que ainda não foi encontrada vida extraterrestre em nossa galáxia, mas nada garante que não poderia haver.

O país tem uma instituição que cuida desse tipo de coisa, o tribunal superior eleitoral. A ela cabe, constitucionalmente, cuidar do processo eleitoral, assim como cabe à polícia militar cuidar da segurança pública nos estados, e aos militares cuidar da nossa defesa contra inimigos externos.

Esse novo comunicado da Defesa, portanto, é apenas irresponsável, e vai na direção contrária à própria missão constitucional das Forças Armadas, que é de promover a paz. É um apito de cachorro para atiçar a matilha fascista. É, portanto, uma ação tresloucada, que deveria ser alvo de investigação da Procuradoria Geral da República, pelo Supremo Tribunal Militar, e autoridades competentes; os autores desse comunicado deveriam ser processados por crime de prevaricação e atentado à ordem democrática.

Até quando a sociedade brasileira ficará refém dessa palhaçada?

Se um dia o Brasil for atacado por outro país, certamente os militares não pedirão ajuda aos ministros do TSE. Da mesma maneira, em se tratando de eleição, os militares não tem que se meter. Não é de sua alçada.

Uma nova manchete desse comunicado poderia bem ser: “Ministério da Defesa reitera que não encontrou fraude nas eleições”.

Só que dessa vez, o objetivo, em linguagem quase infantil, para que seja melhor assimilado pelas pessoas com graves problemas cognitivos que ainda não aceitaram o resultado das urnas, é justamente insinuar o oposto, a saber, é lançar suspeitas.

Com isso, agora sabemos de onde veio o “código malicioso” mencionado no relatório. Não está nas urnas, nem no TSE. Veio diretamente das dependências onde um presidente ocioso, vagabundo e golpista, que ainda tenta, de alguma maneira, tumultuar a democracia.

O resultado, todavia, é melancólico. Não é função do Ministério da Defesa fazer qualquer tipo de reparo ao processo eleitoral. Não é sua competência constitucional. Não é sua responsabilidade. Nem possui legitimidade para isso. O Ministério da Defesa é uma instituição vinculada à parte que perdeu as eleições, portanto não tem sequer a imparcialidade necessária para ter esse tipo de posição.

Bolsonaro vai terminando seu governo da pior maneira possível. Depois de ter cometido todos os tipos de crimes eleitorais, especialmente abuso de poder econômico e político, volta a usar a máquina pública com fim espúrio de desestabilizar o processo democrático.

O presidente poderia ser lembrado de que ainda é o responsável pela economia brasileira, e que a inflação voltou a subir fortemente, de maneira que, ao invés de insuflar bloqueios de estradas e manifestações golpistas, poderia aproveitar seus últimos dias no Planalto para vivenciar uma experiência que ainda não teve: trabalhar um pouco.

*Jornalista, Editor do Blog O Cafezinho.

**Via https://www.brasil247.com/

09 novembro 2022

Morre Gal Costa, a musa do tropicalismo e uma das mais belas vozes do mundo

Impossível imaginar o mundo sem Gal Costa, tampouco o Brasil. Desde menina, na década de 60, a cantora nos mostra o que é a beleza, ousadia e criatividade


Por Julinho Bittencourt*

Morreu a cantora Gal Costa na manhã desta quarta-feira (9), aos 77 anos. A informação foi confirmada pela assessoria de imprensa da artista e a causa da morte é desconhecida.

Impossível imaginar o mundo sem Gal Costa, tampouco o Brasil. Desde menina a cantora nos mostra o que é a beleza, ousadia e criatividade.

Gal era a musa dos anos 70, a musa do movimento tropicalista, uma das vozes mais lindas do mundo. Ela nos encantou desde o início com seus discos que misturavam rock and roll, blues, João Gilberto e Janis Joplin.

A cantora seria uma das atrações do festival Primavera Sound, que aconteceu em São Paulo no último fim de semana, mas teve sua participação cancelada de última hora. De acordo com a equipe da própria Gal Costa, ela precisava se recuperar após a retirada de um nódulo na fossa nasal direita e ficaria fora dos palcos até o final de novembro, seguindo recomendações médicas.

A cirurgia ocorreu em setembro, pouco após sua apresentação em outro festival de música em São Paulo, o Coala. De lá para cá, ela não havia voltado a se apresentar, mas já tinha datas de shows da turnê As Várias Pontas de uma Estrela marcadas para dezembro e janeiro.

Primeiro álbum com Caetano

Todos nós, meninas e meninos, fomos namorados de Gal Costa. A imagem dela ao violão, com as pernas abertas e uma flor nos cabelos, nos alumbrou pra toda a vida. Poucos artistas nos deram tanta beleza e juventude, desde o álbum de estreia, o lindo "Domingo", gravado em parceria com Caetano Veloso. Nele, as tintas da Bossa Nova se fazia muito mais presente do que nos álbuns seguintes, quando se mostrou mais roqueira e selvagem.

Seu show que resultou no disco "Gal a Todo o Vapor", segundo o jornalista e humorista Zé Simão, era um programa obrigatório de todos os jovens que estavam no Rio de Janeiro na época. Nele, Gal ia do samba canção, da bossa, até o rock mais visceral, com canções escolhidas a dedo e uma banda refinada e pesada, que contava com os guitarristas Lanny Gordin e o então estreante Pepeu Gomes.

Da Tropicália para o mundo

Gal Costa sempre foi múltipla. Gravou de Jorge Ben a Roberto Carlos, de Caetano e Gilberto Gil a Luis Melodia, foi pop e tradicionalistagravou um álbum só com canções de Tom Jobim, inventou, reinventou, buscou durante toda a sua carreira artistas novos. Sua participação no álbum manifesto "Tropicália ou Panis et Circenses" foi fulminante e definitiva. A canção "Baby", de Caetano, virou sua marca registrada.

Ficou marcada também pelo "Modinha para Gabriela", de Dorival Caymmi, abertura da novela da Globo. Sobre ela, o compositor afirmou um dia que muitas atrizes interpretaram Gabriela, mas a voz da personagem sempre será única, sempre será a de Gal Costa.

Os Doces Bárbaros

Gal Costa atravessou mais de meio século fazendo música brasileira de extrema qualidade e inventividade. Foi ao lado do grupo dos baianos, sintetizado pela banda Os Doces Bárbaros, que ela encontrou sua essência artística e seus melhores momentos. Os companheiros Gilberto Gil, CaetanoMaria Bethânia, além dos poetas Wally Salomão, que produziu vários de seus espetáculos, Torquato Neto, Capinam, entre inúmeros músicos e artistas, ajudaram a moldar toda sua a grandeza.

Enquanto escrevo, logo após receber a notícia, vão voltando inúmeras cenas da minha e das nossas vidas cuja trilha sonora era a voz, o canto de Gal Costa. 

*Via Revista Fórum

07 novembro 2022

PEGADAS - Bebeto Alves



 

*Singela homenagem deste Editor por ocasião do passamento deste grande e engajado artista gaúcho. 

#Bebeto Alves: Presente!!!

NOTA DE PESAR PELO FALECIMENTO DE BEBETO ALVES


A Secretaria de Cultura do PT/RS e toda a militância petista se solidarizam com os familiares e amigos do querido Bebeto Alves, por sua passagem nesta manhã. 

Bebeto Alves foi um ícone da música popular gaúcha e da música brasileira, um multi artista, um formulador de políticas culturais, gestor do Instituto Estadual de Música no governo popular de Olívio Dutra, Secretário de Cultura e Turismo de Uruguaiana e diretor do Centro de Música da Funarte na gestão da ex-Ministra Ana de Hollanda e da Presidenta Dilma. 

Com mais de 30 discos lançados, com músicas gravadas por Ana Carolina, Belchior, Ednardo, Kleiton e Kledir, Tânia Alves, entre outros, Bebeto Alves dedicou-se ao trabalho como artista visual nos últimos anos, compôs trilha sonora para filmes e podcasts, incursionou pela fotografia e fez cinema.

Ao longo de sua carreira, idealizou e participou de centenas de projetos, como a clássica coletânea Paralelo 30 (1978), formada só por artistas gaúchos. 

Seu primeiro disco solo, foi lançado em 1981, testemunhando a longevidade da sua vida artística. Um de seus maiores sucessos na música veio com Quando Eu Chegar, lançada em compacto, em 1984. 

Ser humano extraordinário, militante e ativista inquieto, questionador e idealista, nos deixa um legado enorme de feitos artísticos e ações culturais que precisamos ajudar a manter vivos, embora tudo isso tenha já nos trazido uma enorme contribuição para a melhoria da qualidade das ideias e dos pensamentos da nossa sociedade.

Deixa um grande legado inesquecível na história da Cultura do RS. Seguiremos suas pegadas pelas ruas de Porto Alegre. 

Muitas luzes e estrelas para Bebeto Alves! 

*Com o site  https://ptrs.org.br/

05 novembro 2022

"PATRIOTAS" - Com estradas desbloqueadas, manifestações golpistas do bolsonarismo sobrevivem em quartéis

PRF afirma que não há mais rodovias federais com interdição total da passagem de veículos


Por Felipe Mendes, no Brasil de Fato*

Os bloqueios ilegais promovidos por bolsonaristas insatisfeitos com o resultado das eleições iniciados no último domingo (30), enfim, deixaram as estradas. Segundo a Polícia Rodoviária Federal (PRF), desde a noite de quinta-feira (3) não há qualquer rodovia com bloqueio total no país. Entretanto, alguns autoproclamados "patriotas" seguem em vigília junto a quartéis pelo país, protagonizando cenas que vão do ridículo ao criminoso.

Para o historiador e professor aposentado Valério Arcary, autor do livro "Ninguém Disse que Seria Fácil", o movimento atingiu seu ápice na última quarta, feriado de Finados, quando bolsonaristas mobilizaram grande número de pessoas, especialmente no Rio de Janeiro e em São Paulo, para pedir "intervenção federal" – um eufemismo para golpe de Estado. De lá para cá, a mobilização diminuiu. Porém, ele alerta: o bolsonarismo segue tendo força.

"Em geral essas manifestações são de um setor ativista mais radicalizado. O bolsonarismo é uma corrente neofascista, tem hegemonia dentro da extrema-direita brasileira, que é mais ampla. Tem um pé na legalidade e um pé fora. O que assistimos nesta semana vai voltar a ocorrer. Bolsonaro teve uma derrota eleitoral, mas o bolsonarismo no geral está intacto", avalia.

Para Arcary, a sinalização dúbia de Bolsonaro no discurso da última segunda-feira, aliada a outros movimentos, como a postura dos filhos dele, os parlamentares Flávio e Eduardo Bolsonaro, explicitam a forma do bolsonarismo se comunicar. Com isso, a chama golpista permanece acesa no coração dos seguidores mais radicalizados.

"Por exemplo, teve um áudio do Eduardo Bolsonaro convocando abertamente para manifestações nas portas dos quartéis na última quarta, apesar do Jair, no papel de presidente, ter feito a declaração que, na prática, reconhece a derrota eleitoral. Essa ambivalência será permanente. [Jair Bolsonaro] tenta se reposicionar como líder mais importante da oposição [ao governo Lula]", aponta Arcary.

Para o historiador, é preciso que lideranças de esquerda tenham atenção para derrotar o bolsonarismo, que seguirá com robusta representação parlamentar na próxima legislatura.

"Creio que vai se abrir uma polêmica na esquerda sobre a tática de como construir um movimento que seja capaz de derrotar o bolsonarismo. Não podemos normalizar a existência de uma corrente de extrema-direita neofascista no Brasil. É uma das estratégias para transformação do Brasil: derrotar politicamente esta corrente", conclui.

Detenções e multas

De acordo com a PRF, 966 manifestações em estradas tinham sido desfeitas até as 16h desta sexta. Havia ainda 11 protestos em andamento, espalhados por quatro estados (Amazonas, Mato Grosso, Pará e Rondônia), mas em todos as interdições eram parciais.

Ainda segundo informações da corporação, 45 pessoas foram detidas nas ações de desmobilização dos atos. Mais de 5.400 autuações foram realizadas, e o valor das multas somadas chega a R$ 14 milhões.

*Edição: Nicolau Soares - foto: Registros das concentrações de bolsonaristas são compartilhados em redes sociais - Reprodução/Twitter -Via https://www.brasildefato.com.br/

04 novembro 2022

É preciso investigar o golpe e punir os responsáveis

"O povo deixou clara sua vontade nas urnas e aguarda com ansiedade pelo restabelecimento da ordem democrática"

   Jair Bolsonaro e bloqueios de rodovias (Foto: ABr)

Por Paulo Moreira Leite*

A mensagem da transição política entre os governos Lula e Bolsonaro não pode ser escondida. 

Lula venceu a eleição -- nos dois turnos -- e será empossado com apoio  consistente da  maioria dos brasileiros e brasileiras, ampla o suficiente para dissuadir setores que hesitavam entre o respeito à democracia e uma adesão ao golpismo. 

Na reta final da campanha, a clareza da vantagem de Lula, em particular no primeiro turno, produziu o recuo de Bolsonaro -- após um misterioso sumiço de horas -- e de seus ministros e aliados,  que tiveram o bom senso de se afastar do ex-presidente e tentar entender-se com a nova ordem.

Três dias depois da proclamação do resultado das urnas, no entanto, está claro que, na noite da clandestinidade, bolsonaristas e seus aliados construíram uma máquina de violência e destruição, ainda ativa até agora. Apenas no dia de ontem, havia 129 bloqueios e interdições em rodovias federais. Conforme o Estado de S. Paulo, "no auge do movimento o número chegou a 420" bloqueios, uma barbaridade mesmo quando se recorda a expressiva malha de estradas do país. Ontem [02/11], em São Paulo, Rio de Janeiro, Santa Catarina, Minas Gerais e Distrito Federal ocorreram manifestações com milhares de participantes, que pediam "intervenção militar" e anulação da eleição que deu vitória a Lula. No Ibirapuera, bairro de São Paulo onde  funciona o Comando Militar do Sudeste, os bolsonaristas estabeleceram um acampamento de dias, e passam o dia a proferir ameaças selvagens à democracia.  Longe de constituir um movimento espontâneo, está claro que se trata de uma articulação combinada e preparada com antecedência. Os piquetes na porta de quartéis e outras instalações militares foram anunciados por vídeos que circulam há dias pelas redes sociais, com orientação e instruções que não deixam dúvida quanto a seus métodos e objetivos.  

Embora Jair Bolsonaro tenha feito um apelo público para que todos levantem acampamento para voltar para casa, a baderna permanece por horas -- o que indica uma situação de perda de controle, tão ou mais grave pelo risco que representa para a população. Trata-se de uma situação insustentável. O povo deixou clara sua vontade nas urnas e aguarda com ansiedade pelo restabelecimento da ordem democrática, indispensável para a formação de um novo governo. É disso que se trata, com a urgência que a democracia exige.

Alguma dúvida?

*Jornalista - via https://www.brasil247.com/

01 novembro 2022

LULA ELEITO - Discurso de Bolsonaro é o melhor exemplo de que a montanha pariu um rato

Com ar derrotado e infantil, o futuro ex-presidente reuniu dezenas de ministros para falar as bobajadas habituais e endossar baderna de seus seguidores, num pronunciamento vexatório de 2 minutos



Por Henrique Rodrigues*

Aconteceu. Sim, aconteceu o pronunciamento de Jair Bolsonaro (PL), o futuro ex-presidente que foi derrotado nas urnas e terá que deixar o cargo para que o eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), ocupe o Palácio do Planalto e retome a normalidade institucional do Estado brasileiro.

Após 45 horas do anúncio oficial do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) de que Lula venceu e comandará o país a partir de 1° de janeiro de 2023, o mandatário derrotado chamou a imprensa e resolveu falar, enquanto seus fanáticos e violentos seguidores tentam incendiar o Brasil há dois dias fechando rodovias em quase todos os estados e ateando fogo em barricadas.

Cercado por praticamente todo seu Ministério, junto do filho deputado e de outros aliados de peso, como um garotinho covarde que chama sua gangue para escoltá-lo antes da briga no recreio, Bolsonaro não reconheceu a derrota, tampouco questionou explicitamente a vitória do adversário, e passou 2 minutos e 20 segundos falando um emaranhado de groselhas (“Deus, pátria e família”, “porque a esquerda...”, “sentimento de injustiça”, “joguei dentro das quatro linhas da Constituição”).

Para piorar, deu endosso claro aos atos criminosos de seus seguidores fanatizados e extremistas, e de forma ridícula deu um jeito de colocar “a esquerda” no meio, embora a mídia corporativa se esforce num malabarismo louco para dizer o contrário, que ele repudiou os atos só porque disse que “manifestação que não é pacífica é coisa de esquerda”.

O mandato de Jair Bolsonaro foi a página mais tosca e bizarra da História do Brasil e, para terminá-lo, o patético homem que um dia chegou à chefia do Estado profere um discurso bobo, cínico, que não diz absolutamente nada de relevante, que não cumpre ritos e liturgia, ajudando ainda a tumultuar o país ao mencionar levemente de forma positiva a arruaça de seus fãs golpistas e tresloucados.

Mais do que nunca, a gritaria, o chilique, a birra e a prevalência de um comportamento infantilizado e odiento de Bolsonaro fizeram justificar aquilo que sempre se apontou em seus quatro anos de “gestão” à frente do Planalto: a montanha pariu um rato.

*Via Revista Fórum

28 outubro 2022

NOTA DE PESAR E HOMENAGEM A DIÓGENES JOSÉ CARVALHO DE OLIVEIRA - PT/RS


A Direção Estadual do Partido dos Trabalhadores lamenta o falecimento de Diógenes Carvalho de Oliveira, na madrugada desta sexta-feira, 28.10, em consequência de câncer.

Diógenes nasceu em 1942, em Júlio Castilhos, Rio Grande do Sul. Filho e neto de maragatos, aos 17 anos integrou o Partido Comunista Brasileiro, participando ativamente do Movimento da Legalidade. Foi bancário e funcionário da CEEE, participando como sindicalista da resistência ao golpe civil-militar, em 1964. Perseguido, Diógenes foi para o exílio em Montevidéu, militou no Movimento Nacionalista Revolucionário (MNR) ao lado de Leonel Brizola e na OLAS (Organização Latino-Americana de Solidariedade) de Salvador Allende, quando conheceu Ernesto Che Guevara. Já em São Paulo, junto com Onofre Pinto e outros militares e operários remanescentes do MNR funda a Vanguarda Popular Revolucionária, onde atuou ao lado de Carlos Lamarca. Preso em 1969, torturado barbaramente, sua cela, hoje, faz parte do Museu da Resistência/SP. Do corredor da morte, no DOPS, foi enviado para o México, em troca do cônsul japonês de São Paulo. No exílio, com sua companheira, Dulce de Souza Maia, do México, Diógenes viveu em Cuba, Coréia do Norte, Chile, Bélgica e Portugal, durante a Revolução dos Cravos, em 1974. Seu último refúgio como expatriado foi em Guiné-Bissau, ex-colônia portuguesa na África, onde residiu durante oito anos e foi membro ativo do governo e desenvolveu projetos inovadores de gestão pública. Lá conheceu a portuguesa Marilinda Marques Fernandes, mãe de seus dois filhos Rodrigo e Guilherme.

Ao retornar ao Brasil, em Porto Alegre, trabalhou com o vereador Valneri Antunes/PDT. Logo se engajou na construção do Partido dos Trabalhadores, foi candidato a vereador e, em 1990, foi Secretário dos Transportes na gestão de Olívio Dutra. Em 2001, foi vitima de um processo político, quando a direita, por vias institucionais, tentou derrubar o então governador Olívio Dutra. Diógenes foi absolvido em todas as instâncias jurídicas. Em 2014, lançou sua biografia Diógenes O Guerrilheiro.

Perdemos um homem de dignidade e coragem ímpares, desses que são imprescindíveis, dos que honram a trajetória do PT e da luta do povo brasileiro em defesa da democracia, liberdade, direitos e soberania. Seu lema, “Ousar Lutar, Ousar Vencer”, nunca foi tão atual.

Diógenes, Presente!

*Via https://ptrs.org.br/

27 outubro 2022

Sobre ansiedade, esperança, democracia, tempestade ... e calmaria



Por Laís Garcia, no seu face*

Eu sei que a ansiedade bate nesses dias que antecedem uma eleição tão importante - eu também me sinto assim -, mas, vou te dizer: nem por um segundo eu gostaria de eliminar totalmente essa emoção. Ela me comunica que eu estou do lado certo, do lado da democracia, do lado do que eu valorizo.

Apesar de eu não ter a intenção de me livrar da ansiedade, é claro que não preciso mergulhar nela como se fosse a única coisa presente nesse momento, né?
Pra isso, minha estratégia tem sido me aproximar de um contexto de esperança - de pessoas, lugares, conteúdos, pesquisas, dados etc., que contribuam pra diluir essa ansiedade quando ela vem. Te convido a experimentar fazer isso e observar como tu te sentes; além disso, se possível, te convido a compartilhar isso tudo com quem está ao teu redor também.
Sabe aquela sensação boa que dá quando a gente enxerga alguém adesivado, representando aquilo que acreditamos, fazendo aquele L? Pois é, o outro também sente isso ao nos ver assim.

Tudo indica que, depois da tempestade, no dia 30 finalmente virá a calmaria. Vamos, juntos, mandar a extrema-direita para a lata de lixo da história, meus queridos. A luta segue, mas ela já está quase no fim...

*Laís de Mattos Garcia (foto) é psicóloga, natural de Santiago/RS; reside em Esteio/RS e trabalha nessa cidade e na Região Metropolitana de Porto Alegre. (E.T.: É filha deste orgulhoso 'papai' - e modesto Editor!).

O liberalismo tropical

O liberal brasileiro não discute pautas progressistas em matéria de costumes, o que contradiz a essência mesma do liberalismo


Por Marcelo Duarte (*)

Em recente artigo para este espaço de Opinião (“Bolsonarismo: uma tentativa de definição”) fiz uma breve referência ao avanço eleitoral da pauta liberal nas eleições de 2014 e afirmei que tal progresso foi o primeiro passo do movimento histórico que culminou com a eleição do projeto pós-fascista de Bolsonaro em 2018 – por sua vez, responsável pela articulação entre direita conservadora, extrema-direita e nacionalismo cristão, cujo resultado é a síntese histórica denominada bolsonarismo.

Todavia, não forneci maiores detalhes acerca do que compreendo como “liberalismo tropical”.

O liberal brasileiro se caracteriza, essencialmente, pela pauta econômica neoliberal, cujo mantra é a privatização, eufemisticamente tratada como liberdade econômica.

Ora, em primeiro lugar, qualquer carteira de uma sala de aula de um curso de economia sabe que liberdade econômica não se restringe a privatizações, e tampouco a uma reforma tributária que desburocratize o empreendedorismo, fato que não contestamos.

Todavia, não se vê na pauta liberal brasileira qualquer discussão a respeito da tributação sobre lucro e dividendos, de grandes fortunas e acerca da incidência de impostos sobre o consumo, que oneram, sobretudo, as classes menos favorecidas economicamente, o que também é discussão sobre liberdade econômica.

Em segundo lugar, o liberal brasileiro não discute pautas progressistas em matéria de costumes, tais como o aborto, a homofobia, o racismo, a misoginia, os direitos humanos, o patriarcalismo, o machismo, a manipulação religiosa, os discursos de ódio contra minorias e a desigualdade social.

Bem, isso contradiz a essência mesma do liberalismo, jamais marcado tão só pela liberdade econômica, mas também, e sobretudo, pela defesa da liberdade religiosa, de consciência, de crença, política, moral e, mais ainda, pela igualdade e pela fraternidade, movimentos fundamentais para a solidificação dos direitos civis e políticos nos grandes processos constitucionais do século XVIII (revoluções francesa e estadunidense).

E mais ainda: como todo bom liberal, não vê problemas em se socorrer no Estado quando vítima de crises cíclicas ou especulativas do modo de produção capitalista, e tampouco em buscar financiamento para a expansão de seus lucros em linhas de crédito públicas – muito embora um de seus mantras seja a sonegação de impostos, o qual, juntamente com o da redução da carga tributária, impacta exatamente a criação daquelas linhas de crédito.

É possível se encontrar tais liberais dispersos em partidos tradicionais – sobretudo UNIÃO, PL, PATRIOTAS e PSDB.

Recentemente, sobretudo a partir de 2013, com o avanço dos ditos movimentos “cívicos e de cidadania”, organizações sociais liberais como LIVRES e MBL começaram a tentar pautar a política tradicional, elegendo representantes de um suposto novo liberalismo brasileiro, focado tanto na pauta econômica quanto de costumes.

Foram, contudo, fagocitados pela direita conservadora, pela extrema-direita e pelo nacionalismo cristão, sobretudo a partir das eleições de 2018.

O movimento LIVRES, por exemplo, até há pouco tempo integrou o PSL e integrantes do MBL elegeram-se para o Congresso, em 2018, por partidos como o antigo DEM – hoje UNIÃO, após sua fusão com o PSL. Além disso, hoje não é incomum se ver “empreendedores cristãos”, com suas respectivas pautas moralistas, por todos os lados.

Hoje esses “novos liberais” podem ser encontrados no que restou do NOVO, que sequer conseguiu atingir a cláusula de barreira, e em algumas adesões pontuais ao PODEMOS, PSC e CIDADANIA.

Contudo, sem a construção de um partido forte, essencialmente distinto – na teoria e na prática – do liberalismo praticado até então pelos partidos tradicionais, tais grupos tendem a gradativamente perder espaço no debate público nacional.

Eleitos por conta do antipetismo que predominou nas eleições de 2018 e de seu adesismo incondicional ao projeto pós-fascista de Bolsonaro naquelas mesmas eleições, os movimentos identificados com tal liberalismo estão, a bem da verdade, em busca da construção de uma identidade – a mesma que perderam por conta daquele adesismo.

*Via Sul21 - Foto: Joana Berwanger/Su21

**Marcelo da Silva Duarte, publicitário, bacharel em Direito  e jornalista,  é natural de Santiago/RS; reside atualmente em Caxias do Sul/RS  - Nota deste Editor