O que não tenho e desejoÉ que melhor me enriquece.Tive uns dinheiros — perdi-os...Tive amores — esqueci-os.Mas no maior desesperoRezei: ganhei essa prece.
Vi terras da minha terra.Por outras terras andei.Mas o que ficou marcadoNo meu olhar fatigado,Foram terras que inventei.
Gosto muito de crianças:Não tive um filho de meu.Um filho!... Não foi de jeito...Mas trago dentro do peitoMeu filho que não nasceu.
Criou-me, desde eu meninoPara arquiteto meu pai.Foi-se-me um dia a saúde...Fiz-me arquiteto? Não pude!Sou poeta menor, perdoai!
Não faço versos de guerra.Não faço porque não sei.Mas num torpedo-suicidaDarei de bom grado a vidaNa luta em que não lutei!
Manuel Bandeira
(29 de janeiro de 1943)
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