Lula só vingou porque subverteu a ordem das coisas imposta pelo conservadorismo. Mas descuidou de alçar o novo protagonista em sujeito histórico. Haverá tempo?
Por Saul Leblon, na Carta Maior*
Um viés da crítica progressista ao ciclo de governo do PT guarda certa identidade com a avaliação conservadora desse período.
Não se diga que as intenções de partida e de chegada são as mesmas.
Mas há o risco de conduzirem ao mesmo afunilamento economicista.
Aquele que leva à inútil tentativa de se buscar um equilíbrio macroeconômico exclusivamente ancorado em variáveis de mercado, origem, justamente, de desequilíbrios hoje só equacionáveis satisfatoriamente com um salto de força e consentimento progressista.
Ao se enveredar por esse caminho – como mostra o governo Dilma — fica difícil escapar ao redil do ajuste neoliberal.
Ardilosamente economicista, ele próprio, sonega à democracia o direito --e a capacidade-- de conduzir a agenda do desenvolvimento para além dos limites, finalidades e interesses estipulados pelos detentores da riqueza.
Sobretudo daquela parcela derivada do capital especulativo, cuja supremacia se impôs a todas as latitudes, a partir da desregulação dos mercados financeiros desde o final dos anos 70.
Tal armadilha desguarnece a capacidade de iniciativa na medida em que se abdica do único trunfo capaz de fazer frente à hegemonia dos mercados: dotar o desenvolvimento de um protagonista social, que o conduza pelos trilhos de uma democracia participativa assim revigorada.
É um pouco a renúncia a isso que espeta no governo hoje a angustiante imagem de um refém em seu labirinto, conduzido para onde não quer ir, sem no entanto ter forças para declinar.
Ao embarcar na busca de uma regeneração da economia nos seus próprios termos, setores progressistas correm o risco de se perder nesse círculo de ferro.
Há quem diga que a danação é inevitável. E passe até a enxergar nela a miragem da virtude.
Um caso antigo de conversão na teoria e na prática, com as consequências sabidas?
Fernando Henrique Cardoso.
Eis alguém que não se pode acusar de incoerência entre a obra teórica e o legado público.
A dependência brasileira em relação aos ditames dos capitais mundiais é inexorável, ‘e o Brasil do PT perdeu seu tempo ao afrontá-la’, pontificava o tucano em artigo retrospectivo, em 2013, por exemplo.
O raciocínio vem de mais longe. (...)
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