Jaqueline Silveira
Porto Alegre/RS - Sul21 - A 20ª Marcha dos Sem realizada, na tarde desta sexta-feira (11), na Capital, foi marcada por manifestações contra o pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT), aberto pelo presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB), no final do mês de novembro. Organizada pelas centrais sindicais e movimentos sociais, a marcha iniciou na Rótula das Cuias, passou por ruas centrais e terminou em frente ao Palácio Piratini, com o canto do Hino Nacional.
Sob muito calor, os manifestantes com camisetas “Fora Cunha, não vai ter golpe” e muitas bandeiras de diferentes entidades sindicais e de alguns partidos foram se juntando na Rótula das Cuias. Segundo a Brigada Militar, 2 mil pessoas participaram da marcha. Para se proteger do sol, abrigavam-se debaixo das árvores, enquanto no carro de som lideranças sindicais se revezavam no microfone, intercalando com cantos de “Não vai ter golpe, vai ter luta”, “Não vai ter golpe, fora Cunha”.
Denunciado pela Procuradoria-Geral da República (PGR) por desvio de recursos da Petrobras na Operação Lava Jato e por manter contas secretas na Suíça, o presidente da Câmara foi o principal alvo dos manifestantes. “O Cunha sai, a Dilma fica, “1, 2,3, o Cunha no xadrez”, “Cunha Fora daqui, vai embora e leva junto o Levy”, gritavam os participantes, fazendo também uma referência ao ministro da Fazenda, Joaquim Levy.
Contra a política econômica
Em cima do caminhão, lideranças afirmaram que não concordam com a política econômica do governo Dilma, contudo o mais importante é a defesa da democracia e a manutenção do mandato da presidente. “Nós temos críticas à política econômica, mas os que estão propondo o golpe não querem fazer uma política melhor para os trabalhadores”, disse uma das lideranças, ao microfone. E prosseguiu: “O que está em jogo são os direitos dos trabalhadores, não só as conquistas dos 12 anos.”
“Porto Alegre é o centro da democracia na luta pelo Brasil não podia deixar de participar. Os que defendem o impeachment da presidenta Dilma sãos os mesmos que querem acabar com a carteira assinada, com a correção do salário mínimo. É por isso que a CUT está na rua”, comentou o presidente nacional da Central Única dos Trabalhadores, Vagner Freitas, assim que chegou à concentração da marcha.
Em boa parte do trajeto da marcha, os manifestantes intercalaram mais cantos contra Cunha. A Rede Globo também esteve na mira dos manifestantes. “O povo não é bobo, abaixo a Rede Globo”, gritavam. Também predominou os canto de “Direita recua que o povo está na rua.” Nos locais onde havia pessoas assistindo, os participantes convidavam a se somar à manifestação “Vem, vem, vem pra rua, vem é contra o golpe.” “A Marcha dos Sem vem sempre como símbolo de luta e estamos aqui em defesa da democracia. Não haverá golpe e, se for necessário, estaremos mais vezes aqui”, disse a diretora colegiada do Sindicato dos Empregados em Empresas de Assessoramento, Perícias, Informações e Pesquisas e de Fundações Estaduais do Rio Grande do Sul (Semapi), Maria Helena Oliveira, que carregava, junto com outros companheiros, uma faixa em defesa dos servidores públicos.
Gritos para Temer
Os manifestantes também não se esqueceram do vice-presidente da República: “Ô Michel Temer, presta atenção! O meu Brasil não aceita traição.” A Marcha dos Sem levou 45 minutos para chegar em frente ao Palácio Piratini. Ao se aproximarem do local, o recado foi para o governador José Ivo Sartori (PMDB). “Ô, ô Sartori pode esperar, a tua hora vai chegar”, “Não basta governar, tem de ter lado”. Em frente ao Palácio, as principais lideranças das centrais sindicais se manifestaram. Primeira vice-presidente do Centro dos Professores do Rio Grande do Sul (Cpers), Solange Carvalho disse que é importante lutar por melhores salários e pelos direitos dos trabalhadores. “Mas é muito mais importante lutar pela democracia neste momento”, completou a dirigente do Cpers.
Já a representante do PCdoB, Abigail Pereira, criticou as administrações dos tucanos como, por exemplo, nos governos de São Paulo e do Paraná, em que ocorreram confrontos com estudantes e professores, respectivamente. Também focou em Sartori, que é da mesma cidade de Abigail: Caxias do Sul. “Eu assisti ao Sartori na rua contra a ditadura, não é em cima do muro o seu lado”, cutucou ela, em frente ao Palácio, sobre o fato de o governador gaúcho não tomar uma posição em relação ao impeachment. Presidente estadual do PT, Ari Vanazzi chegou a pedir “uma vaia sonora” a Sartori e foi prontamente atendido. “Um governador tem de ter lado, tem de ter opinião”, cobrou o petista. O dirigente do PT convocou, ainda, os movimentos sociais a continuarem “fortes e unidos” contra “o homem mais corrupto” numa referência a Cunha e em defesa do mandato de “uma presidenta honesta.”
“Vocês têm de ir para a rua defender os seus direitos”, conclamou o presidente nacional da CUT. Em caso do afastamento da presidente Dilma, segundo Vagner Freitas, os trabalhadores “serão perseguidos”. “Mas isso não vai acontecer”, afirmou o líder sindical. Ele acrescentou que as centrais sindicais têm críticas à política econômica adotada pelo governo federal, defendendo uma plataforma voltada para os trabalhadores, que elegeram a chefe do Palácio do Planalto. “A luta não é só pelo mandato da Dilma, é pela luta contra retrocessos,” frisou Freitas.
As manifestações foram encerradas por João Pedro Stédile, integrante da coordenação nacional do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST). “O Brasil vive uma grave crise econômica, política, social e ambiental e o responsável é a lógica de exploração do capitalismo que não tem limites”, disse ele, no início de seu pronunciamento. Stédile afirmou que o que está em jogo “são os rumos do país” e que o processo de impeachment aberto pelo presidente da Câmara foi “um salvo-conduto” para Cunha evitar a prisão, “largando a bomba para o lado da Dilma”. “O diabo faz a panela, mas não faz a tampa”, observou Stédile, dizendo que a estratégia de Cunha não funcionará por muito tempo e motivou os movimentos sociais a saírem às ruas para pedir seu afastamento.
Ele convocou os movimentos sociais para continuarem fazendo mobilizações e mais próximo da votação viajarem em caravana a Brasília, permanecendo em vigília para “impedir que canalhas como Eduardo Cunha estejam fora da cadeia.” “As batalhas finais serão travadas lá por março ou abril depois do Carnaval”, avaliou o representante do MST, referindo-se às votações do pedido de impeachment no Congresso Nacional.
O ato se encerrou da mesma maneira que começou, ao canto de “não vai ter golpe, vai ter luta.”
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Fonte: Sul21 http://www.sul21.com.br/
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