26 abril 2019

Ódio do povo, não Mourão, poderá derrubar Bolsonaro


Por Alex Solnik, colunista do 247 e membro Jornalistas pela Democracia*
Outro dia, relendo "O Príncipe", encontrei conselhos elaborados por Nicoló Maquiavel no século XV que podem ser muito úteis a Jair Bolsonaro, já que suspeita de conspiração de seu vice Hamilton Mourão.
"Um príncipe deve dar pouca importância às conspirações se o povo lhe é benévolo, mas quando este lhe seja adverso e o tenha em ódio, deve temer a tudo e a todos". (Capítulo XIX)
"Contra a inimizade do povo um príncipe jamais pode estar garantido, por serem muitos; dos grandes, porém, pode-se assegurar porque são poucos". (Capítulo IX)
"Um príncipe deve estimar os grandes, mas não se fazer odiado pelo povo". (Capítulo XIX)
"A um príncipe é necessário ter o povo como amigo, pois, de outro modo, não terá possibilidades na adversidade". (Capítulo IX)
"Um dos mais poderosos remédios que um príncipe pode dispor contra as conspirações é não ser odiado pela maioria". (Capítulo XIX)
"A natureza dos povos é vária, sendo fácil persuadi-los de alguma coisa, mas difícil firmá-los nessa persuasão". (Capítulo VI)
Isto talvez explique a sua vacilação diante da reforma da Previdência de Paulo Guedes, que a população já começa a odiar. É o medo de ser odiado.
À medida em que lia, fui anotando as citações que tinham alguma coisa a ver com o que está acontecendo hoje no Brasil. Encontrei muitas. Até parece que alguém leu esse manual dos ditadores para Bolsonaro. E ele o transformou em bíblia.
Maquiavel ensina, a certa altura, a dominar uma sociedade que vive em liberdade e parece estar sendo obedecido pelo atual ocupante do Palácio do Planalto:
"Quando aqueles estados que se conquistam estão habituados a viver com suas próprias leis e em liberdade, há três modos de conservá-los: o primeiro, arruiná-los". (Capítulo V)
"Quem se torne senhor de uma cidade acostumada a viver livre e não a destrua, espere ser destruído por ela". (Capítulo V)
Maquiavel ressalta a importância das armas para se manter um regime ditatorial e, de novo, parece ter sido seguido à risca por Bolsonaro:
"Jamais existiu um príncipe novo que desarmasse os seus súditos, mas, antes, sempre que os encontrou desarmados, armou-os; isto porque, armando-os, essas armas passam a ser tuas, tornam fieis aqueles que te são suspeitos, os que eram fieis assim se conservam e de súditos tornam-se teus partidários". (Capítulo XX)
"Quando os príncipes pensam mais nas delicadezas que nas armas perdem seu estado". (Capítulo XIV)
"Todos os profetas armados venceram e os desarmados fracassaram". (Capítulo VI)
Maquiavel também adverte que príncipe não pode ser bonzinho:
"É muito mais seguro ser temido que ser amado". (Capítulo XVII)
"Um príncipe não deve temer a má fama de cruel, desde que por ela mantenha seus súditos unidos e leais". (Capítulo XVII)
"É necessário a um príncipe que queira se manter aprender a poder não ser bom e usar ou não da bondade, de acordo com a necessidade". (Capítulo XV)
Não há problema algum em o príncipe ter as piores qualidades de um ser humano, desde que aparente ser virtuoso:
"Aquele que engana, sempre encontrará quem se deixe enganar". (Capítulo XVIII)
"A um príncipe não é essencial possuir todas as qualidades, mas é bem necessário parecer possuí-las.
Parecer piedoso, fiel, humano, íntegro, religioso". (Capítulo XVIII)
"Todos veem o que tu aparentas, poucos sentem aquilo que tu és e esses poucos não se atrevem a contrariar a opinião dos muitos". (Capítulo XVIII)
"Os príncipes devem atribuir a outrem as coisas odiosas, reservando para si aquelas de graça". (Capítulo XIX)
Ainda que pose de camisa pirata e chinelão, Bolsonaro se parece cada vez mais com o Príncipe de Maquiavel.
*Fonte Brasil 247

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