“A PRIMEIRA VÍTIMA” E A PAZ
Por Ângela Carrato, especial para o Viomundo*
Quem conhece um mínimo de história, sabe que não é a primeira vez que a mídia corporativa brasileira é porta-voz de uma espécie de gritaria generalizada em defesa de um dos lados em guerras nas quais o Brasil não tinha qualquer envolvimento.
Até aí não haveria muita diferença em relação ao que se verifica agora com a Guerra na Ucrânia, se não fosse o papel central que a mídia assumiu na contemporaneidade. Se não fossem, também, os grandes e gravíssimos prejuízos que tal envolvimento pode trazer para o Brasil e os brasileiros.
Desde que esta guerra começou oficialmente, todos os noticiários de jornais, rádios e TVs da mídia corporativa brasileira deixaram de lado qualquer assunto relativo ao país e só falam no conflito no Leste Europeu, apresentando-o da forma mais unilateral possível.
Seguem à risca as visões e interesses de uma das partes envolvida: os Estados Unidos e seus aliados europeus, integrantes do Tratado do Atlântico Norte, (OTAN) uma aliança militar, que deveria ter acabado, quando da extinção de seu equivalente, o Pacto de Varsóvia, após o fim da URSS, em 1991.
Pela visão “Ocidental” (leia-se Estados Unidos e Europa), a Rússia, país que vem sendo paulatinamente cercado por bases militares da OTAN, foi transformado em agressor.
O presidente Vladimir Putin, por reivindicar segurança para seu país e seus habitantes, está sendo pintado como ditador sanguinário. As ações russas, demandando negociação e cumprimento de compromissos por parte do Ocidente, são demonizadas e proteladas.
O presidente da Ucrânia, Zelensky, de neonazista e fantoche dos Estados Unidos, virou “herói nacional” e o Ocidente é apresentado como “mocinho” e “salvador da humanidade”.
É com esse quadro, absolutamente distorcido e radicalizado, que a mídia corporativa brasileira presta mais um desserviço ao país. Como se não bastasse desinformar e deformar os fatos, ainda cobra definição pró-Estados Unidos/OTAN do governo brasileiro.
Cobrança em parte já contemplada, com o voto do Brasil na Assembleia Geral Extraordinária da ONU somando-se aos que condenam a Rússia e alinhando-se aos Estados Unidos e à Europa.
Havia outra solução? Claro que sim. O Brasil poderia insistir na defesa da paz, na busca de negociações rápidas para por fim à guerra e ter se somado aos 35 países que se abstiveram nesta votação, entre eles dois pesos-pesados mundiais, China e Índia.
Aliás, China, Índia e Brasil, integrantes dos BRICS – junto com a própria Rússia e a África do Sul -, teriam legitimidade para se apresentar como mediadores num processo tão delicado e complexo. Tudo indica que a China cumprirá esse papel.
Quanto ao Brasil, perdeu-se outra vez na irrelevância e subserviência ao imperialismo estadunidense, que marcam o governo Jair Bolsonaro.
Recuperada do que foi o período em que teve como ministro das Relações Exteriores o terraplanista Ernesto Araújo, a diplomacia brasileira bem que tentou. A nota divulgada pelo Itamaraty e as primeiras manifestações do representante do país na ONU foram em defesa da paz e das negociações, características do soft power brasileiro. (...)
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