Os sorrisos do encontro representaram uma humilhação histórica para os que querem um Brasil pequeno e submisso
Lula, Anthony Blinken e Celso Amorim (Foto: Foto: Ricardo Stuckert / PR)
Por Leonardo Attuch*
A imprensa corporativa brasileira não faz oposição ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ela se opõe, na verdade, à ideia de Brasil soberano que Lula encarna. É este pressuposto que explica a histeria recente em torno das declarações do presidente, durante uma entrevista na Etiópia, sobre o genocídio em curso contra o povo palestino, uma verdade insofismável. Foi por julgar que a fala de Lula iria de encontro aos interesses internacionais que esta mesma imprensa supõe representar, que seus editorialistas e colunistas mergulharam de corpo e alma na mais recente campanha midiática contra o presidente Lula.
Entretanto, para azar dos "vira-latas", com a ressalva de que os cães não merecem comparação com essa gente, a estrela de Lula segue brilhando de forma intensa e o presidente se encontrou, nesta quarta-feira, com o chefe do Departamento de Estado, Anthony Blinken. As fotos do encontro, em que ambos aparecem sorridentes, representam uma humilhação histórica para a imprensa brasileira. As imagens falam por si e, obviamente, Blinken respeitou a posição do Brasil sobre a Palestina, não fez cobranças, nem exigiu qualquer tipo de retratação em relação a Israel, como vinha sendo cobrado pelos porta-vozes locais da diplomacia da vassalagem. A despeito disso, como a mídia brasileira jamais se retrata, o que Globo, Folha, Estadão, Valor e Metrópoles destacam hoje, em suas manchetes, é a declaração do porta-voz do Departamento de Estado, Matthew Miller, sobre uma divergência dos Estados Unidos em relação à posição do Brasil. Ok, Brasil e Estados Unidos podem divergir e não há nada de transcendental nisso. Lula vê um genocídio e Joe Biden ou não enxerga ou não pode assumi-lo, uma vez que a guerra de Israel é financiada pelo governo estadunidense.
O encontro entre Lula e Blinken, no entanto, deve ser lido a partir das declarações do próprio chefe do Departamento de Estado. "O Brasil é um parceiro fundamental em muitas questões, incluindo o combate à crise climática e a promoção dos direitos humanos e trabalhistas. À medida que nos aproximamos dos 200 anos de relações EUA-Brasil, nossos laços estão mais fortes do que nunca", disse ele.
Neste ano eleitoral nos Estados Unidos, em que Biden pode ser derrotado por Donald Trump justamente pelo horror das imagens que vêm de Gaza, assim como pelo cansaço com a guerra da Ucrânia, Lula oferece a ele uma agenda positiva. Em vez de bombas e destruição, a preservação da Amazônia, a transição energética, a valorização do trabalho, a inclusão social e a promoção dos direitos humanos. Com Lula, o Brasil deixa de ser vassalo, e se consolida como potência da paz – o que, no contexto atual, é mais útil para os Estados Unidos do que a subserviência defendida pelos grupos midiáticos do século passado.
Nesta mesma quarta-feira em que Lula e Blinken se encontraram, o chanceler Mauro Vieira afirmou na reunião do G20 que o Brasil não aceita que os conflitos internacionais sejam resolvidos pela força. "O Brasil não aceita um mundo em que as diferenças são resolvidas pelo uso da força militar. Uma parcela muito significativa do mundo fez uma opção pela paz e não aceita ser envolvida em conflitos impulsionados por nações estrangeiras. O Brasil rejeita a busca de hegemonias, antigas ou novas. Não é do nosso interesse viver em um mundo fraturado", disse ele.
O mundo precisa de paz. O mundo precisa do Brasil. O mundo precisa de Lula.
*Jornalista, editor-responsável pelo site Brasil247 (fonte desta postagem).
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