Mais uma vez, quando questionado sobre problemas de sua gestão, Melo não assume suas responsabilidades e tenta transferi-las para alguém
Por Marco Weissheimer*
Em um debate entre candidatos e candidatas à prefeitura de Porto Alegre, o atual prefeito Sebastião Melo, ao ser questionado sobre a relação de sua gestão com a Pousada Garoa, acusou o Sul21 de ser um “braço do PT”. A irritação de Melo se deve à cobertura que o Sul21 vem dando ao episódio do incêndio da Pousada Garoa, em abril, que resultou na morte de 11 pessoas. Essa semana, dentro do projeto checazap Sul21, publicamos um novo conteúdo sobre esse tema (Sebastião Melo mente em debate ao dizer que rompeu contrato com Pousada Garoa). Agradecemos a leitura do Sul21 pelo prefeito Melo, mas lamentamos que, mais uma vez, quando questionado sobre problemas de sua gestão, ele não assume suas responsabilidades e tenta transferi-la para alguém, no caso em questão o Sul21.
Os dados que irritaram o prefeito não foram inventados pelo Sul21 nem são do PT nem de qualquer outro partido de oposição à atual administração municipal, mas sim do Portal de Transparência da própria Prefeitura e do Tribunal de Contas do Estado (TCE-RS). Recapitulando resumidamente o caso. Em um debate promovido pela rádio Gaúcha, dia 25 de setembro, Sebastião Melo disse que, após o incêndio e as mortes em uma unidade da rede de pousadas Garoa, o contrato teria sido rompido. Neste debate, o atual prefeito disse que “interditamos várias pousadas e rompemos o contrato”. No entanto, é inverídica a afirmação de que o contrato com a rede de pousadas foi rompido. O vínculo entre a rede e a Prefeitura de Porto Alegre está firmado, pelo menos, até o fim de 2024.
Ainda segundo as mesmas fontes, mesmo após a tragédia, foram autorizados novos repasses no valor de R$ 340 mil à rede de pousadas. No dia 3 de julho, após concluir vistorias nas demais unidades da rede, a Prefeitura anunciou que não renovaria o contrato, que vence em dezembro deste ano. O contrato entre a Fasc e a Pousada Garoa foi renovado por 12 meses pela última vez em 2023, com o termo aditivo assinado em 12 de dezembro de 2023, onde ficou estabelecido o valor mensal de R$ 225.448,33, totalizando R$ 2.705.379,96 ao longo do período de contrato. Foram essas informações, cujas fontes são o Portal de Transparência da Prefeitura e o TCE-RS, que levaram Melo a tentar desqualificar o Sul21 chamando-o de “braço do PT”. O Portal de Transparência e o Tribunal de Contas do Estado seriam eles também um “braço do PT”?
Diante dessa tentativa rasteira e manjada de desqualificação, viemos aqui hoje explicitar a quem os braços do Sul21 servem. Hoje esses braços estão estendidos à população da periferia de Porto Alegre, duramente atingida pela catástrofe climática que se abateu sobre a capital e outras cidades do Estado em maio, e que segue sofrendo a cada novo episódio de chuva mais intensa, como vimos esta semana. Estão estendidos também aos povos indígenas, às lutas das mulheres e da comunidade LGBTI+, aos trabalhadores da saúde e da educação pública, aos ambientalistas e aos pesquisadores das nossas universidades que também estão comprometidos com essas lutas, apenas para citar alguns setores.
E o prefeito Sebastião Melo é braço de quem mesmo? Para que setores da sociedade os braços de Melo estão estendidos? Há quem diga que a gestão Melo é um braço de grandes empresas do setor imobiliário. O atual prefeito adotou um chapéu de palha como símbolo de sua gestão, uma espécie de coroa popular que mostraria seu suposto vínculo com a população mais pobre. Nesta mesma direção, Melo registrou pela primeira vez, em 2024, sua candidatura como sendo de cor/raça “parda”. Nas nove outras eleições que disputou de 2004 a 2020, ele se declarou “branco”.
O esforço de Melo em criar símbolos de um suposto caráter popular parece ser, porém, inversamente proporcional às políticas que ele implementa e apóia em Porto Alegre e no Estado. Essas políticas de Estado mínimo, de privatização e extinção de empresas públicas, mostraram na tragédia que acabamos de viver em maio todo seu potencial de dano à população. Melo nunca assumiu responsabilidade sobre isso. Aposta, talvez, na falta de memória na sociedade, ou na inexistência de veículos de jornalismo independentes que se deem ao trabalho de ir procurar em fontes públicas de informação, como é o Portal da Transparência, informações que, paradoxalmente, em geral não chegam ao grande público. Foi esse o trabalho que Sul21 fez e seguirá fazendo. Ao invés de procurar desqualificar esse trabalho, Melo poderia ser mais transparente sobre os seus próprios braços e responsabilidades pelo que vem acontecendo em Porto Alegre.
(*) Repórter e Editor – Sul21 - Foto: Joana Berwanger
**Via Sul21
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