11 setembro 2016

Começo e final de uma verde manhã


pablo


Por Raul Ellwanger (do livro Nas Velas do Violão)*
No meu horizonte de desconhecimento quase total da música latino-americana, tive o privilégio de assistir um concerto dos cantautores cubanos em Santiago do Chile no ano de 1972. Espanto imenso, alegria total, prazer, descoberta! Na barafunda da memória e na volúpia das descobertas, escalo Noel Nicola, Silvio Rodrigues e Pablo Milanés no elenco. Posso estar enganado, quiçá Vicente Feliú estivesse no grupo, mas não posso garantir. Não importa, a memória é um pouco louca, talvez eu deseje ter conhecido “el Tinto” Vicente desde aqueles dias heroicos.
Águas rolaram, moinhos rodaram. Eis que em 1984 Marilia Guimaraes instala na Rua Ipiranga do bairro de Laranjeiras, no Rio de Janeiro, uma bodega, pequena grande bodega. Por isto bodeguita, a filial do famoso restaurante e point Bodeguita del Medio havaneiro, celebrizada por Ernest Hemingway entre uma ressaca e o próximo highlander. Ali tocamos e compartilhamos com Vicente, Mirian Ramos, Carlos Luiz, Leticia Lins, dali saímos para as peladas do Chico no “estádio” do Politeama no km 18 da Rio-Santos, dali saímos para o Festival de La Paz em Canelones no Uruguai. Minha devoção pela música cubana crescia, com as gravações de temas de Silvio Rodrigues por Mercedes Sosa e Milton Nascimento, com Chico junto a Simone interpretando Yolanda, com os discos das composições de fillin de Marta Valdez, com  Sindo Garay  (Perla marina) e toda aquela geração criativa, uma espécie de prima-irmã da bossa-nova.
Eis que, redemocratizada a Argentina, arma-se uma temporada de um mês (repito: um mês) de Pablo e Silvio no ginásio Obras Sanitarias de Buenos Aires. Na folgas de segunda feira, viajavam a uma cidade grande do interior do país. Produzindo meu disco La cuca del hombre, Raul Porchetto ligou para Pablo em Córdoba e o convidou para participar. Assim fomos para o Estudio Ion com o trio caribenho que acompanhava a turnê, composto por Eduardo Ramos no baixo, Jorge Aragón (pai) no piano e Frank Bejerano na percussão, apoiado por Edu Avena.
Compositor de estirpe, Pablo faz canções muito acertadas, redondas, populares e criativas. Assim não tive problemas para fazer a versão do son de sua autoríaComienzo y final de una verde mañana. O problema veio depois, pois ingenuamente eu e Porchetto pensamos que Pablo cantaria em português, o que não ocorreu. O resultado saiu melhor, tipo mosaico, com partes em português, partes em castelhano e o dueto final com a letra original. Romântico até a medula (haja vista a fieira de filhos que gerou), compôs Pablo duas canções que estão em qualquer antologia das “dez melhores” do cancioneiro amoroso: este Comienzo (para Zoé) e Yolanda(para a própria). 
Começo e final de uma verde manhã
Pablo Milanés – Versão Raul Ellwanger
Me deixa te despertar com um beijo
Na verde manhã que te espera
Me deixa celebrar a primavera
No espaço lindo do teu corpo
Dejadme recorrer ese universo
Que conozco sin limite y frontera
Dejadme descansar sobre tu pecho
Que calienta mi piel como una hoguera
Me deixa repassar teus acidentes
Calmamente apalpar cada medida
Umedecer teus olhos e tuas fontes
E penetrar no fundo da tua vida
Dejadme demostrar que diez noviembres
Purifican el alma y el deseo
Que al abrazarte aún mi cuerpo tiemble
Y relajado en paz me duerma luego
Dejadme al despertar tener la dicha
De hablar y compartir nuestros anhelos
Y en al mañana verde que termina
Volver a repetirte que te quiero
*Via Sul21 - http://www.sul21.com.br/

O Jornal Nacional noticia “infiltrado” militar. E os jornais, nada… (Fernando Brito)


balta
Por incrível que pareça – e parece – foi a Globo (e no Jornal Nacional), que deu a notícia mais significativa sobre a repressão aos movimentos de oposição a Michel Temer, embora não inédita.
A infiltração de um capitão do Exército num grupo de jovens, nos quais a Justiça não viu nenhum sinal de preparação para vandalismo foi tema de uma longa matéria, que reproduzo em vídeo ao final do post.
Até agora, além dos blogs que repercutiram a notícia levantada pelo site Ponte.org e aprofundada pelo El País.
Diante de uma questão desta gravidade, os jornais de hoje dão um espaço inacreditável para uma questão que, até agora, fica naquele limbo de informação sobre grupos que a gente vê serem mencionados a toda hora, mas não sabe muito bem quem são ou o que são.
Antonio Prata, na Folha, lá também a ombudsman Paula Cesarino Costa e José Padilha, em o Globo falam do teme e pouco vão além do óbvio: vandalismo é crime.
Mas o que ninguém fala é que vândalos, tirando um ou outro que reage irracionalmente às cada vez mais frequentes violências policiais são – não podem ter outro nome –  agentes provocadores que agem para transformar manifestação em conflito.
Estão, voluntária ou como instrumentos de alguém, do lado oposto ao da democracia.
Antonio Prata lembra que os dois que foram responsáveis pela horrível morte do cinegrafista Santiago Andrade foram presos, estão sendo julgados e, espero eu sejam condenados, como devem ser.
Já o Estado, à margem da lei – e ao que se vê, com armações – promover este tipo de ação clandestina é algo que muito menos pode permanecer tratado na base do silêncio.
Nem pela mídia, nem pelas Forças Armadas, cuja natureza não permite, em hipótese alguma, a existência de estruturas de espionagem paralelas às suas cadeias de comando.
Há explicações a dar, e já.
*Via http://www.tijolaco.com.br/

09 setembro 2016

JUSTIÇA: "Lula tem sido vítima de gravíssimas ilegalidades", afirma defesa do ex-presidente


Advogados do ex-presidente Lula afirmam que "estão esgotados os remédios legais e o direito de defesa"

Foto: Ricardo Stuckert / Instituto Lula 

Os advogados do ex-presidente Lula publicaram uma nota sobre a decisão emitida na última segunda-feira (05) pelo Ministro Teori Zavaschi, do Supremo Tribunal Federal (STF). 
A defesa esclarece que o STF, por meio de decisões do Ministro Zavascki, já reconheceu várias ilegalidades praticadas contra o ex-presidente Lula na condução da Operação Lava Jato pelo juiz da 13ª. Vara Federal Criminal de Curitiba. Entre os exemplos, os advogados citam a autorização da divulgacão de conversas interceptadas de ramais usados por Lula e o monitoramento de alguns dos advogados do ex-presidente. 
"Lula, como qualquer cidadão, tem o direito de usar dos recursos processuais previstos na legislação para impugnar quaisquer decisões judiciais, inclusive as que estão sendo proferidas no âmbito de procedimentos investigatórios nos quais está a sofrer clara perseguição pessoal e política", afirmam os advogados. Para eles, é preocupante que o exercício do direito constitucional de defesa possa ser encarado na mais alta Corte de Justiça do País como fator de entrave às investigações ou ao processo. "A Constituição quer defesa efetiva e ampla e não meramente formal ou retórica. Negar tal garantia representa inominável agressão ao direito de defesa". 
Os advogados do ex-presidente esclarecem ainda que Lula tem sido vítima de diversas e gravíssimas ilegalidades durante a operação Lava Jato, "o que explica o comunicado feito em julho à ONU". 

07 setembro 2016

Repressão não teve efeito: Milhares de pessoas nas ruas de Curitiba, Florianópolis e Porto Alegre sinalizam futuro complicado para golpista Temer


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Da Redação, com Mídia Ninja, Portal Catarinas, Blog do Esmael, Levante Popular e Jornalistas Livres #foratemer *
Milhares de pessoas foram às ruas na noite desta terça-feira 6 de setembro pedir Fora Temer em capitais do Sul do País.
É mais uma demonstração de que a campanha pela derrubada do presidente golpista e impostor se mantém forte.
As manifestações começaram a pipocar espontaneamente na noite do impeachment de Dilma Rousseff no Senado.
No domingo, 100 mil pessoas marcharam em São Paulo — na estimativa dos organizadores.
O frio não desanimou os curitibanos, que marcharam da Praça 19 de Dezembro até a Boca Maldita.O blog do Esmael estimou em 15 mil pessoas. Houve apenas um incidente: a prisão de um jovem durante o ato mobilizou manifestantes, que foram reprimidos pela PM com gás de pimenta.
Em Porto Alegre, apesar da chuva fina, houve outra manifestação organizada pela Frente de Luta Contra o Golpe, que usa um símbolo da Globo em sua bandeira principal. Depois da dispersão, a Brigada Militar reprimiu com bombas de gás um grupo que bloqueou a passagem de veículos.
A presidenta Dilma Rousseff, depois de deixar o Palácio do Alvorada, desembarcou em Porto Alegre. Não houve a esperada cerimônia de recepção dos movimentos populares: o vôo de Dilma foi desviado do aeroporto Salgado Filho para a base aérea de Canoas.  A decisão foi da FAB. Ainda assim militantes petistas saudaram Dilma na chegada. O ex-marido dela, Carlos Araújo, a filha Paula e os netos Gabriel e Guilherme vivem na capital gaúcha. Dilma seguiu para a casa da família no bairro Tristeza.
Em Florianópolis o Portal Catarinas estimou o público em 15 mil pessoas. Houve um momento de tensão com a polícia diante do Terminal de Integração do Centro (TICEN). A PM local mobilizou um grande aparato repressivo. De acordo com o portal: “Não acabou. Tem que acabar. Eu quero o fim da polícia militar”, gritam manifestantes reunidos aqui na Beira-Mar. O fim da militarização da polícia é umas das principais pautas dos movimentos sociais.
As estimativas podem variar para cima ou para baixo. O certo é que a repressão pela Polícia Militar ao ato de São Paulo, já na dispersão, se tinha o objetivo de provocar desmobilização do Fora Temer, fracassou.
Em Santa Catarina, onde também houve repressão, o número de manifestantes aumentou. Ativistas do Rede Fora Temer Floripa denunciaram a intimação pela polícia civil local de cinco militantes para depor.
“Um povo que não pode se manifestar sobre o destino político do seu país ou que é recepcionado por operações de guerra por parte da polícia vive num Estado de exceção. Por isso espera-se da Polícia Militar catarinense que trate os manifestantes de hoje com o mesmo respeito que soube tratar os manifestantes pró-impeachment de antes. Polícia é para proteger a cidadania. Para baixar a pancadaria,  basta um bando armado e sem comando”, escreveu a Comissão de Direitos Humanos da OAB-SC a respeito do comportamento da PM local.
O que tem impressionado observadores atentos dos protestos é a grande presença de jovens. Em Belo Horizonte, ao participar do encontro do Levante Popular da Juventude, o ex-presidente Lula se disse triste com o momento político.
“Quem sonhou como a minha geração sonhou, vive uma situação triste agora”, disse Lula. Apesar disso, ele propôs tolerância: “Vamos mostrar que a gente sabe conviver democraticamente. A sociedade justa que a gente quer criar é uma sociedade da tolerância”.
“Eu quero dizer a eles que me perseguem que o problema não sou eu. Já tô velhinho. O problema deles são vocês”, afirmou o ex-presidente diante de 7 mil jovens. O Levante tem tido importante participação nas mobilizações de rua.
Porta-vozes da direita já demonstram preocupação com a possibilidade de efervescência popular.
O blogueiro Altamiro Borges apontou coluna recém escrita pela jornalista Eliane Cantanhêde, perfeitamente identificada com o patronato midiático. Ela notou o início tumultuado do “governo” Temer.
Borges escreveu:
Para a jornalista, típica porta-voz do “deus-mercado”, a única saída do covil golpista é acelerar as reformas neoliberais – como a da Previdência. “Temer precisa rapidamente mostrar força política e uma base aliada coesa. Mas Renan e parte do PMDB não chegam a ser tão confiáveis assim e, vira e mexe, lá está o tucano Aécio advertindo que, se Temer não fizer as reformas, babau o apoio. Num momento como esse, com tantos flancos para o governo que se instala, não é exatamente um gesto camarada, solidário”. Ao final, Eliane Cantanhêde reza pelo sucesso do covil: “Se o governo naufragar, não se salva um, nem PMDB, nem PSDB, nem DEM, nem PPS… O insucesso de Temer seria o insucesso geral. A dúvida é o que, e quem, lucraria com isso. Se é que alguém lucraria”. 
A “solução” proposta por Cantanhêde, no entanto, pode ser a gota de veneno que falta para entornar o caldo de Temer. Acelerar as reformas neoliberais pode engrossar os protestos de rua contra um governo já com baixíssima popularidade e diante de uma renitente crise econômica internacional.
Segundo o Ibope, o governo golpista é considerado ruim ou péssimo por 40% dos entrevistados ou mais em 16 capitais brasileiras: 53% em Salvador, 50% em São Luís, 49% em Fortaleza e Teresina, 48% em Recife, 47% em Belo Horizonte, 46% em Maceió, 45% em Aracaju, 44% em Natal, 43% em Florianópolis e Vitória, 42% no Rio de Janeiro e em Porto Alegre, 41% em São Paulo e Curitiba, 40% em João Pessoa.
Ao analisar a hashtag #foraTemer nas redes sociais, Fabio Malini descobriu que existem 400 páginas no Facebook ativadas por 96 mil pessoas organizando os protestos de rua, além de uma reaglutinação da esquerda em torno do tema.
A pressão sobre Temer nas ruas continuou neste 7 de Setembro. Ele foi recebido com gritos de “Fora Temer” no tradicional desfile de Brasília.
No Grito dos Excluídos, organizado pela Igreja Católica com movimentos sociais, a palavra de ordem é combater um sistema que exclui as pessoas e degrada o meio ambiente. A referência mais ampla é ao capitalismo, mas ativistas pretendem incluir o Fora Temer na pauta, pelo fato de que a retirada de direitos é o objetivo central dos golpistas. “Como a gente vai comemorar o Dia da Independência do Brasil com um golpe em curso?”, perguntou um dirigente da CUT de Pernambuco que organiza o Grito em Recife.
Além disso, há manifestações previstas para várias cidades do Brasil e do mundo. Em São Paulo, haverá protesto às 14 horas na praça da Sé; amanhã, dia 8, 17 horas no largo da Batata. No Rio, haverá manifestação neste dia 7 diante do prédio da TV Globo — que desenvolveu a narrativa da derrubada de Dilma — no Jardim Botânico, a partir das 18 horas.
A agenda de eventos Fora Temer foi centralizada nesta página do Facebook.
Leia também:
*Fonte: Viomundo

05 setembro 2016

“O PMDB, hoje, tem a cara de algumas das figuras mais abjetas da política brasileira” (Flávio Koutzii)



Flavio Koutzii: “O ambiente é muito hostil. Direito ausente, mídia contra e
Lava Jato seletiva: é uma parada muito difícil”.

(Foto: Guilherme Santos/Sul21)


Por Marco Weissheimer, no Sul21*
“O governo golpista será, não apenas profundamente regressivo, como também crescentemente repressivo. Todas as medidas já anunciadas, desde o momento em que ficou claro que o impeachment era irreversível, são de natureza neoliberal, conservadoras e regressivas. É por isso que utilizo a noção de traição. Eles pretendem vender o país muito rapidamente. E já começaram a fazer isso. O nome disso é traição. Não tem outro nome. Capitulação completa e traição ao país”. A síntese de Flavio Koutzii expressa a percepção de alguém que viveu o golpe de 64 e participou da luta contra duas ditaduras, no Brasil e na Argentina. No Brasil, foi filiado ao PCB, integrou a Dissidência Leninista do Rio Grande do Sul e, já no período da redemocratização, foi um dos construtores do PT. Na Argentina, militou no Partido Revolucionário dos Trabalhadores – Exército Revolucionário do Povo (PRT-ERP), que pegou em armas contra a ditadura. Preso na Argentina, entre 1975 e 1979, voltou ao Brasil graças a uma campanha internacional pela sua libertação e participou da fundação da PT, partido pelo qual foi vereador, deputado estadual e chefe da Casa Civil durante o governo Olívio Dutra.
Em entrevista ao Sul21, Koutzii fala sobre o atual momento político nacional e critica o modus operandi do juiz Sérgio Moro e da Operação Lava Jato, lembrando situações que viveu no período da ditadura. “Não quero ser autorreferente, mas tive algumas pequenas experiências de tortura. Eu sei como é que funciona. No caso da Lava Jato, pegaram pessoas que sempre tiveram poder e uma vida de confortos e as enfiaram seis meses numa cela, num cantinho lá de Curitiba. Isso é um pau de arara de outro jeito. Obviamente, essas pessoas não estão preparadas para esse tipo de situação e estão perdendo todo o patrimônio que tinham. Elas ficam dispostas a vender a alma e toda a genealogia da família para sair desta situação”.
Flavio Koutzii também fala sobre aquilo que se tornou o PMDB, partido que participou da resistência à ditadura nos anos 70. “Se nós, no PT, somos severos com a nossa própria auto-avaliação, o PMDB se tornou algo que está fora de qualquer classificação. O PMDB, hoje, não só se desclassificou como um partido minimamente democrático, com simpatia por algumas causas populares, como se tornou o algoz de um governo do qual ele participou de manhã, de tarde e de noite. A biografia do PMDB acabou de se completar. É um partido que tem a cara de seus principais próceres, que são algumas das figuras mais abjetas da política no presente, como Eduardo Cunha”. (...)
*CLIQUE AQUI para ler na íntegra a entrevista realizada por Marco Weissheimer com o companheiro Flávio Koutzii no Sul21.

Em manifestação pacífica, milhares lotam a Paulista para pedir Fora Temer; PM acerta gás em parlamentares e bala de borracha em ex-presidente do PSB




CLIQUE AQUI para ver as imagens (via Viomundo).

04 setembro 2016

Festival de Gramado encerra com ‘Fora Temer’ e consagração de ‘Barata Ribeiro, 716’

Elenco do curta Rosinha fez uma forte manifestação política no palco do festival|
Foto: Edison Vara/Pressphoto


Da Redação do Sul21*
O 44º Festival de Cinema de Gramado foi encerrado na noite deste sábado com a entrega do prêmio Kikito para os melhores filmes da mostra competitiva. O grande vencedor foi o filme “Barata Ribeiro, 716”, que levou os prêmios de melhor filme, direção para Domingos Oliveira, melhor e trilha musical atriz coadjuvante, para Glauce Guima. No entanto, um festival que abriu com protesto contra o então ainda governo interino de Michel Temer no filme “Aquarius”, não poderia se encerrar sem manifestações políticas.
Paulo Tiefenthaler, que recebeu o kikito de melhor ator por “O Roubo da Taça”, fez críticas ao agora efetivo governo e incluiu o bordão “Fora Temer” em seus discurso.
Gui Campos, do curta Rosinha, subiu ao palco com faixas pedindo “Diretas Já” e “Resistir Sempre”. “Nós aqui presentes nos pronunciamos contra o golpe e a favor da democracia brasileira”, disse ele.
Parte do público apoiou a manifestação de Campos e se uniu a ele em um coro de “Fora Temer”. O público também participou do protesto contra o governo ao vaiar a aparição do logo do Ministério da Cultura durante o anúncio dos patrocinadores. 

*Confira a lista de todos os ganhadores clicando AQUI.

02 setembro 2016

RECURSO - Para Cardozo, impeachment de Dilma teve vício processual e deve ser anulado

Para o advogado da ex-presidenta, senadores já tinham decisão tomada e quiseram apenas respeitar o rito processual definido na legislação. Segunda-feira ele vai recorrer ao STF
por Redação RBA*

cardozo
José Eduardo Cardozo defendeu a manutenção dos direitos políticos da ex-presidenta Dilma - GERALDO MAGELA/AGÊNCIA SENADO
São Paulo – O ex-ministro da Justiça e advogado da ex-presidenta Dilma Rousseff, José Eduardo Cardozo, anunciou hoje (2), em entrevista à imprensa internacional, que vai recorrer da decisão que levou à cassação, na próxima segunda-feira (5). Ele pedira anulação do processo ao Supremo Tribunal Federal (STF) com base em duas premissas: de que houve vício processual e porque a acusação de que o governo obteve empréstimo de bancos públicos é nula.
Segundo Cardozo, a acusação entendeu que havendo atraso nos pagamentos do plano Safra, o que foi chamado de pedalada fiscal, haveria empréstimo do Banco doBrasil para a União, o que é vedado por lei. “Isso era um problema grave, mas não configura operação de crédito”, salientou o advogadoPara ele, não se pode falar em empréstimo se não havia prazo para pagar.
No entanto, o relator do processo, senador Antônio Anastasia (PSDB-MG) criou um prazo. “A União estabeleceu um prazo para realizar os pagamentos e evitar que a situação se estendesse. O senador pegou esse prazo e o aplicou retroativamente”, explicou CardozoPara o advogado, o atraso de quatro meses não causaria um dano suficientemente grave para justificar o impeachment, então Anastasia aplicou retroativamente até 2008. “Então ela devia ter pago em 1º de janeiro de 2015, no dia que tomou posse? O julgamento é nulo por conta dessa questão”, afirmou.
Quanto ao vício do processo, Cardozo pretende argumentar que não foi respeitado o devido processo legal, sobretudo quanto à defesa de Dilma. “Desde antes de iniciar a defesa, os senadores disseram que já estavam com a decisão tomada. Diziam 'o senhor pode produzir a prova que o senhor quiser que eu não vou mudar de opinião, o meu voto já está dado'. Não se apresenta argumentos ao juiz só para respeitar rito, nem para que ele mude de opinião, mas para que forme opinião”, afirmou.
Para o advogado, essa situação evidencia que não havia um processo, já que a condenação estava definida, independente dos argumentos e provas que fossem apresentados. Cardozo avaliou que essa situação leva ariscos para os ministros do STF e o procurador-geral da República, porque eles estão submetidos à mesma lei do impeachment. “Podem sofrer um processo semelhante caso tomem alguma decisão que desagrade os membros do legislativo. Isso pode levar à instabilidade democrática, sob pena de um poder afastar membros de outro sem uma sustentação legítima”, defendeu.
Além disso, Cardozo defendeu a manutenção dos direitos políticos de Dilma. Segundo ele, no caso do impeachment do atual senador Fernando Collor (PTC), ficou acertado que as duas decisões – perda do mandato e perda dos direitos políticos – são distintas. “Uma não é efeito da outra. Se fosse assim, quandoCollor renunciou, todo o processo devia ter sido parado. Mas não foi assim que foi entendido. E Collor impetrou mandado de segurança para manter direitos políticos e foi negado”, disse.
Cardozo citou livros sobre Direito Constitucional de autoria do presidente Michel Temer e do ministro do STF Gilmar Mendes que explicam que a Lei do Impeachment fixou duas penas distintas. “A decisão do Senado foi correta”, destacou.

01 setembro 2016

O nome verdadeiro é golpe; nenhum golpista jamais admitiu ser golpista (Janio de Freitas)

TEMER REPRODUÇÃO TV
Crédito: Fotos Públicas
Nenhum golpista já admitiu ser golpista
Por Janio de Freitas, na Folha de S. Paulo, em 01/09/2016*
Em inúmeras vezes, nas sessões do impeachment que presidiu, o ministro Ricardo Lewandowski disse ao plenário, com pequenas variações de forma: “Neste julgamento, os senadores e senadoras são juízes, estão julgando”.
Entre os 81 juízes, mais de 70 declaravam o seu voto há semanas, e o confirmaram na prática. Um princípio clássico do direito, porém, dá como vicioso e sujeito à invalidação o julgamento de juiz que assuma posição antecipada sobre a acusação a ser julgada. O que houve no hospício –assim o Senado foi identificado por seu presidente, Renan Calheiros– não foi um julgamento.
Os que negam o golpe o fazem como todos os seus antecessores em todos os tempos: nenhum golpista admitiu ser participante ou apoiador de um golpe.
Desde o seu primeiro momento e ainda pelos seus remanescentes, o golpe de 1964, por exemplo, foi chamado por seus adeptos de “Revolução Democrática de 64″. Alguns, com certo pudor, às vezes disseram ser uma revolução preventiva.
É o que faz agora, esquerdista extremado naquele tempo, o deputado José Aníbal, do PSDB, sobre a derrubada de Dilma: “É a democracia se protegendo”. Dentre os possíveis exemplos pessoais, talvez nenhum iguale Carlos Lacerda, que dedicou a maior parte da vida ao golpismo, mas não deixou de reagir com fúria se chamado de golpista.
As perícias e as evidências negaram fundamento nas duas acusações utilizadas para o processo do impeachment de Dilma. As negações foram ignoradas no Senado, em escancarada distorção do processo.
Para disfarçar essa violência, foi propagada a ideia de que a maioria dos senadores apoiaria o impeachment levada pelo “conjunto da obra” de Dilma: a crise econômica, as dificuldades da indústria, o aumento do desemprego, o deficit fiscal, a suspensão de obras públicas, as dificuldades financeiras dos Estados e outros itens citados no Congresso e na imprensa.
Se os deputados e senadores se preocupassem mesmo com esses temas do “conjunto da obra”, teríamos o Congresso que desejamos. E os jornais, a TV e os seus jornalistas estariam sempre mentindo com suas críticas, como normal geral e diária, sobre a realidade da política e dos políticos.
Nem as tais pedaladas e os créditos suplementares, desmoralizados por perícias e evidências, nem o “conjunto da obra”, cujos temas não figuram nos interesses da maioria absoluta dos parlamentares, deram base para acusações respeitáveis em um processo e um julgamento. Se, no entanto, envoltos por sofismas e manipulações, serviram para derrubar uma presidente, houve um processo, um julgamento e uma acusação ilegítimos –um golpe parlamentar. Os que o efetivaram ou apoiaram podem chamá-lo como quiserem, mas foi apenas isto e seu nome verdadeiro é só este: golpe.
Esse desastre institucional contém, apesar de tudo, um ponto positivo. A conduta dos militares das três Forças, durante toda a crise até aqui, foi invejavelmente perfeita. Do ponto de vista formal e como participação no esforço democratizante que civis da política e do empresariado estão interrompendo.
O pronunciamento de ex-presidente feito por Dilma corresponde à aspiração de grande parte do país. Mas a tarefa implícita no seu “até daqui a pouco” exigiria, em princípio, mais do que as condições atuais da nova oposição podem oferecer-lhe, no seu esfacelamento.
À vista do que são Michel Temer e os seus principais coadjuvantes, não cabem dúvidas de que os oposicionistas podem esperar muita contribuição do governo. Mas o dispositivo de apoio à situação conquistada será, a partir da Lava Jato, de meios de comunicação e do capital proveniente de empresários, uma barreira sem cuidado com limites.
Desde ontem, o Brasil é outro.
*Via Viomundo