14 setembro 2008
Bolívia
“Brasil respeitará soberania boliviana”, avisa Lula
O Brasil não vai aceitar que um golpe de estado derrube o governo legitimamente eleito - e recentemente referendado - do presidente Evo Morales e dê início a um período de instabilidade que pode ter reflexos em toda a América do Sul. Por outro lado, não cabe ao país interferir numa questão interna da Bolívia, a não ser que o governo boliviano o solicite oficialmente. Em clima de cautela diplomática, este é o duplo recado que o governo brasileiro quer transmitir para o mundo nestes dias em que a crise boliviana tanto pode arrefecer quanto piorar, a depender dos próximos desdobramentos políticos.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva estará segunda-feira (15) em Santiago, no Chile, para participar de uma reunião de emergência da União das Nações Sul-Americanas (Unasul) que irá discutir a crise na Bolívia. Convocada pela presidente do Chile, Michele Bachelet, a reunião deverá contar também com as presenças dos presidentes Hugo Chávez (Venezuela) e Cristina Kirchner (Argentina), além do próprio Lula. Evo Morales ainda não confirmou presença.
Criada somente há quatro meses, com a missão de promover a integração política, social e econômica da América do Sul, a Unasul que ainda engatinha já se depara com sua primeira questão de maior gravidade diplomática: “Precisamos extrair desse encontro uma atitude construtiva, que nos permita apoiar efetivamente os esforços do povo boliviano em busca de uma garantia do processo democrático, da estabilidade e da paz na Bolívia”, afirmou Michele Bachelet.
Apesar de confirmar presença na reunião convocada pela colega chilena, Lula não escondeu sua inquietação com a possibilidade de que qualquer movimento possa ser interpretado como um gesto de interferência no processo interno boliviano: “Eu pedi para o [ministro das Relações Exteriores] Celso Amorim ligar para as pessoas para saber o seguinte: vamos reunir os presidentes pra quê? Não podemos tomar a decisão pela Bolívia, é preciso que a Bolívia dê o parâmetro. Temos que saber o que a Bolívia quer que a gente faça”, disse o presidente do Brasil, segundo o jornal O Globo.
Mais tarde, Lula voltou a pedir cautela e respeito ao processo interno na Bolívia e a seus personagens: “Não temos o direito de tomar nenhuma decisão sem que haja a concordância do governo e também da oposição boliviana. São eles que têm que nos dar o paradigma da nossa participação, senão será ingerência de um país na soberania de outro. E isso, o Brasil não fará em hipótese alguma”, disse.
Viagem abortada
A cautela agora adotada pelo governo brasileiro contrasta com a urgência demonstrada nas primeiras horas da crise boliviana, quando tudo levava a crer que um golpe de estado contra Evo Morales poderia se consumar a qualquer momento. Na ocasião, a pedido de Lula, um avião da Força Aérea Brasileira (FAB) foi colocado à disposição para atuar na crise. Sua primeira missão seria levar à La Paz o assessor especial para Assuntos Internacionais da Presidência, Marco Aurélio Garcia, e o secretário-geral do Ministério das Relações Exteriores (MRE), Samuel Pinheiro Guimarães.
A viagem, no entanto, foi abortada a pedido do próprio Evo que, em telefonema dado a Lula na quinta-feira (11), teria pedido tempo ao presidente brasileiro “para tentar resolver as coisas à sua maneira”. O presidente da Bolívia teria dito a Lula, segundo fontes do Planalto, que faria o mesmo apelo a Hugo Chávez e Cristina Kirchner. A estratégia do governo boliviano, nesse momento, parece ser a de mostrar ao mundo que tem força para contornar o conflito interno sozinho. (...)
* Por Maurício Thuswohl, da Agência Carta Maior
** Na foto acima, os Presidente Lula e Evo Morales, observados por Marco Aurélio Garcia.
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