26 junho 2010

Poema















CANÇÃO DO MARGINAL

Foi legionário da coluna invicta!
Bravo, bateu-se com orgulho nobre.
Hoje, em 44, é um trapo humano.
E ouve, na angústia do seu desengano
“... não há va...gas!” Pobre...

Voluntário de 30 e 32
sonhando a Pátria que o ideal descobre,
marchou, com honra, pelejou com brilho.
E hoje, este melancólico estribilho:
“... não há va...gas!” Pobre...

Hoje, magro de dívidas e fome,
a princípio a tragédia mal encobre.
Mas, afinal também quer ter sossego.
E eis a resposta à súplica de emprego:
“... não há va...gas!” Pobre...

Pobre! Cansado de esperar promessas
na esperança de que a sorte se lhe dobre,
pede um posto, um lugar, modesto cargo.
E ouve ferino este refrão amargo:
“... não há va...gas!” Pobre...

Triste! A miséria, os filhos em andrajos,
tudo lhe soa com suturno dobre.
Pede um lugar ao sol para o trabalho.
E a resposta é mais dura do que um ralho:
“... não há va...gas!” Pobre...

Doente! O peito lhe arqueja num cansaço.
Não há tranqüilidade que lhe sobre.
Algo mendiga que permita um prato.
Como resposta o estúpido e gaiato:
“... não há va...gas!” Pobre...

Cansa! E se lembra dos pneus rendosos!
Talvez no contrabando não sossobre
tendo agasalho e pão para a família.
Grita-lhe a opulentíssima quadrilha:
“... Não há va...gas!” Pobre...

Aureliano de Figueiredo Pinto

***
*Nota: À época (1944), a palavra marginal não tinha o sentido atual, de elementos criminosos, que vive à margem da Lei. Entendia-se como marginal o pobre, o proletário, o sem-terras, o descamisado, aquele que vivia à margem da Economia. (Paulo Monteiro)

**Aureliano de F. Pinto: poeta, médico, político e escritor gaúcho - nascido em Tupanciretã, Santiaguense por adoção - e coração!...

2 comentários:

Anônimo disse...

Lindo este poema, companheiro Júlio! E o blog tá um capricho só, hein?
Aqui em Porto Belo estamos trabalhando com muita dedicação para eleger o próximo prefeito do PT. E a governadora também!Abraço grande prá ti e prá tua família. Apareçam uma hora dessas. Sempre tem mate.
Suzete Kummer

JÚLIO GARCIA disse...

Caríssima amiga e companheira Suzete, muito obrigado pela visita e comentário, me honra muito. É uma grande satisfação saber que estas bem, lutando sempre pelas boas causas, agora nesse novo front de nossa antiga República Juliana! E, quando vieres por estas plagas sulinas, avisa para conversarmos e compartilharmos um amargo!
Envio um Grande e fraternal abraço para ti e tua família!