21 abril 2012

Poema



BELO BELO

Belo belo minha bela

Tenho tudo que não quero
Não tenho nada que quero
Não quero óculos nem tosse
Nem obrigação de voto

Quero quero

Quero a solidão dos píncaros
A água da fonte escondida
A rosa que floresceu
Sobre a escarpa inacessível

A luz da primeira estrela
Piscando no lusco-fusco

Quero quero

Quero dar a volta ao mundo
Só num navio a vela
Quero rever Pernambuco
Quero ver Bagdá e Cusco

Quero quero

Quero o moreno de Estela
Quero a brancura de Elisa
Quero a saliva de Bela
Quero as sardas de Adalgisa

Quero quero tanta coisa
Belo belo

Mas basta de lero-lero
Vida noves fora zero.

    Manuel Bandeira - 1948

(Quadro:  'Les Demoiselles D’Avignon', de Pablo Picasso )

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