Por Eduardo Guimarães*
Francamente, Noblat, depois de ter assistido à aula de jornalismo que
lhe ministrou Janio de Freitas no Roda Viva, você poderia ao menos ter
pudor e não divulgar em seu blog peça de caradurismo como o comentário
em que defende a cobertura escandalosa que seus patrões – os filhos sem
nome de alguém que andava de braço dado com a ditadura – fazem do mensalão.
Mas como falar em pudor a alguém que compara a cobertura apoteótica e
engajada de um só dos mensalões – que está por provar-se – com a
cobertura constrangida, forçada e infinitamente inferior que a Globo fez
de casos de corrupção envolvendo partidos de oposição?
Você defende que a cobertura do julgamento do mensalão “petista”
ocupe 10, 15 minutos do Jornal Nacional todo dia durante semanas em tom
condenatório, com espaço infinitamente inferior à defesa e dando
veredicto contra todos os acusados sem diferenciação ou gradação de
culpabilidade, sob o seguinte argumento:
“Saber o que foi o mensalão, saber como funcionava, saber
quem participou dele, acompanhar o julgamento no Supremo Tribunal
Federal, tudo isso ajudará, certamente, para que o caso não se repita.
Ou para dificultar a repetição do caso”
Até poderia ser verdade se escândalos envolvendo todos os partidos
fossem tratados da mesma forma. Como a Globo – e o resto da mídia
partidarizada – não cobre casos análogos ao mensalão “petista” (como o
mensalão “tucano”), a cobertura desse julgamento não “ajudará para que o
caso não se repita” coisa nenhuma.
Aliás, essa prática de tratar diferentemente casos de corrupção
iguais estimula a que os políticos corruptos tomem o cuidado de manter
boas relações com a mídia e servir aos seus interesses para serem
protegidos por ela quando forem flagrados. Ou seja: a mídia estimula a
corrupção com essa cobertura partidarizada.
E quem diz que a Globo não dá bola a mensalões de partidos adversários do PT não sou (só) eu ou “os petistas”, Noblat.
Só para ficar em dois exemplos insuspeitos, quem diz é o jornalista
Janio de Freitas, colunista da Folha de São Paulo e membro de seu
Conselho Editorial, e o ministro do Supremo Tribunal Federal Joaquim
Barbosa, que gente como você diz ser voto certo pela condenação de todos
os acusados do mensalão “petista”.
Em seu comentário, Noblat, você compara a cobertura do mensalão
“petista” às coberturas do mensalão “do DEM” e das estripulias do
governador tucano Marconi Perillo na Cachoeira goiana de corrupção.
Compara, assim, o incomparável.
No caso do DEM, apesar de a cobertura da mídia tucana ter sido
infinitamente menor e restrita ao estouro do escândalo – tendo sido
abandonada e nunca mais retomada –, naquele caso havia, “apenas”, um
vídeo mostrando o governador José Roberto Arruda recebendo um maço de
dinheiro.
Como a mídia poderia ignorar uma bomba dessas? Teve que noticiar,
ora. Arruda não foi preso por conta do noticiário, mas por conta de
prova incontestável que a mídia divulgou a reboque dos fatos.
Já no caso de Perillo, é piada. Quando foi que se viu acusação formal
e decretação de culpa de Perillo no Jornal Nacional, por exemplo? Foram
sempre relatos sóbrios, rápidos, esparsos, episódicos e totalmente
imparciais. E ninguém precisa acreditar em mim. Basta ir ao site do
Jornal Nacional e fazer a comparação.
Aliás, nem precisa ter tal trabalho. Basta ler seu comentário para
ver a diferença de tratamento que você e seus patrões dão a petistas e
tucanos. Enquanto você defendeu Perillo, quando estourou o escândalo ,
acusa o PT inteiro de ter engendrado o mensalão. Alguma vez você acusou o
PSDB inteiro de ter engendrado o mensalão “tucano”, por acaso?
E talvez ainda pior seja ter comparado o noticiário político nacional
com a cobertura do golpe que derrubou o presidente do Paraguai Fernando
Lugo. Em primeiro lugar, a mídia não tomou partido – aliás, chegou a
defender o golpe. Em segundo lugar, ninguém está reclamando de o
julgamento do mensalão ser coberto pela empresa em que você trabalha,
mas da dimensão e do viés parcial da cobertura.
Alguns dirão que estou gastando vela com mau defunto. Não acho. Você
desafia os “petistas” a lhe darem uma resposta. Eu não sou petista –
apesar de ser simpatizante do PT –, mas aqui vai o que você pediu.
Dei-me ao trabalho de responder para que as pessoas saibam que você pede
resposta e não tem coragem de encará-la.
*Editor do Blog da Cidadania http://www.blogdacidadania.com.br
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