O que eu sei sobre hoje? Só que nada será como antes, amanhã*
Pensei muito antes de escrever, neste dia de vergonha para o Brasil.
Vergonha, porque mesmo que se não haja os 342 votos necessários ao desfecho do golpe, estamos diante de uma situação inimaginável para um grande país, um dos maiores do mundo, em terra, em gente, em riqueza, em potencial.
E, ainda assim, a ponto de ser abocanhado por um quadrilheiro parlamentar da pior espécie, que chega a iminência de elevar ao governo uma nulidade, que só pode ser ter algum destaque nas malas artes da intriga, da perfídia, da traição.
A vergonha também é inevitável quando se vê um país, que tinha vivido a tola -embora doce – ilusão de que poderia ser um só, inapelavelmente dividido e mais ainda ficará se consumado o golpe.
É que o feroz e inevitável retrocesso social drenará o lado do golpe rapidamente dos ingênuos e nele só sobrarão as feras que já arreganham os dentes.
O incontrolado apetite de poder da direita lhes dará um prato cru e sangrento, próprio apenas para feras.
O monólito que se formou entre a mídia, o poder econômico e os políticos tem uma crosta – o golpe – ainda a cobrir-lhes as fissuras.
Do outro lado, não me recordo, desde a luta contra a ditadura, que se tenha encontrado em tanta sintonia o campo popular. Como dizia Otto Lara Resende dos mineiros e o câncer, somos solidários na dor.
Depois da tesoura da ditadura, que nos cortou o fio da História, parece que os velhos métodos golpistas da direita nos relembram, também, que nossas lutas, as lutas políticas e sociais do povo brasileiro, vêm de longe.
Vencidos ou vencedores, teremos de mudar e a mudança está na natureza dos que evoluem, porque ela a metamorfose que nos eleva do rastejar ao vôo.
Escrevo, pois, antes da tarde, noite e possível madrugada da tentativa ou da consumação do golpe.
Com uma certeza tão grande quanto cantava, bem jovem, o “sei que nada será como antes, amanhã” do Mílton.
E confiante que ao grande e caudaloso rio que é o povo brasileiro não podem parar, ainda que o obriguem a dar voltas.
Mas que se lembrem: as águas que se represam, alguma hora verterão.
O único que importa, só o que é vital, é que estejamos mergulhados nelas.
Vamos em frente e, hoje ou depois, vamos vencer.
*Por Fernando Brito, Editor do Tijolaço.
(O Editor deste Blog assina embaixo).
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