Por Fernando Brito*
Quando os inquéritos da Lava jato atingiam gente do PT, não havia problema algum.
Quando Sérgio Moro divulgou grampo telefônico que envolvia a própria Presidente da República, em conversa com Lula, ele também não se pejou em, inclusive, utilizar seu conteúdo como “fundamento” para a decisão que impediu a posse do ex-presidente como chefe da Casa Civil de Dilma.
Tudo bem, ele pode.
Ele é Gilmar Mendes, a lei.
Mas agora que o vazamento atingiu em cheio a cúpula do PMDB, com a divulgação do pedido de prisão preventiva de Renan Calheiros, Romero Jucá, José Sarney e , sempre ele, Eduardo Cunha, ele quer “chamar às falas” os vazadores.
O sigilo judicial, justificável quando a divulgação pode atrapalhar as investigações, não parece ser adequado a casos onde o conjunto de provas já obtido possa justificar algo da gravidade de um pedido de prisão contra o presidente do Senado, outro senador, um ex-presidente da República e o Presidente afastado da Câmara.
É impensável que a Procuradoria Geral da República tenha pedido algo desta gravidade sem provas e provas robustas.
A outra razão que pode justificar o segredo Judicial é o interesse público.
Mas não é do interesse público saber o que está se acusando a alta cúpula da instituição – o Senado – onde estão sendo julgados os destinos do país, com o processo de impeachment?
Ainda mais porque as gravações que se divulgaram – e continham, na visão de Gilmar – “apenas uma impropriedade” ligam diretamente o processo às negociações de afastar Dilma Rousseff para obstaculizar a Lava jato, “esta sangria”, nas palavras de Romero Jucá?
O país não pode ficar sabendo que se quer prender os presidentes das duas casas do Legislativo e não saber qual a razão disto.
Não há sigilo possível e muito menos o Supremo pode ocultar estas razões até as calendas e, depois, dizer que “os ritos do impeachment” foram cumpridos.
Aliás, não pode fazê-lo e não o conseguirá fazer.
A máquina está em movimento e ela possui uma lógica própria, muito além do que pode – e tem mostrado que pode quase tudo – Gilmar Mendes.
*No Tijolaço - http://www.tijolaco.com.br/
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