Por Marcelo Pires*
“Santiago do Chile mostra, como outras cidades
latino-americanas, uma imagem resplandecente.
Por menos de um dólar por dia,
legiões de trabalhadores lustram a máscara da cidade.
Nos bairros altos,
vive-se como em Miami, vive-se em Miami, miamiza-se a vida, roupa de plástico,
comida de plástico, gente de plástico, enquanto os vídeos e os computadores
domésticos se transformam em perfeitas contra-senhas da felicidade.
Mas os
chilenos são cada vez menos, e cada vez são mais os subchilenos: a economia os
amaldiçoa, a polícia os persegue e a cultura os nega.
Alguns viram mendigos.
Burlando as proibições, dão um jeito para aparecer debaixo do sinal fechado ou
em qualquer portal.
Há mendigos de todos os tamanhos e cores, inteiros e
mutilados, sinceros ou fingidos: alguns, na desesperação total, caminhando na
beira da loucura; e outros exibindo caras retorcidas e mãos trêmulas graças a
muito ensaiar, profissionais admiráveis, verdadeiros artistas do bom pedir.
Em
plena ditadura militar, o melhor dos mendigos chilenos era um que comovia
dizendo num lamento: - Sou civil.” (Eduardo Galeano, O Livro dos Abraços)
***
*Marcelo Pires Mendonça (foto) é professor. Trabalha na Secretaria de Educação do Distrito Federal. Foi Coordenador-Geral de Instâncias e Mecanismos de Participação Social da Presidência da República. É filiado ao Partido dos Trabalhadores.
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