07 outubro 2019

Lula já levou: golpistas tentam contraofensiva, mas são obrigados a recuar


 (FOTO: RICARDO STUCKERT/ INSTITUTO LULA)


Se a manobra infame assume o rumo da fraude, cai por terra a mais esmaecida chance de legalidade desta patética versão do faroeste

Por Mino Carta*
Lula monitorado pela tornozeleira e tolhido em seus movimentos não será livre e é liberdade que o preso exige. Os golpistas tentam aviar um antídoto para encobrir a fraude de um processo contra a Lei, a Razão e os Valores da Civilização, encenado de sorte a impedir a participação do ex-presidente na eleição de 2018 como candidato largamente favorito. A manobra atual é tão ingênua quanto primária. Se a pretensão for confirmar o acerto das sentenças da Inquisição nativa, à luz de uma análise isenta, e até superficial, soa como sinal de derrota, enquanto cresce, como tendência irrefreável em frentes diversas, o antilavajatismo, à revelia da mídia que sagrou heróis Sérgio Moro e Deltan Dallagnol.
O ex-capitão que o Brasil alçou à Presidência da República diz que, se Lula quiser permanecer preso, poderá ficar atrás das grades. Não cabe a ele, contudo, a decisão. Teoricamente, a um juizeco curitibano, da turma que fez tantos estragos. Há, porém, juristas que negam a obrigatoriedade da obediência à decisão judicial. Teria espaço uma tentativa de chantagem, como seria ameaçar a transferência do ex-presidente para uma prisão comum? Quem pensa nisso esquece que o Supremo já vetou esta possibilidade tempos atrás, quando Moro e Dallagnol a aventaram com esgar maligno.
Para sair da gaiola, Lula propõe condições irrevogáveis, além de justas. Quem aspira à democracia tem uma dívida de apreço e gratidão com Glenn Greenwald e seu The Intercept, que forneceram as provas da farsa judicial e das suas motivações, a serviço de um golpe urdido à sombra dos próprios poderes da República, com o incentivo de Tio Sam. Tudo, de fato, é possível neste Brasil medieval, sem olvidar a exemplar atuação, no sentido de representativa da demência geral, do ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot, a tocaiar o ministro-empresário Gilmar Mendes para abatê-lo a tiros.
Em outros tempos, eu diria que as autoridades em questão se fartaram de assistir a filmes western, os quais hoje em dia não estão mais na moda, infelizmente. Não é, diga-se, que o nosso Darth Vader desmereça o papel de vilão, daí a moral da história: nenhuma bala é perdida. E não deixa de ser irrefutável que, com a chegada da Lava Jato em 2014, tudo quanto aconteceu em seguida, o impeachment de Dilma Rousseff, o governo de Michel Temer, a condenação e a prisão de Lula até a eleição de Jair Bolsonaro, fica automaticamente invalidado.
O raciocínio atém-se a uma lógica inexorável. Se a manobra infame assume o rumo da fraude, cai por terra a mais esmaecida chance de legalidade desta patética versão do faroeste. Sabemos que, à falta de reação popular e ao preço dos erros cometidos pela oposição, é impossível sonhar com soluções ideais. É certo, porém, que o comportamento de Lula se insere nesta moldura. O exemplo é imperioso e obriga os golpistas a um recuo. E o ex-presidente já venceu esta parada.

*Jornalista, Editor da Revista Carta Capital, fonte desta postagem.

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